Candidaturas: Dino vai enfrentar Roseana, Rocha e Maura na corrida ao Palácio dos Leões; ultra esquerda só quer marcar posição

 

Flávio Dino com Carlos Brandãoo, Weverton Rocha e Eliziane Gama na festiva convenção; Roseana Sarney com Edison Lobão e Sarney Filho; Roberto Rocha com Eduardo Braide no ato da aliança; Maura Jorge entre Rafael Filho e Samuel Itapecuru; Odívio Neto fala na convenção, e Ramon Zapata (e) líderes do PSTU

Vencida a última etapa de definições político-partidárias, os 4,5 milhões de eleitores maranhenses têm definido o quadro de candidatos ao Palácio dos Leões: Flávio Dino (PCdoB), Roseana Sarney (MDB), Roberto Rocha (PSDB), Maura Jorge (PSL), Odívio Neto (PSOL) e Ramon Zapata (PSTU). Trata-se, como se vê, de um arco que vai da direita radical (Maura Jorge), passa pelo centro-direita (Roseana Sarney), avança pelo centro (Roberto Rocha), segue pela esquerda moderada (Flávio Dino), alcança a esquerda radical (Odívio Neto) e termina a extrema-esquerda (Ramon Zapata). Nesse contexto, o governador Flávio Dino, que concorre à reeleição e lidera as intenções de voto – segundo todas as pesquisas feitas até agora para medir as preferências do eleitorado -, é o grande referencial da disputa, definido, portanto, como o candidato que os outros cinco vão tentar derrotar. As articulações frenéticas que movimentaram os bastidores partidários nas últimas semanas produziram o plantel possível de candidatos, principalmente se levadas em conta as montagens que se deram no plano da disputa para a presidência da República. É esse o cenário que qualquer olhar isento identificará no tabuleiro político do Maranhão desde a noite de sábado.

No comando de um Governo forte e acreditado, em que pese o bombardeio cerrado com o objetivo de desacreditá-lo, o governador Flávio Dino soube se movimentar e articulou uma coligação-gigante, reunindo um leque de 16 partidos dos mais diversos vieses ideológicos: PCdoB, PT, PDT, PTB, PST, DEM, PP, PRB, PR, SD, PROS, PPS, Avante, PSB, PTC e PPL, impondo fortes limitações aos seus adversários nesse campo. Valeu-se, licitamente, do poder de fogo que armazenou como líder de um projeto de poder que tem como grande objetivo fazer a grande transição do sarneysismo para uma nova realidade política no Maranhão. Tanto que vai para a campanha reforçando o mote da mudança que lhe serviu de argumento maior na campanha de 2014. No comando dessa coligação-gigante, o governador seguirá para as urnas com o objetivo de liquidar a fatura já no primeiro turno, mas também preparado para encarar um eventual segundo turno. Com um currículo em que constam duas tentativas de chegar ao Palácio dos Leões – a primeira em 2010, quando perde para Roseana Sarney, e a segunda em 2014, quando venceu derrotando Lobão Filho (PMDB) -, faz dele um candidato que conhece o caminho das pedra que lhe permite se movimentar como favorito. Leva como vice Carlos Brandão (PRB), um vice fiel e alinhado.

Principal adversário do governador Flávio Dino, com metade das suas intenções de voto, a ex-governadora Roseana Sarney tentou, sem sucesso, montar uma frente com os demais candidatos, consolidando assim sua candidatura por uma coligação bem mais modesta: MDB, PV, PSD e PSC.  Roseana Sarney vai para a sua quinta tentativa de chegar ao Governo do Estado – venceu em 1994 e 1998 contra Epitácio Cafeteira e em 2010 contra Jackson Lago (PDT) e Flávio Dino (PCdoB) e perdeu em 2006 para Jackson Lago. Ao contrário de outras campanhas, Roseana Sarney vai para o campo de batalha sem os instrumentos que embalaram suas três eleições: suporte das máquinas estadual e federal, apoio de presidente da República e ampla rede partidária. Pior: por força de imposição partidária, terá de vender aos eleitores o presidenciável Henrique Meirelles, ex-banqueiro e ex-ministro da Fazenda e político sem voto e sem charme. Entra na guerra consciente de que o cenário lhe é desfavorável em todos os sentidos, mas confia no prestígio político e eleitoral que conseguiu nos mais de 12 anos em que esteve no cargo e, claro, no seu poder de sedução política. Tem como vice o empresário tocantino Ribinha Cunha (PSC), escolhido para seduzir Imperatriz e adjacências.

O senador Roberto Rocha vai para a guerra à frente de uma coligação modesta: PSDB, Podemos, Rede, DC, PMN e PHS. Conseguiu na última hora atrair o apoio do deputado estadual Eduardo Braide, que, inteligentemente, andou agitando os bastidores na fase prévia da corrida  como pré-candidato a governador, mas acabou candidato a deputado federal e avisando que será candidato a prefeito de São Luis em 2020. Roberto Rocha conseguiu rascunhar o que poderá vir a ser uma “terceira via” na política maranhense, à medida que disputa o Governo aparentemente sem chance de sucesso, mas delimitando um espaço expressivo no cenário estadual. Seu grande trunfo agora é a candidatura presidencial do tucano Geraldo Alckmin, que após absorver o Centrão ganhou competitividade e poderá injetar algum gás na corrida estadual. Falta-lhe ainda um vice, que poderá ser um aliado ou sair das entranhas do ninho dos tucanos.

