O mês de setembro de 2019 deve entrar para a crônica política maranhense e nacional também como momento em que o governador Flávio Dino (PCdoB) começou, de fato, a ser reconhecido pela grande imprensa como um nome dotado de densidade intelectual, honestidade ideológica, consistência política e lastro gerencial, credenciais indispensáveis para entrar na briga pela presidência da República em 2022. Ele viveu uma “Setembrada”, ao cumprir um intenso roteiro de entrevistas nas quais manifestou opiniões centradas e lúcidas sobre o quadro político e institucional do Brasil, criticou com segurança e equilíbrio o Governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), dissecou a crise econômica e social do País e alinhavou caminhos para revolvê-la. Mostrou-se um líder pragmático e com os pés no chão ao defender a formação de uma ampla frente unindo esquerda e centro contra a direita conservadora que chegou ao poder com a eleição do ex-capitão do Exército e porta-voz convencido da extrema direita. E sempre que perguntado se é candidato a presidente, respondeu que a tarefa primeira é construir e consolidar a frente, e que, se efetuada a construção, e for chamado, estará pronto para participar.
Num cenário político animado, salvo o presidente Jair Bolsonaro, que produziu uma crise atrás da outra com as suas declarações agressivas e inacreditáveis, e o presidente da Câmara Federal, deputado Rodrigo Maia (DEM/RJ), que faz o contraponto ao chefe da Nação, nenhum outro líder político brasileiro foi ouvido por tantos e com tanta atenção quanto o governador do Maranhão.
A “Setembrada” política de Flávio Dino (PCdoB) por uma frente de Oposição – ao contrário do movimento que, por insatisfação com a abdicação de D. Padro I, que fez tremar o Maranhão em 1831 – começou no dia 03/09, em São Paulo, ao participar do “Direitos Já – Fórum pela Democracia”, que reuniu centenas de intelectuais e militantes das mais diversas cores ideológicas e partidárias, e no qual defendeu o incremento da luta em defesa da democracia e propôs, de maneira enfática, a união de democratas para as eleições de 2020 e 2022. No dia 06 de setembro, Flávio Dino reafirmou a proposta ao sítio de notícias Poder 360, criticando também, de maneira enfática, as declarações do presidente Jair Bolsonaro no âmbito internacional, avaliando que essa postura só prejudica o relacionamento do Brasil com o mundo, podendo levar o País à condição de pária no contexto mundial.
Como uma espécie de rastilho, as posições do governador do Maranhão em defesa de um combate político articulado ao Governo conservador instalado no Brasil vão se espalhando País afora. Tanto que no dia 10 de setembro, a prestigiada colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, numa nota de forte repercussão, apontou Flávio Dino como o principal articulador de uma frente de esquerda e centro. No dia 20 de setembro, em entrevista à revista IstoÉ, o governador declarou: “É preciso construir pontes, alianças e diálogo entre essas lideranças para permitir um ambiente de unidade ampla em 2020, sobretudo em 2022. Essa tem sido minha participação. Posso participar diretamente ou não. Minha atitude é essa, se for para participar, estou à disposição”.
O ponto alto da “Setembrada” aconteceu no dia 23 de setembro, no programa Roda Viva, da TV Cultura. Ali, submetido a um intenso bombardeio por jornalistas bem informados, Flávio Dino consolidou a impressão de que está credenciado para disputar a eleição presidencial contra qualquer candidato, a começar pelo presidente Jair Bolsonaro. Durante duas horas, o falou sobre política, economia, gestão pública, e sobre temas politicamente complexos, como a Operação Lava Jato, por exemplo. Com respostas objetivas e propositivas, revelou-se pronto para enfrentar qualquer situação em âmbito nacional. Deixou claro que poderá ser candidato, mas que a prioridade agora é unir a esquerda e o centro numa frente ampla. E, seguida, Flávio Dino foi entrevistado no dia 26 de setembro por Mírian Leitão, da Globo News, onde reafirmou suas críticas ao Governo Bolsonaro, alertou para os riscos de uma crise institucional, defendeu mudanças no eixo econômico e pregou a formação urgente da frente reunindo esquerda e centro.
