Arquivos mensais: maio 2015

Executivo fraco, Legislativo forte e vice-versa

 

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Fragilizada, a presidente Dilma passou o comando político para  o vice Temer
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Dino tem Coutinho como aliado firme e  leal e Jerry como operador político

 

Líderes partidários, comentaristas, analistas e cientistas políticos insistem em avaliar que o Brasil está submetido a um regime parlamentarista “branco”, no qual o Poder Legislativo dá as cartas sobre o Poder Executivo e mantém sob controle o Poder Judiciário. Os fatos mostram, no entanto, que a realidade é outra e que o que existe no Brasil é um presidencialismo poderoso, que só dá lugar a exibições de força do Legislativo quando o presidente da República, o governo e sua base são fracos. O mesmo acontece nos estados, onde governo forte mantém o Legislativo como aliado e governo fraco é mantido sempre contra a parede. Basta comparar, por exemplo, o que acontece em Brasília e no Maranhão no que diz respeito à relação entre os Poderes.

Ao contrário do que aconteceu no seu primeiro governo, quando a economia andava bem, o país caminhava firme para se tornar uma potência e a presidente Dilma Rousseff (PT) surfava no prestígio e sempre conseguia “amém” do Congresso Nacional para qualquer medida que propusesse, por mais antipática que fosse, nesse início de segundo mandato a realidade é inversa. Hoje, com o país amargando desequilíbrio nas contas, a economia em descompasso, a inflação se robustecendo e a classe política colocada na defensiva, a presidente da República revela-se incapaz de comandar o braço político do seu governo e entrega a tarefa ao vice-presidente, Michel Temer (PMDB), uma das mais felpudas e competentes raposas da política nacional. As Medidas Provisórias do ajuste fiscal, que restringem direitos trabalhistas, foram aprovadas a duras penas, o que só foi possível pela ação competente e “profissional” do vice.

No Maranhão o quadro é rigorosamente inverso. Eleito no 1° turno com 65% dos votos, o governador Flávio Dino (PCdoB) navega em águas calmas quando o assunto é o Poder Legislativo. Sustentado por uma base formada por 29 dos 42 deputados e contando às vezes com votos da oposição, o governador não enfrenta qualquer dificuldade nas suas relações com a Assembleia Legislativa. Desde que assumiu, encaminhou dezenas de matérias, na forma de Projeto de Lei, Medida Provisória, Projeto de Lei Complementar e até Projeto de Emenda à Constituição ao Palácio Manoel Bequimão.  Todas que chegaram ao plenário, depois de avaliadas pelas comissões, em especial a Comissão de Constituição e Justiça, passaram direto e praticamente sem discussão pelo crivo do plenário. Aqui e ali um estrilo de vozes oposicionistas, mas nada que tenha  ameaçado a garantia de aprovação.

Não é só a força efetiva do Poder Executivo – que controla, por exemplo, um Orçamento de R$ 14 bilhões por ano e quase quatro mil cargos de confiança –, que garante ao governador Flávio Dino o suporte que recebe no Poder Legislativo. Além dele próprio, o governador dispõe de uma engrenagem política eficiente e invejável, assim como fizeram seus antecessores. Para resolver qualquer percalço de natureza política que ganhe forma no parlamento, o governador conta, primeiro, com o presidente Humberto Coutinho (PDT), aliado de primeira hora e inteiramente afinado com o projeto de poder em andamento no Maranhão. Além do controle da pauta, Coutinho lidera “falcões” governistas – os deputados Eduardo Braide (PMN), Rogério Cafeteira e Othelino Neto (PCdoB), por exemplo -, que fazem a articulação interna e operam para manter a base governista unida em torno das propostas do governo.

No caso de entraves políticos de maior gravidade, entra em ação o secretário de Articulação Política e Assuntos Federativos, Márcio Jerry, que nas interlocuções expressa exatamente o pensamento do chefe maior, com um poder de fogo tamanho que muitos o apontam como o “homem forte” do governo. Às vezes o chefe da Casa Civil, Marcelo Tavares, pela experiência política e parlamentar que acumulou, é acionado. Mas é fato que o governador deposita total confiança no presidente Humberto Coutinho, e não aciona qualquer agente para atuar nos bastidores da Assembleia Legislativa antes de ouvi-lo. O grande poder político do presidente do Legislativo é reconhecido dentro e fora do palácio Manoel Bequimão.

Esse poder do chefe do Executivo, seja de que esfera for, é medido pelo lastro do detentor do cargo, seja presidente, governador ou prefeito. Se os mandatários são fortes, mandam e até desmandam. Se demonstrarem fraqueza, são atropelados pelo parlamento.

 

PONTOS & CONTRAPONTO

 

Dinheiro não dá I

O governador Flávio Dino decidiu transformar o asfalto numa das marcas do seu governo, pelo menos nesse primeiro momento. Firmou parceria com o prefeito Edivaldo Jr. (PTC) no valor de R$ 20 milhões para asfaltar  quase três centenas de ruas em São Luís. E ontem, autorizou o secretário estadual de Infraestrutura, Clayton Noleto, a assinar Ordem de Serviço no valor de R$ 9 milhões para recuperar 200 quilômetros de asfalto na Região.

 

Dinheiro não dá II

Mas há quem avalie que alguma coisa está errada nas contas do governo estadual. O experiente deputado Edivaldo Holanda (PTC), pai do prefeito Edivaldo Jr.,  disse há poucos dias na tribuna da Assembleia Legislativa que os R$ 20 milhões, anunciados com pompa em ato no Palácio dos Leões, não serão suficientes sequer para resolver os problemas viários da Vila Embratel, um dos maiores bairros do chamado Eixo Itaqui-Bacanga. A começar pelo fato de que serão liberados em seis parcelas. E qualquer engenheiro rodoviário sabe que R$ 9 milhões não pagam a recuperação de 200 quilômetros de vias nem na Região Tocantina nem em lugar nenhum do Brasil.

 

Placar na Câmara

A bancada maranhense se dividiu na votação das Medidas Provisórias do ajuste fiscal. Eliziane Gama (PPS), João Castelo (PSDB), Weverton Rocha (PDT), Pedro Fernandes (PTB) votaram contra. Os demais votaram a favor.

 

São Luís, 08 de Maio de 2015.

