Candidatos tratam São Luís no varejo e não conseguem dar à cidade a sua verdadeira dimensão

 

nova ordem
Edivaldo Jr., Wellington do Curso, Eliziane Gama, Eduardo Braide, Fábio Câmara, Rose Sales, Cláudia Durans, Zéluiz Lago e Valdeny Barros dão expressão a dimensão de São Luís nas suas campanhas pelo voto

Pedaço maior da Ilha de Upaon Açu, no Norte do Maranhão, com 827 quilômetros quadrados de território e que abriga 1,1 milhão de pessoas nas suas entranhas urbanas, reentrâncias periféricas e espaços rurais. De um lado guarda um conjunto de relíquias da arquitetura colonial portuguesa já transformado em propriedade do mundo e detém elevado status cultural erudito e popular sem paralelo na região – o que lhe dá forte vocação para o turismo – e detém um dos portos de águas profundas mais importantes do país, também por estar mais próximos dois centros europeus; e de outro amarga um rosário de mazelas sociais e econômicas, assim como muita desordem estrutural e carência em todas as áreas de serviços que deveriam ser bem prestados pelo Poder Público, o que a torna um desafio constante. É essa a São Luís, hoje detentora de títulos os mais diversos, entre eles o de Cidade Patrimônio Cultural da Humanidade – concedido pela Unesco no final do século passado – e que completa hoje 404 anos e cujo comando está nesse momento sendo disputado por nove cidadãos que se declaram seus amantes e se consideram aptos a assumi-lo.

Passados meses de pré-campanha, tempo em que foram sabatinados várias vezes, e faltando 24 dias para a corrida às urnas, permanece no ar uma dúvida incômoda: terão os candidatos Edivaldo Jr. (PDT), Wellington do Curso (PP), Eliziane Gama (PPS), Eduardo Braide (PMN), Rose Sales (PMB), Fábio Câmara (PMDB), Cláudia Durans (PSTU), Zéluiz Lago (PPL) e Valdeny Barros (PSOL) a noção exata do que é, do que significa e do que precisa a cidade que se dispõem a administrar? A julgar pelo que eles têm dito e repetido em entrevistas, comícios e programas de campanha no rádio e na TV, a resposta é um sonoro  e inquietante não.  Até aqui, todos os discursos ignoraram a São Luís macro, a cidade-polo, a sede de uma região metropolitana que abriga 1,7 milhão de habitantes e que as quatro unidades enfrentam problemas comuns. Ninguém mostrou o que tem em mente para alcançar São Luís na sua verdadeira dimensão. Todos se limitaram a prometer melhoras no transporte público, construir mais postos de saúde, construir mais escolas, etc., sem expor um norte para a Capital.

Nesse contexto, não há como nivelar integralmente o prefeito Edivaldo Jr. com seus concorrentes. Por uma razão simples: ele é prefeito há 45 meses, o que equivale à 1.350 dias, tempo que certamente já lhe permitiu interpretar São Luís em todos os vieses. Sua campanha até agora foi centrada na exibição do que realizou, oferecendo assim elementos soltos da sua concepção da cidade por inteiro. Falta-lhe, no entanto, o discurso do gestor pleno, do planejamento macro, do intérprete integral, do conceito definido, que equilibre a solução para o transporte público, com um arrojado projeto de transformar a cidade num polo efetivo e efervescente de turismo, por exemplo. Onde estão os projetos do PAC das Cidades Históricas? É verdade que o discurso de campanha tem de ser simples, direto, composto de informações que interessam o eleitor no seu dia a dia. Mas não faz sentido privá-lo de uma visão mais abrangente de uma cidade com perfil tão extraordinário como São Luís.

Movidos pela pressão implacável e intolerante da corrida eleitoral, na qual a prioridade circunstancial é encantar o eleitor, candidatos com o lastro político de Eliziane Gama e Eduardo Braide, mergulham na campanha sem discutir a Capital do Maranhão como ela deveria ser discutida. Apostam todas as suas fichas no limitado campo das promessas difusas e inconsistentes de melhorar a saúde, a educação, a segurança e o transporte, sem no entanto dar a dimensão dessas áreas numa cidade com o tamanho e a importância de São Luís. Quando Rose Sales, vereadora ludovicense da gema, e Fábio Câmara, vereador e filho também adotivo, falam de São Luís, parece que está falando de outra cidade, uma cidade menor, sem a personalidade e a estatura cultural da Capital do Maranhão. Eliziane, Braide, Câmara e Rose falam com muita ênfase em “cuidar das pessoas”, mas não relacionam esse propósito com o cuidado que certamente alimentam em relação à cidade. No discurso de todos está implícita a intenção de melhorar a cidade, mas provavelmente por limitação discursiva, nem todos sabe expor o que pensa.

