Arquivos mensais: abril 2020

Troca-troca na Câmara de São Luís fortaleceu PCdoB, PDT, Podemos e DEM e eliminou PSDB e MDB

 

Boa parte dos membros da Câmara de São Luís mudou de partido para as eleições

Num jogo explícito de conveniência política em busca de sobrevivência nas urnas, nada menos que 15 dos 31 vereadores de São Luís trocaram de partido aproveitando a janela legal que lhes garantiu migrar sem risco de perder o mandato, e que se fechou na sexta-feira (04). Esta foi uma das maiores migrações partidárias já ocorridas na Câmara Municipal de São Luís em ano eleitoral, confirmando a inconsistência dos partidos políticos no Brasil, cuja maioria continua sendo formada por legendas de aluguel. A maioria dos vereadores-migrantes procurou abrigo em partidos com candidatos fortes à sucessão do prefeito Edivaldo Holanda Júnior (PDT), como o Podemos, que terá o deputado federal Eduardo Braide como candidato, o DEM, que disputará a Prefeitura de São Luís com o deputado estadual Neto Evangelista, e ainda o PCdoB, cujo candidato ao Palácio de la Ravardière será o deputado federal licenciado e atual secretário de Estado das Cidades Rubens Júnior. O PDT ganhou apenas dois novos, mas se tornou a maior força da Câmara Municipal. Outros partidos de menor peso na Capital ganharam apenas um migrante, cada, enquanto alguns, como o MDB, perderam o que tinham.

Turbinado pela pré-candidatura do deputado federal Eduardo Braide, até aqui liderando a preferência dos eleitores, segundo as pesquisas já divulgadas, o Podemos ganhou nada menos que três vereadores: Sá Marques (que deixou o PHS), Chaguinhas (que abandonou o Progressistas) e Marcial Lima (que se elegeu pelo PEN). Por sua vez, o DEM, focado a candidatura do deputado estadual Neto Evangelista, foi reforçado por quatro vereadores: Edison Gaguinho (que se elegeu pelo PHS), Josué Pinheiro (que abandona as hostes do PSDB), Ricardo Diniz (que deu uma guinada à direita ao deixar o PCdoB) e Estevão Aragão (que também migrou para a direita ao deixar o PPS, hoje Cidadania). O PCdoB ganhou dois vereadores de peso: o ex-presidente e atual vice-presidente da Câmara Municipal, Astro de Ogum (que deixou o PP), e Paulo Vitor (suplente no exercício do mandato), formando uma bancada poderosa, que inclui ainda os vereadores Ricardo Diniz, Fátima Araújo e Marcelo Poeta, o que representa um cacife forte para a pré-candidatura de Rubens Júnior.

Ao contrário de Podemos e DEM, que fizeram bancadas fortes, o PDT ganhou apenas um vereador nesse movimento migratório, Nato Júnior (que saiu dos quadros do PP), mas sua filiação foi suficiente para dar ao partido maior bancada no Legislativo da Capital, onde já conta com Osmar Filho, Ivaldo Rodrigues, Pavão Filho e Raimundo Penha. E no jogo de fortalecimento das pré-candidaturas, essa movimentação poderá beneficiar largamente a Neto Evangelista, a se confirmar a aliança DEM/PDT. Isso porque as duas bancadas vão se bater nas urnas na corrida pela reeleição, mas informalmente caminharão juntas em torno do nome de Neto Evangelista, já que a legislação não permite coligação na disputa para as vagas na Câmara Municipal.

Se alguns partidos se fortaleceram, outros perderam tudo o que tinham na Câmara Municipal de São Luís. O PSDB, que já foi forte na Capital, perdeu os dois vereadores que elegeu em 2016: Dr. Gutemberg, que foi homem de proa do grupo do ex-governador e ex-prefeito João Castelo, abandonou o ninho dos tucanos e migrou para o PSC, um dos braços do Grupo Sarney e que apoiará Eduardo Braide, e Josué Pinheiro, que mudou para o DEM, mirando a candidatura de Neto Evangelista. A migração também destruiu a base do nanico PRTB, que perdeu os vereadores Genival Alves, que pulou para o Republicanos, e Silvino Abreu, que se transferiu para o PMB.

No tufão migratório que redesenhou o plenário da Câmara Municipal de São Luís, a situação mais dura atingiu o MDB. O partido, que já foi muito forte na Capital, amargou derrota em 2016, elegendo apenas um vereador, Afonso Manoel Ferreira, que já tinha sido deputado estadual pelo partido sem nunca ter sido um militante emedebista. Para se eleger para a Assembleia Legislativa, a ex-vereadora Helena Duailibe, sua mulher, concorreu pelo Solidariedade, levando Afonso Manoel agora a deixar o MDB e migrar para o SD, apagando de vez a presença emedebista no Palácio Pedro Neiva de Santana.

Partidos como PSDB e MDB, triturados nos últimos tempos, terão de jogar tudo nas eleições de outubro para continuar existindo na Capital.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Grupo Sarney quer avaliar poder de fogo da candidatura de Adriano Sarney

Adriano Sarney 

Em curso nas entranhas do Grupo Sarney uma articulação discreta e cuidadosa com o objetivo de convencer o deputado estadual Adriano Sarney (PV) a avaliar seu projeto de candidatura à Prefeitura de São Luís. A preocupação da cúpula do sarneysismo é que, ao invés de conquistar um bom espaço no tabuleiro político da Capital, a candidatura do parlamentar possa desgastar ainda mais o nome da família, podendo respingar na imagem política da ex-governadora Roseana Sarney, que não quer ser candidata a prefeita porque mira o Palácio dos Leões em 2022. Se a avaliação concluir que ele pode ter uma boa votação – ninguém acredita na sua eleição -, a família e seus aliados poderão abraçar o projeto e entrar na briga apoiando sua candidatura. Nesse caso, o ex-senador José Sarney e a ex-governadora Roseana Sarney juntarão suas forças para convencer a cúpula do MDB, principalmente o deputado estadual Roberto Costa, que lidera a ala jovem do partido, que prefere lançar uma candidatura própria do MDB. Não houve ainda conversas formais sobre o assunto, mas o deputado Adriano Sarney esteve no MDB para uma conversa com o ex-senador João Alberto, mas a tsunami do coronavírus interrompeu a aproximação, que poderá ser retomada quando a onda passar.

Se a avaliação for negativa, a família tentará convencer o parlamentar a desistir da empreitada e investir num sólido projeto de reeleição.

