Luta por votos na guerra do impeachment Dino se fortalece e Roseana se desdobra para recuperar força política

 

dino rose
Dino e Roseana alimentam a guerra política nos bastidores da guerra do impeachment que movimenta Brasilia e o País

Independente do resultado que aparecer hoje no painel eletrônico da Câmara Federal, com a maioria dos deputados autorizando ou não o Senado da República a instaurar um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT), uma realidade será desenhada com muita clareza: a crise revelou que a luta pelo Poder no Maranhão, travada pelo grupo comandado pelo governador Flávio Dino (PCdoB) e o que restou do Grupo Sarney – que reúne o braço estadual do PMDB, PV e outros partidos menores, além de alguns aliados, mas não subordinados – continua acirrada, sem a menor possibilidade sequer de uma trégua. No embate entre as forças que defendem a presidente Dilma Rousseff e as que querem derrubá-la se enfrentam governador Flávio Dino e a ex-governadora Roseana Sarney. Para Dino, a crise política atual é só um momento na sua trajetória; para Roseana, essa guerra é uma questão de vida ou morte política para ela e seu grupo.

O governador Flávio Dino entrou de cabeça na defesa da presidente Dilma Rousseff embalado por três fatores essenciais para quem pratica uma política por consciência: a proximidade ideológica com a presidente, a identificação forte com a linha programática do Governo do PT e, finalmente, a convicção jurídica e política de que o processo de impeachment proposto pela oposição não tem base legal, afronta a Constituição e, por isso, caracteriza um “golpe”. Com esse lastro, o governador está disposto a encarar resultados e consequências, motivado principalmente pela certeza de que defende a bandeira correta e também porque, mesmo acontecendo o pior, suas convicções não serão mudadas e, cedo ou tarde, a História lhe dará razão.

A ex-governadora Roseana Sarney não se move por convicções jurídicas ou doutrinárias, mas pelo mais puro e forte pragmatismo. Sua lógica – que é a do PMDB e a do ex-presidente José Sarney – é a do jogo político – puro ou duro, dependendo das circunstâncias – sem idealismo, mas que gera resultado e poder. Protagonista maior da história política do Maranhão nas duas últimas décadas, a trajetória de Roseana demonstra isso com clareza solar. A aliança com os tucanos nos governos de FHC, com todos os altos de baixos, desconfianças de ambos os lados e tentativas de rasteiras de um e de outro, foi mantido até o momento em que os interesses – a sucessão presidencial de 2002 – se chocaram violentamente. Roseana e seu grupo migraram para o barco liderado por Lula, que se mostrava imbatível. Manteve a relação até um mês atrás, quando embarcou na maioria pemedebista e passou a ser uma agente ativa na “grande conspiração” comandada pelo vice-presidente Michel Temer para viabilizar o impeachment.

No cenário da crise, o governador do Maranhão está sendo visto como uma espécie de “herói”, a começar pelo fato de que se posicionou aberta e corajosamente no lado supostamente mais fraco. Com a experiência de quem veio do movimento estudantil e já viveu muitos momentos dramáticos e decisivos da política “adulta”, Flávio Dino sabe que atitude como a dele tem preço e riscos políticos elevados. Sabe, por exemplo, que não terá vida fácil num eventual governo do PMDB, comandado por Michel Temer, que certamente entregará os assuntos do Maranhão ao Grupo Sarney. Mas calcula também que se o Governo Dilma Rousseff sobreviver, ele terá força descomunal, com poder para triturar o que restou do sarneysismo em embates futuros. Além disso, ganhando ou perdendo na “Guerra do Impeachment”, Dino sairá com um quadro político de larga envergadura e projetado nacionalmente, politicamente correto e confiável.

O cenário para Roseana Sarney e seu grupo no pós-crise não é muito claro. Se a presidente Dilma for derrubada, Michel Temer, ninguém duvida que o PMDB do Maranhão possa recuperar pelo menos parte da musculatura que perdeu com a derrota de 2014. Mas reunirá força suficiente para reverter a clara tendência de vitória do grupo de Dino nas eleições municipais e, assim, cacifar o PMDB para o grande embate eleitoral de 2018? Há quem acredite, mas há também que não aposta nisso, preferindo entender que o Grupo Sarney encerrou de vez seu ciclo na política do Maranhão. Os observadores mais cautelosos lembram a maestria do Grupo Sarney no uso do poder. Mas até mesmo esses lembram que em 2018 Flávio Dino estará no auge do seu mandato e que dificilmente ele será derrotado nas urnas, principalmente se o seu grupo for bem sucedido nas eleições municipais.

O fato é que a crise nacional, com ou sem impeachment será um marco no cenário político do Maranhão, no qual o governador Flávio Dino reforçará o seu poder de fogo político, enquanto que Roseana, mesmo prestigiada num eventual Governo Temer – pode até ser ministra -, tem futuro político rigorosamente incerto.

Placar

Até onde a Coluna acompanhou ontem, a bancada maranhenses mantinha a divisão sobre o impeachment: 9 x 9

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Depois de brigar por votos em Brasília, Dino visita obras em São Luís
dino no batente
Dino e assessores vistoriam obras do Governo do Estado no interior da Ilha

Depois de articular durante dois dias em Brasília, tempo em que conseguiu quebrar o desânimo de alguns segmentos do governo e reverter votos dados como certos contra a presidente Dilma Rousseff, o governador Flávio Dino retornou a São Luís na noite de sexta-feira. Já na manhã de sábado saiu logo cedo para vistoriar uma série de obras do Governo do Estado em diferentes regiões da Ilha. Quem esteve com o governador garante que ele estava descontraído e demonstrando confiança de que a presidente Dilma teria superado o pior momento e conseguido votos suficientes para barrar o processo de impeachment na Câmara Federal. Nas mais de três horas que circulou pela Ilha, onde visitou canteiros de obras, o governador estava inteiramente focado nas obras que inspecionava, querendo explicações detalhadas sobre o que está sendo feito, ora aprovando, ora demonstrando insatisfação com esse ou aquele detalhe. A expectativa era a de que ele retornaria a Brasília ontem à noite, para acompanhar o desenrolar da votação ao lado da presidente Dilma Rousseff, no Palácio da Alvorada.

Sarney mantém silêncio sobre impeachment
sarney 11
Sarney mantém silêncio sobre  o pedido de impeachment

Jornalistas e políticos tentaram de todas as maneiras arrancar do ex-presidente José Sarney (PMDB) sobre o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Todos os esforços fracassaram. José Sarney se manteve em silêncio sepulcral nesse particular, por julgar que não é parte do eleitorado que vai decidir o futuro da presidente da república, por isso não tem que tornar pública sua opinião sobre esse processo. Sarney já teria dito várias vezes que o Governo Dilma teria acabado, mas não soltou uma só palavra sobre o processo propriamente dito.  Para muito, o silencio do ex-presidente equivale a uma declaração de apoio ao PMDB, portanto ao processo de impeachment.

 

Placar

Até onde a Coluna acompanhou ontem, a bancada maranhenses mantinha a divisão sobre o impeachment: 9 x 9

São Luís, 16 de Abril de 2016.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *