A tentativa de suspender o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), feita pelo presidente interino da Câmara Federal, deputado Waldir Maranhão (PP), que sacudiu o Brasil na segunda-feira (9), não produziu o resultado pelo palácio do Planalto, mas, ao contrário, impôs duros desgastes à chefe da Nação, e também ao chefe do Governo do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB). Figura central ao episódio, o deputado federal Waldir Maranhão encerrou o dia com o Congresso Nacional desabando sobre sua cabeça e, por causa disso, desmanchou tudo o que fez durante o dia num ofício encaminhado ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), comunicando que revogara seus próprios atos. E, finalmente, o governador Flávio Dino, apontado como mentor de Waldir Maranhão neste caso, saiu amargando fortes críticas pelo seu envolvimento direto no caso.
Waldir Maranhão foi, de longe, o maior perdedor no episódio. Para começar, foi atropelado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, que não apenas não reconheceu o ato do presidente interino da Câmara para suspender o processo de impeachment, como também o classificou de “brincadeira com a democracia”, no que foi interpretado como uma “humilhação institucional”. O deputado foi xingado em todo o país e em todos os extratos da sociedade civil, foi mostrado como um trapalhão pelos meios de comunicação, tendo também sido rotulado de “anão político”. Seu partido estava inclinado a expulsá-lo, mas a seu pedido, adiou para hoje a decisão de extirpá-lo dos seus quadros, enquanto o colégio de líderes tentou fazê-lo renunciar ao mandato presidencial, sob pena de ser denunciado ao Conselho de Ética, onde a bancada do DEM já protocolou uma denúncia com o objetivo cassar o seu mandato. E para baixar ainda mais o seu astral, descobriu-se, na tarde de segunda-feira, um caso de nepotismo cruzado envolvendo seu filho, um jovem médico nomeado assessor do conselheiro e ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Edimar Cutrim, com salário de R$ 7.200,00 mensais e morando confortavelmente em São Paulo. Vale destacar que, além dos problemas que enfrenta na Câmara Federal, agora numa corrida para salvar o mandato, o deputado e presidente interino deve se preparar para enfrentar uma penca de ações judiciais, que vai desde o processo que responde na Justiça Eleitoral por suposta fraude nas suas contas de campanha.
Waldir Maranhão viveu na segunda-feira o raro e escandaloso caso do deputado federal que amanheceu no Céu, passou o dia no purgatório e fechou as 24 horas como se estivesse queimando nas mais remotas profundezas do inferno. E com um dado gravíssimo: ninguém daria hoje um tostão furado pelo seu cacife político.
O governador Flávio Dino também saiu arranhado do chamado “Susto-Waldir”. Inteiramente envolvido no esforço para minar e, se possível, suspender o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, que considera absurdo e ilegal, Dino usou sua autoridade de jurista e ex-juiz federal para aconselhar Waldir Maranhão a conhecer o recurso impetrado pelo advogado geral da União com o objetivo de suspender o processo de impeachment. O governador manifestou convicção de que, diante das denúncias de irregularidades no processo, as sessões realizadas na Câmara para definir o futuro do processo poderiam ser anuladas. E foi nesse sentido que orientou o presidente interino Waldir Maranhão, acreditando que o presidente do Senado acataria o pedido, suspenderia o processo e o devolveria. A enfática reação do presidente Renan Calheiros funcionou como um balde de água fria no gabinete principal do Palácio dos Leões. O desfecho do caso a traiu muitas e duras críticas ao governador do Maranhão dentro e fora do Congresso Nacional, especialmente nas redes sociais, terreno em que Dino navega com segurança. Tais reações estão ocorrendo principalmente pelo entendimento de que o governador, que além dos problemas que enfrenta na Câmara Federal, agora numa corrida para salvar o mandato presidencial. Não se duvida que com seu prestígio e suas convicções, que às vezes reprimem o pragmatismo que deve nortear também sua trajetória. Mas o governador encerra o assunto com uma twittada: “Quem luta pelo bem e pelo certo tem firmeza e coragem. Não me alisto no time dos oportunistas e dos coniventes”.
PONTO & CONTRAPONTO
Plenário da Assembleia Legislativa vira espaço privilegiado para debates sobre São Luís
Abrigando nada menos que quatro pré-candidatos à cadeira principal do Palácio de la Ravardière – Eduardo Braide (PMN), Sérgio Frota (PSDB), Bira do Pindaré (PSB) e Wellington do Curso (PP) -, e também o mais autorizado porta-voz do prefeito Edivaldo Jr. (PDT), o deputado Edivaldo Holanda (PTC), o plenário da Assembleia Legislativa está transformada no mais importante espaço de debate sobre a situação de São Luís. Ontem, por exemplo, a maior parte da sessão foi dedicada a dois temas relacionado com a vida cotidiana dos mais de 1 milhão de cidadãos da Capital. Começou com o deputado Adriano Sarney (PV) fazendo uma dura crítica à situação das feiras da cidade, a grande maioria em estado deplorável. Imediatamente o debate se aprofundou com intervenções fortes feitas pelo tucano Sérgio Frota e pelo pepista Wellington do Curso, ficando a defesa da atual administração com Edivaldo Holanda. Outro tema debatido com profundidade foi a licitação para o transporte de massa, que pode ser prejudicada por uma ação protocolada ontem na Justiça por um grupo de empresas com o apoio do sindicato que defende seus interesses. Provocado pelo deputado Othelino Neto (PCdoB), que bateu forte contra a tentativa das empresas de judicializar a licitação, assunto motivou um debate de peso entre os três pré-candidatos presentes, todos com posições bem definidas em relação aos problemas que São Luís enfrenta. O fato sugere que a campanha será rica em debates, o que é bom para os candidatos e, principalmente, para o eleitor.
João Alberto e Roberto Rocha destacados na cassação de Delcídio do Amaral
Dois senadores maranhenses foram destaque na sessão do Senado da República que resultou na cassação do mandato do senador Delcídio do Amaral. Um foi o pemedebista João Alberto, presidente do Conselho de Ética; o outro foi o socialista Roberto Rocha.
Convidado pelo presidente Renan Calheiros, João Alberto participou da sessão na Mesa dos trabalhos. Dalí, mergulhado na seriedade, ele acompanhou o rito da cassação, ouvindo dos senadores que se manifestaram elogios pela maneira firme e correta com que comandou o processo no Conselho, principalmente ao assegurar o mais amplo direito de defesa para Delcídio do Amaral, que ali não compareceu e seus advogados só apareceram quando os prazos já estavam se esgotando. João Alberto recebeu um elogio especial do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que destacou a seriedade e a firmeza à frente do órgão que preside pela quinta vez consecutiva.
Por sua vez, o senador Roberto Rocha surpreendeu ao se inscrever para falar na sessão em que os senadores estavam visivelmente constrangidos. Ele aproveitou a oportunidade para esclarecer por que votou contra a autorização do Senado para o Supremo Tribunal Federal confirmar a prisão de Delcídio do Amaral em flagrante com base numa gravação de uma inacreditável conversa do então líder do Governo com o corrupto ex-diretor da Petrobras Nestor Ceveró. Rocha avaliou que a prisão do senador abriria um grave precedente à inviolabilidade do mandato. Mas deixou claro que considerou a ação de Delcídio do Amaral um crime sem perdão, que justificou plenamente o processo e a cassação. E para deixar claro que sua intenção com o voto não foi poupar o ex-líder do Governo, Roberto Rocha recomendou sua cassação. Sem nenhum porém.
São Luís, 10 de Maio de 2016.