Por decisão da Câmara Municipal e boa vontade de juiz federal, Lidiane reassume em Bom Jardim e Malrinete reage

 

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Lidiane Leite ontem, ao reassumir o cargo, e no tempo em que, deslumbrada, ostentava poder, luxo e riqueza

Os maranhenses amargaram ontem um impacto de soco no estômago com a notícia – que correu rápido e causou perplexidade no Brasil inteiro – de que Lidiane Leite da Silva, que se tornou conhecida no mundo inteiro como “prefeita ostentação” – que fora presa, ganhou liberdade com tornozeleira eletrônica e responde a três processos por fraude em licitações e desvio milionário da merenda escolar – reassumiu o comando da Prefeitura do pobre e sofrido município Bom Jardim. Ela voltou ao cargo pela surpreendente conjugação de duas decisões: a decisão da Câmara Municipal de desfazer, mais de 300 dias depois, o ato que declarou vago o cargo que ela ocupava e empossou a vice-prefeita Malrinete Gralhada, decisão reforçada por autorização dada pelo juiz federal José Magno Linhares Moraes, para que ela tenha acesso às dependências da sede da administração municipal. Lidiane Leite reassumiu no plenário do Legislativo municipal, com um discurso em que jurou inocência e prometeu realizar uma “melhor administração”. A vice-prefeita Malrinete Gralhada, que estava no comando da Prefeitura, decidiu bater às portas da Justiça por meio de um Mandado de Segurança.

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Malrinete Gralhada vai à Justiça para se manter no cargo

A decisão da Câmara Municipal de Bom Jardim que devolveu o cargo de prefeito a Lidiane Leite foi duramente criticada por líderes políticos. Causou também perplexidade e comentários a decisão do juiz José Magno Linhares Moraes. A medida legislativa para desfazer uma declaração de vacância definitiva do cargo – ela passou 39 dias ausente e fugindo da Polícia – formalizada há dez meses, gerou muitas dúvidas acerca da sua legalidade. E a concessão feita segunda-feira pelo magistrado federal de autorizar o acesso da agora prefeita de novo às dependências da administração municipal para exercer as prerrogativas que lhe foram devolvidas pelos vereadores.

A volta de Lidiane Leite – agora com o seu jovem e belo rosto sem maquiagem e com a expressão dominada pela candura, sem qualquer traço da “nova rica” arrogante que exibia nas redes sociais quando postava selfies ostentando grifes caríssimas e afirmando que a grana estava “sobrando” – interrompeu a gestão da prefeita Malrinete Gralhada (PMDB), no cargo desde o dia 28 de setembro por decisão judicial, tomada com base na declaração de sua vacância definitiva feita pela Câmara Municipal. Empurrada de volta à condição de vice-prefeita, depois de nove meses se desdobrando para colocar ordem no caos que estava instalado em Bom jardim quando a prefeita fugiu, Malrinete Gralhada considerou a reviravolta uma situação abusiva e ontem mesmo deu início a uma guerra judicial para desmanchar o ato da Câmara Municipal e ter o cargo de volta.

Para quem não se lembra, Lidiane Leite da Silva, uma jovem linda e pobre de Bom Jardim, viveu um conto de fadas tupiniquim ao casar-se com o prefeito Humberto Dantas Santos, um homem poderoso e influente, que além da política ganhou fama como agiota. A união abriu-lhe as portas da boa vida, do dinheiro fácil e do acesso a tudo com que sempre sonhara: roupas caras, joias, carros, viagens, enfim, a uma vida de deslumbramento. E com um detalhe a mais: tudo mostrado em vídeos e imagens que correram o mundo pelas redes sociais. Só que por trás desse conto às avessas havia um plano político e criminoso, segundo o Ministério Público, para assaltar os cofres públicos. Não podendo mais ser candidato a prefeito, pois já havia exercido dois mandatos, Humberto Dantas candidatou a mulher Lidiane Leite em 2012. Ela venceu a eleição e o nomeou secretário de Assuntos Políticos, com carta branca para administrar, tomar decisões, contratar, pagar, para agir com todos os poderes, deixando-a livre para curtir a vida, circulando à bordo de um Land Rover, uma maravilha inglesa de mais de R$ 500 mil.

