
Felipe Camarão atrás à esquerda (camisa vermelha), e Orleans Brandão
(camisa branca) à direita, num registro em que aparecem Juscelino
Filho, próximo ao dinismo, e Antônio Pereira, brandonista declarado
A manifesta intenção do presidente Lula da Silva (PT) de reagrupar a sua base de apoio no Maranhão, pacificando brandonistas e dinistas; a declaração do governador Carlos Brandão (ainda no PSB) admitindo discutir com o chefe da Nação a possibilidade de disputar o Senado, e a presença do próprio mandatário estadual e do vice-governador Felipe Camarão em imagens ilustrativas de eventos oficiais resultantes da relação dos Governo do Estado e Federal assanharam o meio político nos últimos dias. E a impressão dominante tem sido a de que a visita de trabalho do presidente Lula da Silva a Imperatriz no início da semana colocou o racha na aliança governista numa espécie de zero-a-zero, deixando no ar a expectativa de que o cenário da corrida sucessória no Maranhão pode sofrer uma guinada radical.
O que chama a atenção é o fato de que nada do que aconteceu é exatamente novidade. O interesse do presidente Lula da Silva na pacificação da sua base de apoio no estado já era amplamente conhecido, uma vez que não existe um argumento sequer para justificar um eventual desinteresse nessa reunificação. A possibilidade de o governador Carlos Brandão vir a discutir com o presidente sua eventual candidatura ao Senado não havia sido tratada por ele no tom que tratou na entrevista à TV Difusora, mas vale anotar que o governante estadual não deu até aqui uma declaração radical contra essa possibilidade, limitando-se a admitir permanecer no cargo até o final do seu mandato, mas sempre fazendo ponderações em relação ao tempo.
Quanto à presença do vice-governador Felipe Camarão e do governador Carlos Brandão em imagens que registram atos e inaugurações, vale chamar a atenção para o fato de que isso só tem acontecido em eventos frutos de ação conjunta dos Governos do Estado e da União. Esses eventos têm sido frequentes, sendo que um dos mais recentes, a “Caravana Federativa”, que trouxe quatro ministros e centenas de técnicos federais ao Maranhão, numa ação destinada a atualizar informações sobre os caminhos que os municípios devem seguir para ter acesso a programas federais, reuniu várias vezes no mesmo ambientes o governador Carlos Brandão e o vice-governador Felipe Camarão.
Os dois registros feitos nesta semana em Imperatriz são exemplos disso. O primeiro foi a presença do presidente Lula da Silva na Princesa do Tocantins para inaugurar o monumental conjunto habitacional “Canto da Serra”. E o segundo foi a presença do ministro da Educação, Camilo Santana, petista de proa, na entrega de tabletes do programa “Tô conectato”, que é em parte financiado pelo Governo Federal. Felipe Camarão e deputados dinistas participam de todos os eventos motivados por parcerias Estado/União. Afinal, o Governo Federal é uma aliança do PT, seu partido, com o PSB. Nesses casos, além da legitimidade partidária, a presença do vice tem funcionado como contrapeso à presença constante do secretário de Assuntos Municipalistas, Orleans Brandão (MDB), que tem aproveitado esses momentos para fortalecer o seu projeto de candidatura ao Governo do Estado.
Felipe Camarão e Orleans Brandão, que disputam o aval da base governista ao seu projeto de candidatura, exercitam, cada um ao seu modo, a regra segundo a qual “quem não é visto, não é lembrado”. E os eventos que relacionam os dois Governo têm sido oportunidades especiais para os dois nesse sentido, uma vez que eles aparecem em condições de igualdade.
Esses eventos e registros vão ganhar ou perder força com o resultado da conversa do presidente Lula da Silva com o governador Carlos Brandão, que a julgar pela expectativa criada por conta das declarações dadas pelos dois mandatários, poderá mudar o cenário da corrida sucessória no Maranhão.
PONTO & CONTRAPONTO
Ana Paula Lobato e Amanda Gentil têm o desafio de comandar o PSB e o PP
A senadora Ana Paula Lobato e a deputada federal Amanda Gentil saíram de atividades parlamentares regulares para entrar de vez no cenário da política estadual ao receberem a dura e complexa tarefa de comandar os braços maranhenses do PSB e do PP, partidos que sofreram guinadas radicais recentemente. Em certo sentido, elas quebram o tabu machista segundo o qual comando partidário é tarefa de homens, assumindo o desafio de desmontar essa visão preconceituosa.