 

Wilson Witzel acompanha a luta de Aluísio Mendes contra o coronavírus

Aluísio Mendes (D) com Wilson Witzel, que veio a São Luís para prestigiar o ingresso dele no PSC 

A evolução do quadro de saúde do deputado federal Aluísio Mendes (PSC), que se encontra internado em hospital particular em Brasília enfrentando o coronavírus, está sendo acompanhado atentamente o Palácio Guanabara, sede do Governo do Rio de Janeiro. Explica-se: o governador fluminense Wilson Witzel tem o parlamentar maranhense como um forte aliado no seu projeto presidencial. Aluísio Mendes se tornou peça importante no xadrez do governador do Rio de Janeiro quando ele rompeu com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Tanto que fez questão de vir a São Luís para participar do ato de filiação do deputado no PSC, depois que ele abriu mão do Podemos em favor do deputado Eduardo Braide. Assessores de Wilson Witzel se informam diariamente sobre o estado de saúde de Aluísio Mendes e repassam as informações ao governador.

São Luís, 07 de Abril de 2020.

Reação do filho de Bolsonaro à reunião de Mourão com Dino reforça posição política do governador

 

Flávio Dino tece elogios a Hamilton Mourão e causa ciúmes em Carlos Bolsonaro e Jair Bolsonaro

Há algumas semanas, a Coluna avaliou que o governador Flávio Dino (PCdoB) havia, finalmente, chegado ao centro do redemoinho político nacional, embalado por um bom governo, por sua postura oposicionista ao mesmo tempo enfática e equilibrada, e por seu movimento embrionário, mas intenso, na busca de um espaço no roteiro que desaguará na sucessão presidencial de 2022. A brecha foi aberta pelo próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido), quando o elegeu “o pior” dos seus adversários, no escandaloso cochicho com microfone aberto ao então chefe da Casa Covil, Onyx Lorenzoni, minutos antes de uma reunião ministerial. De lá para cá, Flávio Dino ganhou tutano político, que agora se tornou mais consistente com o post do vereador Carlos Bolsonaro, filho e porta-voz do presidente da República nas redes sociais, criticando o vice-presidente, general Hamilton Mourão, a partir de um comentário do governador maranhense sobre a postura correta e técnica do vice em reunião do Conselho da Amazônia, por ele presidido.

O comentário de Flávio Dino incomodou profundamente o filho do presidente, que viu na postura de Hamilton Mourão um ato conspiratório contra seu pai. No seu post, o governador Flávio Dino comentou: “Tivemos uma reunião com diálogo técnico, respeitoso, sensato. Claro que Mourão não é do meu campo ideológico. Mas, se Bolsonaro entregar o governo para ele, o Brasil chegará em 2022 em melhores condições”.

Carlos Bolsonaro – que é vereador no Rio de Janeiro, mas mudou-se para Brasília e sentou praça no Palácio do Planalto -, fez a seguinte indagação sobre o post de Flávio Dino: “O que leva o vice-presidente da República se reunir com o maior opositor SOCIALISTA do governo, que se mostra diariamente com atitudes totalmente na contramão de seu Presidente?”

Sob qualquer ângulo que possa ser analisada, a reação do filho do presidente Jair Bolsonaro foi um tiro pé. Primeiro porque parece desconhecer que o vice-presidente Hamilton Mourão preside o Conselho da Amazônia, e nessa condição tem de se reunir com frequência com governadores amazônicos, para tratar dos diversos programas que coordena para combater a ação predatória de quadrilhas de grileiros e outros problemas relacionados à região, tendo o comentário de Flávio Dino se referido a uma dessas reuniões. Depois, parece também desconhecer o governador já se reunira várias vezes com o vice-presidente, com quem abriu um canal de diálogo em junho do ano passado, quando foi recebido no Palácio do Jaburu. Depois, já neste ano, já como presidente do Conselho da Amazônia, Hamilton Mourão esteve em São Luís, tendo sido recebido de maneira republicana no Palácio dos Leões.

Os encontros mostraram que, apesar de habitarem polos políticos e ideológicos radicalmente diferentes, o governador e o vice-presidente têm convivido de maneira republicana, respeitosa e institucionalmente correta.

O comentário aberto e visivelmente incomodado do filho do presidente revela, primeiro, que o isolamento de Jair Bolsonaro é fato, tendo sido exposto, de maneira eloquente, após as extremadas e inacreditáveis posições do presidente da República contra o isolamento como remédio mais eficaz para combater a pandemia do coronavírus, na contramão das recomendações da OMS e do próprio Ministério da Saúde. E segundo, porque, cada vez mais sem foco e enxergando inimigos por todos os lados, o caçula do chefe da Nação comete o erro primário de comprar briga com o vice-presidente, um militar que tem opiniões próprias, que às vezes surpreende pela contundência, mas que até aqui tem sido um fiel aliado do presidente Jair Bolsonaro, apesar de discordar de muitas das suas posições.

O post intempestivo de Carlos Bolsonaro resultou em dois tiros no pé. O primeiro por ter atacado o vice-presidente as República, contribuindo para aumentar o distanciamento entre ele e o presidente. O segundo porque a reação turbinou o lastro político do governador do Maranhão, que começa a ser, de fato, o mais consistente nome da Oposição e da esquerda para disputar a presidência da República em 2022.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Sarney prevê que depois do coronavírus o mundo será outro

José Sarney cobra eficiência

“O mundo será diferente depois da crise do coronavírus. O Homem terá que pensar em modificar esse tipo de sociedade consumista e de sublimação dos prazeres, para pensar num mundo mais humano e com maior justiça social. (…) A sociedade da comunicação, virtual e destruidora de valores morais, dará lugar a uma utopia realizada de caridade, justiça e igualdade”

As declarações são do ex-presidente José Sarney (MDB), na sua crônica domingueira em O Estado, na qual avalia que a Humanidade está em risco, lembrando que o momento não saiu de profecia, tem lógica.  Às vésperas de completar 90 anos – seu aniversário será no dia 24 -, Sarney enfrenta a quarentena na sua residência de Brasília, de onde não tem saído nem para ir à farmácia. Ele registra que pandemia do coronavírus é diferente de tudo o que viu e viveu nestes quase 33 mil dias de existência, pois nem Nostradamus, que cantou a pedra de muitas catástrofes e flagelos do século 15 para cá. Estudioso da face clara e cotidiana do homem, o ex-presidente informa que está isolado e se disse assustado com o fenômeno, o qual espera, passe logo.

 

Duarte Júnior fortalece projeto eleitoral aliando-se ao PL

Duarte Júnior

Erra quem minimiza a declaração de apoio do PSL ao deputado estadual Duarte Júnior (Republicanos) na corrida para a prefeitura de São Luís. Para começo de conversa, o PSL maranhense está na contramão do presidente Jair Bolsonaro, que o deixou. E depois porque esse partido dará ao candidato um precioso instrumento de campanha: um bom tempo no rádio e na TV. Quando trocou o PCdoB pelo Republicanos, alguns enxergaram no movimento um passo em falso. Erraram. Duarte Júnior foi para o Republicanos já vislumbrando a perspectiva de contar com o apoio do partido e de aliados, como é o caso do deputado Fábio Macedo, que migrou do PDT para o Republicanos e emplacou sua mulher, Lorena Macedo, no comando do PSL de São Luís. Essa aliança reforça expressivamente a pré-candidatura de Duarte Júnior.

