Bloqueio total na Ilha repercute no País e no mundo, atrai apoio e crítica e deve ser adotado em outros estados

 

O Centro Histórico quase vazio; o Viaduto da Cohab com pouco movimento e a Polícia atuando no controle para garantir que o bloqueio total seja respeitado na Ilha

O bloqueio total (lockdown) adotado na Ilha de Upaon Açu como medida extrema para evitar aglomerações e, com isso, dificultar a propagação do coronavírus em São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa, alcançando uma população de 1,5 milhão de pessoas, está produzindo uma série curiosa de desdobramentos. Em termos práticos no plano doméstico, fez com que o isolamento social fosse ampliado em partes dos quatro complexos urbanos, sendo ao mesmo tempo menosprezado em grandes áreas periféricas, porém gerando uma avaliação positiva. Já no plano das repercussões, desencadeou uma onda de reações diversas, estimulando promotores de vários estados a seguiram a linha dos maranhenses que propuseram a medida autorizada pela Justiça e posta em prática pelo Governo do Estado, causando, dentro e fora do Maranhão, manifestações de aprovação e também de desaprovação.

Ontem à noite, os telejornais mostraram duas realidades registradas pela TV Mirante e divulgadas nacionalmente pela Rede Globo: de um lado, a São Luís tradicional e o seu braço mais moderno, habitado pela classe média, respeitando as normas do bloqueio total; de outro, grandes bairros da Capital – como a Cidade Operária, por exemplo – com milhares de pessoas nas ruas – a esmagadora maioria usando máscaras, vale registrar -, com feiras ao ar livre e comércio aberto sem restrições, numa atitude coletiva desafiadora ao chamado lockdown. Juntando as duas realidades, avaliou-se que o bloqueio total foi respeitado por 55% da população – a maioria, é verdade, mas uma maioria frágil, se levado em conta que o ideal é entre 70% e 80%. A partir desta quinta-feira, a recomendação e os apelos feitos nas blitzen e na fiscalização direta do comércio devem ganhar o tom de ordem, com punição aos infratores, prevista no decreto editado com base na decisão judicial.

No plano das repercussões, a Ilha de Upaon Açu ganhou notoriedade planetária como a primeira região metropolitana do Brasil – e uma das raríssimas do mundo – a adotar o bloqueio total na guerra contra a pandemia do novo coronavírus. Promotores de regiões populosas de pelo menos cinco estados, entre eles o Rio de Janeiro e o vizinho Pará, decidiram seguir o mesmo caminho, indicando que outras grandes áreas urbanas, como a metropolitana de São Paulo, possam adotar a mesma medida, caso a curva de propagação da Covid-19 e o número de óbitos continuem ascendentes. Para a surpresa de muitos, até mesmo o sonolento ministro da Saúde, Nelson Teich, que inicialmente parecia contrário à medida, admitiu, ontem, que o bloqueio total poderá ser o remédio adequada em algumas regiões urbanas.

A iniciativa de quatro promotores de região metropolitana de São Luís, acatada pelo juiz Douglas Martins, titular da Vara de Interesses Difusos e Coletivos, e executada pelo governador Flávio Dino (PCdoB), ganhou registro de destaque na crônica da pandemia do novo coronavírus no Brasil e no mundo. No plano nacional, a medida vem sendo destaque em todos os canais da imprensa profissional – jornais, rádios, TVs (aberta e pagas), portais e blogs independentes – e no mundo e no submundo das redes sociais. Ao mesmo tempo, está transformada em destaque na pauta dos principais canais de notícias do planeta, como a agência alemã Reuters, a britânica BBC, a francesa France Press e a norte-americana American Press, com suas informações – de um modo geral positivas – sobre o lockdown maranhense para todo o planeta. Nesse noticiário, o tom destoante é a atitude inexplicável do presidente Jair Bolsonaro contra as medidas de combate ao novo coronavírus.

O bloqueio total da Ilha de Upaon Açu, por outro lado, atraiu duras críticas, mas, curiosamente, de natureza política, sem fundamentação sanitária. A mais agressiva e inacreditável, por ter o tom e o teor de sandice, partiu do jornalista Augusto Nunes, da rádio Jovem Pan. Militante da direita radical e propagador furta-cor do ideário (?!) bolsonarista, Augusto Nunes definiu o bloqueio total como uma prisão “imaginada pelo comunista” Flávio Dino. E sem e menor noção do que está acontecendo no Maranhão, fez declarações preconceituosas a respeito do estado e seu povo, concluindo que o sistema de saúde estadual foi “sucateado” pelo atual Governo. Augusto Nunes cometeu três crimes jornalísticos: o da desinformação – inadmissível a um jornalista -, o do preconceito – inaceitável num jornalista -, e o do ranço ideológico escancarado – que não faz sentido num jornalista. Outras críticas, a maioria técnico-jurídica, foram tranquilamente assimiladas, exatamente por não estarem contaminadas por posicionamentos ideológicos primários e facilmente traduzíveis em diferentes vieses. Algumas válidas.