Andrea Murad confirma em discurso crise no PMDB

 

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Andrea Murad dá  recado do pai e guru de Ricardo Murad à cúpula do PMDB
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João Alberto e Roberto Costa não abrem mão do controle para Ricardo  Murad

 

A deputada estadual Andrea Murad deixou de lado ontem os problemas que ela enxerga no Sistema Estadual de Saúde, para confirmar, num discurso recheado de altos e baixos, que existe uma crise intestina no seu partido, o PMDB, e que o ex-deputado Ricardo Murad está em movimento de combate na guerra que sacode os bastidores do ainda maior partido político do Maranhão. A parlamentar confirmou que o PMDB enfrenta problemas, que a maioria das suas principais lideranças está fragilizada, mas previu que elas voltarão “mais fortes do que nunca”. E focou naquele que é o ponto traumático do atual momento pemedebista, a briga pelo controle do partido em São Luís, travada diretamente entre o deputado Roberto Costa, que comanda a sigla no município, e o ex-deputado Ricardo Murad, que sonha assumir o controle da agremiação, alimentando com isso o projeto de se candidatar a prefeito da Capital em 2016.

Para alguns observadores da cena política, o discurso da deputada Andrea Murad foi, antes de tudo, um recado do ex-deputado Ricardo Murad para quem acha que ele desistiu de brigar pelo controle do PMDB. Ela tentou reduzir a briga à refrega de Murad com Roberto Costa, sugerindo que o presidente municipal do PMDB “tem um problema com meu pai”. Mas o que ficou claro mesmo – e ela não soube camuflar essa evidência – é que Murad, que hoje exerce cargo de secretário na Prefeitura de Coroatá, na gestão comandada por sua esposa, Teresa Murad, está se armando até os dentes para tentar tomar o comando do PMDB no estado, e se isso não for possível, pelo menos na Capital. E há quem diga que com o apoio discreto, mas efetivo, da ex-governadora Roseana Sarney.

O mundo político do Maranhão sabe que Ricardo Murad não é um adversário qualquer. Ele gosta do confronto, é provocador e, como qualquer integrante do partido, tem todo o direito de aspirar ao comando da agremiação e de se movimentar politicamente para conseguir seu propósito. O problema é que à sua frente estão erguidos obstáculos gigantescos, consolidados e que dificilmente ele conseguirá remover, mesmo empurrado pelas mãos da ex-governadora Roseana Sarney.

O primeiro obstáculo é o senador João Alberto, que comanda o PMDB desde o início da década de 1990 do século passado, quando, com a cassação do então presidente, deputado federal Cid Carvalho, denunciado por corrupção na CPI dos Anões do Orçamento, o partido passou para o controle do Grupo Sarney. De lá para cá, João Alberto organizou e manteve o PMDB de pé, como uma máquina política azeitada e coesa, e sempre na posição de maior partido do estado. E com a vantagem adicional de contar com o apoio do senador José Sarney, do vice-presidente Michel Temer e da Executiva nacional do partido. Murad já travou vários embates dentro do partido, mas em todos encontrou a muralha erguida por João Alberto, que não abre mão do comando partidário.

No projeto de se candidatar à Prefeitura de São Luís em 2016, que pretende viabilizar assumindo o comando municipal do PMDB, o ex-deputado Ricardo Murad enfrenta alguns obstáculos. O primeiro deles é a resistência da Executiva partidária, comandada pelo deputado Roberto Costa. Outro é a posição de Ricardo Murad em São Luís, onde ele não tem um suporte político e eleitoral consistente para comandar uma campanha  com chances reais de alcançar resultado positivo nas urnas. Murad, no entanto, é movido pela autoconfiança e pela condição de “trator”. Se evoluir, será uma luta titânica, na qual Murad dificilmente levará a melhor, a menos que as armas sejam recolhidas e sua candidatura se dê por acordo.

No seu discurso, a deputada Andrea Murad deixou transparecer a convicção de que o projeto do ex-deputado Ricardo Murad é real e está de pé. Isso confirma o que a Coluna já havia previsto, ou seja, que uma guerra interna está em curso no PMDB.

 

 

PONTOS & CONTRAPONTO

Fazendo história I

lobao editadaO senador Edison Lobão elogiou ontem a promulgação pelo Congresso Nacional da PEC da Bengala, que amplia de 70 para 75 anos a idade para aposentadoria compulsória dos ministros dos tribunais superiores e do Tribunal de Contas da União (TCU). “O que o Congresso agora faz é atualizar a principal lei do país, a lei balizadora, que é a Constituição Federal”, declarou Lobão. O senador lembrou que a proposta começou a ser discutida quando foi presidente da Comissão de Constituição e Justiça, há doze anos.

 

Fazendo história II

Edison Lobão lembrou que a PEC da Bengala foi uma discussão longa no Senado: “Quando fui eleito presidente da Comissão de Constituição e Justiça, iniciamos ali a reforma do Poder Judiciário, que no âmbito da Comissão se concluiu em 2004. Tentamos votar já naquela reforma  a elevação do limite de idade para 75 anos. Conto essas coisas, porque de algum modo estamos fazendo história”, recordou.

 

Defeso manipulado I

victor 1Ao expressar a posição do PV na votação de emenda à Medida Provisória que mexe nos direitos trabalhistas, como o seguro-defeso, que ampara pescadores artesanais durante a piracema ou em catástrofes naturais – o deputado federal Victor Mendes (PV) reafirmou uma denúncia que ainda terá desdobramentos. Declarou que o seguro-defeso estava sendo usado criminosamente por alguns no Maranhão. Disse também que muitos já estão presos e outros estão sendo investigados. E acrescentou que as novas regras para a concessão do seguro-defeso colocarão o sistema nos eixos no Maranhão.

 

Defeso manipulado II

 

A denúncia repetida pelo deputado federal Victor Mendes foi mal recebida em alguns gabinetes da Câmara Federal e da Assembleia Legislativa. Na Câmara Baixa, as palavras de Mendes certamente incomodaram o deputado federal Cléber Verde (PR), apontado como o grande responsável pela distribuição à granel de registro de pescador a  milhares e milhares de pescadores e não pescadores. Alcança também, em diferentes enfoques, os deputados estaduais Júnior Verde (PR), Edson Araújo (PSL) e Fernando Furtado (PCdoB) que formam a “Bancada do Anzol” na Assembleia Legislativa.

 

São Luís, 07 de Maio de 2015.