São Luís, 05 de Abril de 2020.

ESPECIAL: Marco da MPM, “Pedra de Cantaria” chega aos 40 anos atual e encantando com a beleza da sua poesia musicada

 

Os craques que deram vida ao eterno Pedra de Cantaria: Sérgio Habibe, Giordano Mochel, Omar Cutrim, Ubiratan Sousa, Zezé da Flauta, Beto Pereira, Valdelino Cécio, Marcelo Carvalho, Arlindo Carvalho, Chico Maranhão, Manoel Pacífico, Glória Corrêa, Zé Pereira Godão, Adler São Luís e Josias Sobrinho

Fevereiro de 1980. Há 40 anos, quando o Maranhão começava, de fato, a perceber que sua cultura popular era forte, rica e singular e guardava também as bases do que viria ser um cancioneiro de riqueza extraordinária, um grupo de compositores, instrumentistas e interpretes produziu Pedra de Cantaria, um disco que se tornou, ao longo dos anos, um marco e um dos principais traços da identidade do que viria a se consolidar como Música Popular Maranhense (MPM). Joias preciosas do atual cancioneiro popular de uma terra que respira poesia, as suas 11 faixas são obras-primas dos gênios musicais de Chico Maranhão, Ubiratan Sousa, Sérgio Habibe, Josias Sobrinho, Zé Pereira Godão, Giordano Mochel e Adler São Luís, ricamente embaladas pelos arranjos magistrais de Marcelo Carvalho, Ubiratan Sousa, Josias Sobrinho e Sérgio Habibe, e expressados pelos violões de Ubiratan Sousa e Hilton Filho, pelas flautas comoventes e contagiantes de Sérgio Habibe e Zezé da Flauta, pelo acordeão preciso e provocador de Marcelo Carvalho, pela viola forte de Omar Cutrim, pelo cavaquinho disciplinado de Beto Pereira e pela competente e motivadora percussão de Arlindo Carvalho e Manoel Pacífico. É como se todos estivessem fazendo também uma declaração de amor a São Luís, não a única, mas a grande musa da obra.

Pedra de Cantaria é muito mais que um belo disco, pois é a voz de uma geração de jovens talentosos e decididos a dar uma identidade musical ao Maranhão. Ele nasceu do idealismo do saudoso poeta e agitador cultural Valdelino Cécio e da militância musical do então já consagrado Chico Maranhão, que cientes do potencial da MPM gestada na era dos grandes festivais e que começava a seguir por outras trilhas, buscando identidade no bumba-meu-boi nos diversos sotaques, no tambor de crioula, nas toadas do Lelê e nas ladainhas do Divino Espírito Santo, no singrar das bianas e na majestade dos casarões coloniais de São Luís, conceberam o “Projeto Guriatã” e conseguiram viabilizá-lo pela Fundação Cultural do Maranhão em convênio com a Funarte. Aquela música precisava de registro. Sua qualidade ia muito além da média do que naquele tempo se fazia em matéria de música popular nas diversas regiões do País. Na visão de Valdelino Cécio, os produtores e as grandes gravadoras do País, então concentradas no eixo Rio de Janeiro-São Paulo, precisavam saber o que estava acontecendo no Maranhão, em especial em São Luís, em matéria de produção musical.

O esforço se justificava plenamente, porque Pedra de Cantaria nada fica a dever a qualquer disco que naquele momento representou o regionalismo musical. A beleza de “Verônica”, de Chico Maranhão e angelicalmente interpretada por Glória Corrêa, que abre o disco, é superior, tanto em poesia quanto em melodia. “Terra de Noel”, de Josias Sobrinho ajudou a desatar a linguagem do samba no Maranhão, assim como o protesto de “São Francisco”, de Zé Pereira Godão, e o comovente alerta para a destruição das nossas raízes, feito em “Olho D`Água”, de Sérgio Habibe, e ainda a beleza de “Baltazar”, de Giordano Mochel são frutos de um momento de transição – a ditadura perdia força e a democracia começava a ensaiar retorno -, mas que se encaixam perfeitamente na realidade atual.

O disco também registra o grito ecológico de Josias Sobrinho em “Porco Espinho”, o sedutor e sofisticado poema-canção de “Voo Nupcial”, de Ubiratan Sousa e Souza Neto, o desenho poético-sensual de “Situba”, de Giordano Mochel, a força do bumba-meu-boi no baião-toada de Adler São Luís e Valdelino Cécio, na força histórica e simbólica das ruínas de Alcântara em “Cavalo Cansado”, de Sérgio Habibe, e finalmente no comovente e apoteótico Bandeireiro do Divino, de Ubiratan Sousa e Souza Neto.

Pedra de Cantaria é um disco singular. Os arranjos que adornam as 11 faixas e a precisão da base instrumental – toda em cordas de violão, viola e cavaquinho, em acordeão e sopros de flauta, sem recursos eletrônicos nem metais – ganham dimensão quando se sabe que, sob a direção de Chico Maranhão, foi gravado em apenas cinco dias, em regime de mutirão, com os músicos se revezando em cada faixa num pequeno estúdio em Belém, no Pará. Se levados em conta o aperto orçamentário e as circunstâncias da gravação, o resultado é excelente, o que torna o disco, mais que um registro musical necessário e oportuno, uma conquista de um grupo de craques que juntaram força e talento para tornar realidade um projeto idealista. Tudo com o propósito cultural de mostrar ao País a MPM que ganhava forma naquele tempo. E também com a pretensão de “forrar as ruas, as praças e avenidas do coração de quantos porventura nos ouçam”, como escreveu o poeta Valdelino Cécio, dono de boa parte dos créditos da obra.

Pedra de Cantaria é, em resumo, um disco para o maranhense – e que mais interessar possa – ouvir pensando nele próprio, na sua história, nas suas raízes, nas suas emoções, nos seus amores, nas suas lembranças e nas suas lutas, certo de que encontrará um pouco de cada coisa nas músicas que abriga.

