Se confirmado no Meio Ambiente, Sarney Filho assumirá sabendo exatamente o que tem de fazer

 

 

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Sarney Filho: experiência de volta ao Meio Ambiente 

Nem bem se recuperam do impacto da polêmica tentativa do presidente interino da Câmara Federal, deputado Waldir Maranhão (PP), de, com o apoio assumido do governador Flávio Dino (PCdoB), suspender o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), os maranhenses foram surpreendidos de novo ontem por outra notícia-bomba: o deputado federal Sarney Filho (PV) será ministro do Meio Ambiente do Governo Michel Temer (PMDB). Com a nomeação, o parlamentar voltará ao cargo que ocupou por três anos no Governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). A batida de martelo para a escolha aconteceu ontem à tarde, na residência do ex-presidente José Sarney (PMDB) em Brasília, onde o futuro presidente interino da República esteve para uma troca de impressões sobre a crise e seus desdobramentos com o ex-chefe da Nação. E foi exatamente durante a conversa que Sarney Filho entrou na pauta e foi confirmado para o Ministério do Meio Ambiente. Aos 59 anos e exercendo o décimo mandato parlamentar consecutivo – um de deputado estadual e nove de deputado federal, Sarney Filho acrescentará mais um item importante à sua trajetória, o que poderá injetar ânimo em projetos eleitorais futuros, como o de ser candidato a senador em 2018, por exemplo.

A escolha do líder do PV na Câmara Federal comporte pelo menos três leituras. A primeira delas: Sarney Filho entra na cota ministerial do PV, acertada pela cúpula verde com o vice-presidente Michel Temer para garantir o apoio do partido, que tem sete deputados, na base de apoio do Governo interino, que deve ser instalado nas próximas horas. A segunda leitura: Sarney Filho ganhou o ministério do Meio Ambiente ocupando espaço dado por Michel Temer ao ex-presidente José Sarney, que apesar de ter afastado dos holofotes, tem sido um dos mais ativos articuladores da mobilização do PMDB para romper com a presidente Dilma Rousseff. E a terceira leitura é a que enxerga a união das duas primeiras, à medida que permitiu a Michel Temer matar dois coelhos com uma só cajadada, agradando ao mesmo tempo ao PV e ao ex-presidente, que continua sendo o mais importante arauto do PMDB e, provavelmente, da República.

Com a entrega do Ministério do Meio Ambiente a Sarney Filho, o projeto da ex-governadora Roseana Sarney (PMDB) de ser ministra foi por água abaixo. Pelo que se comenta nos bastidores do Grupo Sarney, ela chegou a sonhar com a pasta da Educação, mas, segundo os mesmos rumores, a montagem da estratégia para chegar ao comando do MEC – que deve ser fortalecido ao absorver a pasta da Cultura -, foi inviabilizada pelo fato de a ex-governadora responder a uma série de ações nos braços estadual e federal da Justiça sob a acusação de desviar dinheiro público, e de fazer parte do grupo de políticos que está sendo investigado pela Operação Lava Jato. A montagem desse novo cenário envolvendo a ida de Sarney Filho para a Esplanada dos Ministérios pode também incluir uma provável candidatura de Roseana Sarney ao Governo do Estado, ao Senado ou à Câmara Federal.

Sarney Filho é um político bem sucedido, a começar pelo fato de que, mas sendo peça importante do Grupo Sarney, construiu uma carreira tentando fugir da tutela e da influência do pai poderoso. O momento mais emblemático desse rasgo de independência foi a campanha e a votação da Emenda Dante de Oliveira, que propunha a volta da eleição direta para Presidente da República. Sarney Filho contrariou a orientação do pai, então senador e presidente nacional do PDS, e votou a favor da Emenda das Diretas, que foi derrotada, mas galvanizou o país para incensar a eleição da chapa Tancredo Neves/José Sarney, que sairia eleita do Colégio Eleitoral em 1984.