PEC da Bengala gera expectativa no Judiciário maranhense

 

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 Raimundo Cutrim lutou perla PEC da Bengala, mas perdeu

O Tribunal de Justiça do Maranhão (TJ/MA) entrou em clima de expectativa com a aprovação, na noite de terça-feira, do Projeto de Emenda Constitucional nº 457, conhecido com PEC da Bengala, que eleva de 70 para 75 anos o tempo de aposentadoria obrigatória dos ministros dos tribunais superiores – Supremo Tribunal Federal (STF), Superior Tribunal de Justiça (STJ), Superior Tribunal do Trabalho (TST) e Superior Tribunal Militar (STM). A PEC prevê que Lei Completar a ser discutida e aprovada posteriormente poderá estender a medida para aos tribunais regionais e estaduais, e até mesmo, numa possibilidade mais remota, aos servidores públicos de um modo geral. Nesse caso, alcançará o TJ/MA, que terá alterada radicalmente o processo de renovação do Colégio de Desembargadores. O assunto não é novo para o Poder Judiciário maranhense.

A PEC da Bengala é festejada por uns e rejeitada por outros. Os que a apoiam argumentam que com a elevação da expectativa de vida no Brasil atual, um ministro de 70 anos está em plena forma, com experiência consolidada, não fazendo sentido interromper sua carreira e mandá-lo para casa, excluindo um quadro ativo e plenamente capaz de continuar exercendo suas funções por mais cinco anos. Os que são contrários alegam que nem sempre é essa a condição dos ministros, mas o que pesa mesmo, segundo as vozes do contra, é o engessamento da magistratura, tirando de muitos juízes a possibilidade de chegar ao ápice da carreira. Muitos veem controvérsias nas duas visões.

No caso dos tribunais superiores, a PEC da Bengala interrompe o processo de renovação do Supremo Tribunal Federal, adiando a aposentadoria compulsória de quatro ministros até 2018 e tirando da presidente Dilma Rousseff o poder de nomear os seus substitutos, garantindo as nomeações para o próximo presidente. E se a medida for estendida aos tribunais estaduais, o processo de renovação do Colégio de Desembargadores, ampliará, de cara, a permanência de magistrados que deveriam aposentar-se em pouco tempo, todos em plena forma. Um exemplo: o desembargador José Bernardo Rodrigues – que tem 69 anos, físico e saúde de um jovem, pratica futebol e mantém uma produtividade invejável – será aposentado compulsoriamente no ano que vem. Perderá o Tribunal de Justiça um quadro em plena forma física e intelectual.

A discussão não é nova no Poder Judiciário do Maranhão. Tanto que no final da década passada, o então presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Raimundo Cutrim, com o apoio de boa parte dos seus pares, mas enfrentando ao mesmo tempo a ira de uma legião de juízes, advogados e membros do Ministério Público, propôs Projeto de Emenda à Constituição do Estado, também apelidado PEC da Bengala, para aumentar de 70 para 75 anos o teto de aposentadoria compulsória de desembargadores maranhenses.  Cutrim se movimentou até mesmo no campo político, fez intensas gestões junto a deputados, ganhou manifestações de simpatia e antipatia pelo movimento que liderou, mas o desfecho foi a rejeição da matéria, que esbarrou na muralha da Constituição Federal.

Derrotado no seu esforço para mudar a regra da aposentadoria de desembargador aos 70 anos, Raimundo Cutrim caiu na compulsória e foi para casa levando um claro sentimento de insatisfação, já que se encontrava – e ainda se encontra – em plena forma física e intelectual. Tanto que logo em seguida assumiu cargo de secretário na equipe do então prefeito de São Luís, João Castelo (PSDB), e depois tentou, em vão, mandato parlamentar federal nas eleições de 2014 na chapa dos tucanos, numa demonstração clara de que o correto seria ter permanecido por mais cinco anos como desembargador.

Mas atenção: já existe um movimento, formado por juízes e com o apoio discreto da OAB, para minar a mudança da regra nos estados.

 

 

PONTOS & CONTRAPONTOS

 

Atoleiro da agiotagem

cutrim depO deputado Raimundo Cutrim (PCdoB)  (foto) bateu forte ontem nos prefeitos e políticos em geral que recorrem à agiotagem para financiar campanhas. “A situação dos prefeitos, hoje, no Maranhão, é gravíssima. Quase 100% estão em mãos de agiotas, porque o custo de uma campanha é milionário. Para mudar essa prática, nós precisamos de uma reforma séria;  que acabe com tudo quanto é estrutura e que seja fiscalizada pelo Ministério Público”, assinalou. E defendeu a reforma política como o único caminho para acabar com o financiamento das empresas particulares às campanhas eleitorais.

 

Balde de água fria I

edivaldo pai 2Provavelmente sem tal intenção, o deputado Edivaldo Holanda (PTC) (foto) jogou ontem um balde de água fria na parceria do Governo do Estado com a Prefeitura de São Luís para a recuperação da malha viária da Capital. Em aparte ao deputado Zé Inácio (PT), que insinuava que os R$ 20 milhões repassados pelo governador Flávio Dino (PCdoB) ao prefeito Edivaldo Jr. (PTC), na forma de convênio para restauração de cerca de 250 ruas, resolveriam os problemas viários da cidade, Holanda fez uma correção. Avaliou que os R$ 20 milhões anunciados  não são suficientes para garantir as obras de infraestrutura necessárias nos bairros.

 

Balde de água fria II

Edivaldo Holanda explicou que os R$ 20 milhões conveniados serão liberados em seis parcelas, mas que apesar do gesto inicial e de boa vontade do governador, este valor não será suficiente para asfaltar nem a metade do bairro Vila Embratel. De acordo com Edivaldo Holanda, a população de São Luís votou em peso no governador Flávio Dino (PC do B) e aguarda com ansiedade esta parceria por acreditar que trará grandes benefícios à cidade. Holanda disse não concordar com a visão equivocada de que os R$ 20 milhões anunciados vão resolver todos os problemas estruturais de São Luís.

 

Balde de água fria III

E para não deixar dúvidas a respeito do que estava falando, o pai do prefeito Edivaldo Jr. arrematou: “Nós mesmos, como deputados, queremos ver uma São Luís melhor e podemos contribuir com o debate cobrando do governador Flávio Dino mais recursos para São Luís”.

 

São Luís, 06 de Maio de 2015.

