Ação pacificadora de Camarão gera expectativa no meio político

Felipe Camarão e Carlos Brandão e o grupo formado por Fernando Braide (que é
oposição de fato), Júlio Mendonça, Carlos Lula, Ricardo Rios, Leandro Bello,
Francisco Nagib e Othelino Neto

Talvez não haja uma radicalização insuperável, que impeça distensão e consequente reconciliação, mas também há poucos sinais de que os movimentos recentes do vice-governador Felipe Camarão (PT) já tenham produzido efeito suficiente para recolocar a base governista nos eixos. O que há de concreto, a uma semana da reabertura dos trabalhos da Assembleia Legislativa, onde as posições ganham maior visibilidade, é que a dissidência em relação ao Governo do Estado, que ganhou status e discurso de oposição, permanece intacta, com seus oito integrantes ganhando a forma de bloco. É verdade que houve um arrefecimento nas últimas semanas, com a diminuição dos disparos contra o Palácio dos Leões, mas uma declaração recente do deputado Othelino Neto (Solidariedade), que aparece com articulador do grupo inteiro, sinalizou com clareza que os ataques ao Governo vão continuar.

A pergunta que se faz nesse momento nos bastidores políticos é a seguinte: como o grupo oposicionista vai reagir, de fato, ao movimento do vice-governador Felipe Camarão no sentido de trabalhar para pacificar a base governista, conversando “com todos”, mas com o lembrete de que é parte do Governo e que quem se posicionar como adversário do governador Carlos Brandão (PSB) será também seu adversário?

O problema é que a banda oposicionista é partidariamente heterogênea, com três deputados do PCdoB (Rodrigo Lago, Júlio Mendonça e Ricardo Rios), dois do PSB (Carlos Lula e Francisco Nagib), um do PSD (Fernando Braide), um do Podemos (Leandro Bello) e um do Solidariedade (Othelino Neto, apontado como líder e maior incentivador do grupo). E também diferentes em motivação.

Fernando Braide segue a posição do irmão, o prefeito Eduardo Braide (PSD); Francisco Nagib não aceita a posição do Governo em relação ao seu pai, o prefeito de Codó, Chiquinho da FC (PT), enquanto seu colega de partido, Carlos Lula, alimenta a controvérsia segundo a qual o governador Carlos Brandão “abandonou” o legado dinista, no que é acompanhado pelos três deputados do PCdoB e o do Podemos. E o deputado Othelino Neto, turbinado por ser o principal aliado e orientador da senadora Ana Paula Lobato (PDT), sua esposa, ganhou musculatura e decidiu ocupar um espaço maior no tabuleiro da política estadual, preferindo o caminho de opor-se ao governador Carlos Brandão.

O vice-governador Felipe Camarão entra nesse jogo com o mais poderoso dos argumentos: se o governador Carlos Brandão sair em abril do ano que vem para disputar uma cadeira no Senado, ele assumirá o Governo e será candidato à reeleição, já tendo para isso o aval do seu partido, o PT, nos planos estadual e nacional, e do presidente Lula da Silva. Não é novidade para ninguém que Felipe Camarão governador e candidato à reeleição terá enorme poder sobre candidaturas a deputado estadual. E como não passa pela cabeça de ninguém que o governador Carlos Brandão venha a decidir permaneça no Governo até o final do seu mandato, uma vez que o seu caminho natural é concorrer à senatória, a argumentação do vice-governador ganha peso excepcional na sua cruzada de pacificar a base governista.

Como é possível observar, pelo menos em relação à maioria dos dissidentes, nada impede que o Felipe Camarão consiga levá-los de volta à base governista. Isso porque, além dos fortes argumentos que levará para a mesa do entendimento, não há qualquer sinal de má vontade do Palácio dos Leões em relação à reconciliação. Muito ao contrário. Depois de fazer vários gestos, o governador Carlos Brandão, numa conversa recente com a “nata” da base governista na Assembleia Legislativa, declarou que seu maior projeto político no momento é buscar a unidade da aliança político-partidária pela qual se elegeu.