Alertado por denúncias de que a rede escolar de Bom Jardim vivia uma situação dramática – escolas depredadas, professores desmotivados e crianças mal cuidadas, principalmente por falta de merenda escolar -, o Ministério Público Federal investigou e não deu outra: rastros de desvio de mais de R$ 30 milhões na gestão de Lidiane Leite, dos quais cerca de R$ 15 milhões do setor de educação e, principalmente, da merenda escolar. As investigações deram origem à “Operação Éden”, feita pela Polícia Federal em Bom Jardim, e que resultou na prisão do marido e secretário Humberto Dantas Santos e do ex-secretário de Agricultura, Antonio Gomes da Silva, acusado de ser operador do esquema sob as ordens do marido da prefeita.

A “Operação Éden” não conseguiu alcançar a prefeita. Lidiane Leite evadiu-se no dia 20 de agosto e se manteve homiziada numa fazenda, longe do alcance da PF. Entregou-se 39 dias mais tarde, no dia 29 de setembro, depois de negociar, via advogado, os termos da “rendição”. Passou mais de dois meses encarcerada na PF, mas em julho ganhou o direito de responder os processos em liberdade vigiada por meio de tornozeleira eletrônica. Nessa condição, retornou a Bom Jardim e na semana passada participou de convenção partidária de um candidato a prefeito que tem o vereador-presidente Arão Sousa Silva como candidato a vice-prefeito.

O que chama atenção no caso é que as decisões tomadas pela Justiça e pela Câmara Municipal têm base legal. A prefeita e seus secretários acusados de desviar dinheiro público foram presos e, por meio de recursos, ganharam o direito de responder às acusações em liberdade. No caso dela, ganhou não só a liberdade como também teve de volta o cargo, que deverá exercer até o dia 31 de janeiro, se a vice Malrinete Gralhada não conseguir o cargo de volta.

PONTO & CONTRAPONTO

João Marcelo critica retorno em discurso na Câmara
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João Marcelo criticou o retorno de Lidiane ao cargo em Bom Jardim

“Uma armação política que envergonha a todos”, assim o deputado federal João Marcelo Souza (PMDB) definiu a volta de Lidiane Leite ao comando da Prefeitura de Bom Jardim, ocorrida ontem, por decisão da Câmara Municipal e o aval da Justiça Federal. A reação do parlamentar se deu na tribuna da Câmara, onde, em discurso forte, repudiou o que classificou de “manobra política de vereadores e do presidente da Casa, vereador Arão Sousa Silva, que desfizeram a vacância do cargo reconhecida há dez meses e reabilitaram a ex-prefeita, que foi presa por fraude em licitações e desvio de recursos da merenda escolar”. E defendeu a ida da população de Bom Jardim às ruas. João Marcelo assinalou que a volta da ex-prefeita ao cargo surpreendeu a todos, principalmente por ter sido uma decisão da Câmara Municipal, o que na sua interpretação é uma “armação” comandada pelo presidente com o apoio de alguns vereadores. “Esse episódio veio desonrar a todos os maranhenses e brasileiros, que não suportam mais a corrupção. Como essa prefeita, que foi denunciada por desviar 15 milhões do município, pode voltar a comandar Bom Jardim?”, indagou João Marcelo, para acrescentar: “Ela foi criticada pela imprensa nacional e internacional, e agora volta ao cargo graças a esses vereadores irresponsáveis e propineiros, que não respeitaram a prefeita em exercício, uma gestora séria, que é Malrinete Gralhada”. O parlamentar finalizou fazendo um apelo à população de Bom Jardim: “Peço a todos de Bom Jardim, que enquanto a Justiça não se faz – e acredito que ela será feita – que o povo dê a resposta a esse episódio nas urnas. As eleições municipais serão daqui há dois meses, e a melhor resposta a esses políticos que nos envergonham será nas urnas, com o voto consciente da população”.