As faixas

1 – “Verônica” é uma prece musicada, uma oração cantada, de beleza extraordinária, que expressa o que há de melhor no gênio musical e poético de Chico Maranhão, e traduz um viés forte da MPM naquele momento em que a ditadura começava a ruir e os lampejos da democracia começavam a cintilar. Metáfora da Verônica das inesquecíveis procissões do Senhor Morto, que chorava a morte de Cristo em latim, a Verônica de Chico Maranhão viaja nas campinas dos perizes, “onde ronca o trovão”, e convoca os homens para o que diz ser o tempo de contar as histórias, não do reino dos céus, mas do reino sebastianista de umas areias que “ficavam no caminho da estrela de Belém”. Adornada por belos, comoventes e ajustados arranjos executados pelos violões precisamente dedilhados de Hilton Filho e do próprio Chico Maranhão, e pelas intervenções oportunas e bem dosadas do piano de Marcelo Carvalho – que responde pelos adornos -, a oração de Chico Maranhão ganha força e pureza plena na voz límpida, angelical e despretensiosa de Glória Corrêa, complementada pelo coro formado por Chico Maranhão, Hilton Filho, Marcelo Carvalho, Ubiratan Souza e Valdelino Cécio. A versão dá à Verônica maranhense uma dignidade singular, justificando perfeitamente a posição de abertura em Pedra de Cantaria.

2 – “Terra de Noel”. Nenhuma das muitas versões desse samba que colocou o genial Josias Sobrinho no patamar que hoje ocupa na MPM traduziu melhor o espírito e a beleza do que essa faixa de Pedra de Cantaria. Expressão afoita de manifesto dentro da realidade cultural, social e política de uma época em que as luzes democráticas começavam a vencer as trevas ditatoriais, o samba audacioso e provocador de Josias Sobrinho se encaixa perfeitamente no discurso da liberdade de pensar e de escolher, sem se apegar a rótulos, indo buscar suporte na memória superior de Noel Rosa. E fecha o discurso reivindicando o direito de ser consciente da situação, independente de qual seja o contexto. Na versão de Pedra de Cantaria, “Terra de Noel” ganhou a melhor de todas as embalagens em matéria de arranjo. Foi envolvido com um “duelo” harmonioso, vigoroso e competente do violão de sete cordas do mestre Ubiratan Souza e do violão básico do próprio Josias Sobrinho com o acordeão solto e debochado de Marcelo Carvalho e das evoluções inquietas da flauta de Zezé, tudo corretamente arbitrado pelo cavaquinho de Beto Pereira e cadenciado pela percussão disciplinada e envolvente de Arlindo Carvalho e Manoel Pacífico. Tudo isso com um detalhe absolutamente relevante: com sua voz única, inimitável, Josias Sobrinho – que também assina os arranjos – nunca cantou “Terra de Noel” com tanta emoção.

3 – “Baltazar”. Uma das joias do rico repertório autoral de Giordano Mochel, um dos grandes nomes da MPM nos anos de resistência, sempre voltado para o que há de essencial da cultura maranhense, a canção desenha imagens que mostram a relação de São Luís com o mar que a cerca e a tornou ímpar. O poema musicado de Giordano Mochel fala das chegadas e partidas de bianas na Baía de São Marcos, registradas pelas varandas dos casarões da Beira-Mar, como que uma pintura de aquarela. Bem interpretada pelo próprio Giordano Mochel, que faz as duas vozes e também responde pelo violão base, “Baltazar” foi arranjada pelo mestre Ubiratan Souza, que executa com igual maestria os adornos de viola e de bandolim em harmonia perfeita com a flauta genialmente emocionada de Sérgio Habibe. É música para ouvir de olhos fechados e sonhar viajando na proa de uma biana sentindo a brisa de São Marco.

4 – “São Francisco”. Trata-se de um baião monumental de autoria do craque Zé Pereira Godão, que, quase como uma crônica, narra a realidade dos desvalidos, chamados “heróis brasileiros” que chegam à Ilha movidos pela esperança de dias melhores, deslumbrados com o sol das praias, mas logo enquadrados numa realidade cruel de sobrevivência difícil, de desmantelos e no dilema do guerreiro que “paga a desgraça com forte sorriso de amor”, mas que “se corre pega desarma, se fica paga-a com a dor”. Um discurso político bem encaixado naquele momento, quando a arte reforçava seu enfrentamento com a ditadura. Bem interpretada na voz do próprio Zé Pereira Godão, o baião ludovicense é embalado pelas cordas do vilão de mestre Ubiratan Souza, do contundente solo de viola de Omar Cutrim e da base forte do cavaquinho de Beto Pereira, também pelos acordes do acordeão forte e nordestino de Marcelo Carvalho e corretamente ritmado pela percussão bem armada de Arlindo Carvalho e Manoel Pacífico. O discurso de Zé Pereira Godão continua traduzindo fielmente a realidade social.

5 – “Olho D`Água”. Composta no final dos anos 70, quando o ideário preservacionista era ainda embrionário, a canção de Sérgio Habibe e Hilton Filho é um grito agudo contra a destruição da natureza e das culturas indígenas ancestrais. Uma poesia forte, lembrando que por aqui olhos d`água “choravam”, o olho de boi “segredava na areia” e “cada palmeira era um índio”. Interpretada no tom certo de lamento por Hilton Filho, com intervenções eventuais de Sérgio Habibe é um manifesto. Além da letra, cuja mensagem surpreende pela atualidade após quatro décadas e uma virada de século entre elas, “Olho D`Água” emociona por um arranjo feliz, que se encaixa precisa e totalmente à letra, com as flautas de Sérgio Habibe e Zezé dominando em duas vozes e dando força ao tom dramático do lamento, sustentadas por uma base de violão dedilhado por Hilton Filho. Tudo ordenado por uma percussão simples e primorosa de Arlindo Carvalho e Manoel Pacífico. Música para ouvir e refletir numa época em que ainda se assassina líderes indígenas.

6 – “Cavalo Cansado” é um dos grandes momentos da genial, vasta e bem construída obra musical de Sérgio Habibe, que marca com ela o fim da era dos grandes festivais, nos quais pontificou como um dos grandes nomes, para ingressar integral e definitivamente na MPM. É uma declaração de amor às avessas a Alcântara, cansado de esperar vigiando suas portas e ruínas que lembram um rei que nunca chegou. Daí a pergunta angustiada sobre quem colonizou no peito este sonho, que não tem fim. O poema de Sérgio Habibe é envolvente e revelador de uma relação apaixonada, que se manteve firme e o trouxe de volta depois de navegar por outras terras. Interpretada pelo próprio Sérgio Habibe no ritmo de uma balada forte e intensa, e por ele próprio arranjada, a música ganha fluidez numa densa e perfeita base de dois violões em completa harmonia, um do próprio autor e outro de Hilton Filho. O adorno melódico é fortemente enriquecido pelas belas evoluções da flauta de Zezé e pela cadência precisa e adequada da percussão de Arlindo Carvalho e Manoel Pacífico. É uma peça que comove a cada audição.