 

Com líderes fragilizados, Grupo Sarney não pensa em eleições

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Sarney com prestígio mas sem poder; Roseana e Lobão estão fragilizados
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João Alberto e Sarney Filho estão inteiros; Ricardo Murad tenta comandar

A grande pergunta que se faz hoje no meio político é a seguinte: o Grupo Sarney vai sobreviver? Têm sido muitas as tentativas de responder, mas as respostas encontradas até agora não satisfizeram, pelo simples fato de que o cenário político do Maranhão passa por um intenso e turbulento processo de mudança, que alcança os grupos políticos como um todo. Não há dúvidas de que a corrente que tem o ex-presidente José Sarney como referência maior saiu destroçado das últimas eleições, quase sem forças e com seus líderes maiores amargando o enfrentamento de graves e complicados problemas. Daí ser absolutamente imprevisível o futuro imediato daquele que já foi o grupo dominante na vida política maranhense.

A cadeia de problemas começa com o desgaste e a limitação das suas principais lideranças. José Sarney continua sendo um político influente, um craque em articulação e figura de proa do seu partido, o PMDB. Também é fato que alimenta com indiscutível maestria e incomparável habilidade uma ampla rede de relações nas mais diversas esferas do mundo político e institucional, com a diferença de que agora não detém poder efetivo, como um mandato de senador, por exemplo. E como as relações políticas têm por base a troca envolvendo fatias de poder, o ex-presidente encontra hoje dificuldades para segurar aliados.

A ex-governadora Roseana Sarney (PMDB) e o senador Edison Lobão (PMDB) vivem uma situação ao mesmo tempo delicada e angustiante, e com desfecho imprevisível. Denunciados pela Operação Lava Jato como supostos envolvidos no esquema de corrupção que abalou as bases da Petrobras, os dois travam no momento uma guerra sem trégua no tapetão, onde tentam convencer a Justiça de que estão sendo injustiçados pela Procuradoria Geral da República. Na segunda-feira, o exemplo, o procurador geral da República, Rodrigo Junot, deu parecer contrário ao pedido deles e de outros denunciados para que a denúncia que os atinge seja arquivada por falta de consistência e de provas. Ontem, em depoimento à CPI da Petrobras, o ex-diretor de Abastecimento da petrolífera, Paulo Roberto Costa, confirmou o que dissera em relação aos dois, o que é um fator complicador nesse momento. Se o ministro-relator Teori Zavaski, do Supremo Tribunal Federal (STF), confirmar os inquéritos que os envolvem, a situação da ex-governadora e do senador e ex-ministro se complicará de vez.

A guerra que Roseana e Lobão travam para sair ilesos da Operação Lava Jato não os permite assumir responsabilidades políticas e partidárias. Os dois estão sob forte pressão, focados nos movimentos da PGR e da Polícia Federal e dos seus advogados, não dispondo de espaço para se dedicar ao que o grupo está mais carecendo neste momento: a articulação. Roseana não dispõe de um só naco de poder nas três esferas, o que a deixa de mãos atadas. Vive a ex-governadora uma situação bem diferente da que viveu quando perdeu o poder para Jackson Lago (PDT): foi se refugiar no paraíso político que é o Senado da República, onde exerceu as tarefas de líder do Governo no Congresso Nacional e de onde só saiu para assumir o comando do Estado com a derrubada do governador pedetista.  A realidade hoje é outra, adversa e sem horizonte definido.

Por seu lado, mesmo desfrutando do mandato de senador, Lobão vive uma situação desconfortável. A denúncia que o alvejou, reafirmada ontem pelo delator Paulo Roberto Costa, e que ganhou mais peso por causa da sua situação de ex-ministro de Minas e Energia – chefe institucional da Petrobras -, tirou-o do eixo político que sempre o manteve como um dos pilares do Grupo Sarney. Hoje, a impressão dominante é a de que o ex-deputado federal, ex-governador, ex-presidente do Senado e ex-ministro cumpre o seu último mandato, o que desanima os seus seguidores mais fiéis, que correm o risco de dispersão. Por isso, dificilmente o senador entrará para valer nos preparativos para as eleições municipais enquanto não tiver definido o seu futuro pelo STF.

Dos líderes maiores do Grupo Sarney, dois permanecem inteiros: o senador João Alberto (PMDB) e o deputado federal Sarney Filho (PV). João Alberto, em que pesem os esforços que faz para manter o grupo com a coesão possível, enfrenta problemas que ameaçam a unidade do PMDB, como os movimentos do ex-deputado Ricardo Murad, que sonha as sumir o controle do partido.  Sarney Filho, que faz uma carreira paralela como militante do PV, do qual é um dos líderes nacionais, mas com visíveis sinais de fadiga. Para sucedê-los, uma nova geração em formação: o deputado federal João Marcelo Sousa e os deoutados estaduais Roberto Costa, Adriano Sarney, Edilázio Jr., Andrea Murad, Nina Melo, Alexandre Almeida e outros já na estrada.

Esse cenário no qual foi destroçado nas urnas não significa que o Grupo Sarney está morto. Mas as suas perspectivas não são nada alvissareiras.

 

PONTOS & CONTRAPONTOS

 

Lista escandalosa

Escandalosa a informação segundo a qual o Ministério Público de Contas, que pertence ao Tribunal de Contas do Estado, encaminhou à Secretaria de Estado da Fazenda uma relação de 206 gestores – prefeitos, presidentes de Câmaras Municipais e secretários de Estado – para serem inscritos na Dívida Ativa do Estado. Eles cometeram um rosário de ilegalidades, a começar por não pagarem contas. A inscrição na Dívida Ativa os torna párias aos olhos do Fisco estadual, sendo privados de uma série de direitos. Para se ter uma ideia, somada, a dívida que essa turma contraiu alcança a bagatela de R$ 2,6 bilhões. A boa notícia é que outra lista está sendo organizada.

 

Paralisação oficial I

eduardo 12A duplicação da BR-135 está oficialmente paralisada. A notícia desconcertante foi comunicada ontem à Assembleia Legislativa pelo deputado Eduardo Braide (PMN) (foto). Ele relatou que ouviu do superintendente Gerardo Fernandes a confirmação de que a obra está paralisada e que a empresa responsável já desmontou o canteiro e retirou todos os equipamentos.

 

Paralisação oficial II

O deputado Eduardo Braide foi informado de que em princípio ocorreria apenas a suspenção das obras durante o período chuvoso, mas que depois foi definido por Brasília que a paralisação das obras de duplicação da BR-135 é total e oficial por tempo indefinido, o que significa dizer que o canteiro permanecerá desativado indefinidamente.  “Fica claro, mais uma vez, a participação que a classe política do Maranhão terá, junto ao governo federal, no sentido de garantir que a obra seja concluída”, declarou Braide.

