Prisão de Temer abala o braço político do clã e Sarney não quebra lança sobre o escândalo

 

José Sarney e Michel Temer nunca simpatizaram um com o outro e sempre tiveram relação de altos e baixos dentro do MDB

Não dá para rotular como tragédia, mas não há qualquer dúvida de que a prisão do ex-presidente Michel Temer (MDB) causou um forte impacto na couraça política da família Sarney, em especial na do ex-presidente José Sarney, que, surpreendentemente, não se manifestou sobre a decisão do juiz federal Marcelo Bretas de decretar a prisão preventiva do ex-chefe do Estado brasileiro nem sobre a maneira como ele foi preso – numa operação espetaculosa, realizada em rua movimentada de São Paulo. Bem diferente de como fez em relação à prisão do ex-presidente Lula da Silva (PT), que foi tão ou mais espetaculosa, mas num sentido diferente, já que o líder petista deu as cartas, impôs os termos e os modos da prisão e só se entregou na hora que bem entendeu.

Nas entranhas do poder partidário é tido como verdade incontestável que José Sarney não nutre simpatia ou amizade por Michel Temer. Os dois sempre estiveram em campos opostos dentro do MDB e alimentaram relações furta-cores, ora exibindo compatibilidade integral, ora mostrando azedume um em relação ao outro. Ambos travaram duras lutas dentro do MDB. Michel Temer mostrou-se muitas vezes um representante de uma fatia da ala paulista do partido que nunca aceitou de bom grado a presença de José Sarney na agremiação. José Sarney, por seu turno, vez por outra cortou as asas de Michel Temer dentro do MDB, com o apoio da sua turma, formada por Renan Calheiros e Romero Jucá, mesmo quando ele presidiu a legenda. Esses altos e baixos, porém, nunca chegaram a configurar uma situação de confronto aberto, gerador de crise, pois se deram num elevadíssimo nível de civilidade, terrenos em que os dois sempre foram craques. E isso permitiu que na maioria dos momentos decisivos os dois estivessem afinados em torno dos interesses do partido, mostrando-se para o mundo com sorrisos, abraços e outros afagos.

Quando, com seu faro apurado ao longo de mais de meio século de batalhas políticas nos cenários local e nacional, José Sarney anteviu a queda de Dilma Rousseff (PT), cuidou, lenta e cuidadosamente, de fazer a migração do seu apoio para o vice-presidente Michel Temer. E o fez quase que naturalmente, sustentado no argumento não declarado publicamente, mas revelado nas rodas fechadas dos seus convivas políticos: não gostaria de ver Dilma Rousseff perder o mandato, mexeu-se contra o impeachment, mas diante do fato consumado, não poderia ficar contra o futuro presidente emedebista. Por mais forte que fosse a vinculação que manteve com Lula da Silva, Dilma Rousseff e o PT, José Sarney apostou no impeachment como um emedebista de proa, levantando a bandeira segundo a qual os interesses do partido estão acima das conveniências pessoais, dando assim total apoio ao vice-presidente. E na discrição dos bastidores, atuou para atenuar a pancada em Dilma Rousseff – há quem jure que o gesto do presidente do senado, Renan Calheiro, de propor que a ex-presidente mantivesse seus direitos políticos foi ideia sua.

Entronizado na presidência da República com o apoio do ex-presidente, Michel Temer respondeu dias depois, saindo do Palácio do Jaburu para visitar José Sarney em casa e levando no bolso do paletó o ato nomeando o deputado federal Sarney Filho (PV) ministro do Meio Ambiente. E os agrados não ficaram por aí. José Sarney manteve seus principais aliados no comando do poderoso setor elétrico, emplacou a arquiteta Kátia Bogea na presidência do Iphan e empregou dezenas de aliados no terceiro escalão. Ao mesmo tempo, seus aliados Renan Calheiros e Romero Jucá comandavam uma operação para reassumir o controle do MDB, desalojando dos postos–chave aliados de Michel Temer, que presidia o partido. Inebriado pelo poder presidencial, Michel Temer nem ligou.

