Demissões na Alumar mexem com governo e parlamento

 

alumar
Um desses segmentos da Alumar será desativado

 

Poucas vezes um fato de natureza econômica repercutiu tanto na seara política maranhense como o anúncio, segunda-feira, de que o Consórcio Alumar suspenderá, no dia 15 deste mês, uma das suas áreas de produção de alumina e desativará pelo menos 650 postos de trabalho, alegando um desequilíbrio na relação dos custos de produção com o preço do produto no mercado internacional.  Ato contínuo ao anúncio, o Palácio dos Leões emitiu nota em que lamenta e ao mesmo tempo critica, com alguma acidez, a decisão da empresa. Ontem, a crise momentânea e as iminentes demissões na Alumar pautaram a sessão na Assembleia Legislativa e levaram diversos deputados à tribuna, entre eles o líder do Governo, deputado Rogério Cafeteira (PSD), que foi duro com o Consórcio.

Inaugurado em 1984, no Governo Luiz Rocha, após um processo de implantação que começou no Governo João Castelo, que sempre reivindica a paternidade do empreendimento, e durou quase cinco anos, o Consórcio Alumar é uma empresa de capital multinacional, que produz, alumínio, um dos itens mais importantes e valiosos da indústria planetária de ponta: aviação, automobilismo, naval, eletrodomésticos e muitos outros segmentos. Pode-se dizer que, sem o alumínio, parte da civilização entraria em colapso, porque milhares de itens que dão suporte material e tecnológico deixariam de ser produzidos. Daí o fato de que, quando se fala de alumínio, se fala de bilhões de dólares. Quando se projeta uma fábrica de alumínio, a economia e o governo do local escolhido para receber o empreendimento festejam. Foi assim no Maranhão, no início dos anos 80 do século passado. A chegada do Consórcio Alumar foi anunciada como a redenção econômica do Maranhão.

A escolha de São Luís – uma Ilha mágica, próxima da Europa, da África e dos demais continentes, com uma região portuária magnífica e um povo melhor ainda -, foi festejada pela própria Alcoa, empresa carro-chefe do projeto. Sim, porque não seria apenas uma fábrica que transformaria a bauxita trazida do Amapá em alumina e alumínio. Foi previsto, com certeza absoluta, que o entorno da grande matriz fabril seria pontilhado de muitas indústrias de transformação, que turbinariam a economia maranhense transformando alumínio em panelas, papeiros, frigideiras, pratos, copos, talheres, enfim, em uma infinidade de utensílios, que sairiam do novo eldorado para ganhar o mundo.

Para “garantir” a fábrica por aqui, foram feitas, na forma de “incentivo fiscal”, todas as concessões que puderam ser imaginadas pelos organizadores do milagre econômico. O município deu boa parte das terras e abriu mão do ISS e do IPTU por várias décadas futuras – até a renovação do alvará seria gratuita. Na farra de incentivos, o Governo do Estado se entregou todo, a começar pela decisão mais danosa: isenção de ICMS por 30 anos, que se tornou ad eterno com a Lei Kandir, do governo dos tucanos, que liberou do pagamento de ICMS os produtos de exportação. Em resumo: a Alumar se instalou e passou a produzir no Maranhão com vantagens que não conseguiria em nenhum lugar do mundo, segundo especialistas.

Na esteira de uma isenção fiscal sem paralelo, o Consórcio Alumar prometeu fazer investimentos eventuais em obras públicas e ganhou parte da opinião pública financiando artistas ao longo dos anos 80 e 90. O custo de tudo o que fez não chega a um milésimo do que deixou de pagar em impostos até aqui. Nesse período, bateu várias metas de faturamento, fechou balanços anuais com lucros bilionários, que no geral cobriram largamente anos eventualmente não muito lucrativos, fazendo, a cada exercício, a festa dos seus principais acionistas. Tanto que vez por outra desembarcam em São Luís, de frotas de jatos ultrassofisticados, duas ou três dezenas de pesos pesados da economia mundial para visitar a sua “vaca leiteira”. Via de regra retornam felizes da vida aos seus reluzentes escritórios de New York, Londres, Paris, Roma, Barcelona, Xangai e Mumbai, certos de que o negocio é seguro e muito, mas muito mesmo, lucrativo.

