Oposicionistas reclamam de agressões de governista, que fazem a mesma reclamação

 

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Adriano Sarney reclama de Marcio Jerry e vice versa

Numa sociedade democrática em que os papeis políticos são bem definidos, a regra comum é a de que o governo reclame do comportamento agressivo de grupos oposicionistas, a começar pelo teor dos discursos. O Maranhão está vivendo uma situação inversa, quase inusitada, na qual são os membros destacados da oposição que estão reclamando do comportamento agressivo da situação, especialmente dos membros do governo, a começar pelo teor de declarações. A reação oposicionista à pancadaria verbal governista começou ontem pelo deputado Adriano Sarney (PV), que reclamou do fato de o secretário de Estado de Articulação Política e Assuntos Federativos, Márcio Jerry, também presidente estadual do PCdoB, que classificou como “dois patetas”, os deputados Andrea Murad (PMDB) e Souza Neto (PTN), de longe os mais incisivos membros oposicionistas nos ataques ao governo.

Com ar grave e tom indignado, Adriano Sarney, que se destaca pelo discurso civilizado, no qual não usa adjetivos nem palavras de baixo calão contra adversários, reclamou do comportamento de alguns secretários de Estado, a começar por Márcio Jerry, que na sua opinião está extrapolando. Para o parlamentar verde, ao chamar dois deputados de “patetas”, Jerry saiu do campo da civilidade para entrar no movediço terreno do baixo nível. E enfatizou na reclamação lembrando que, ao contrário dom secretário, que é tão somente um servidor público qualificado, o deputado é inviolável nas suas declarações e no uso das suas prerrogativas.

Grosso modo, o entendimento de Adriano Sarney – que foi seguido no protesto por Andrea Murad e Souza Neto -, um parlamentar pode atacar duramente uma autoridade pública, mas a autoridade pública atacada não pode responder no mesmo tom. Em tese, isso é verdade, mas na prática, no Maranhão de agora está em pleno vigor a “norma” popular do “bateu, levou”. Ou seja: o secretário de Articulação Política não espera que membros da bancada governista responda aos ataques da oposição. Ele mesmo usa os recursos que dispõe – o twitter e o facebook -, para metralhar oposicionistas, e é nessas reações que disparos verbais como “os dois patetas”.

No plano equilibrado da lógica, ataques na seara parlamentar deveriam ser rebatidos na seara parlamentar, ou seja, cabe ao bloco governista, organizado e orientado por seus líderes – na Assembleia Legislativa tem um líder, o deputado Rogério Cafeteira (PSC) e uma poderosa bancada governista, esta liderada pelo deputado Eduardo Braide. Aqui e ali, deputados governistas rebatem os ataques da oposição. Mas, ao que tudo indica, o governo não se dá por satisfeitos com as rebatidas e aciona seus secretários mais ousados e aguerridos, como Márcio Jerry e Jefferson Portela, para dizer o que deputados não gostariam de dizer. Isso porque dificilmente um deputado governista apelidaria dois colegas da oposição de “patetas” se não numa situação extrema, que até agora não ocorreu.

É fato indiscutível que o grupo hoje no governo ainda está aprendendo a ser governo e usa os armamentos que usava quando atuava na oposição. O mesmo ocorre com os oposicionistas de agora, que vêm do universo governista e ainda está apreendendo a se comportar como oposição. Figuras destacadas dos dois campos têm produzido situações que rompem os limites da civilidade e feito ataques que ultrapassam as fronteiras da ética. Enfim, as duas bandas em confronto cometem excessos, o que fragilizam as suas reclamações.

Sempre foi assim, mas o diferencial agora é que o campo na equipe de governo tem membros de fato comprometidos com o projeto em curso e não levam desaforo para casa. É o caso do secretario Márcio Jerry, militante calejado e usado, que encara a pancadaria rebatando em tom maior. E com o aval incondicional do governador, que aprova sem pestanejar todas as suas reações e provocações nessa seara. O próprio chefe do Poder Executivo tem dado mostras de que gosta de uma boa briga no campo de batalha virtual.

Colocadas razões e contrarrazões de situação e oposição, o que ganha forma, de um lado, é a ânsia – às vezes açodada – da brigada governista para se consolidar no poder, e de outro, e a estratégia, nada cuidadosa, da oposição da oposição para dizer que está viva e sonhar com a volta ao poder. As motivações de cada lado explicam a pancadaria.

 

PONTOS & CONTRAPONTOS

 

Diferença e alerta

dino gov 1A pesquisa DataM publicada ontem acendeu o alerta amarelo no Palácio dos Leões. Os números mostram que o governador Flávio Dino está perdendo apoio na população de São Luís. A pesquisa apurou que 50,% aprovam o governo Flávio Dino e 44,3% o desaprovam. Os números do DataM divergem seriamente dos números da pesquisa Escutec feita há duas encontrou o governador Flávio Dino numa posição bem melhor no conceito da opinião pública de São Luís: 65% de aprovação e 32% de reprovação. Alguma coisa está errada numa das pesquisas, porque não é sequer razoável que dois levantamentos, feitos no mesmo período para apurar o sentimento da população em relação ao governo encontrem informações tão diferentes.

 

Saia justa

fernando furtado 1O inacreditável ataque verbal do deputado Fernando Furtado a índios – os quais chamou de “veados” e “veadinhos” – e antropólogos – que foram chamados usuários de drogas – causaram perplexidade na Assembleia Legislativa e um grande incômodo no seu partido, o PCdoB, e no Palácio dos Leões, que o tem como um dos aliados mais fiéis. Independente da motivação que embalou o parlamentar – que é suplente no exercício do mandato -, as declarações não se justificam e podem até ensejar uma ação por quebra de decoro. É improvável que o deputado Fernando Furtado seja punido nesse nível, mas dificilmente ele escapará da obrigação ética de se retratar ou até mesmo pedir desculpas aos que foram por eles atacados.

São Luís, 21 de Setembro de 2015.

 

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