O terceiro time de candidatos não consegue se situar no contexto da cidade e vaga por searas nada parecidas com propostas de quem aspira comandar a Capital do Maranhão. Zéluiz Lago fala em construir “mais hospitais e postos de saúde” como se se dirigisse a uma cidade doente, não conseguindo sequer mensurar o tamanho da cidade e dos seus problemas. Valdeny Barros promete agora reduzir o valor dos salários do prefeito e dos vereadores, equiparando-os aos dos professores, uma equação absolutamente sem sentido e que em nada pode ser considerado um item de um plano de governo que não existe. E para fechar as impressões, a candidata Cláudia Durans, porta-voz da ultraesquerda, anuncia que governará com e para os trabalhadores do campo e da cidade, acreditando que com isso dará os primeiros passos na revolução do proletariado, ao que parece numa versão mais audaciosa do que a que motivou Lênin a criar a União Soviética.

Mesmo sem duvidar das boas intenções dos candidatos, o fato é que São Luís merece mais, muito mais.

 

 PONTO & CONTRAPONTO

 

Justiça muda rumo da disputa em Imperatriz, Bacabal e Balsas

Três decisões judiciais recentes alteraram rumos e definiram e definiu rumos três municípios com peso político regional.

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Ildon Marques é candidato e ameaça Rosângela Curado na corrida em Imperatriz

A primeira foi a confirmação da candidatura do ex-prefeito Ildon Marques (PSB) em Imperatriz. Seus adversários, em especial a candidata do PDT, Rosângela Curado, que no contexto da disputa representa o governador Flávio Dino (PCdoB). Ela própria e seu comando de campanha apostavam alto que, encrencado com a Justiça colocado na relação dos ficha suja,  Ildon Marques, que  no contexto estadual representa o senador Roberto Rocha (PSB) emergiu do tapetão judicial com autorização para tocar sua campanha em frente, alterando radicalmente o cenário da Rainha do Tocantins. A notícia causou forte impacto no meio político de Imperatriz, sinalizando para muitos que a próxima pesquisa poderá trazer Marques na dianteira, o que é descartado pelos aliados de Rosângela Curado.

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Zé Vieira tem candidatura proibida e Roberto Costa reforça sua campanha nas ruas

O segundo caso foi a proibição pela Justiça de o ex-prefeito Zé Vieira (PP) tentar voltar à Prefeitura de Bacabal. A decisão judicial reforça a candidatura do deputado Roberto Costa (PMDB), que desde o início da caminhada dentro do calendário eleitoral tem aparecido como franco favorito na disputa. Zé Vieira havia sido escolhido candidato representando vários grupos políticos de Bacabal cujos líderes e figuras expressivas, como o deputado Carlinhos Florêncio (PHS), por exemplo, não tiveram ânimo para entrar numa disputa contra o candidato pemedebista, reconhecido como um dos políticos mais importantes e promissores da sua geração. Com o ex-prefeito Zé Vieira fora da disputa, o grupo, que tem o prefeito José Alberto como um dos apoiadores, terá de encontrar um nome para a tarefa meio sem futuro de enfrentar Roberto Costa nas urnas.

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Chico Coelho sai e Dr. Erik ganha mais espaço para vencer a eleição

O terceiro registro está relacionado com a disputa pela Prefeitura de Balsas, onde o ex-prefeito Chico Coelho teve sua candidatura detonada pela Justiça Eleitoral sob a acusação de irregularidade na sua filiação. Políticos experiente, Chico Coelho estava candidato pelo PSL, mas sua filiação foi considerada irregular pela Justiça, o que causou o indeferimento da sua candidatura. Com Coelho e o prefeito Roberto Rocha Jr. (PSB) fora da corrida, o caminho está aberto e pavimentado para o candidato do PDT, Doutor Éric, já que seus adversários agora – Ana Lúcia Noleto Bastos (PPS), Dr. Marc elo (Rede) e Agostinho (PSOL) – não páreos para ele.

 

São Luís, 8 de Setembro de 2016.

 

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