Numa entrevista concedida ontem à TV Mirante, o secretário estadual de Saúde, Carlos Lula, deu a pista correta para que se possa avaliar o bloqueio total: mantê-lo com os ajustes necessários, para avaliá-lo daqui a 15 dias. Se a curva da propagação for quebrada, o sacrifício terá valido a pena. Se continuar ascendente, terá sido um fracasso. Vale, portanto, respeitar e aguardar.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Othelino Neto quer horas trabalhadas contra coronavírus levadas em conta em concurso público

Othelino Neto: apoio aos profissionais da saúde

Concursos públicos para a contratação, pela Administração Pública do Estado do Maranhão, de profissionais da área de Saúde – médico, enfermeiro, auxiliar e enfermagem e técnico em    enfermagem, entre outros – deverão incluir na exigência de comprovação de título, documento informando o tempo de serviço prestado diretamente no combate à pandemia do novo coronavírus em hospitais públicos ou privados, durante a vigência do Estado de Calamidade. O tempo de serviço deverá ser de, no mínimo, 240 horas trabalhadas na linha de frente, atestado pelo diretor-geral do hospital no qual o profissional tenha atuado.

A regra está prevista no Projeto de Lei 125/2020, de autoria do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Othelino Neto (PCdoB) e deve ser colocado em pauta na próxima sessão extraordinária do parlamento estadual. Trata-se, como é fácil observar, de uma forma de homenagear esse segmento, já naturalmente reconhecido pela nobilíssima atividade de salvar vidas, mas que nas últimas oito semanas ganhou dimensões realmente heroicas, sendo, portanto, merecedor de todo e qualquer gesto de apoio e atenção.

O deputado Othelino Neto está engajado na tarefa de dar suporte na guerra que se trava contra a Covid-19. Como dirigente de Poder, não vacilou em suspender temporariamente as atividades da Assembleia Legislativa, dispensando servidores e mantendo apenas um núcleo de atuação indispensável. Comandou o processo que tornou a Assembleia maranhense em uma das primeiras do País a realizar sessões remotas por videoconferências, numa ação de pioneirismo histórico. Na semana que passou, juntou forças com o deputado Neto Evangelista (DEM) no movimento “Acolhendo Heróis”, destinado a assegurar em hotéis da Capital hospedagem gratuita para profissionais de Saúde que atuam na linha de frente e não podem ir para casa e não têm como custear diárias.

O Projeto de Lei 125/2020 deve entrar em pauta na próxima sessão extraordinária da Assembleia Legislativa.

 

Bolsonaristas mergulham no silêncio

Jair Bolsonaro: sem declarações de apoio dos bolsonaristas maranhenses

Ao mesmo tempo curioso e estranho o silêncio dos parlamentares maranhenses governistas a respeito das agressivas atitudes antisanitárias, antidemocráticas e antirrepublicanas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), no momento em que o Brasil precisa de um líder. Políticos proeminentes como o senador Roberto Rocha (PSDB) e os deputados federais Edilázio Júnior (PSD), Pastor Gildenemyr (PL) e Hildo Rocha (MDB), que abraçaram o bolsonarismo e chegaram mesmo a ensaiar discursos em defesa do presidente de repente mergulharam num silêncio sepulcral em relação a ele. O mesmo acontece com parlamentares estaduais, como os deputados Pará Figueiredo (PSL) e Mical Damasceno (PTB). O primeiro nunca se manifestou a favor ou contra o presidente, embora se saiba nos bastidores que ele tem simpatia comedida pelo bolsonarismo. A segunda já ocupou a tribuna para elogiar o governo central e enaltecer o presidente, mas de uns tempos para cá parece ter diminuído o fervor bolsonarista. Ou seja, os antes entusiasmados aliados do presidente se recolheram. Pode ser que o casamento com o Centrão devolva ânimo para algumas vozes agora silenciadas.

São Luís, 07 de Maio de 2020.

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