 

Panelaço

Foi ensurdecedor e politicamente incômodo para o PT o panelaço realizado ontem por descontentes com o Governo Dilma Rousseff no horário do programa do partido no rádio e na TV.

 

Fusão do PPS com PSB pode unir Eliziane e Rocha

 

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Edivaldo Jr. pode enfrentar Eliziane Gama apoiada por Roberto Rocha

 

O gabinete principal do Palácio de la Ravardière vive um forte clima de expectativa em relação a uma decisão que está sendo alinhavada e deverá ser tomada pelo PPS e pelo PSB, que poderão se juntar para formar um novo partido de esquerda. Se a fusão for consumada, o prefeito Edivaldo Holanda Jr. (PTC) não terá como aliado o PSB e, mais complicado ainda, terá o senador Roberto Rocha e o vereador Roberto Rocha Jr. como adversários e fazendo carga na campanha da deputada federal Eliziane Gama à Prefeitura de São Luís pela nova sigla. Esse será o primeiro desdobramento dessa provável fusão partidária, que deverá acontecer até setembro, para garantir que seus candidatos possam encarar as urnas municipais de 2014.

Se a fusão acontecer como está previsto, o seu comando será dividido entre o senador Roberto Rocha e a deputada federal Eliziane Gama. Os dois já estão conversando e o que está mais ou menos alinhavado é que Rocha terá o controle do partido no âmbito estadual e Gama ficará no comando em São Luís. Isso porque o senador tem planos que vão além da senatória e, por enquanto, a parlamentar só tem como foco a Prefeitura de São Luís, que lhe pode servir de trampolim para voos mais altos.

Desde que as conversas sobre o projeto de fusão foram iniciadas para valer, Roberto Rocha iniciou também o seu flerte político com Eliziane Gama, com quem já se reuniu inúmeras vezes e mantém um canal de comunicação permanente. Na mesma proporção, Rocha esfriou as suas relações com o prefeito Edivaldo Jr., de quem é ainda aliado e por cuja administração tem se movimentado em Brasília. No entanto, já não é o mesmo aliado de todas as horas que quando vice-prefeito. Edivaldo Jr. sabe que está em vias de perder o parceiro político da campanha de 2012 e por quem trabalhou em 2014, mas não força a barra, avaliando que a fusão PPS/PSB poderá não acontecer, e nesse caso tudo continuará como antes.

 

Se o novo partido nascer até setembro, a deputada Eliziane Gama vai representá-lo na briga pela Prefeitura de São Luís. Isso porque a direção do PPS colocou a candidatura da parlamentar pelo novo partido como ponto pacífico, que não será sequer discutido. E o argumento mais forte dos chefes nacionais do PPS a favor do projeto eleitoral de Eliziane Gama são pesquisas que a apontam como líder na preferência do eleitorado, bem à frente do prefeito Edivaldo Jr.. Esses números também estão aproximando o senador Roberto Rocha da deputada Eliziane Gama.

Mas se de um lado o projeto de fusão do PPS com o PSB fortalece um projeto de candidatura à Prefeitura de São Luís, por outro pode criar um embaraço dos grandes. Trata-se do futuro do deputado federal José Reinaldo Tavares e seu grupo, e também do deputado estadual Bira do Pindaré. Tavares entrou no PSB e ali travou uma longa e desgastante guerra com Roberto Rocha pelo seu controle. Ficou com o comando estadual, cedendo a Rocha o comando de São Luis, que lhe permitiu eleger-se vice-prefeito em 2012. Os dois já vinham de medição de força em 2010, quando Rocha se candidatou a senador tirando de Tavares, também candidato, a possibilidade de eleger-se para a Câmara Alta. Dificilmente José Reinaldo Tavares entrará no novo partido junto com Roberto Rocha.

Nesse contexto de indefinições está também o deputado estadual e atual secretário de Ciência e Tecnologia Bira do Pindaré, que se reelegeu pelo PSB. Tudo indica que o parlamentar licenciado não permanecerá no novo partido, podendo retornar ao PT, como está sendo ventilado, ou ingressar no PCdoB, como algumas vozes já especularam.

O fato é que o processo de fusão do PPS com o PSB está em andamento, devendo dar origem a um partido forte de esquerda moderada, distanciado da esquerda viciada e da esquerda radical. E já entrará na guerra eleitoral no Maranhão em condições de brigar de igual para igual perla Prefeitura de São Luís.

 

PONTOS & CONTRAPONTO

 

De novo na cena

andrea 4A deputada Andrea Murad (PMDB) (foto) foi mais uma vez responsável pela movimentação intensa do plenário da Assembleia Legislativa na sessão de ontem à tarde. Ela demonstrou indignação com uma reportagem publicada sexta-feira em O Imparcial com informações segundo as quais  teria usado helicóptero do Estado durante a campanha eleitoral. A pemedebista reagiu duramente, atacou o jornal e acusou também a tropa de choque do governador Flávio Dino (PCdoB) de estar por trás da publicação. E afirmou que, se o objetivo foi calá-la, estão perdendo tempo. E avisou que a partir de agora será mais aguerrida ainda em relação ao governo.

 

Recado direto

rogerio cafe 2Na tribuna para rebater as estocadas da deputada Andrea Murad, o líder do Governo, Rogério Cafeteira (PSC) (foto), surpreendeu a todos. Depois de responder à parlamentar, ele relatou que ouviu dizer que o ex-deputado Ricardo Murad teria ameaçado investigá-lo. E contra-atacou: “Diga para o Ricardo Murad que ele pode fazer o que ele quiser, que eu não tenho medo dele. Diga também que prego pequeno é que fura pneu”. Poucas vezes os anais da Assembleia Legislativa registraram um recado tão ostensivo.

 

Ponto final

Uma comissão de deputados estaduais visitou ontem a Alumar, onde se reuniu com a direção da empresa para tentar reverter a decisão de desativar a área de redução – que produz alumínio – e evitar 650 demissões. Como a coluna já tinha previsto, nada conseguiu. Primeiro porque empresa privada tem as suas regras de sobrevivência e não se sensibiliza com jogo político. Para as corporações que formam o consórcio, valem as regras de mercado, e ponto final.

 

São Luís, 04 de Maio de 2015.

