Golpe duro: ao perder o controle do PSB em São Luís, Roberto Rocha deve sair do partido e pode amargar desgaste político

 

Roberto Rocha não tem lastro partidário firme
Roberto Rocha não tem lastro partidário firme

Saído das urnas de 2014 como um dos políticos mais bem sucedidos do Maranhão, e com o ânimo de quem brilharia no Senado da República para tornar-se a “terceira via” da política maranhense, com estatura para encarar uma disputa pelo Governo com o governador Flávio Dino (PCdoB) e com a ex-governadora Roseana Sarney (PMDB), o senador Roberto Rocha não decepcionou como parlamentar. Mas, por outro lado, vem perdendo terreno ao sofrer derrotas amargas e politicamente perigosas no campo partidário. No lance mais recente, ele perdeu o controle do PSB em São Luís, que foi entregue ao seu maior adversário doméstico, o deputado estadual Bira do Pindaré. A decisão da direção foi uma reação à aproximação cada vez maior do senador Roberto Rocha do presidente Michel Temer (PMDB), contrariando a orientação do comando socialista de que os parlamentares do PSB devem fazer oposição cerrada ao Governo e ao chefe da Nação.

Na verdade, o ato da direção socialista de trocar o comando do PSB em São Luís é o desfecho de uma longa peleja iniciada na década passada, quando Roberto Rocha deixou o PSDB – do qual chegou a ser presidente estadual – e ingressou no partido, coincidindo com a chegada ao terreiro socialista ludovicense do ex-governador João Reinaldo, que deixara o PTB. Roberto Rocha não perdeu tempo e assumiu o controle do partido, onde desembarcaria tempos depois Bira do Pindaré, que rompera com o PT por não aceitar a aliança do partido com o PMDB do Grupo Sarney no Maranhão. Sua permanência no PSB foi tranquila até as eleições de 2010, quando traumatizou sua relação com o ex-governador por causa da disputa para o Senado – até hoje José Reinaldo afirma que Roberto Rocha tirou-lhe a eleição de senador ao se lançar candidato. O racha no PSB continuou, com José Reinaldo dando as cartas no Diretório estadual e Roberto Roca controlando com mão de ferro o Diretório de São Luís.

A decisão do comando nacional tirando-lhe o controle do Diretório de São Luís e entregando-o ao deputado Bira do Pindaré sentencia que o senador perdeu não somente foi apeado do poder no partido, e funcionou também como um “convite” para que ele deixe a legenda. A derrota de Roberto Rocha dentro do PSB não pode ser interpretada como uma vitória de José Reinaldo, que também deve oficializar a qualquer hora sua migração ara o DEM.

A verdade é que com a decisão da cúpula do PSB o senador Roberto Rocha dificilmente permanecerá no partido mais que o tempo suficiente para encontrar outro pouso partidário. O partido refundado pelo célebre líder pernambucano Miguel Arraes fechou questão e vai trilhar uma linha ideológica de esquerda. Roberto Rocha é um político que ideologicamente chega no máximo ao centro, não tendo, portanto, nenhuma identificação com a esquerda. Ele poderá desembarcar de volta ao PSDB, do qual já foi presidente no Maranhão. O problema é que a sua condição de senador e a sua maneira de atuar dificilmente o farão aceitar ingressar num partido sem ter o seu controle no Maranhão. Para voltar ao PSDB como chefe do tucanato no estado, Roberto Rocha precisaria destituir o vice-governador Carlos Brandão do comando tucano, o que não será nada fácil, embora não seja impossível. Vai depender do cenário politico nacional a ser construído a partir de agosto, quando a situação do presidente Michel Temer (PMDB) for definida pela Câmara Federal.

O virtual rompimento com o PSB não será uma tragédia para o senador Roberto Rocha, pois é apenas o fim de um casamento sem amor e que  nunca deu certo. Vai permitir que o parlamentar procure  um pouso partidário com o qual tenha afinidade ideológica e identificação programática. Encaixar-se-ia com facilidade no PMDB, que pode ser identificado como um partido de centro, e mais ainda no DEM, que foi definido, com honestidade política, pelo presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, como um “projeto de centro-direita”. O problema é que se escolher o DEM, terá se entender o deputado federal Juscelino Filho, hoje detentor da confiança da direção partidária, e seu tio, o deputado estadual Stênio Rezende – dois políticos forjados na arte da sobrevivência. E se a escolha for o PMDB, Roberto Rocha pode até se tornar um cardeal no partido, desde que reze no missal do Grupo Sarney – situação à qual ele só se submeteria como candidato a governador com o apoio total e irrestrito do grupo.