7 – “Porco Espinho” – Joia brilhante do acervo produtivo de Josias Sobrinho, a faixa é baião arrochado, que abriga uma metáfora típica dos tempos de chumbo político. Um belo poema, que começa indagando “Que que tem passarinho encantado no meu coração?” E evolui sugerindo que “tem gente querendo virar bicho, macaco, mambira e coisa e tal”, e dá sequência provocadora referindo-se ao que pode ter numa mata, que pode estar abrigando de cachorro a cobra grande. E avisa: pode desenterrar a gaiola. Em “Porco Espinho”, Josias Sobrinho reafirma sua veia de letrista que junta com perfeição a realidade com o surreal num jogo de palavras sempre audacioso e às vezes   desconcertante. Arranjado pelo próprio Josias Sobrinho, esse baião dos bichos é embalado pela competente percussão de Manoel Pacífico, e adornado pelo forte acordeão de Marcelo Carvalho e pelos   acordes de viola do talentoso Omar Cutrim, animado ainda pela flauta de Zezé. É tão atual quanto no tempo em que foi gestado.

8 – “Voo Nupcial” – A canção é um poema de Souza Netto genialmente musicado pelo mestre Ubiratan Souza. Construído numa linguagem culta, o português casto, o poema se refere a uma noite de amor que usa expressões como um beija-flor, que num gesto de amor “voluteia grácil pelo ar”, para dizer que a vê bailar “num gesto natural de amar”. E prossegue afirmando que, depois de inebriar todos os sentidos, a define como o “cinzel do artífice-maior”, “o estrato mais sutil do amor-perfeito”, para arrematar afirmando que “o simples desejo é fogo-fátuo singular”, e por aí vai. Bem interpretado pelo mestre Ubiratan Souza, o poema-canção ganhou um arranjo adequado pela base de cordas nos violões do próprio Ubiratan Sousa e de Hilton Filho e pelo belo e bem afinado dueto feito pela flauta intensa de Sérgio Habibe e pelo acordeão competente de Marcelo Carvalho. Para ouvir de olhos fechados e viajando.

9 – “Alegria da Ilha” – A letra é da lavra de Valdelino Cécio, poeta de mão-cheia e arraigado às raízes da cultura popular maranhense, especialmente o bumba-meu-boi. Musicada por Adler São Luís, que também lhe dá voz, a faixa começa como um baião e termina como uma toada no sotaque de matraca. Nela, Waldelino Cécio externa sua paixão incontida pelo mais importante e exuberante folguedo maranhense, logo de cara avisando que se trata de um boi valente, que “esturra até o sol raiar”, e que “traz matraca e maracá”. Destaca o caboclo de pena de Axixá, para desaguar no refrão “É boi, bumba/meu/boi. Meu boi bumbá”. E no final, uma virada surpreendente: mergulha no sotaque de matraca perguntando à negra Catirina onde o povo alegre se escondeu. Arranjado por Adler São Luís, esse baião-toada é adornado pelo violão base do próprio arranjador, pelo violão sete cordas do mestre Ubiratan Sousa e pela viola de Omar Cutrim, aos quais se junta o acordeão de Marcelo Carvalho, tudo ritmado pela percussão de Arlindo Carvalho e pela participação de um coral formado por Valdelino Cécio, Adler São Luís, Zé Pereira Godão, Ubiratan Sousa e Manoel Pacífico.

10 – “Situba” – Uma bela canção de Giordano Mochel. O poema desenha uma morena a partir da ideia de um brejo, onde predominam as palmeiras de buriti em meio a pés de canarana e aves como aguim. E também rios, peixes como mandi e bianas partindo para o mar. Fala também da mata, do pio do japi e do jeito do saci. E recorre à magia da varinha de condão para abrir o coração da linda morena, para entrar na sala do seu peito.  Interpretada pelo próprio Giordano Mochel, que faz o violão base, “Situba” tem arranjos do mestre Ubiratan Sousa, que também cuida do violão solo e das intervenções de viola, e o reforço discreto e bem ajustado do sempre eficiente acordeão de Marcelo Carvalho. O diferencial da embalagem é a percussão intensa e bem armada de Arlindo Carvalho e Manoel Pacífico.

11 – “Bandeireiro do Divino” – Uma das mais belas homenagens a São Luís e à festa do Divino Espírito Santo que se cultiva na Ilha, o poema de Souza Neto musicado e interpretado pelo mestre Ubiratan Sousa em ritmo de caixas é um marco na MPM. Como um roteiro da festa, atende a um convite para cantar no salão de São Luís, o Divino de Souza Neto protagoniza o bandeireiro, que lidera o grupo – imperador, imperatriz, mordomos régios e damas – carregando a bandeira vermelha com uma pomba branca ao centro, e as caixeiras, figuras centrais que dão a força simbólica e rítmica à ópera popular que é o Divino Espírito Santo. Além de uma interpretação forte, fazendo várias vozes, Ubiratan Sousa brindou o poema com um arranjo perfeito, unindo o seu próprio violão às caixas rufadas com força e elegância por Arlindo Carvalho e Manoel Pacífico, ao que se somam adornos melódicos da flauta de Sérgio Habibe e do acordeão de Marcelo Carvalho. Música para ouvir e não esquecer.

São Luís, 04 de Abril de 2020.

 

Partidos: troca-troca atende a conveniências, mas inibe a evolução de uma cultura partidária no País

 

Termina hoje o prazo de filiação partidária, com mudança de partido, para as eleições municipais deste ano. As pressões para que, por causa da pandemia de coronavírus, a Justiça Eleitoral ampliasse o período para esse privilégio descabido não surtiram o efeito desejado por chefes partidários, o que reforçou a posição da presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Rosa Weber, e do seu iminente sucessor, ministro Roberto Barroso, de que o calendário eleitoral está mantido e que, a menos que haja um cataclismo sanitário no País, a corrida às urnas está mantida para o dia 7 de Outubro. As medidas de isolamento social certamente inibiram articulações na seara partidária, mas não foram suficientes para desmotivar alguns políticos, que produziram fatos nada republicanos em matéria de seriedade partidária. O dia de hoje certamente será intenso nos bastidores da política municipal, com um frenético troca-troca partidário que desembocará na montagem das chapas que disputarão Prefeituras e vagas em Câmaras Municipais.

O que está acontecendo é que o Brasil, mesmo sendo uma democracia garantida por uma Constituição vigorosa, garantidora de um ordenamento institucional operado pelos três Poderes da República – Executivo, Legislativo, e Judiciário -, ainda não encontrou o caminho certo no que respeita à representação política, que nos estados consolidados tem nos partidos os canais legítimos. O problema está exatamente na fragilidade do quadro partidário, no qual alguns partidos legitimados por ideologias, doutrinas e programas – PCdoB, PT, PDT, PSB, MDB, PSDB, DEM, Novo, PV, Rede, PSOL, PSL, Republicanos, Podemos, entre outros – se debatem numa espécie de pântano partidário infestado de legendas de aluguel controladas por oportunistas, e por políticos que, valendo-se dessas concessões absurdas feitas aqui e ali pelo Congresso Nacional, migram da esquerda para a direta e vice versa com a maior facilidade.

