Consolidada, em todos os sentidos, a previsão de que a disputa para as duas vagas no Senado seria a mais acirrada, tensa e imprevisível das que estão em curso no Maranhão. A pesquisa divulgada segunda-feira (24) pelo instituto DataM, respaldou a do instituto Econométrica divulgada no final da semana passada, informando que os deputados federais Weverton Rocha (PDT), com 48,1% das intenções de voto, e Eliziane Gama (PPS) com 46,7%, candidatos da coligação “Todos pelo Maranhão”, comandada pelo governador Flávio Dino (PCdoB), que lidera a corrida ao Governo do Estado com 59% dos votos válidos, caminham firmes para consolidar vantagem na corrida senatorial sobre o senador Edison Lobão (MDB), com 35,6%, e o deputado federal Sarney Filho (PV) com 34,9%, candidatos da coligação “O Maranhão quer mais”, que tem à frente a ex-governadora Roseana Sarney, segunda colocada na disputa pelos Leões com 33%. A mudança de posição entre os candidatos ao Senado era esperada por observadores mais atentos, mas está se dando de maneira mais rápida e efetiva do que costuma acontecer na seara eleitoral.
A reviravolta está acontecendo por motivos óbvios. O mais visível deles é que Weverton Rocha e Eliziane Gama estão sendo agora turbinados pela liderança do governador Flávio Dino. Eles são políticos jovens, arrojados, com bons lastros eleitorais e são expressões destacadas de um processo de mudança que está dando nova cara política ao Maranhão. Quando chancelou as duas candidaturas, o governador Flávio Dino estava motivado pelo fato de que Weverton Rocha e Eliziane Gama representariam fidelidade política máxima à geração que está no poder no estado, ativando também, de maneira saudável, a ciranda da alternância na representação maranhense na Câmara Alta. Flávio Dino bateu martelo confiante no taco dos dois escolhidos, como também no poder de fogo da aliança que montou. Sabia também que o sucesso da empreitada de Weverton Rocha e Eliziane Gama dependeria fortemente do seu próprio desempenho. Jogou, enfim, uma cartada bem lastreada, mesmo com alguns riscos.
O ponto crítico das candidaturas de Weverton Rocha e Eliziane Gama eram exatamente os seus adversários, em especial o senador Edison Lobão e os deputados federais Sarney Filho e José Reinaldo Tavares. Edison Lobão foi deputado federal por dois mandatos, governador, senador por três mandatos, presidente do Senado e ministro de Minas e Energia nos dois governos do presidente Lula da Silva (PT), tendo exercido as mais destacadas funções dentro da Câmara Alta, como a presidência da Comissão de Constituição e Justiça, o sonho de todos os senadores. Sarney Filho, por sua vez, está no décimo mandato parlamentar – um de deputado estadual e nove como deputado federal, foi ministro do Meio Ambiente nos Governos de FHC e Michel Temer, presidiu comissões importantes e foi um dos fundadores da Frente Parlamentar Ambientalista, que acabou dando origem ao Partido Verde, do qual é fundador no Brasil. José Reinaldo, além de deputado federal, presidiu estatais, comandou a Sudene, foi ministro dos Transportes e governador. Todos, portanto, com lastros que justificariam plenamente suas eleições.
No que diz respeito a Weverton Rocha e Eliziane Gama, os dois, mesmo sendo políticos jovens, já têm estrada pavimentada para pleitear mandato senatorial. Weverton Rocha é militante político forjado no movimento estudantil e na Juventude do PDT, com participação importante na organização e mobilização do brizolismo no Maranhão enquanto o líder Jackson Lago foi vivo, galgando também os escalões do partido no plano nacional, a ponto de tornar-se um dos seus dirigentes mais importantes; na Câmara, foi um dos mais aguerridos aliados da presidente Dilma Rousseff atuando como vice-líder da bancada do PDT e, mais recentemente, líder da Minoria, que reúne partidos de Oposição. Já Eliziane Gama fez um trabalho parlamentar de excelência nos seus dois mandatos na Assembleia Legislativa, saiu das urnas de 2014 como a mais votada entre os candidatos a deputado federal (140 mil votos) e vem sendo um dos destaques do PPS na Câmara Federal, com participação ativa nos momentos decisivos vividos naquela Casa, como na CPI da Petrobras, por exemplo. Seu trabalho político tem forte viés social, com engajamento nos movimentos e defesa dos direitos da mulher e da criança. Os dois têm, sim, lastro político e vivência parlamentar para atuar com eficiência no Senado da República.