José Sarney foi uma espécie de eminência parda do Governo de Michel Temer, atuando como conselheiro do presidente nos momentos políticos mais tensos. Com a experiência de quem sofreu situação parecida quando presidia o Senado, no caso dos atos fantasmas, aconselhou-o, por exemplo, a resistir a todas as pressões por meio das quais falsos aliados e adversários tentaram catapultá-lo da cadeira presidencial. Correu nos bastidores, à época que José Sarney atuou como o estrategista-mor nas estratégias políticas que livraram o presidente Michel Temer da abertura de processo de impeachment pela Câmara Federal, tendo a ex-governadora Roseana Sarney (MDB) participado ativamente de algumas articulações que resultaram na formação da base parlamentar contra o impeachment do presidente emedebista. Foi também de José Sarney o conselho para que Michel Temer resistisse a todas as pressões possíveis e não renunciasse, pois seria lançaria o País num charco institucional profundo e caótico.

José Sarney saiu de cena nacional durante a campanha eleitoral de 1018, voltando suas energias para tentar evitar o naufrágio da candidatura de Roseana Sarney ao Governo do Estado, apoiada, vale lembrar, pelo presidente Michel Temer. Mas as denúncias contra o ainda presidente fizeram José Sarney perceber com clareza que Michel Temer seria carta fora do baralho tão logo levantasse da cadeira presidencial e deixasse o Palácio do Jaburu, onde decidiu continuar morando quando assumiu a presidência da República. Não surpreende, portanto, que o ex-presidente maranhense tenha mergulhado na cautela silenciosa diante da prisão do ex-presidente paulista, principalmente depois que o comando nacional emedebista divulgou uma nota que nem de longe expressa indignação diante do acontecimento que afundou mais ainda o MDB.

 

PONTOS & CONTRAPONTOS

 

Destaque

Sob a coordenação de Othelino Neto, presidentes de Legislativos nordestinos discutirão o País em São Luís

Othelino Neto será o anfitrião e vai coordenar o 3º Encontro de Presidente de Assembleias Legislativas do Nordeste

Queiram ou não os adversários, a aliança partidária liderada pelo governador Flávio Dino (PCdoB) vem conseguindo, passo a passo, colocar o Maranhão no epicentro das decisões políticas da Região Nordeste, com expressivos reflexos no cenário nacional. E a confirmação dessa avaliação acontecerá no próximo dia 29, quando, duas semanas após São Luís ter sediado a segunda reunião do Fórum de Governadores do Nordeste, será sede também do 3º Encontro de Presidentes de Assembleias Legislativas dos Estados do Nordeste, este capitaneado pelo presidente da Assembleia Legislativa, deputado Othelino Neto (PCdoB). O evento, que tem natureza institucional e forte motivação política, acontecerá no Palácio Manoel Beckman, sede do Poder Legislativo maranhense.

Os chefes dos Poderes Legislativos nordestinos discutirão uma pauta com temas diretamente ligados às relações dos Estados com a União, dentro das regras da Federação. É o caso, por exemplo, do projeto de Reforma da Previdência proposto pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), que em muitos aspectos gera problemas gigantescos para os Estados e que precisam ser discutidos com afinco, de modo a encontrar saídas que conciliem as propostas. Os presidentes dos legislativos nordestinos devem evoluir na discussão do Pacto Federativo, de modo a melhorar a relação da União com os Estados no que diz respeito a aspectos fiscais e tributários, e no campo de obrigações com infraestrutura, saúde, educação, segurança e outros itens essenciais.

Sob a presidência do maranhense Othelino Neto, o 3º Encontro de Presidentes de Assembleias Legislativas da Região Nordeste discutirá vários temas de interesse do Poder Legislativo e da população, a exemplo do Consórcio dos Estados do Nordeste, criado pelo Fórum de Governadores realizado no dia 15 em São Luís e que precisa ser aprovado pelo Poder Legislativo dos nove estados nordestino. Os chefes dos Legislativos discutirão também formas para o fortalecimento dos órgãos regionais de desenvolvimento, como a Companhia do Vale do São Francisco (Codevasf), por exemplo, e devem fechar a reunião com a divulgação da Carta de São Luís, que deverá conter as conclusões do encontro e propostas e encaminhamentos de interesse da Região Nordeste e do Legislativo.