Ontem, por exemplo, o deputado estadual Fábio Macedo protagonizou um desses fatos ao mesmo tempo surpreendente e chocantes. Eleito duas vezes pelo PDT, Fábio Macedo decidiu deixar o centro-esquerda e migrou para o centro-direita, filando-se ao Republicanos. Até aí, tudo bem, porque ele nunca teve a menor afinidade com o brizolismo. Ontem, Fábio Macedo “prestigiou” o ingresso na sua mulher, Lorena Macedo, no PSL, do qual será nada menos que presidente do Diretório de São Luís. Ou seja, conhecidos pelo poder de fogo que detêm, os Macedo vão controlar duas agremiações em São Luís, seguindo o exemplo do deputado federal Josimar de Maranhãozinho, que dá as cartas no PL, no Avante e no Patriotas.

Exemplos como o do deputado Fábio Macedo são fartos. O deputado estadual Duarte Júnior, por exemplo, deu uma guinada radical ao trocar o PCdoB pelo Republicanos, o mesmo acontecendo com seu colega Yglésio Moisés, que migrou do PDT para o PROS. O deputado Leonardo Sá deixou o PDT para ingressar no PL, para citar mais um exemplo. A verdade é que não há motivação ideológica nessas mudanças. Elas são atendem a conveniências ou a ajustes nos tabuleiros políticos regionais por conta das eleições municipais. Quadros excelentes da nova geração de políticos maranhenses, os deputados Duarte Júnior e Yglésio Moisés só aproveitaram a “janela” para mudar de partido porque não encontraram nas suas agremiações de origem apoio para levar em frente os seus projetos eleitorais pessoais.

O frenesi do troca-troca, que deve encerrar à meia-noite de hoje, resolverá muitas amarras políticas pessoais e proporcionará a montagem de alianças em torno de candidaturas. Mas, por outro lado, alimentará a fragilidade partidária como um ponto fraco do sistema político e eleitoral do país, contribuindo para retardar a construção de um quadro partidário ideológica, doutrinaria e programaticamente bem resolvido.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Flávio Dino reagiu no tom devido à agressão do Clube Militar a ministro do Supremo

Flávio Dino: solidariedade de governador e ex-magistrado ao ministro Marco Aurélio Mello

O governador Flávio Dino (PCdoB) saiu em defesa do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), duramente alvejado ontem por nota do Clube Militar, numa reação à decisão do magistrado de dar continuidade a uma notícia-crime contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), acusado de incentivar desrespeito ao isolamento social decretado por governadores numa ação preventiva contra o coronavírus.

Na sua nota, o Clube Militar acusa o ministro Marco Aurélio Mello de tentar criar constrangimento ao presidente da República ao acatar a notícia-crime – formulada por um deputado federal goiano: “O próprio ministro Marco Aurélio, que deve ser especialista no assunto, liberou geral para governadores e prefeitos tomarem suas decisões. Surpreende-nos que, ao invés de dar celeridade aos processos contra políticos corruptos, com seus foros privilegiados, que apodrecem à espera da prescrição, o ilustre ministro prefira dar continuidade a um pedido que não mereceria nem a lata de lixo da justiça”.

Sobre a nota, o governador Flávio Dino fez o seguinte comentário: “Minha solidariedade ao Supremo Tribunal Federal, um dos poderes constitucionais a quem os militares devem obediência e respeito”.

Mais que óbvio que tal nota não foi gestada por líderes militares responsáveis, pois tem todas as digitais de coisa armada pelo “gabinete do ódio”, com aval de alguns estrelados saudosos dos tempos da ditadura. Até porque o texto faz uma relação absolutamente sem sentido, pois não tem qualquer relação com a realidade. Oficiais de alta patente com o mínimo de decência não elaborariam uma nota tão chula.

A reação de Flávio Dino faz todo sentido e tem dois vieses. O primeiro é que como governador ele foi citado indiretamente e em tom crítico na nota do Clube Militar, o que lhe dá o direito de se posicionar. O segundo viés é que, como ex-magistrado federal, tem a noção exata do que representa um ministro do Supremo no contexto institucional brasileiro, e conhece as regras no que diz respeito a limites legais das prerrogativas militares, o que lhe dá autoridade para observar que a nota do Clube Militar contra o ministro Marco Aurélio Mello caracteriza um ato de insubordinação punível com severidade.

 

Coluna torce por Roberto Fernandes, Daniella Tema e Aluísio Mendes

Roberto Fernandes, Daniella Tema e Aluísio Mendes contra a covid-19

A Coluna acompanha com atenção e preocupação a luta do jornalista Roberto Fernandes contra o coronavírus. Ele se encontra internado no UDI Hospital há alguns dias, e segundo fontes do hospital, vem se recuperando. A Coluna torce por sua vitória sobre o vírus, esperando que ele retorne logo aos microfones da Rádio Mirante AM e aos estpudios da TV Mirante. Espera a recuperação do deputado federal Aluízio Mendes (PSC), que encontra-se internado num hospital de Brasília, com a informação oficiosa de que estaria com dificuldades respiratórias. Torce também para que a deputada estadual Daniella Tema (DEM), que enfrenta a covid-19 em casa, de quarentena, trabalhando por videoconferência, mas com sua saúde em ordem, volte logo |à vida normal. Torcendo por eles, a Coluna torce por todos os que estão enfrentando esse inimigo voraz, contra o qual as principais arma é lavar as mãos e respeitar a quarentena.

São Luís, 03 de Abril de 2020.

Roberto Rocha reforça PSDB com Maura Jorge, assumindo o controle do bolsonarismo no Maranhão

 

Roberto Rocha faz festa para Maura Jorge, ao recebê-la como o mais novo reforço do PSDB

Mesmo em meio ao impacto violento e de consequências imprevisíveis da chegada da pandemia do coronavírus ao Brasil, o tabuleiro político-partidário nacional continua em movimento, ainda que discretamente, de olho nas eleições municipais de Outubro, que serão mesmo realizadas, segundo avisou ontem a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Rosa Weber, contrariando alguns movimentos que objetivam vê-las adiadas. No Maranhão, a mais nítida evidência de que os grupos partidários não estão de quarentena e vão agir dentro do prazo para mudança de partido – que termina amanhã – foi a migração da ex-prefeita de Lago de Pedra e ex-candidata ao Governo do Estado Maura Jorge do PSL, que rompeu com o presidente Jair Bolsonaro, para o PSDB, comandado no estado pelo senador Roberto Rocha, hoje um dos mais fiéis aliados do presidente da República.