Os desafios entregues às duas parlamentares não são pequenos nem simples. A senadora Ana Paula Lobato tem pela frente a complicada tarefa de estancar a sangria que atingirá o PSB, que está ameaçado de perder a condição de maior partido do Maranhão na atualidade, para se tornar uma legenda bem menor. Isso porque vai perder o governador Carlos Brandão, a presidente da Assembleia Legislativa, Iracema Vale, e sete dos nove deputados estaduais, podendo também perder prefeitos e vereadores. Ana Paula Lobato tem de levar para as urnas de 2026 um PSB bem mais enxuto, mas com poder de fogo para sair das urnas mais forte.
O desafio da deputada Amanda Gentil não é tão grande, mas não é tão simples. Para começar, ela substitui no comando da legenda ninguém menos que o deputado federal e atual ministro do Esporte André Fufuca, que tinha o controle absoluto e ativo do braço maranhense do PP. Foi a ação intensa e bem articulada do ministro que levou o partido a sair das urnas com quase duas dezenas de prefeitos, entre eles comandantes de prefeituras poderosas, como as de Imperatriz, Caxias e Santa Inês. Política jovem, que exerce o seu primeiro mandato, Amanda Gentil ganhou o desafio de comandar o PP maranhense no momento em que se prepara para tentar a renovação do seu mandato.
A senadora Ana Paula Lobato e a deputada federal Amanda Gentil têm a vantagem de contar com um suporte tarimbado. A primeira tem a assessoria de um grupo tarimbado, que tem o seu marido, o deputado estadual Othelino Neto (ainda no Solidariedade), entre os seus conselheiros. Já a segunda tem o suporte do pai, o bem articulado ex-prefeito de Caxias Fábio Gentil, e do próprio ministro André Fufuca, que vibrou com a escolha dela para substituí-lo no comando partido.
Grafiteira cometeu crime, mas também colocou o dedo numa ferida que atormenta São Luís
Não há o que discutir que, ao pichar, com spray de grafite, a fachada de um casarão colonial, danificando seculares exemplares da rica azulejaria de prédio histórico de São Luís, a grafiteira e ativista Juliana Trama cometeu um crime. No caso específico do prédio histórico, como mostrado nas imagens, sua atitude – artística, política, ou seja lá o que a tenha motivado – foi um atentado violento e injustificado, portanto imperdoável, ao patrimônio arquitetônico e à memória da Cidade Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, e pelo qual ela deve responder judicialmente. O seu pedido de desculpas não é suficiente para livra-la de uma punição.
Por outro lado, ao defender a sua atividade de grafiteira-pichadora como manifestação artística e atitude política, Juliana Trama tocou fundo numa ferida que atormenta São Luís: o descaso com o rico patrimônio arquitetônico colonial.
Na sua argumentação, ela disse que atua protestando contra o descaso na conservação do acervo. Com isso, remeteu todos ao fato, real e indiscutível, de que entre os milhares de casarões, moradas inteiras, meias moradas e portas e janelas, que formam um dos maiores conjuntos de prédios coloniais português do planeta, centenas e centenas estão deteriorados e desabando, sem que os proprietários se movimentem para conserva-los.
Essa tarefa foi assumida pelo Governo do Estado nos anos 80 do século passado, com um ambicioso projeto de restauração alinhavado no Governo João Castelo (Arena) e iniciado efetivamente no Governo Epitácio Cafeteira (MDB) com o magnífico Projeto Reviver, que foi ampliado nos Governos de Roseana Sarney (MDB). Os Governos de José Reinaldo Tavares e Flávio Dino fizeram investimentos e o atual, de Carlos Brandão, está fazendo sua parte. Assim, com altos e baixos, o processo de restauração do Centro Histórico de São Luís avançou muito.
Nesse contexto, grande parte dos prédios coloniais são propriedades privadas, via de regras objeto de disputas familiares, que dificultam qualquer inciativa de restauração. Tanto que parte deles está transformada em estacionamentos. Muitos estão desabando. Nesse contexto sombrio, no entanto, há luzes, como a restauração recente, por iniciativa privada, de dois prédios situados no cruzamento das ruas Santaninha com a Afogados, produzindo uma visão alentadora e gratificante.
Ao colocar o dedo nessa ferida, Juliana Trama fez um contraponto positivo ao crime que praticou.
São Luís, 10 de Outubro de 2025.

