Razão e ousadia: José Reinaldo propõe pacto pelo Maranhão com a participação de Sarney

 

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José Reinaldo propõe pacto pelo Maranhão com participaçao de José Sarney

 

Poucas vezes a história recente do Maranhão registrou um gesto político ao mesmo tempo tão ousado e oportuno quanto o protagonizado pelo ex-governador e hoje deputado federal José Reinaldo Tavares (PSB) em artigo publicado ontem no Jornal Pequeno sob o título “Pacto pelo Maranhão”. Numa espécie de manifesto pessoal, de maneira crua e direta, sem fazer qualquer contorno, rodeio ou malabarismo verbal, o parlamentar propôs que todos os líderes e grupos políticos maranhenses se desarmem, baixem as guardas e se unam em torno de uma agenda positiva para o Maranhão. O ex-governador conclama ninguém menos do que o ex-presidente José Sarney, seu ex-líder e hoje arqui-inimigo, dando uma demonstração de coragem e desprendimento, sem manifestar qualquer preocupação com o custo pessoal e político que sua iniciativa possa vir lhe impor, mesmo levando em conta o fato de tratar-se de uma causa nobre.

Com a experiência de quem fez parte da equipe do governador José Sarney, presidiu a Novacap – estatal que construiu Brasília -, dirigiu o DNOCS, comandou a Sudene, foi ministro dos Transportes, governou o Maranhão por cinco anos e integra atualmente a bancada maranhense na Câmara Federal, José Reinaldo deixa claro, de maneira enfática, no seu artigo, que está propondo uma grande mobilização política pelo Maranhão, e não uma reconciliação política ou pessoal. No seu entendimento, essa união das  forças políticas deve se dar em torno de projetos fundamentais de desenvolvimento, capazes de embalar a realidade socioeconômica do estado com investimentos que explorem o seu potencial de riqueza. E isso não significa que os grupos mudem suas posições políticas.

“O Ceará fez isso no passado e disparou com uma agenda de consenso que o transformou num dos estados mais importantes do país. E o nosso Maranhão tem muito mais condições naturais para o desenvolvimento que o Ceará, mas hoje estamos bem atrás”, argumenta o ex-governador. “É claro que se isso não acontecer, iremos lutar até conseguirmos, mas se pudermos fazer uma agenda acima da política, juntando as forças de todos que puderem contribuir, será muito mais fácil e mais rápido conseguir mudar o Maranhão”, reforça.

Mais adiante, explica: “O que pretendo é unir todos pelo desenvolvimento do Maranhão. É escolher pelo debate projetos realmente fundamentais para alavancar o desenvolvimento do estado (…). Entre nós temos políticos de enorme prestígio, a começar pelo governador Flávio Dino e pelo ex-presidente José Sarney. Juntando senadores, deputados federais e estaduais, temos força política para, juntos nesse propósito, conseguirmos grandes avanços”. Admite que “não será tarefa fácil”. Mas avalia que “se estivermos unidos e com uma pauta bem estabelecida, creio que seremos fortes, objetivos e com grandes chances de conseguir grandes avanços”. E arremata: “Só o fato de termos uma agenda comum será de uma importância extraordinária”.

O ex-governador fez questão de deixar claro: “Aqui falo por mim. Não falo por mais ninguém. Portanto, não se trata de qualquer tipo de barganha. Não se trata de oferta de cargo nem troca de apoio. Não é, enfatizo, um pacto político. (…) Não se trata de rendição nem de submissão”.

A proposta de pacto pelo Maranhão não é nova, já foi levantada em diferentes ocasiões, mas sem a ênfase dada agora pelo deputado federal José Reinaldo Tavares. E nas vezes em que foi aventada, não ganhou nem a dimensão história nem a abrangência política expressadas como no artigo do ex-governador. O momento mais apropriado para um grande pacto aconteceu na segunda metade dos anos 80 do século passado, durante o período presidencial de José Sarney. Mas ele próprio, o governador Epitácio Cafeteira, os senadores Alexandre Costa, Edison Lobão e João Castelo e os deputados federais mais influentes cuidaram dos seus projetos pessoais e, pelo menos em relação àquele momento ímpar, perderam o trem da História. É fácil chegar a essa conclusão avaliando-se o que foi feito e o que poderia ter sido feito.