 

 

Ação contra Murad e Travassos mexe nas entranhas do MP

 

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Ricardo Murad e Fátima Travassos são acusados por promotores em ação civil

Uma Ação Civil movida pelos promotores de Justiça Tarcísio José Souza Bonfim e João Leonardo Souza Leal, respectivos titulares das 30ª e 28ª Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e da Probidade Administrativa, contra a procuradora de Justiça Fátima Travassos, ex-procuradora Geral de Justiça, e o ex-deputado estadual Ricardo Murad (PMDB), ambos acusados de improbidade, acende uma luz forte no fim do túnel no qual o Ministério Público do Maranhão (MPM) era acusado de ser politicamente controlado e incapaz de investigar suspeitas de falcatruas contra graúdos da máquina pública estadual. A ação é diferenciada porque, mais do que reafirmar denúncia de suspeita de desvio de conduta por um membro destacado do Poder Executivo, no caso o então gerente metropolitano Ricardo Murad, manda para do banco dos réus um dos membros mais destacados do MPM, sob a acusação de agir para proteger o acusado com uma decisão classificada de “ilegal, imoral e pessoalizada”.

De acordo com matéria jornalística bem fundamentada publicada por O Imparcial na edição de sexta-feira (01/05), a história é a seguinte: em 2005, o então o procurador geral de Justiça, Raimundo Nonato de Carvalho Filho, denunciou o ex-gerente de Articulação e Desenvolvimento da Região Metropolitana, Ricardo Murad, acusando-o de crime de formação de quadrilha e fraude em processo licitatório em contrato firmado pela Gerência Metropolitana com a empresa Nanasel Manutenção de Condomínios Ltda.. Tempos depois, a então procuradora geral de Justiça, Fátima Travassos, decidiu excluir Ricardo Murad da ação, alegando “inépcia da ação inicial”.

Na época, a decisão da então procuradora geral de Justiça causou forte polêmica nos bastidores do Ministério Público e do Poder Judiciário. Relator do processo, o desembargador Marcelo Carvalho opinou que ao arguir a inépcia da ação formulada pelo MPM, a procuradora geral de Justiça violou o “princípio da obrigatoriedade”, segundo o qual o Ministério Público não pode desistir de ação penal”. O caso foi denunciado ao Conselho Nacional do Ministério Público, que censurou duramente a então procuradora geral de Justiça. Complicou mais ainda o caso a amizade que na época ligava Fátima Travassos a Ricardo Murad, apontada como motivadora da falta de independência da chefe do MPM. Face aos fatos, os promotores classificam a decisão da então procuradora geral de Justiça de “situação anômala” e avaliam que ela “fere de morte o princípio da indisponibilidade da ação penal e da unidade do Ministério Público”. E pedem que Ricardo Murad e Fátima Travassos sejam condenados à perda da função pública, suspensão dos direitos políticos, pagamento de multa civil, proibição de contratar com o poder público, além do pagamento das custas judiciais.

A ação civil movida pelos promotores Tarcísio Bonfim e Leonardo Leal está correndo. Os dois acusados terão amplo direito de defesa. A Justiça, no momento certo, dirá se Ricardo Murad voltará a ser réu na ação movida em 2005 pelo então procurador geral de Justiça, Raimundo Nonato de Carvalho Filho, e se a procuradora de Justiça Fátima Travassos será considerada culpada e receberá punição pelo desvio de função.

Mas, além do envolvimento de duas figuras graúdas da política e da instituição que existe para fiscalizar o cumprimento da lei, a ação ganha envergadura pelo fato de colocar o dedo numa disputa de duas correntes pelo poder no MPM.  De um lado, o grupo liderado por Raimundo Nonato de Carvalho Filho e de outro o comandado por Fátima Travassos. Essa guerra intestina se evidenciou nas eleições internas e ganhou força quando Fátima Travassos, que no primeiro mandato foi a mais votada e nomeada pelo então governador Jackson Lago, e no segundo foi a segunda mais votada, mas mesmo assim foi nomeada pela governadora Roseana Sarney, que preteriu o primeiro colocado, exatamente Raimundo Nonato Carvalho Filho. Na época, ficou claro que Ricardo Murad, então secretário estadual de Saúde, apadrinhou a nomeação de Fátima Travassos, atraindo a insatisfação de Carvalho Filho, visto como alinhado “traído” pelo Palácio dos Leões.

Apoiada por Ricardo Murad, Fátima Travassos cumpriu o segundo mandato em clima de guerra com Raimundo Nonato de Carvalho Filho. E na guerra veio à tona o cabeludo e até hoje não muito bem esclarecido processo que envolve a construção do prédio das promotorias, na Avenida Carlos Cunha. Isso não significa sugerir que a guerra interna no MP – que foi temporariamente sufocada com a eleição e reeleição da procuradora geral Regina Rocha – esteja por trás da ação dos promotores. O que vale, no caso, é que a ação de Tarcísio Bonfim e Leonardo Leal vai por a limpo a suspeita de que Fátima Travassos agiu para proteger o amigo Ricardo Murad, num gesto gravíssimo de improbidade. Ou não.

 

PONTOS & CONTRAPONTOS

 

Gastão define rumo

gastão 3-horzO ex-deputado federal e ex-ministro do Turismo Gastão Vieira (foto), deve romper nesta segunda-feira, em caráter definitivo, seus laços com o PMDB. A decisão foi tomada depois de uma conversa que ele teve com a ex-governadora Roseana Sarney. Gastão está insatisfeito com o PMDB desde a campanha para o Senado, que ele avaliação ter tido o apoio efetivo do partido. Ele assinará filha de filiação no PROS, cujo comando deve assumir no Maranhão, segundo entendimento com o comando nacional da agremiação. É possível que seu próximo passo seja disputar a Prefeitura de São Luís.

 

Natalino no PT?

natalino 3O reitor da UFMA, professor Natalino Salgado (foto), pode se tornar o mais novo quadro do PT no Maranhão. Em busca de um partido para disputar a prefeitura de São Luís, ele foi convidado por dirigentes de várias agremiações, entre elas o PMDB, o PSDB, o PR e o PT. Vai se tornar petista sob o argumento de que os governos do PT o ajudaram a fazer a revolução que fez no Hospital Universitário, hoje de referência na região, e na UFMA, onde, já no segundo mandato, realiza uma administração bem sucedida. Ele foi convidado a se filiar ao PT por várias vozes graúdas do partido e deve acertar essa filiação nos próximos dias em São Luís.

São Luís, 02 de Abril de 2015.