Maura Jorge disputa o Palácio dos Leões na esteira de um projeto que nasceu sem pé nem cabeça, mas que ganhou forma depois que ela, num lance ousado: semanas depois de receber em São Luís o presidenciável Álvaro Dias, do seu partido, o Podemos, ela foi a Brasília com a cara e a coragem e propôs uma aliança com o presidenciável Jair Bolsonaro no Maranhão, que topou sem pensar duas vezes. Firmado o acordo, Maura Jorge aproveitou a janela partidária, abandonou o Podemos e filiou-se ao PSL, transformando o projeto bolsonarista no principal mote da sua campanha. Amargou o isolamento, foi convidada para ser vice de Roberto Rocha, com liberação para defender seu candidato a presidente, mas manteve seu projeto. Confirmou sua candidatura tendo como vice o tenente-coronel Roberto Filho (PSL). Vai sair do processo com a dignidade que entrou.

Odívio Neto (PSOL), que tem como vice Gigia Helena, do mesmo partido, e Ramon Zapata (PSTU), cujo vice é Nicinha Durães, entram na corrida ao Palácio dos Leões sem qualquer expectativa de bom resultado. Partidos ideológicos, que inclusive questionam o modelo de sociedade em vigor no Brasil e as regras do sistema de escolha e representação políticas, participam do processo para marcar suas posições. Mais pragmático, o PSOL espera sair da corrida eleitoral com cacife que lhe permita, por exemplo, participar das eleições municipais de 2020.

É esse o cenário que a Coluna enxerga.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Maura Jorge invoca Deus para não aceitar aliança com Roberto Rocha

Maura Jorge disse a Sebastião Madeira que segue a orientação de Deus

A interferência divina foi o motivo que impediu a aliança do PSDB com o PSL na qual a bolsonarista Maura Jorge seria candidata a vice na chapa de Roberto Rocha, projeto que foi intensamente discutido pelas cúpulas dos dois partidos. A última tentativa aconteceu na noite de sexta-feira (29), véspera das convenções que confirmariam as duas candidaturas. Secretário geral do PSDB e coordenador da campanha dos tucanos, o ex-prefeito de Imperatriz, Sebastião Madeira, foi escalado para convencer a ex-prefeita de Lago da Pedra de que ela sozinha não teria qualquer chance e que o melhor caminho seria fazer uma aliança PSDB-PSL pela qual ela sairia candidata a vice na chapa comandada por Roberto Rocha. Político hábil e tarimbado nesse jogo, Sebastião Madeira relacionou uma série de argumentos, todos consistentes, e os apresentou um a um, certo de que dobraria a resistência da então pré-candidata do PSL. A reação de Maura Jorge foi surpreendente: ela respondeu também com uma série de argumentos, entre eles a de que se desistisse agora de ser candidata ao Governo sairia do processo politicamente malvista. Madeira tentou quebrar esse argumento mostrando que ela só teria a ganhar com a aliança com o PSDB, e diante da resistência de Maura, jogou a última cartada: como candidata a vice de Roberto Rocha ela poderia fazer a campanha de Jair Bolsonaro no Maranhão sem qualquer restrição por parte do PSDB. Veio então o argumento fatal de Maura Jorge:

– Doutor Madeira, não posso recuar da minha candidatura do Governo. Sofri muito para chegar aqui. E que nessa caminhada, sempre converso com Deus, e ele tem me incentivado a prosseguir na minha luta, e eu não o posso decepcioná-lo.

Diante do argumento inspirado na orientação do Criador, Sebastião Madeira jogou a toalha:

– É, querida Maura, fiz o que pude para tê-la como aliada, mas eu não posso concorrer com Deus. Seria muita pretensão da minha parte.

E foi embora sem a pretendida aliada.

 

Coronel saiu da corrida aos Leões rejeitado, sozinho e zangado

Coronel Monteiro: entrou e saiu sozinho da corrida aos Leões

O coronel aposentado Ribamar Monteiro deixou a corrida ao Palácio dos Leões do jeito que entrou: sozinho. Há alguns meses, o militar apareceu no circuito sucessório falando alto e externando ideias esdrúxulas e descontextualizadas sobre temas complexos como saúde e educação e sensíveis como homossexualismo. E falou mais alto quando se apresentou como o porta-voz do presidenciável Jair Bolsonaro, exibindo uma foto dos dois almoçando no restaurante da Câmara Federal. Jair Bolsonaro, porém, não confirmou essa aliança. Semanas depois, o mundo político foi surpreendido com um anúncio, feito em Brasília, concidentemente no mesmo restaurante: Jair Bolsonaro declarava seu apoio à candidatura de Maura Jorge ao Governo do Estado e ela fazia o mesmo em relação à pretensão do capitão aposentado quanto ao Palácio do Planalto. O coronel Ribamar Monteiro reagiu indignado, atacando Maura Jorge, tentando passar a impressão de que reverteria a situação a seu favor. Não conseguiu. Tentou uma saída pelo PHS, que lhe deu as costas, levando-o a gravar um vídeo dizendo cobras e lagartos do presidente desse partido no Maranhão, Jorge Arturo, que levou a legenda para a orbita do PSDB. O que ficou da passagem do coronel Ribamar Monteiro foi a imagem de um cidadão de extrema direita, com  proposições confusas e projetos absolutamente inviáveis. Mesmo com ideias temerárias, poderia ter tido uma participação mais produtiva no processo, mas faltou-lhe um mínimo de compreensão sobre como são os movimentos no tabuleiro da política.

São Luís, 05 de Agosto de 2018.

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