Avaliados todos os ângulos dessa complicada equação, pode-se dizer que as condições são favoráveis à iniciativa do vice-governador Felipe Camarão, que, afinal, vai conversar com amigos políticos pertencentes ao mesmo grupo. Um diálogo certamente mais fácil do que se fosse travado com inimigo.

PONTO & CONTRAPONTO

O Globo aponta Dino como maior protagonista do Supremo no último ano

Flávio Dino: protagonismo no
primeiro ano na Corte Suprema

O jornal O Globo publicou ontem matéria avaliando primeiro ano do ex-senador Flávio Dino como ministro do Supremo Tribunal Federal. E o texto, assinado pelo jornalista Daniel Gullino, não faz qualquer rodeio para aponta-lo como o mais destacado nome da Suprema Corte ao longo de 2024, alcançando um protagonismo maior do que o do ministro Alexandre de Moraes, relator de processo pesados, como os que envolvem acusação de tentativa de golpe de Estado e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e sua turma, e o embate com o bilionário trumpista Elon Musk em torno da plataforma X.

O registro de O Globo mostra que o protagonismo do ministro Flávio Dino vem das posições firmes e das decisões inusitadas tomadas por ele ao longo dos 11 meses na Corte, destacando o embate que ele travou – e continua travando – com o Congresso Nacional por causa emendas parlamentares.

Primeiro foi o desmonte, por ele provocado, do chamado “orçamento secreto”, por meio do qual bilhões e bilhões de reais eram liberados sem que fossem conhecidos os autores e os destinos das emendas, que pode ter resultado em desvios milionários, situação que ainda está sendo investigada. Depois, vieram as tais emendas PIX e outras espertezas, que o ministro brecou trancando a torneira do Tesouro Nacional até que ficar tudo em pratos limpos. Uma revolução que derrubou velhas e ilegais práticas do Congresso Nacional.

O texto do jornal fluminense mostra que, com uma postura adequada ao cargo e manifestações cuidadosas, aos poucos Flávio Dino vai se livrando da marca política com que desembarcou na Corte Suprema, retomando o perfil de magistrado definido como juiz federal durante 12 anos, mas que arquivou temporariamente como deputado federal, governador do Maranhão, senador e ministro da Justiça.

A matéria der O Globo não deixa dúvida de que ele continuará sendo destaque no Poder Judiciário e deixa no ar a suspeita de que ele continuará assim até 2030, quando poderá deixar a magistratura para voltar à política.

Ministra e líder do PCdoB cumpre agenda com governador em clima de civilidade republicana

Lúcia Santos e Carlos Brandão: convivência institucional em clima republicano

A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, demonstrou, na sua estada em São Luís, na semana passada, que os muitos anos de militância no PCdoB, do qual é presidente nacional, lhe deram traquejo, para separar as coisas, dependendo da situação em que se encontrar.

Com a experiência de quem foi militante estudantil, deputada federal de vários mandatos e vice-governadora de Pernambuco, sempre no mesmo campo ideológico e partidário, ela foi um exemplo de cortesia institucional e coerência política nas várias vezes em que se encontrou com o governador Carlos Brandão (PSB).

Até onde se sabe, Luciana Santos não aproveitou o momento para falar sobre a relação do PCdoB com o Governo do Estado. mesmo estando acompanhada do deputado federal Márcio Jerry, presidente regional do partido e seu cicerone. A ministro conversou muito com o governador, elogiou a manutenção dos programas deixados pelo Governo, em especial a rede Iema, que foi ampliada na gestão Carlos Brandão. Enfim, um clima de civilidade republicana e educação institucional. Tudo acompanhado, passo a passo, pelo deputado federal Márcio Jerry, presidente regional do partido e cicerone natural da líder nacional do partido na condição de ministra de Estado.

O dado que chamou a atenção foi que os deputados estaduais do PCdoB não compareceram aos atos da sua líder nacional em São Luís.

São Luís, 26 de Janeiro de 2025.

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