A proposta de José Reinaldo Tavares é realista, pois é feita num momento em que o Maranhão encontra-se politicamente fragilizado no cenário nacional, com o agravante de que isso acontece em meio a uma crise aguda no campo econômico e imprevisível na seara política. Na avaliação do ex-governador, que está vivendo no epicentro do furacão, qualquer mobilização de forças políticas com uma agenda positiva pode fazer a diferença.

A grande dificuldade para dar vida a um projeto dessa natureza está exatamente no front doméstico. O cenário político maranhense vive um profundo processo de transição, iniciado com a derrota do Grupo Sarney nas urnas em 2014 e a ascensão do governador Flávio Dino, liderando forças adversárias. As forças políticas vivem ainda o rescaldo de uma campanha dura, que deixou sequelas e feridas abertas, principalmente no lado derrotado e cujo líder, mesmo fragilizado, se mantém na trincheira, atirando, sem dar trégua ao adversário agora no poder. Daí ser impossível prever sua reação a uma proposta dessa dimensão, feita exatamente por um ex-aliado de proa e hoje um inimigo político e desafeto pessoal. E ninguém duvida que sem o aval do ex-presidente José Sarney um pacto político pelo Maranhão não terá substância suficiente para produzir os resultados projetados pelo deputado federal José Reinaldo Tavares.

 

PONTOS & CONTRAPONTO

Boa ideia, no entanto…

A proposta de pacto pelo Maranhão é uma manifestação livre e pessoal do deputado federal José Reinaldo Tavares (PSB), que tem experiência e legitimidade política para fazê-la. Toda ideia de convergência favorável ao desenvolvimento do Maranhão é bem vinda. Um pacto que reúna todas as forças políticas maranhenses é uma equação muito complexa, que não se resolve facilmente. Daí, mesmo louvando a iniciativa do deputado José Reinaldo Tavares e respeitando sua autoridade para tal, Márcio Jerry, presidente do PCdoB e voz política do governo estadual discorda de alguns termos da proposta, o que, seguindo ele, não invalida a inciativa. A complexidade da equação está no envolvimento do ex-presidente José Sarney, que faz oposição cerrada ao governo estadual. Em resumo: nada contra, mas a proposta não é um projeto do governo.

DEM se declara autônomo

O DEM afirma ser totalmente independente no Maranhão, seguindo fielmente as orientações da sua Executiva Nacional. O partido contesta a afirmação de que é controlado, em nível local, pelo ex-prefeito e  empresário Mauro Fecury, que não tem qualquer ingerência sobre a legenda, uma vez que é filiado ao PMDB. O comando estadual democrata diz não ver mais sentido em incluir a sigla como integrante do Grupo Sarney, tendo em vista a atual conjuntura política e a posição de autonomia ora assumida. Sobre as articulações políticas visando à sucessão em São Luís, no próximo ano, o DEM segue avaliando diferentes possibilidades, sem descartar nenhuma delas. A mais viável, neste momento, segundo o diretório democrata na Capital, é uma composição com a deputada federal  Eliziane Gama (PPS), que mantém um canal de diálogo aberto com o partido.

 

São Luís, 21 de Julho de 2015.

 

 

 

2 comentários sobre “Razão e ousadia: José Reinaldo propõe pacto pelo Maranhão com a participação de Sarney

  1. O governador José Reinaldo terminou com “Pronto, falei”. Ele não só falou, como escreveu e deu um passo importante. Parabenizo-o pela visão e lucidez. O Maranhão precisa estar acima dos interesses pessoais. O PTB propôs esse diálogo em um de nossos programas de TV. E eu, como atual coordenador da Bancada, tenho buscado essa união pelo Maranhão.

    Att.
    Deputado Pedro Fernandes.

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