Mudança no poder engorda e emagrece partidos

 

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Flávio Dino engorda o PCdoB, e Carlos Brandão, o PSDB; João Alberto comanda o PMDB

No jogo de engorda-emagrece que vem envolvendo os partidos desde que o poder mudou de mãos no Maranhão, com a saída do Grupo Sarney e a entrada da coalizão liderada por Flávio Dino, três agremiações se destacam, duas vivendo a fase de engorda e a terceira amargando um claro processo de emagrecimento. Ganham musculatura o PCdoB e o PSDB, e perde músculos o PMDB. Embalados pelos sopros do poder, o PCdoB, que é o partido do governador Flávio Dino, ganha reforços a cada semana, o mesmo acontecendo com o PSDB, que tem como o presidente o vice-governador Carlos Brandão. Sob o comando do senador João Alberto e tendo o ex-presidente José Sarney e a ex-governadora Roseana Sarney como nomes mais destacados, o PMDB sofre os revezes da perda de poder.

Desde que assumiu o comando do Poder Executivo, o governador Flávio Dino delegou ao secretário de Articulação Política e Assuntos Federativos, Márcio Jerry, a tarefa de organizar e consolidar a base política e partidária do governo, dedicando esforços especiais ao fortalecimento do PCdoB. Dino tem projeto político de longo prazo e de largo alcance, e para tanto precisa de uma base partidária robusta e azeitada, na qual o PCdoB seja a locomotiva principal. Diferentemente de outros partidos, o processo de fortalecimento do PCdoB não prevê a filiação de nomes graúdos. O partido quer preparar quadros para as eleições municipais do ano que vem.

O PSDB se fortalece num processo em que a meta é atrair quadros importantes e multiplicar a base partidária. O primeiro “peixe grande” fisgado pelos tucanos é o ex-prefeito de São José de Ribamar, Luis Fernando Silva, que será candidato exatamente ao mesmo cargo no qual começou sua carreira política. Já tucanaram os ex-prefeitos de Santa Inês, entraram nomes de peso regional como os ex-prefeitos de Santa Inês Valdivino Cabral e Robert Bringel e a ex-deputada estadual Vianey Bringel. Com o aval do Palácio dos Leões, que acompanha tudo à distância, a engorda do PSDB tem sido articulada diretamente pelo vice-governador Carlos Brandão, que hoje tem o controle do partido no estado e conta com o apoio das maiores estrelas do ninho, o deputado federal João Castelo e o prefeito de Imperatriz, Sebastião Madeira.

O PMDB, por seu turno, está fazendo o caminho inverso ao perder musculatura. Deixaram o partido o ex-deputado federal e ex-ministro do Turismo Gastão Vieira, os dois ex-prefeitos de Santa Inês, e Luis Fernando Silva, que entrará amanhã para o ninho dos tucanos, acompanhado de vários líderes municipais, quando assinará ficha de filiação em ato programado para este sábado. O senador João Alberto acha que as defecções não desmotivam o PMDB, que continua com seu quadro de prefeitos, vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores intacto. Na avaliação do senador, o PMDB vai continuar forte e ter um bom desempenho nas eleições do ano que vem.

O processo de engorda e emagrecimento de partidos em momento de transição no poder estadual não é um fenômeno político novo. Ele vem de muito tempo e ganhou intensidade no Maranhão quando José Sarney assumiu a presidência da República. Naquele momento, mesmo sob o comando do deputado Cid Carvalho e a influência direta do ministro Renato Archer, o PMDB se agigantou no Maranhão com a eleição de Epitácio Cafeteira para o Governo do Estado. Depois, abandonou Sarney, negando-lhe a legenda para ser candidato ao Senado pelo Maranhão, obrigando-o a procurar abrigo político no Amapá.

No Governo Edison Lobão, o PMDB inicialmente se manteve na oposição, mas a saída de Cafeteira para o PTB e a cassação de Cid Carvalho no escândalo dos Anões da Câmara Federal fizeram com que o PMDB caísse nas mãos do Grupo Sarney e desde então é comandado pelo senador João Alberto. A vitória de Jackson Lago sobre Roseana Sarney em 2006 produziu a repetição do fenômeno: vários nomes de peso do PMDB, entre eles o agora ex-deputado Arnaldo Melo, migraram para o PDT, mas a cassação do líder pedetista os obrigou a fazer o caminho de volta. Em 2010, reeleita no 1º turno, Roseana garantiu a musculatura do PMDB, mas agora, com o poder entregue a Flávio Dino, o partido perde peso, enquanto o PCdoB e os partidos da coalizão tendem a ganhar força, num processo que deve terminar no início de outubro, um ano antes das eleições municipais.

O que acontece agora no quadro partidário do Maranhão é, portanto, transitório, por ser movimento determinado por quem ocupa o Palácio dos Leões.

 

PONTOS & CONTRAPONTO

Sarney I

O ex-deputado federal, ex-governador, ex-senador, ex-presidente do Senado e do Congresso Nacional e ex-presidente da República José Sarney completa hoje 85 anos de existência – nasceu no dia 24 de abril de 1930. Seu aniversário será comemorado na sua residência em Brasília numa recepção para um grupo bem reduzido, algo em torno de 50 pessoas, entre familiares, amigos e figuras proeminentes dos três Poderes da República. A recepção está sendo organizada pela ex-governadora Roseana Sarney, que se encontrava em São Luís depois de retornar de Miami, e seguiu quarta-feira à tarde para Brasília.

Sarney II

Por mais que seus críticos digam o contrário, José Sarney mantém largo espaço no cenário político brasileiro. É verdade que está sem mandato, que perdeu muito da influência que teve em outros tempos. Mas é verdade também que, diferentemente de outros políticos que foram para o ostracismo e de lá não saíram mais, Sarney continua em forma, operando no tabuleiro político e sendo interlocutor da cúpula do PMDB, da cúpula do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto. Continua craque em armação política e alimenta uma privilegiada rede de contatos nos três Poderes, tecida ao longo de mais de meio século de movimentação. Não é mais o adversário imbatível, mas perde quem o subestima.

Visitas camaradas

O governador Flávio Dino tem se esforçado para mostrar para o mundo que seu governo é de esquerda, com traços comunistas. Não faz isso pondo em prática os postulados clássicos do marxismo, como a supressão da propriedade privada ou impondo ditadura de partido único – não teria como. O faz abrindo o Maranhão para países como Cuba, Vietnã e China. Em março, ele recebeu uma missão cubana, com quem acertou algumas parcerias. No início deste mês, recebeu uma missão do Vietnã, com direito a sessão extraordinária da Assembleia Legislativa para marcar a visita. E quarta-feira recebeu uma missão de empresários chineses, a quem mostrou o potencial econômico do Maranhão e comunicou que o estado está aberto a investimentos dos camaradas.

De comunas a tigres

Em tempo: Cuba está se abrindo para o mundo, e se o embargo econômico dos EUA cair, a Ilha comunista de Fidel Castro pode se tornar um agitado empório capitalista e com sistema híbrido. O Vietnã, depois de décadas sob regime comunista fechado, se abriu economicamente e adotou o capitalismo nas últimas décadas e é hoje considerado um tigre asiático. E a China, como o Vietnã, mantém o regime comunista, mas adotou o sistema capitalista e construiu a maior economia do planeta.

 

Será?

Vale perguntar se o Maranhão sob a estranha versão comunista do PCdoB é candidato a tigre.

 

São Luís, 23 de Abril de 2015.

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