Grosso modo, é essa a realidade econômica do Consórcio Alumar, que só deixa no Maranhão o que paga em salários, o que paga em serviço portuário e o que compra num mercado em que quase nada lhe interessa. Os bilhões que movimenta com sua preciosa commodity vão direto para as suas contas nos maiores centros financeiros do mundo. E se age assim, não é porque seja má, mas porque é uma empresa de ponta do capitalismo global, que funciona sob regras draconianas de controle, nas quais desperdício, custo injustificado e ameaça ao lucro são como crimes inaceitáveis. E mais do que isso, não leva em conta a emoção – se tiver de desempregar, desemprega, e fim de conversa.

A nota do Governo do Estado, chancelada pelo governador Flávio Dino, e a grita dos deputados estaduais evidenciaram uma realidade nova, na qual o Consórcio Alumar deixa de ser queridinho do Palácio dos Leões, onde seus executivos eram recebidos com tapete vermelho e tratados como verdadeiras celebridades, como se fossem amigos do Maranhão e fizessem de tudo para fortalecer a economia do estado. Agora, pelo que foi dito, o Consórcio Alumar entra na fila comum das empresas, não mais “colocando a faca no pescoço do governo sempre que enfrentar algum problema”, como assinalou o líder governista, Rogério Cafeteira. Que acrescentou: “Tem que acabar com essa história, porque o governo não vai aceitar”.

 

 

PONTOS & CONTRAPONTOS

 

Governador de longe

O governador Flávio Dino não quis se envolver diretamente no caso das demissões anunciadas pela Alumar. Contrariando a regra vigente até então, de que esse tipo de assunto era tratado diretamente pelo chefe do Executivo, ele escalou o vice-governador Carlos Brandão (PSDB) e os secretários Simplício Araújo (Indústria e Comércio) e Julião Amin (Trabalho), para conversar com a cúpula do Consórcio, comandada pelo engenheiro Nilson Ferraz. Objetivo do encontro: tentar reverter a decisão da empresa e, assim, poupar 650 postos de trabalho; se não, recomendar a adoção, pelo Consórcio, de uma série de medidas, incluindo “acompanhamento psicológico”, para os que serão demitidos.

 

Não funcionou

A reunião dos secretários com o comando da Alumar foi um fracasso total, pois os representantes da empresa não admitiram sequer a possibilidade de reverter a decisão. O vice-governador e os secretários alegaram que em audiência com o novo comando do governo em janeiro, a direção do Consórcio Alumar se comprometera a fazer investimentos no estado, e agora vai demitir 650. E sem dialogar previamente com o Governo do Estado. Não teve jeito: o encontro foi encerrado com a decisão da empresa de desativar um segmento com complexo e mandar para casa 650 trabalhadores.

 

Na mesma

Se o governo tem tratamento diferente com a Alumar, a empresa não mudou em nada: pensa como uma multinacional sem pátria nem coração.

 

Longe da política…

O suplente de senador Lobão Filho (PMDB) não pretende se manifestar sobre projetos eleitorais por enquanto. Até meados do segundo semestre, ele estará inteiramente dedicado a cuidar das suas empresas e da sua família. Revela que sua entrada na corrida para o Governo do Estado foi uma decisão que o levou a constatar que se recuperou totalmente do acidente, e que se tornou candidato “seguindo o que mandou minha alma”. Mas também o obrigou a se afastar dos seus negócios, o que foi uma decisão empresarialmente danosa. “Quando a gente se afasta para se dedicar a outra atividade, as coisas não andam como deveriam andar”, diz, revelando que só agora está colocando tudo nos eixos.

 

 

…por enquanto

Lobão Filho, porém, não descartou a possibilidade de vir a pensar em se candidatar, por exemplo, à Prefeitura de São Luís em 2016. Mas deixou claro, numa conversa franca, que no momento não cogita se dedicar a um projeto dessa natureza. Agora, além das suas empresas e da sua família, ele também está dando suporte ao pai, senador Edison Lobão (PMDB), que enfrenta a suspeita de ter participado do esquema de financiamento de campanha com dinheiro de corrupção na Petrobras. O empresário mantém intacta a declaração de que não acredita no envolvimento do ex-ministro de Minas e Energia no esquema e garante que o senador vai provar que a inclusão dele na lista dos suspeitos é injusta.

 

São Luís, 31 de Março de 2015.

 

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