Vale lembrar que os presidentes dos Legislativos estaduais da região estão afinados, depois dos dois Encontros já realizados. O primeiro aconteceu no Ceará, e o segundo, na Bahia. A pauta principal do primeiro encontro foi a criação do Colegiado Nordestino, que congrega os dirigentes dos Legislativos estaduais. Já no segundo Encontro, foram eleitos os integrantes do ParlaNordeste e criada uma Frente Parlamentar pela revitalização do Rio São Francisco e a não privatização da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf).

 

Longe da crise nacional, o MDB maranhense se move em silêncio para mudar seu comando

João Alberto continua tentando conciliar as correntes lideradas por Roberto Costa e Hildo Rocha no MDB

Longe das turbulências que o partido está sofrendo no plano nacional, com a prisão do ex-presidente Michel Temer, o braço maranhense do MDB se movimenta para dar uma guinada na sua trajetória por meio de uma nova direção. Sem alarde, o presidente regional do partido, ex-governador João Alberto, trabalha no sentido de conciliar as duas correntes que se batem pelo comando partidário, uma liderada pelo deputado estadual Roberto Costa, que defende que o partido seja entregue a líderes da nova geração, e outra, mais conservadora, que tem como líder o deputado federal Hildo Rocha, cujo projeto é revitalizar o partido fazendo oposição pesada e radical ao Governo Flávio Dino. Depois de vários meses de conversas e tensões internas, que resultou, por exemplo, na exclusão da ex-governadora Roseana Sarney como opção para presidir o partido, o presidente João Alberto fechou questão sobre o seguinte roteiro: tentará, numa última cartada, conciliar as duas correntes num grande acordo; se isso não for possível, convocará a convenção para que a nova direção partidária seja definida pelo voto. Roberto Costa e Hildo Rocha mantêm inalteradas suas posições e devem seguir para o confronto na convenção. Todas as avaliações feitas até aqui indicam que a corrente liderada por Roberto Costa é mais forte, exatamente por reunir quadros da nova geração, como o ex-secretário nacional da Juventude, Assis Filho, que também é cotado para presidir o partido em um acordo, e deve contar também com o apoio do prefeito de Imperatriz, Assis Ramos. Hildo Rocha tem corrido em faixa própria, não representando até agora um movimento dentro do partido a seu favor, embora ninguém duvide de que ele tenha aliados fortes no partido, entre eles Roseana Sarney, mesmo tendo ele concordado com a exclusão dela como opção para a presidência. No geral, o cenário da disputa dentro do MDB é francamente favorável a Roberto Costa, que de fato encarna a mudança no MDB.

Em Tempo: não está descartada uma solução pela qual o ex-governador João Alberto seja mantido na presidência por mais algum tempo, até encontrar uma saída que contemple as duas correntes

 

Estratégia de ataque do Grupo Sarney a Flávio Dino não está funcionando

Adriano Sarney, César Pires, e Edilázio Jr. atacam Flávio Dino em ações coordenadas na Assembleia e na Câmara

O Grupo Sarney decidiu jogar pesado contra o Governo Flávio Dino, numa trajetória que, em princípio, visa minar o prestígio nacional alcançado pelo governador maranhense. Na Assembleia Legislativa, os deputados Adriano Sarney (PV) e César Pires (PV), que tem feito uma série de ataques à política tributária e à política previdenciária do Governo estadual, e plano nacional acionou o deputado Edilázio Jr. (PSD) para cumprir a tarefa de desqualificar o que o governador Flávio Dino tem apresentado como conquistas. Na semana que passou, no eco da pancadaria desferida por Adriano Sarney e César Pires na Assembleia Legislativa, Edilázio Jr. fez na Câmara Federal um discurso duro contra o Governo do PCdoB, denunciando o que seriam distorções na Previdência do Estado, no ajuste tributário (ICMS), e no que acusou de “inchaço” da máquina e a possibilidade de o Maranhão vir a perder o controle do Porto do Itaqui. A investida não produziu resultados visíveis. O Palácio dos Leões não vem dando nenhuma importância aos brados de Adriano Sarney e César Pires. No seu discurso na Câmara Federal, o deputado Edilázio Jr. cometeu um erro de amador, que ele já não é: negou três pedidos de aparte feito pelo deputado federal Marcio Jerry (PCdoB), que em seguida desmontou os ataques, um por um, e não teve uma palavra de tréplica. Conclusão óbvia: há algo de muito errado na estratégia de ataque do Grupo Sarney.

São Luís, 24 de Março de 2019.

 

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