A virada tencionou ainda mais a campanha, com as agressivas ações do candidato Alexandre Almeida (PSDB) ao senador Edison Lobão, que reagiu no mesmo tom; com aos movimentos de Roseana Sarney e do ex-presidente José Sarney (MDB) em favor de Sarney Filho, e as declarações da viúva do ex-governador Jackson Lago, Clay Lago em favor de José Reinaldo Tavares. É possível que o acirramento aumente na reta final, mas pelo que está desenhado até aqui, dificilmente essa tendência será revertida. Pelo simples fato de que Edison Lobão e Sarney Filho não contam com o embalo da sua candidata ao Governo.
PONTO & CONTRAPONTO
Maura Jorge tenta minimizar volta de escândalo dizendo-se vítima de perseguição
Reportagem publicada ontem pelo Jornal Pequeno explica com clareza a iniciativa extemporânea da candidata do PSL ao Governo do Estado, Maura Jorge de convocar uma entrevista coletiva para, segundo a resenha, “prestar alguns esclarecimentos”. Trata-se do calvário da doméstica Gercina Vieira, de 72 anos, vítima-pivô de uma tramoia supostamente armada pela então deputada estadual Maura Jorge para engrossar a sua conta bancária usando a denunciante como fantasma na sua assessoria e embolsando o seu contracheque mensalmente, um caso típico de roubo de dinheiro público. O fato continua sendo investigado e o inquérito já apontaria problemas graves para a candidata do PSL. Tanto que na sua entrevista, Maura Jorge não tocou no assunto, mas denunciou que estaria sendo “pressionada” a deixar a corrida eleitoral, como se o pano de fundo do seu movimento fosse apenas problemas de campanha. A candidata do PSL sabe que não irá a lugar algum e que a sua única esperança de manter-se no centro da política será a improvável eleição de Jair Bolsonaro (PSL), que a apresentou com sua porta-voz no Maranhão.
Desistência de Souza Neto reflete ocaso político de Ricardo Murad
Não surpreendeu a desistência do deputado estadual Souza Neto (PRP) de concorrer à reeleição. No seu comunicado, ele justifica a decisão com o fato de que o grupo a que pertencia em Santa Inês, liderado pela prefeita Vianey Bringel (DEM), ter deixado de apoiá-lo. Faz algum sentido, pois a prefeita, seu partido e seu grupo integram a aliança do governador Flávio Dino, sendo impossível um candidato hostil a esse projeto. Mas a verdade é que a saída de Souza Neto do páreo eleitoral se deve à drástica perda de poder por parte do seu patrono, o ex-deputado Ricardo Murad (PRP), que não mais conta com a poderosíssima máquina da Secretaria de Estado da Saúde nem com o suporte político da Prefeitura de Coroatá. Sem essas alavancas, que ele sabe usar como poucos, Ricardo Murad está encontrando enormes dificuldades para reeleger a deputada Andrea Murad (PRP), já com a certeza de que ele próprio não irá a lugar algum como candidato a deputado federal, uma vez que sua candidatura foi bombardeada pela Justiça Eleitoral. A julgar pelas previsões que estão sendo feitas nos bastidores da corrida eleitoral, a família Murad ficará sem espaço político algum a partir de fevereiro do ano que vem. A tábua de salvação é a deputada Andrea Murad, que com seu estilo agressivo espetaculoso de fazer oposição, pode atrair votos de insatisfeitos.
São Luís, 26 de Setembro de 2018.