Flávio Dino afirma que para rever sua força, a esquerda precisa reconquistar a classe média e articular uma frente ampla

 

Em cima: Flávio Dino fala a centenas de pessoas no Tuca, em São Paulo Embaixo: Flávio Dino em visita ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), com quem trocou impressões sobre a situação do Brasil e quem relatou os resultados do seu Governo vem alcançando

A esquerda perdeu a classe média, influenciada pela agenda da corrupção, e precisa dela para recuperar a sua ofensiva histórica. E o caminho para isso é trabalhar na formação de uma ampla frente de correntes políticas. Com essa posição, que só um político com os pés fincados no chão e com visão aberta e pragmática, mas sem abrir mão de princípios, pode defender, o governador Flávio Dino (PCdoB) centrou uma fala de 25 minutos em mesa redonda realizada ontem, no Teatro da Universidade Católica de São Paulo (Tuca), para uma plateia de 800 pessoas – entre jornalistas, intelectuais, professores e profissionais liberais – sobre o tema “Governo Bolsonaro – Como o Brasil pode superar essa encruzilhada? ” O evento contou com a participação do ex-prefeito de São Paulo, ex-ministro da Educação e ex-candidato presidencial Fernando Haddad (PT), do ex-ministro da Defesa e ex-chanceler Celso Amorim (PT), além da deputada estadual Erica Malunguinho (PSOL-SP). Por sua visão e análise da atual conjuntura brasileira, calcadas no realismo próprio das suas intervenções, que sempre incluem dura autocrítica, o governador do Maranhão foi o palestrante mais aplaudido.

Com a autoridade de governante já testado e reeleito, Flávio Dino avaliou que nos primeiros meses o Governo Bolsonaro instalou sobre a Nação “um sentimento de perplexidade e angústia”, com a chegada ao poder de “uma direita política preconceituosa e violenta, forte e mobilizada”, que soube manipular a “agenda da corrupção” a partir das manifestações de 2013.  Assinalou que “essa pauta se entranhou na alma do povo brasileiro como a determinante de todas as tragédias políticas e sociais que o País vive”. E com a segurança de quem sabe o que está falando, comentou: “É claro que a corrupção é grave, mas a apropriação da bandeira dessa corrupção específica foi para esconder as outras, inclusive a maior delas – a grande desigualdade social do Brasil”.

Ao desenhar esse contexto, Flávio Dino assinalou que a vitória da chapa Jair Bolsonaro – Hamilton Mourão, ambos do PSL, sobre a chapa de Fernando Haddad (PT) e Manuela D’Ávila (PCdoB), nas eleições presidenciais de 2018, “apenas reforça a tendência de ofensiva estratégica da direita. A esquerda entra numa brutal defensiva”. E chamou a atenção para o fato de que, “para alcançar a hegemonia” e “inverter o sinal histórico”, o bolsonarismo polarizou a classe média. E com isso “cindiu o bloco do lulismo” – a grande base que chegou a dar mais de 80% de aprovação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

E foi direto ao ponto ao traçar uma linha para a reviravolta: “Perdemos a classe média, influenciada pela agenda da corrupção. E precisamos dela para recuperar a ofensiva histórica”. E acrescentou, em tom de alerta: “Até temos ganhado batalhas de hashtags nas redes, certo? Mas estamos perdendo as batalhas no mundo material. Isso não nos serve”. E fechou a avaliação afirmando, em tom quase didático, que “é preciso recuperar a esperança na nossa ação coletiva, consciente e transformadora – mas fazer isso com método”.

Falando para uma plateia majoritariamente de esquerda e centro-esquerda, Flávio Dino fundamentou sua argumentação lembrando que Lênin, líder maior da Revolução Russa, “Nas Teses de Abril (1917)”, não escreveu ‘Viva o Socialismo’ ou ‘Socialismo Já’. “Ele escreveu ‘Paz, Pão e Terra’”. Assim, conseguiu galvanizar amplas correntes, alcançando uma espécie de frente numa situação improvável. Para ele, a ideia da frente ampla deve ir além dos partidos tradicionais de esquerda, como acontece no Maranhão, onde lidera uma aliança com 16 partidos, num arco que vai da esquerda à direita. “Frente ampla não é retórica – é desafio. E só é possível fazer isso com quem não é igual a nós. Falar com iguais é mais cômodo, mas não é consequente”, destacou, com base na experiência que vive, para assinalar que é preciso, nesse sentido, que a agenda da frente tenha “a democracia como pré-condição”, o compromisso com o interesse nacional e a soberania, além de um projeto para “a produção, o emprego e o trabalho”.

No entendimento do governador do Maranhão, só a frente ampla pode viabilizar um caminho para mudanças profundas na sociedade a partir de vitórias nas urnas. As eleições 2020 abrem a oportunidade para avançar a presença dos valores democráticos e progressistas nas cidades. “Será hora de união com generosidade. Mesmo onde houver 100 ou 150 candidatos bons a prefeito, como em São Paulo, só dois ou três têm condições de ganhar. A esquerda deve conversar e se unir em torno desses nomes”, afirmou Flávio Dino. Para ele, uma vez eleitos, os prefeitos poderão “transformar concepções abstratas em políticas públicas concretas”.