Ao longo de quase quatro décadas na Câmara Federal, Sarney Filho deixou o ninho partidário da família e se filiou ao PV, iniciando uma rica trajetória parlamentar. Foi um dos pioneiros do movimento verde no Congresso Nacional, tendo sido um dos formadores da Frente Parlamentar Ambientalista, da qual foi o primeiro presidente. Foi várias vezes líder e vice-líder do PV, presidiu várias comissões importantes, como a Comissão Mista de Orçamento, que se tornou sonho colorido dos deputados e senadores, e a de Defesa do Consumidor e Minorias. Entre muitas missões cumpridas na Câmara e no Congresso, uma das mais importantes e de peso históricos foi a de ser o relator do projeto que garantiu o ingresso do Brasil no Mercosul, o bloco que mudou a face econômica do Cone Sul. A isso se somam uma efetiva participação na Assembleia Nacional Constituinte e um baú de emendas à Constituição, projetos de lei ordinária e complementar, entre muitas outras ações parlamentares. Vale anotar que sua passagem pelo Ministério do Meio Ambiente foi a mais produtiva até então, tanto que foi muitas vezes elogiado pela ONG ambientalista Greenpeace. Sua batalha mais recente foi evitar que o Código Ambiental fosse desfigurado pela bancada ruralista, que tem como chefe maior o hoje senador goiano Ronaldo Caiado.

Se a nomeação não for um blefe e se confirmar, o deputado Sarney Filho será um dos poucos ministros que assumirão sabendo exatamente o que farão no controle do birô ministerial. Poderá desencadear ações de larga envergadura no Maranhão, principalmente a Ilha de São Luís, cujos problemas conhece na palma da mão.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Enquanto o Senado decidia o futuro de Dilma, Dino vistoriava obras em bairros de São Luís
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Dino cumprimenta moradores e promete que obras continuarão

Exibindo tranquilidade, daquelas só exibidas por quem fez a sua parte, o governador Flávio Dino ignorou ontem a guerra travada no Senado e foi para os bairros vistoriar obras. Nem parecia o líder político que dois dias antes tropeçara feio ao participar de uma ação de altíssimo risco político e que resultou num fracasso retumbante, tendo como protagonista principal o deputado Waldir Maranhão (PP), presidente interino da Câmara Federal e que o colocou em situação delicada.  De gravata sob sol a pino, encarando quase 40° e suando às bicas, o governador ignorou a ciranda repetitiva de discursos no Senado e foi ver de perto a quantas anda uma das obras do programa Interbairros, parceria do Governo do Estado com a Prefeitura de São Luís. Acompanhado do secretário de Estado da Infraestrutura, Clayton Noleto, e do secretário municipal de Obras e Serviços Públicos, Antônio Araújo, ele percorreu as duas travessas da Rua General Artur Carvalho, no Turu, e a Ponte Pai Inácio. O trecho faz parte de uma das 14 obras previstas no Interbairros, que vai conectar bairros da Região Metropolitana de São Luís para desafogar o tráfego e melhorar a mobilidade urbana. Além de vistoriar as ruas que estão sendo pavimentadas, o governador disse a moradores que as obras do Interbairros além de serem relevantes para facilitar a circulação de pessoas, têm uma dimensão econômica, pois abrem caminhos novos para o crescimento da atividade comercial da cidade, valorizando imóveis. O governador não falou de política, mas sua desenvoltura indicou que ele não alterou uma vírgula no entendimento segundo o qual a presidente Dilma Rousseff está sendo vítima de um golpe parlamentar.

Deputados pré-candidatos apoiam reação do prefeito contra empresas de transporte coletivo
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Edivaldo Holanda defende Edivaldo Jr. contra empresas de transporte coletivo de São Luís

As empresas que controlam o sistema de transporte coletivo de São Luís, que respondem pela mobilidade diária de mais de 700 mil pessoas, entraram na Justiça para inviabilizar o Edital com as regras da licitação aberta pelo prefeito Edivaldo Jr. (PDT). A notícia repercutiu fortemente na Assembleia Legislativa que, vale repetir, teve seu plenário transformado em fórum de debates sobre os problemas da Capital. Ali, mais uma vez, o deputado Edivaldo Holanda (PTC), pai, aliado e porta-voz autorizado do prefeito, reagiu fazendo duras críticas às empresas, acusando-as de não terem se preparado para participar da licitação em condições de competir, porque não se prepararam para tal. Ele avisou que o prefeito está preparado para encarar essa briga e manifestou a certeza de que a Prefeitura vai levar a, melhor sobre as empresas. Na mesma linha os deputados e pré-candidatos a prefeito Eduardo Braide (PMN) e Sérgio Frota (PSDB) defenderam a licitação e manifestaram apoio ao prefeito, mesmo lhe fazendo críticas sutis, mas fortes. Todos avaliaram a ação das empresas como uma evidência de que elas não querem concorrentes e vão brigar Justiça contra a licitação, que se entrar em vigor sem cortes vai revolucionar a mobilidade de massa na Capital do Maranhão e, por via de desdobramento,  no sistema que serve toda a Ilha de Upaon Açu.

 

São Luís, 11 de Maio de 2016.

 

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