O braço do Partido dos Trabalhadores (PT) no Maranhão ficou um pouco maior ontem, como também ganhou um pouco mais de peso a Central Única dos Trabalhadores (CUT) no estado. Militantes das duas organizações, que estão no comando do país há quase 13 anos, foram às ruas da Capital defender a presidente Dilma Rousseff contra o movimento por impeachment. Concentraram-se na Praça João Lisboa, atravessaram a Rua Grande e fecharam a manifestação na Praça Deodoro, o espaço de São Luís consagrado às manifestações políticas, em especial as da esquerda. O ato fez parte de um movimento que mobilizou partidários do governo do PT em 12 capitais, para fazer contrapeso aos milhões que, mobilizados pela oposição, especialmente pelo PSDB, foram às ruas no domingo em protesto contra a presidente da República e o governo do PT, e disparar chumbo grosso também contra o até agora poupado ex-presidente Lula.
O ato foi organizado pela CUT e reuniu militantes do PT, do PCdoB, de várias centrais sindicais, movimentos sociais, organizações estudantis, entre elas a União Brasileira de Estudantes Secundaristas. Esses movimentos saíram da letargia e ecoaram no Centro de São Luís, que voltou a ser de novo – pelo menos por duas horas da tarde de ontem – palco maior da Ilha Rebelde e como espaço de atuação da militância petista, viu a movimentação de uma pequena, mas real, “onda vermelha”. Além de defender o mandato da presidente Dilma Rousseff, os manifestantes bateram forte no presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), apontado como um dos responsáveis pela crise política que tenciona o país e ameaça o mandato presidencial e o governo petista.
O detalhe a ser destacado é que os manifestantes, a começar pelos chefes da CUT, reafirmaram apoio incondicional à presidente Dilma e ao seu governo, mas em contrapartida bateram forte contra a política econômica, que para eles é neoliberal e reduz direitos de trabalhadores. Não chegaram a xingar o ministro Levy, da Fazenda, mas avisaram que vão continuar pressionando por uma mudança de rumo.
À Coluna, um petista, mesmo avaliando a presença de poucos petistas, festejou o ato de ontem concordando que o PT do Maranhão está combalido, já não é o partido de antes, mas que está vivo e de pé. Reforçou seu argumento lembrando que antecipou sua manifestação com a mobilização que fez em apoio à presidente Dilma Rousseff, durante a visita dela a São Luís, no último dia 10. Justificou que depois da “mobilização” para a visita presidencial, muitos achavam que não havia como “colocar a militância de novo nas ruas em tão pouco tempo”. Reconheceu que os manifestantes que saudaram a presidente em São Luís foram escolhidos a dedo e representaram no ato o PT e o PCdoB, além de seguidores do governador Flávio Dino (PCdoB). E que aquele grupo – cerca de 500 – cumpriu um roteiro previamente acertado, incluindo as estrondosas vaias que disparou duas vezes contra o senador Edison Lobão (PMDB), ex-ministro de Minas e Energia e um dos aliados de proa da presidente da República.
Na edição do dia 4 deste mês, a Coluna indagou sobre onde anda o PT do Maranhão, que parecia ter sumido do mapa partidário estadual, dispersado por guerras internas e totalmente descaracterizado se comparado ao partido ranheta de outros tempos, que levou José Dirceu, o então ídolo e chefe maior a afirmar, em uma visita de articulação em São Luís, que o PT maranhense era “o pior do Brasil”, por seu sectarismo e intolerância. Naquela reunião, Dirceu tentou convencer os petistas maranhenses a aceitarem a aliança com o PMDB. O petista ouvido pela Coluna explicou que a falta de mobilização do partido é consequência da sua aliança com o PMDB. “Mas isso está acabando. Nós estamos voltando a ser o PT de verdade”, avisou.
PONTO & CONTRAPONTO
Crime e deboche I
Não surpreendeu a decretação da prisão da prefeita de Bom Jardim, Lidiane Leite (PP). Esse desfecho estava escrito há tempo nas estrelas e, ao que tudo indica, só a prefeita não se dava conta de que roubar dinheiro público é crime hediondo, principalmente se o roubo deixa crianças sem escola descente e sem merenda escolar numa comunidade onde a pobreza é dominante. Jovem, bonita e deslumbrada como “nova rica”, a prefeita transformou o município numa espécie de feudo, misturando criminosamente o público com o privado e se movimentando sempre em tom de deboche. No poder há quase três anos, Lidiane Leite licitou, contratou e pagou duas vezes o valor de R$ 3 milhões um projeto de reforma de uma dúzia de escolas, mas nenhuma foi reformada. Além disso, professores vinham sendo obrigado a despachar as crianças mais cedo por falta de merenda escolar – nesses municípios, a merenda é, via de regra, a primeira motivação do aluno, e quando ela falta, a evasão escolar se multiplica. Enquanto isso, a prefeita realçava sua beleza jovem estourando sem limite em lojas de grifes caras e esnobando a população municipal ao circular em carros como um Range Rover Sport Tech, um carro inglês caríssimo, aumentando o deboche nas redes sociais com afirmações do tipo “Compro o que eu quiser” e “Beijinho no ombro pros recalcados”. Ontem, a casa caiu e a realidade crua se impôs na vida da prefeita, que até o fechamento da coluna estava foragida, mas com um batalhão da policias federais no seu encalço. E com um adendo a mais: seus caçadores se declararam indignados com o que viram em Bom Jardim.
Crime e deboche II
Um dado envolvendo a prefeita procurada de Bom Jardim, Lidiane Leite: ela é filiada ao PP. Esse partido é o que tem o maior número de políticos envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras e denunciados pelo Ministério Público Federal. O grupo, que procuradores da República definem como “quadrilha”, tem um representante do Maranhão, o deputado federal Waldir Maranhão, vice-presidente da Câmara Federal, que preside a agremiação no estado e foi denunciado sob a acusação de ter recebido dinheiro roubado da Petrobras na sua campanha eleitoral em 2014. A julgar por tudo o que tem acontecido com esse partido, não surpreende o grau de irresponsabilidade pública da prefeita de Bom Jardim.
São Luís, 20 de Agosto de 2015.