Refinaria perdida pode ser compensada

 

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A área onde seria implantada é hoje só um descampado no território de Bacabeira

Na semana que passou, o Palácio dos Leões recebeu um comunicado que, interpretado por ótica conformista, poderia motivar a colocação de uma pá de cal sobre o projeto da Refinaria Premium I em Bacabeira, mas que encarado de maneira realista e pragmática, pode render bons resultados. Em documento encaminhado ao Governo do Estado, a Petrobras informa oficialmente sua decisão de arquivar de vez o projeto de implantação de um complexo de refino de petróleo no Maranhão, como também providências formais para apagar de vez o desenho do que foi um dos maiores e mais promissores sonhos maranhenses, mas que a corrupção na estatal transformou num pesadelo cujos efeitos dramáticos e danosos serão sentidos por muito tempo, principalmente pelos bacabeirenses.

A Coluna não teve acesso ao documento, mas a fonte que a informou sobre sua existência revelou que num dos itens do comunicado a Petrobras teria manifestado interesse em indenizar o Maranhão pela área que foi adquirida com recursos do Estado, assim como outros gastos menores feitos pelo Governo estadual atendendo ao Protocolo de Compromissos firmado entre a empresa e o Governo do Estado em janeiro de 2010. O protocolo, que fora negociado ao longo de meses por equipes técnicas e administrativas das duas partes, foi firmado em São Luís pelo então presidente da estatal, Sérgio Gabrielli, e pela então governadora Roseana Sarney (PMDB), com o suporte técnico do então diretor de Abastecimento da Petrobras, o explosivo bandido Paulo Roberto Costa, e do principal negociador do projeto pelo Maranhão, o então secretário de Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico, Maurício Macêdo.

O Protocolo de Compromissos é um calhamaço de dezenas de páginas contendo uma extensa lista de obrigações para cada parte envolvida no projeto, no caso a Petrobras, o Governo do Estado e, em escala bem menor, a Prefeitura de Bacabeira. A petroleira assume basicamente a implantação do complexo industrial, além de outros compromissos de menor peso, vários deles ligados a incentivos para a região que receberia a refinaria. Trata-se, na verdade, de um grande contrato, com cláusulas de obrigações muito bem definidas, com penalidades previstas para quem não fizer a sua parte. Tanto que o presidente Sérgio Gabrielli, que nunca escondeu sua antipatia pelo projeto, falava em tom de ameaça sempre que se referia às obrigações assumidas pelo Governo no Protocolo de Compromissos.

Com o malogro do projeto, depois de enterrados R$ 2 bilhões na área onde o complexo seria implantado, e passado o primeiro impacto da perda, o Maranhão começa a se movimentar no sentido de cobrar compensações, principalmente depois que o Ceará, também atingido pelo arquivamento, foi compensado com um projeto siderúrgico, que fortalecerá ainda mais o complexo portuário de Pecém. A ideia é cobrar a indenização da área, sim, em termos justos, e todos os gastos feitos pelo Governo do Estado, que não foram poucos, para embalar o empreendimento. A compensação pode vir também na forma de um complexo siderúrgico, ou com a viabilização de uma refinaria como a do projeto concebido pelo então governador José Reinaldo Tavares (2002/2007), mais modesto, mas bem mais realista, e já entregue à presidente Dilma Rousseff pelo governador Flávio Dino.

O Protocolo de Compromissos não é uma nota promissória que possa ser executada na Justiça por falta de pagamento. Mas é um compromisso de Estado, no qual dois entes institucionais – uma estatal e um Estado da Federação – assumem compromissos que, não cumpridos, resultarão em transtornos e prejuízos para ambos, em especial para aquele que fez a sua parte. E é sabido que o Governo do Estado cumpriu o que dele foi exigido no acerto e fixado no documento – doou o terreno, regularizou a complexa situação ambiental e investiu alto na formação de mão de obra jovem para atender às demandas do projeto, por exemplo. Nada mais justo, portanto, que cobrar compensação, reparação, reposição e até danos morais, pois é sabido que os maranhenses pagaram um tremendo mico, principalmente pelo fato de que o desastre foi causado pela ação corrupta de bandidos que assolaram a empresa.

Pode não ser faca e queijo, mas o governador Flávio Dino tem na gaveta farta munição para alimentar, se não o sonho, pelo pelos a esperança de que nem tudo está perdido.

 

 

PONTOS & CONTRAPONTOS

 

Cerco à sonegação

A partir de segunda-feira (04) o Fisco estadual vai apertar o cerco contra a sonegação no comércio atacadista, varejista e empresas substitutas tributárias. Serão desencadeadas duas ações. A primeira será uma fiscalização severa em 241 estabelecimentos comerciais da Capital e do interior nos ramos de peças de veículos, construção civil, atacadistas de medicamentos, além de empresas enquadradas no Simples. A ação envolverá 90 auditores fiscais e durará 60 dias. A segunda ação fiscalizará pessoas físicas, sócias de empresas e que nos últimos quatro anos compraram pelo menos R$ 4 milhões. Com as duas ações, Fisco espera engordar as contas do governo. E a ordem é jogar pesado.

 

Mal na foto

Ganhou o mundo a notícia do assassinato do líder indígena Alberto Kaapor, ocorrido terça-feira no povoado Buraco do Tatu, em Santa Luzia do Paruá. Não há, por parte da Polícia, nenhuma dúvida de que o assassinato foi praticado por madeireiros. Alberto Kaapor vinha há tempos tentando acabar com a exploração ilegal e criminosa de madeira dentro da reserva indígena, mas os madeireiros não se intimidaram e continuaram avançando. O líder indígena intensificou ações contra a exploração e chegou a denunciar ao Governo do Extado a pressão que vinha sofrendo. Nada foi feito e ele foi assassinado.  A notícia ganhou o mundo, pois, ao contrário do que acontece no Brasil, as comunidades indígenas brasileiras são monitoradas por ONGs de todo o planeta, principalmente da Europa. Mais uma vez o Maranhão e o Brasil ficam mal na foto por causa do tratamento que dão aos verdadeiros donos do país.

 

São Luís, 1º de Maio de 2015.

Embate de Adriano Sarney com Eduardo Braide eleva Assembleia

 

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Adriano Sarney e Eduardo Braide combateram ontem o bom combate parlamentar

 

O lançamento, pelo governador Flávio Dino (PCdoB), na noite de quarta-feira, na sede da Fiema, do programa “Mais Empresas”, motivou um dos embates mais produtivos e politicamente corretos desde a abertura dos trabalhos da nova Assembleia Legislativa. De um lado, o deputado Adriano Sarney (PV), fazendo o papel de oposição com competência técnica e grandeza política; de outro, o deputado Eduardo Braide (PTN), fazendo a defesa do governo com igual desenvoltura técnica e muita civilidade política. Os dois parlamentares se alternaram na tribuna por mais de uma hora, tempo em que mostraram ser possível discutir os problemas do Maranhão num patamar superior e que o confronto oposição-situação gera situações tensas, de troca de acusações fortes e ataques pesados, mas também medem forças num nível em que as diferenças são tratadas de maneira produtiva.