A conversão de Maura Jorge à banda tucana bolsonarista não surpreende. Ela fez um movimento lógico e previsível, já que continua fidelíssima ao presidente da República e não poderia continuar no PSL, um partido rachado e hoje com a maior parte dos seus quadros se mantendo aliada do presidente Jorge Bivar. Ao optar por ingressar no PSDB, pelo qual deve tentar voltar à prefeitura de Lago da Pedra, à frente da qual poderá ter uma atuação política mais forte em 2022. Maura Jorge se afastou da banda maranhense do PSL ligada ao presidente Chico Carvalho, que depois de 20 anos no comando da legenda, decidiu corajosamente manter-se alinhado ao grupo do partido que rompeu com Jair Bolsonaro. E deverá permanecer no PSDB até que o presidente e seu grupo consigam registrar o Aliança Brasil, ao qual deverá se filiar tão logo seja possível.

Ao atrair Maura Jorge para o ninho dos tucanos, o senador Roberto Rocha dá uma demonstração de que não está de braços cruzados e se movimenta intensamente à procura de aliados com os quais possa formar uma base que lhe dê suporte para entrar na briga de 2022 como candidato ao Governo do Estado ou à vaga que ele próprio ocupa Senado. Sua grande cartada, que era firmar uma aliança com o deputado federal Carlos Braide (Podemos) em São Luís, e assim garantir o seu apoio para o seu projeto de disputar o Governo do Estado, não funcionou. Eduardo Braide preferiu abrir mão do apoio do PSDB, que ficaria com a vaga de vice, obrigando Roberto Rocha a declarar apoio à candidatura do deputado estadual tucano Wellington do Curso.

Apontado por muitos como politicamente controvertido, o senador Roberto Rocha é, porém, um político inteligente, especializado em sobrevivência. Saiu do PFL, expoente da direita liberal, e chegou ao PSB, pelo qual se elegeu vice-prefeito de São Luís numa aliança com o PTC, então o partido de Edivaldo Holanda Júnior, e ainda empunhando a bandeira do socialismo, elegeu-se senador na onda que levou Flávio Dino ao poder em 2014, para romper com o governador pouco depois. Pressionado dentro do PSB, jogou cartada arrojada, migrou de volta para o PSDB e tomou o partido do vice-governador Carlos Brandão, que foi obrigado migrar para o PRB. Agora, sem espaço nos grupos que dão suporte ao governador Flávio Dino, tenta se viabilizar como a grande voz da Oposição no Maranhão.

Ao reforçar o PSDB com a ex-prefeita Maura Jorge, o senador Roberto Rocha confirma, de maneira clara e indiscutível, que está determinado a fortalecer o seu alinhamento ao bolsonarismo, tornando-se, assim, seu principal porta-voz no estado, apostando que com essa bandeira possa eleger uma base de prefeitos e vereadores, com a qual espera contar em 2022.   E a julgar pelo entusiasmo com que recebeu Maura Jorge no ninho tucano, Roberto Rocha parece disposto a embalar seu projeto majoritário para 2022, como quem está decidido a pagar para ver.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Edivaldo Holanda Jr. entra de vez na guerra e amplia benefícios para famílias vulneráveis

Edivaldo Holanda Júnior anuncia reforço de benefícios para famílias

O prefeito Edivaldo Holanda Junior (PDT) entrou de vez na luta para dar o suporte possível aos milhares de ludovicenses cuja situação de vulnerabilidade certamente será agravada com a expansão da epidemia do novo coronavírus em São Luís. Ontem, ele lançou um pacote de ações que inclui, por exemplo, auxílio-renda para as 70 mil famílias cadastradas no programa Bolsa Família na Capital, com o que poderá garantir a segurança alimentar dessa faixa vulnerável da população.

O auxílio-renda, no valor de R$ 40,00, será pago por dois meses, complementando a renda das mais de 12 mil famílias em situação de extrema pobreza, que são aquelas cuja renda mensal é de até R$ 89,00. A ação de segurança alimentar beneficiará famílias cadastradas no Bolsa Família, tenham crianças de 0 a 3 anos na composição familiar ou que sejam chefiadas por mulheres.

As demais 58 mil famílias cadastradas no Bolsa Família que não estão dentro da faixa de extrema pobreza receberão alimentos  por meio do Programa Peixe Solidário, que distribuirá 140 toneladas de pescados, ou do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Quem for beneficiado pelo PAA receberá cestas de alimentos comprados dos pequenos produtores rurais da zona rural de São Luís. A identificação das famílias vulneráveis será feita por equipes de assistência social, que lhe informarão sobre os benefícios, orientando-as sobre como devem proceder para receber o benefício.

Essa assistência, somada aos benefícios a serem concedidos pelo Governo do Estado e pelo Governo Federal, garantirá alimentos às famílias em situação de vulnerabilidade, com um dado positivo a mais: o prefeito Edivaldo Holanda Júnior também anunciou que as famílias de pequenos produtores rurais que tenham renda assegurada durante o período de pandemia com a aquisição dos seus produtos pela Prefeitura da Capital.

 

MDB pode ter candidato próprio São Luís ou se aliar ao PV ou ao Podemos

Adriano Sarney

O deputado Adriano Sarney (PV) está trabalhando na surdina para atrair o MDB para o seu projeto de candidatura à Prefeitura de São Luís. Ele já conversou informalmente sobre o assunto com o presidente emedebista, João Alberto, acha difícil essa aliança, mas tem deixado claro que tudo é possível, incluindo nesse leque de perspectivas o lançamento de candidato próprio ou partir para uma aliança, que pode ser com o candidato do PV ou com Eduardo Braide (Podemos) ou com Adriano Sarney. O deputado já teria sinalizado que quer o apoio do MDB e já teria ido à sede emedebista, para conversar com a cúpula do partido. Falta Adriano Sarney convencer primeiro o deputado Roberto Costa, que Mas, independentemente de como irá para as eleições, uma decisão já está tomada: lançar uma chapa forte de candidatos à Câmara Municipal.

São Luís, 02 de Abril de 2020.

 

Assembleia refaz contas, corta gastos e usará recursos poupados no combate ao coronavírus

 

Othelino Neto: corte de gastos e recursos para combater a covid-19

Depois de adotar medidas para economizar R$ 6,5 milhões para comprar 42 ambulâncias e distribuí-las de acordo com a indicação dos deputados, de articular um entendimento para que cada parlamentar destinasse R$ 100 mil de suas emendas para garantir o funcionamento do Hospital Aldenora Bello – referência regional no tratamento do câncer – e de mobilizar seus integrantes para dedicar recursos de emendas para a guerra contra o coronavírus, a Assembleia Legislativa está dando mais um passo além dos limites da sua obrigação de fiscalizar e legislar. Ontem, o presidente Othelino Neto (PCdoB) anunciou um pacote de medidas de contenção de gastos também com o objetivo de reforçar com os recursos poupados o combate à covid-19. A economia nesse caso se explica no fato de que o isolamento social reduziu drasticamente as atividades do Poder Legislativo, encolhendo também o consumo de materiais e os custos operacionais.