ESPECIAL

AML faz 108 anos, homenageia intelectuais e relança obras importantes para se compreender o Maranhão
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O fardão de Odylo Costa,filho será exibido hoje na comemoração dos 108 anos da  AML

A Academia Maranhense de Letras completa 108 anos neste 9 de Agosto de 2016. E comemorará a nova idade recebendo convidados para uma noite de celebrações. Tendo à frente o presidente Benedito Buzar, que tem feito grandes esforços para manter a instituição cultural em plena atividade, os imortais maranhenses cumprirão uma programação bem ao estilo da AML.

Para começar, às 19 horas o presidente Benedito Buzar apresentará o Hino da AML, de autoria da professora Gracilene Pinto. Em seguida, às 19:15, será inaugurada a exposição do fardão que vestiu um dos seus pares, o jornalista e poeta genial Odylo Costa, filho, na posse dele na Academia Brasileira de Letras. O fardão foi doado à AML pela família do jornalista, que comandou a grande reforma do Jornal do Brasil, no final dos anos 60 do século 20 passado e venerada até hoje como o mais importante marco transformador da imprensa brasileira até aqui.

A programação prosseguirá às 19:30, com palestras dos acadêmicos  Benedito Buzar, Ceres Costa Fernandes e José Ewerton sobre os centenários de nascimento dos acadêmicos Franklin de Oliveira, José Pires Sabóia e José Erasmo Dias, respectivamente.

Um dos momentos mais expressivos do evento comemorativo dos 108 anos da AML acontecerá às 20 horas, quando a instituição homenageará intelectuais que não pertencem aos seus quadros: Arlete Machado, Alberico Carneiro, Álvaro Mello, Aldir Costa Ferreira, Bento Moreira Lima, Celso Borges, Elcior Coutinho, Félix Alberto, Helidaci Correia, Hebert de Jesus Santos, Padre José Resende, José Maria Nascimento, José Henrique Borralho, José Cláudio Pavão Santana, José Eulálio Figueiredo, José Jorge Leite Soares, José Rossini, Jesus Santos, Lenita Sá, Luiz Augusto Cassas, Maria Raimunda Araújo, Maria de Lourdes Lauande Lacroix, Manoel Aureliano Neto, Pergentino Holanda, Paulo Melo Souza, Padre Raimundo Meireles, Ricardo leão, Ribamar Corrêa, Regina Faria, Salgado Maranhão, Sanatiel de Jesus Pereira e Sebastião Jorge.

O evento prosseguirá com o pronunciamento do acadêmico Joaquim Itapary Filho, que falará em nome da Casa, e com o relançamento de cinco  obras fundamentais para a compreensão política e cultural do Maranhão: História do Maranhão e História de São Luís, de Mário Meireles; A Revolução de 30 no Maranhão, de Reis Perdigão; Os novos Atenienses, de Antônio Lobo; e Poesias Reunidas de Laura Rosa. E ainda o lançamento do livro A cidade na literatura, do acadêmico Ronaldo Costa Fernandes.

Vale registrar que a programação comemorativa dos 108 anos da Casa de Antônio Lobo começou bem antes, na semana passada, mais precisamente no dia 2. Naquele dia, acadêmicos e intelectuais das mais diversas vertentes, se reuniram no casarão da Rua da Paz para reverenciar a memória do poeta maior Nauro Machado, que naquela data completaria 85 anos. Apoiada pelo presidente Benedito Buzar, a homenagem ao autor de O Baldio Som de Deus foi marcada pelo lançamento de um livro inédito: Canções de Roda nos Pés da Noite, autografado por Arlete Machado, e pelo relançamento de Erasmo Dias e Noites, que reúne crônicas, artigos, crônicas, contos, novela e poemas de do genial Erasmo Dias, apresentados pelo denso e genial ensaio “Erasmo, o agônico dos Apicuns”, do poeta Nauro Machado. Uma noite digna de registro.

São Luís, 09 de Agosto de 2016.

 

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