Em resumo: o senador Roberto Rocha tem um baita problema para resolver, mas com a vantagem de que um mandato senatorial tem peso de ouro na balança que mede o cacife de um político jovem e de futuro como ele.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Cúpula socialista acerta em cheio ao entregar PSB de São Luís para Bira do Pindaré

Bira do Pindaré agora no comando do PSB em São Luís
Bira do Pindaré agora no comando do PSB em SL

Se foi traumática para o senador Roberto Rocha, a entrega do comando do PSB em São Luís para o deputado Bira do Pindaré foi um tiro certeiro do partido no Maranhão. Forjado no rico aprendizado desafios do movimento estudantil, nas renhidas lutas sindicais e na militância que construiu o PT no estado, Bira do Pindaré é uma autêntica referencia da esquerda no cenário político. E com um lastro eleitoral invejável, que além dos dois mandatos de deputado estadual, inclui uma memorável candidatura ao Senado em 2006, quando conseguiu a proeza de bater  ninguém menos que os ex-governadores João Castelo e Epitácio Cafeteira em São Luís. Carreira bem sucedida de Bira do Pindaré tem sido pautada pela coerência ideológica e política. É um quadro autêntico e bem resolvido da chamada esquerda democrática, e sempre militou na Oposição ao Grupo Sarney, não lhe fazendo qualquer concessão – tanto que deixou uma posição de liderança destacada no PT, que ajudou a consolidar no estado, por não concordar com a aliança com o PMDB no Maranhão, migrando para o PSB. Enfrentou no novo partido duros embates com o senador Roberto Rocha e com fragmentos ainda influenciados por uma breve e incompreensível passagem do ex-deputado Ricardo Murad pelo partido. Identificado cm a linha do partido, Bira do Pindaré resistiu a muitas as intempéries no partido, chegando em alguns momentos preparado as malas para migrar para outras legendas, mas pensou melhor e decidiu permanecer, convencido de que cedo ou tarde a cúpula do partido cairia na real e lhe entregar o partido em São Luís, construindo assim a unidade que faltava ao PSB, cujo potencial agora poderá fluir sob a orientação do prefeito de Timon, Luciano leitoa, um quatro inteiramente afinado com a linha partidária. Com a saída do deputado federal José Reinaldo, o PSB recuperará a identidade que ganhou quando foi fundado no Maranhão no início dos anos 80 do século passado por um grupo de idealistas, entre eles Guilherme Freire, Valdelino Cécio, Rossini Corrêa e Ribamar Corrêa.

Em Tempo: A Comissão Provisória do PSB de São Luís nomeada pela Direção Nacional tem a seguinte composição:  Bira do Pindaré (presidente), Conceição Marques (vice-presidente), Ângelo Francisco Freitas (secretário geral), Fabrizio Henrique Goulart do Couto Correa (primeiro-secretário), Nelson Brito Martins (secretário de Finanças), Carlos André Lobato Mendes (secretário de Mobilização) e Renata Teixeira Pearce Sousa (secretária de Comunicação).

 

José Reinaldo deve oficializar saída do PSB e ingresso no DEM, onde está sua origem política

José Reinaldo: voltando ao DEM, sua origem paertidária
José Reinaldo: voltando ao DEM, sua origem partidária

O ex-governador e atual deputado federal José Reinaldo Tavares deve confirmar oficialmente, nas próximas horas, a sua saída dos quadros do PSB para empreender uma viagem de volta às origens ingressando no DEM, onde nasceu político quando a agremiação ainda se chamava PDS. Se for efetivamente confirmada, a saída do ex-governador do PSD encerrará uma relação nada harmônica. Político ideologicamente de centro-direita, José Reinaldo Tavares jamais nutriu maiores amores pela esquerda, embira a sua formação liberal e democrática lhe permita conviver sem maiores problemas com a seara esquerdista, a ponto de permanecer vários anos filiado ao PSB, a ponto de ter sido mola-mestra da candidatura de Jackson Lago em 2016 e um dos esteios da candidatura de Flávio Dino em 2014. No DEM, José Reinaldo se reencontrará com as suas origens partidárias e retomará a convivência com lideranças com as quais tem afinidade, como o presidente nacional da agremiação, o senador capixaba José Agripino Maia, e o atual líder maior do partido, o presidente da Câmara Federal, o fluminense Rodrigo Maia.

São Luís, 19 de Julho de 2017.

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