Em meio à forte repercussão das suas declarações dentro e fora do maio político, no dia 17 de setembro, o presidente nacional do PCdoB, deputado federal Orlando Silva (SP), avisou, de alto e bom som, em entrevista à rádio paulista Jovem Pan: “Vamos lançá-lo nosso candidato a presidente”. E logo após, no dia 24, o senador Jean Paul Prates (PT/RN), declarou que vê “qualidades presidenciáveis” em Flávio Dino, sendo o primeiro petista de peso a admitir a possibilidade de apoiá-lo na corrida ao Palácio do Planalto.
A “Setembrada” mostrou, com clareza, que no contexto das esquerdas, qualquer debate sobre disputa presidencial terá de passar pelo Palácio dos Leões.
PONTO & CONTRAPONTO
Sem adversários fortes, Eudes Sampaio caminha para a reeleição em São José de Ribamar
Todos os sinais indicam que Eudes Sampaio (PTB) caminha para renovar o mandato na Prefeitura de São José de Ribamar. Ele tem demonstrado empenho na área administrativa, equacionando e tentando soluções para problemas graves que afetam o município, e revelado forte apetite político, postura bem diferente de quando era o discreto vice do então prefeito Luís Fernando Silva. Para começar, conta com uma invejável malha de apoio. Com ele está o comando estadual do PTB, liderado agora pelo deputado federal Pedro Lucas Fernandes; já tem o aval do PCdoB, que decidiu não lançar candidato próprio à prefeito; e conta com o apoio de vários partidos e tem o suporte político do ex-prefeito Luís Fernando Silva, que mesmo tendo renunciado ao cargo, mantém uma faixa expressiva de liderança entre os ribamarenses. Mesmo o PDT, onde estão seus principais adversários – o ex-prefeito e atual deputado federal Gil Cutrim, o irmão dele, deputado estadual Glaubert Cutrim, e o pai, conselheiro do TEC Edmar Cutrim -, não tem se mostrado um adversário agressivo, apesar do ódio visceral que os Cutrim nutrem hoje por Luís Fernando Silva. Outro aspecto é que até o momento não surgiu em São José de Ribamar um adversário com musculatura suficiente para ser de fato uma ameaça à reeleição do prefeito. O que existe até agora é um ensaio de candidatura do ex-deputado Jota Pinto (Patriota), mas na avaliação de observadores, não tem cacife para enfrenta-lo de igual para igual. O fato é que, a um ano da corrida às urnas, sem adversário forte e com muita vontade de continuar no cargo, o prefeito Eudes Sampaio vai dando passos firmes para a reeleição.
Ausência de Dutra e movimentos de Paula da Pindoba tornam instável o ambiente político em Paço do Lumiar
Uma grande interrogação domina o meio político em relação ao futuro político de Paço do Lumiar, que vive uma situação dramática de incertezas. O prefeito Domingos Dutra (PCdoB) continua hospitalizado, travando uma luta titânica contra as consequências devastadoras de um ACV sofrido há dois meses e que se complicou por conta de uma trombose no cérebro – já passou por cinco cirurgias e estaria se preparando para a sexta. Com o afastamento de Domingos Dutra, assumiu a vice-prefeita Paula da Pindoba (Solidariedade), que vai ocupando espaços à medida que se torna remota a possibilidade de uma recuperação do prefeito e do seu retorno ao cargo até outubro do ano que vem. Nesse cenário, a prefeita interina, orientada por conselheiros que aos poucos vão se instalando no município, se movimenta para desmontar a equipe e a estrutura gerencial montada por Domingos Dutra, dando ao Governo lumiense uma nova orientação. Paula da Pindoba foi uma vereadora sem experiência administrativa, que se tornou vice de Domingos Dutra num arranjo político-eleitoral destinado a juntar forças contra a investidas do ex-prefeito Gilberto Aroso (MDB) de voltar ao comando do município com o apoio do Grupo Sarney. A equação deu certo, a chapa venceu a eleição em 2016, Domingos Dutra se estabeleceu e vinha fazendo um Governo de mudanças, apesar da pressão pesada dos seus adversários. O AVC mudou tudo. No comando, Paula da Pindoba começa a ser pressionada pelos adversários de Domingos Dutra, instalando em Paço do Lumiar um clima de incerteza. Nesse ambiente, a Oposição ganha força e abre caminho para retomar espaços que perdeu quando Domingos Dutra esteve no comando. Ainda não está claro como o PCdoB vai equacionar o problema de Paço do Lumiar, hoje o sexto maior município do Maranhão, parte essencial da Região Metropolitana de São Luís e com peso eleitoral importante no contexto estadual.
São Luís, 29 de Setembro de 2019.