Como tem acontecido nos eventos em que atua como palestrante, mostrando sua experiência reformadora no Governo do Maranhão suas impressões sobre o cenário nacional, o governador Flávio Dino foi efusivamente aplaudido. E saiu do Tuca como nome forte para liderar uma frente ampla na corrida presidencial de 2022.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Ao se lançar pré-candidato, Osmar Filho põe mais oxigênio sucessão do prefeito Edivaldo Holanda Jr.

Osmar Filho: mais um sopro de juventude na corrida para a Prefeitura de São Luís

“Eu afirmo que estou à disposição, estou buscando criar esse cenário de viabilidade, para que meu grupo possa entender a mensagem, abraçar a causa e a gente monte um forte palanque e um projeto robusto para São Luís”. A declaração, que teve o impacto de lançamento, foi dada ontem pelo presidente da Câmara Municipal, vereador Osmar Filho (PDT), no programa Ponto e Vírgula, da Difusora FM, admitindo formalmente sua pré-candidatura à sucessão do prefeito Edivaldo Holanda Jr. (PDT) no pleito do ano que vem.

Disse ainda: “É uma pauta que está bastante discutida, em virtude da aproximação do pleito. Estamos a pouco mais de um ano para as eleições municipais e, é claro, os grupos políticos que têm o interesse em disputar começam a se movimentar. Aqui eu deixo ao público meu interesse em disputar, mas, claro, a gente está tratando de uma eleição majoritária, não de um projeto individual. Então nosso objetivo é mostrar para o grupo político do qual faço parte, que posso ser uma opção”.

Um dos quadros mais atuantes da nova geração de políticos de São Luís, o vereador Osmar Filho está no terceiro mandato de vereador, tendo iniciado sua trajetória na década passada nas hostes do PMDB. Seus movimentos nas reentrâncias políticas da Capital o levaram ao PDT, onde batalhou, ocupou espaço e se tornou um dos nomes de proa do partido, com cacife turbinado nas eleições de 2016, quando saiu das urnas como o mais votado do partido, e mais ainda no ano passado, quando, numa eleição antecipada, tornou-se presidente da Câmara Municipal de São Luís, encerrando um longo domínio do vereador Astro de Ogum (PR) no comando da Casa.

Ao se colocar como uma opção, Osmar Filho manifesta consciência de que, para ser candidato, precisa tirar do páreo vereador Ivaldo Rodrigues, pedetista de raiz, e demover os líderes do PDT, a começar pelo senador Weverton Rocha e o prefeito Edivaldo Holanda Jr., de que sua candidatura tem mais futuro do que uma aliança do seu partido com o DEM em torno da pré-candidatura do deputado estadual Neto Evangelista. Quando diz que disputar a Prefeitura da Capital tem de ser um projeto coletivo, que poderá ser liderar a chapa de uma aliança comandada pelo governador Flávio Dino, em aliança com o prefeito Edivaldo Holanda Jr., Osmar Filho parece ciente do imenso desafio que será disputar a vaga de candidato com o deputado federal Rubens Jr. (PCdoB), o deputado federal Bira do Pindaré (PSB), o deputado estadual Duarte Jr. (PCdoB).

Independentemente do seu cacife, Osmar Filho entra na corrida sucessória de São Luís como um saudável sopro de oxigênio político no cenário da Capital.

 

Missão brasileira vai à Guiana Francesa visitar o Centro de Lançamento de Kourou. Para quê?

Centro de Lançamento de Kourou, na Guiana Francesa: nada tem de parecido com o Centro de Lançamento de Alcântara, de quem é, na verdade, um feroz concorrente

Anunciada a visita que um grupo de 21 brasileiros, incluindo parlamentares federais e estaduais maranhenses, representantes do Governo do Maranhão e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), fará ao Centro Espacial de Kourou, na Guiana Francesa, na próxima semana. Organizada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e Comunicações (MCTCI), deve ser um primeiro passo do Governo para tentar destravar o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST), firmado em março, entre o Brasil e os Estados Unidos, para uso comercial da Base Espacial de Alcântara. Além de conhecer de perto o espaço dedicado a lançamentos no território franco-guianês, a expectativa é que a comitiva tenha a oportunidade de entender mais a fundo os impactos socioeconômicos da implantação da Base no território vizinho.

Tudo bem, nada contra. Mas vale lembrar, primeiro, que Kourou fica em território francês, onde tudo funciona de acordo com as regras vigentes na França e será um feroz concorrente do CLA. Ali não teve uma Alcântara por perto nem comunidades quilombolas ameaçadas no entorno das instalações. Todo franco-guianês é um cidadão francês, e vive numa sociedade onde há muito não existem problemas causados por desigualdade aviltante, como no Brasil. Provavelmente nenhum franco-guianês compreenderá a relação entre o Acordo de Salvaguarda Tecnológica, base de futuros contratos comerciais para lançamento de foguetes, com a situação de Alcântara e das comunidades quilombolas do entorno da Base maranhense. Afinal, beneficiar a cidade-monumento e zelar pelas comunidades quilombolas usando com parte dos ganhos financeiros dos contratos deve ser regra interna, de casa, que não guarda qualquer relação com contratos que venham a ser firmados entre o Brasil e eventuais locatários do CLA, que nada têm a ver com os problemas econômicos e sociais do nosso País.

São Luís, 28 de Maio de 2019.

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