O deputado Adriano Sarney inicialmente criticou o fato de o governador Flávio Dino ter lançado um programa destinado a atrair empresas para o Maranhão na forma de Medida Provisória. Interpretou a atitude como uma demonstração do desprezo do chefe do Executivo pelo debate e pelas formas que, segundo entende, seriam as mais corretas, como o Projeto de Lei. No seu entendimento, lançar um programa dessa envergadura por meio de MP “é uma agressão à Assembleia Legislativa, ao próprio governo e à sociedade”, argumentando que essa forma não permite um debate mais amplo da medida. E foi mais longe: “Para mim soa estranho que um ex-juiz use Medida Provisória, um instrumento herdado do autoritarismo, da ditadura, como o Decreto Lei, que ele também gosta de usar”.

O parlamentar verde saiu da forma para o conteúdo, criticando duramente o governador Flávio Dino por recorrer ao incentivo fiscal, principalmente a não cobrança ou a redução de alíquotas de ICMS para incentivar a instalação de novas empresas no Maranhão. O problema, na sua interpretação, não é abrir mão temporariamente de impostos, mas definir esses critérios sem envolver o Poder Legislativo nessa discussão. Adriano Sarney classificou a postura do governador como autoritária e discricionária, sem justificativa, acrescentando que o Maranhão está submetido a um governo que ele não sabe se é uma ditadura, um regime comunista ou um capitalismo deformado. E mais: o programa está sendo “enfiado goela abaixo nos empresários e nesta Assembleia”.

Reconhecendo que o “Mais Empresas” é um programa importante e necessário, manifestou estranheza pelo fato de o governador não usar o Pró-Maranhão, um programa de atração de empresas montado no Governo Roseana Sarney e reconhecido, inclusive pela classe empresarial, como uma boa iniciativa do Poder Executivo. Mas levantou a suspeita de que a atitude de ignorar o Pró-Maranhão teria a ver com ranço político.

Atento a cada palavra do oposicionista, o deputado Eduardo Braide, que lidera um dos blocos de apoio ao governo, entrou com firmeza e substância na defesa do governador Flávio Dino. Primeiro, explicou que o uso da Medida Provisória para lançar o “Mais Empresas” atendeu a uma necessidade de ser mais ágil, para que as regras não se confrontem com as de projetos de lei sobre incentivos fiscais que tramitam com urgência no Congresso Nacional e que podem sufocar iniciativas de estados para atrair empresas. Depois, mostrou que o governador não impôs um pacote, porque o programa foi discutido com a classe empresarial e será discutido pela Assembleia Legislativa, que poderá propor modificações.

Braide descartou que Flávio Dino tenha deixado de lado o “Pró-Maranhão” por retaliação política, argumentando que o governador, que chegou ao poder na esteira de 65% dos votos, tem a sua maneira de interpretar a realidade e adotar medidas que entenda serem mais adequadas para desenvolver o estado econômica e socialmente. Admitiu que o Projeto de Lei seria o caminho tecnicamente mais adequado, mas foi incisivo no argumento de que, nas circunstâncias, a Medida Provisória foi a forma mais eficiente para que o programa produza resultados o mais rapidamente possível.

Assinalou também que já se dava por satisfeito diante do fato de que o oposicionista reconhecia o “Mais Empresas” como programa importante e necessário para o Maranhão, como foi o “Pró-Maranhão” no seu momento.

Chamou atenção o fato de que nenhum parlamentar interferiu no embate, o que permitiu que os dois jovens deputados formulassem, apresentassem e defendessem seus argumentos de maneira refletida e equilibrada, evitando escorregar para o confronto pessoal ou para uma troca de acusações. E o resultado, que não teve vencido nem vencedor, não poderia ser outro: Adriano Sarney e Eduardo Braide protagonizaram ontem um momento que reforçou a razão de ser da Assembleia Legislativa.

 

 

PONTOS & CONTRAPONTO

 

Pé de guerra I

O deputado federal Weverton Rocha (PDT) alertou, quarta-feira, para um problema que pode acabar na eclosão de um conflito de proporções e desfecho imprevisíveis. Trata-se do projeto da Funai que amplia de 41 mil para 163 mil hectares a área da reserva indígena no município de Amarante do Maranhão, no Sul do estado. Se for, de fato, ampliada nessa proporção, a reserva ocupará 70% do território municipal. O problema é que quem não é indígena não pode viver ou trabalhar nessa área, o que afetará pelo menos metade da população de Amarante, ameaçando inclusive a sede do município, que pode ter de ser destruída.

 

Pé de guerra II

O clima em Amarante do Maranhão é tenso. A população vive uma espécie de contagem regressiva sem saber o que vai acontecer. Tecnicamente, a ampliação da reserva indígena naquele município é justa e dificilmente será recusada pelo Congresso Nacional, a exemplo do que aconteceu há pouco mais de um ano na reserva Awá Guajá. Uma operação gigantesca envolvendo Polícia Federal e Exército retirou da reserva centenas de famílias, que tiveram de abandonar benfeitorias nas propriedades que acreditavam serem suas. Se a ampliação for confirmada, acontecerá o mesmo em Amarante, com a diferença de que a população ali está disposta a resistir. Esse alerta foi dado na Assembleia Legislativa há pelo menos quatro anos pelo deputado Antônio Pereira, num discurso contundente e bem fundamentado.

 

Missão frustrada

O deputado governista Levi Pontes (SD), vestiu ontem a beca de professor e tentou dar  “uma aula” sobre “problemas da área de saúde” para a deputada Andrea Murad (PMDB). Subiu à tribuna, empostou a voz, assumiu ar professoral e até a chamou de “minha filha”, argumentando ter idade para ser seu pai. Do alto dos seus 40 anos de exercício da medicina, justificou a iniciativa dizendo que com a aula pretendia corrigir as distorções das suas palavras feitas pela deputada em seus explosivos discursos contra o governo. Como uma aluna disciplinada, a deputada surpreendeu o professor, explicando, ela mesma, de maneira correta, todas as distorções alegadas. Levi Pontes desistiu da missão didática.

 

São Luís, 30 de Abril de 2015.