Adotada com o aval da Mesa Diretora e do colégio de líderes e formalizada na Resolução Administrativa nº 161/2020, a medida   prevê a suspensão, por 60 dias, de autorização para viagem, incluindo emissão, reserva, remarcação e cancelamento de passagem aérea, rodoviária, fluvial e ferroviária. O cutelo alcançou também a contratação de serviços de buffet e de hotelaria, e o fornecimento de alimentação a convidados oficiais, que não devem aparecer em tempos de quarentena e de escassez financeira. A Resolução Administrativa suspende ainda, pelo mesmo período de dois meses, a compra de materiais de expediente e a contratação de serviços de locação de ônibus e micro-ônibus, entre outras medidas.

Com essa reengenharia de gastos e consumo, o presidente Othelino Neto avalia que conseguirá enquadrar as contas do Poder Legislativo no contexto da crise monumental que já está em curso no País, alcançando implacavelmente o Maranhão. Com o pacote de contenção de gastos, o presidente Othelino Neto fez inúmeros cálculos e chegou à conclusão de que conseguirá manter o equilíbrio financeiro do Poder, contribuindo assim para amenizar o inevitável e forte impacto econômico no atual momento de emergência sanitária. “Seguimos nos adaptando ao atual cenário, agindo com responsabilidade e adotando todas as medidas necessárias para ajudar a tentar amenizar o abalo econômico provocado pela pandemia”, destacou o presidente ao justificar a iniciativa.

A Assembleia Legislativa tem tido postura séria e coerente dentro da crise causada pela epidemia de coronavírus no Maranhão. Atento ao que acontecia no mundo por causa da pandemia de coronavírus e os desdobramentos no Brasil, o presidente Othelino Neto agiu a tempo, articulado com o governador Flávio Dino (PCdoB) e com o desembargador-presidente Joaquim Figueiredo (Poder Judiciário). Já no dia 17/03 adotou medidas restritiva de circulação no Palácio Manoel Beckman, radicalizando em seguida com a proibição do acesso às instalações do Poder Legislativa, só permitindo o acesso de deputados, assessores e servidores da Casa, adotando o regime de turnos e de plantões para as atividades essenciais. Dias depois, em nova medida, o presidente restringiu totalmente o acesso às instalações da instituição parlamentar.

O ponto alto dos ajustes feitos no funcionamento do Poder foi a iniciativa pioneira por meio da qual ingressou a Assembleia Legislativa maranhense na era das sessões à distância, feitas por videoconferência. Assim, tornou a instituição uma das primeiras Casas Legislativas estaduais a seguir o pioneirismo do Senado da República, que inaugurou esse procedimento ao votar o Projeto de Resolução que validou o estado de calamidade pública decretado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e que foi relatado pelo senador maranhense Weverton Rocha (PDT), um dos protagonistas da histórica sessão senatorial. Desde que adotou o novo sistema, o presidente Othelino Neto já comandou duas sessões por videoconferência, estando a próxima marcada para esta quarta-feira. Mantém com ele os deputados mobilizados, mesmo à distância.

Num contexto de uma crise imprevista, causada por um vírus letal e que vem desestabilizando as sociedades mais avançadas, a iniciativa de conter gastos e destinar os recursos poupados para a frente de batalha pode ser traduzida como responsabilidade política.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Fato incontestável: Jair Bolsonaro não se encaixa no mandato presidencial

Jair Bolsonaro nenhuma versão o torna presidente

Tão difícil quanto ver o senhor Jair Bolsonaro no seu estado natural, como na sua incursão pelo entorno de Brasília, quando defendeu a quebra do isolamento social afirmando que combate o coronavírus “como homem e não como moleque”, é vê-lo se esforçar pateticamente para posar de chefe de Estado e de Governo responsável, como apareceu ontem para mais um pronunciamento inacreditável em horário nobre. O Jair Bolsonaro em estado natural é um populista rasteiro, que parece falar para os 200 milhões de brasileiros, mas que na verdade foca na sua turma, que hoje seguramente não chega à metade dos 57,7 milhões de votos que lhe deram o mandato presidencial. O Jair Bolsonaro tentando ser um estadista é igualmente um desastre, pelo simples fato de que, diga o que lhe entregarem para ler, lendo no tom que lhe orientarem, estará pura e simplesmente tentando ser o que não tem estatura para ser. O problema é que o Jair Bolsonaro em estado natural e o Jair Bolsonaro que tenta parecer um presidente equilibrado não se se encaixam no perfil de um chefe de Estado confiável, que sabe o que diz. No caso do discurso de ontem, além da brutal incompatibilidade da sua postura verdadeira com o texto que lhe deram para ler, ficou evidente que o presidente cometeu um monumental crime ético ao distorcer as palavras do diretor-geral da OMS, usando apenas a parte das declarações que lhe interessava, protagonizando um vexame planetário, confirmado pelo elegante pito que recebeu do correto Tedros Adhanom. A verdade nua e crua é que, mesmo detentor de um mandato legítimo, Jair Bolsonaro não se encaixa no cargo de presidente da República.

 

Sem lastro político e ético, Aécio Neves propõe o adiamento das eleições municipais para 22

Aécio Neves proposta audaciosa, mas sem lastro político nem estatura moral para fazê-la

O meio político nacional foi surpreendido ontem por um vídeo no qual o deputado federal mineiro Aécio Neves (PSDB) anuncia que protocolou na Câmara Federal um projeto de lei propondo o adiamento das eleições municipais, que estão marcadas para outubro, para 2022, para coincidirem com as eleições gerais, quando serão eleitos o presidente da República, um terço dos senadores, os deputados federais, os governadores, os deputados federais. Assim, os atuais prefeitos e vereadores ganhariam dois anos de mandato de graça. No mesmo projeto, Aécio Neves propõe a partir de 2026 serão realizadas em todos os níveis para mandatos de cinco anos, sem direito à reeleição para presidente, governador e prefeito. E justificou que a mudança agora garantiria que os recursos do Fundo Eleitoral (R$ 2,5 bilhões) e parte do também bilionário fundo partidário sejam destinados ao combate ao coronavírus.

Uma proposta como outras já protocoladas ou estão a caminho da Câmara Federal, com o diferencial que está sendo feita por um político que, lamentavelmente, perdeu todas as condições políticas e éticas para tomar iniciativas dessa envergadura.

São Luís, 01 de Abril de 2020