Brandão fala da relação com Dino, confirma afastamento, mas nega rompimento, e deixa 2026 em aberto

Carlos Brandão: jogo aberto e franqueza

Franca e oportuna a entrevista do governador Carlos Brandão (PSB) ao jornal O Globo, publicada na sua edição desta segunda-feira. Sem afetação nem traço de mágoa, apenas lamentando a situação política criada no Maranhão, ele descortinou a relação com o ministro Flávio Dino (STF), de quem foi parceiro a partir das eleições de 2006, vice por sete anos e três meses, alinhado nas eleições de 2022 e dele se afastou em 2024. O governador confirma que eles estão sem qualquer contato desde que Flávio Dino assumiu cadeira na Suprema Corte, em fevereiro do ano passado.

Em tom moderado, como o de quem não quer briga, mas que também não está disposto a ser tutelado, Carlos Brandão esclarece, sem entrar em detalhes e em definitivo, que o mal-estar foi gerado por insatisfação de deputados ligados ao ministro Flávio Dino por conta de espaço na sua gestão. Nesse ambiente de tensão, ele admite que o Senado seria seu caminho natural, mas que só vai tratar disso em 2026, deixando no ar também a possibilidade de permanecer no Governo até o final do mandato.

“Há alguma insatisfação por espaço, e acabam envolvendo o próprio ministro. Acho que, depois de governar, é preciso esquecer que foi governador”, declarou Carlos Brandão, acrescentando: “Quando tem muita interferência, começa a ter problema”. E logo em seguida, fazendo questão de afirmar que o cordão político que os liga ainda não foi inteiramente partido: “Estamos politicamente afastados, mas não rompidos”.

O governador reclama da judicialização de questões locais, que são levadas à apreciação da Suprema Corte, como a nomeação do advogado Flávio Costa para o Tribunal de Contas do Estado, que permanece emperrada no STF: “Tem um grupinho no estado ligado ao ministro que cria essa situação e leva a nível de Supremo. O que a gente esperava é que não tivesse interferência do Supremo, lamento muito isso. É muito ruim o Judiciário entrar nessa esfera. Espero que seja resolvido. Tentei algumas vezes (falar com o ministro), mas não prosperou”.

Carlos Brandão defende uma relação política sem ranço ideológico, como foi a sua reaproximação com o Grupo Sarney, do qual estava afastado desde as eleições de 2006: “Em 2022 eu me aproximei muito do grupo do presidente José Sarney. Foram nossos adversários por dois mandatos, mas hoje estamos muito próximos. Há pessoas do MDB que participam do meu governo, e eles entregaram a presidência do partido para o meu irmão (Marcus Brandão). Estamos alinhados. (…) O Flávio sempre foi muito ferrenho adversário dos Sarney, é uma pessoa mais ideológica. Eu não sou assim, tenho boa relação com os evangélicos, com o agro. Eles me adoram”.

Na entrevista, o governador Carlos Brandão comentou a situação do presidente Lula da Silva (PT) aos olhos da opinião pública e avaliou que a queda de popularidade do chefe da Nação e do Governo do PT é momentânea e que a situação pode ser revertida. Falou de ações do seu Governo, da redução do ICMS para a cesta básica, dos programas sociais. E afirmou que o Maranhão se encontra nos trilhos do equilíbrio fiscal e que tem um grande programa de obras para colocar em marcha. E avaliou o cenário político nacional e o futuro do seu partido, o PSB. E desenhou também o ambiente político do Maranhão para 2026, no qual é figura central:

Seu plano para 2026 é Senado?

“Existe uma condição natural de o governador se candidatar para o Senado, mas isso é algo que eu só vou discutir em 2026. Por mais que eu queira, preciso saber como pensam os 13 partidos da minha base. Se antecipar a discussão, as pessoas ficam focadas na política e não enxergam suas entregas”.

Em resumo: à sua maneira, o governador Carlos Brandão colocou as cartas na mesa e jogou aberto.

PONTO & CONTRAPONTO

Juscelino Filho vê chapa Camarão/Brandão como o caminho natural em 2026

Juscelino Filho defende
chapa Camarão/Brandão

Enquanto a entrevista do governador Carlos Brandão ecoava com forte repercussão no meio político, o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, defendia o fim do conflito, propondo a candidatura do vice-governador Felipe Camarão (PT) ao Governo do Estado e a do governador Carlos Brandão (PSB) ao Senado, como o desdobramento natural da aliança político-partidária que ainda se mantém forte no Maranhão. Em relação a ele próprio, deixou no ar duas possibilidades: reeleger-se deputado federal, mas colocando-se também no cenário da disputa por uma vaga no Senado, dependendo, claro, das circunstâncias.

A manifestação do ministro das Comunicações se deu em resposta a uma oportuna provocação feita pelo jornalista Glauco Ericeira durante entrevista na qual Juscelino Filho apresentou um balanço das atividades do Ministério das Comunicações no Maranhão.

Nas respostas que deu sobre o cenário político do Maranhão, o ministro, que é deputado federal licenciado e hoje um dos nomes mais destacados do União Brasil no Congresso Nacional, fez questão de pontuar que não é aliado de proa do governador Carlos Brandão, mas que torce pelo sucesso do seu Governo e acha que ele deve ser candidato ao Senado na chapa em que o vice-governador Felipe Camarão, já na condição de governador, concorra à reeleição.

Manifestando nítido bom senso e reforçando sua posição de independência em relação ao Palácio dos Leões, o ministro não vê razão nem vantagem política no confronto alimentado por brandonistas e dinistas, avaliando que isso não beneficia ninguém. Para ele, os dois grupos devem buscar o entendimento em favor do que de fato importa, que são benefícios para a população.

Com esse posicionamento, o ministro mostra maturidade política e amplia o coro das vozes que defendem a chapa PT/PSB para Governo e Senado.  

Ex-deputado paulista comete erro grosseiro ao tentar diminuir o papel de Sarney na redemocratização

José Sarney foi injustiçado por Vilmar Rocha

O ex-deputado federal Vilmar Rocha (PSD/SP) está tumultuando o roteiro da redemocratização quando afirma que foi Aureliano Chaves, então vice de João Figueiredo, quem conduziu a redemocratização. Ele está confundindo as bolas, à medida que mistura redemocratização com transição para a democracia.

O ex-presidente José Sarney nunca disse que liderou a luta contra a ditadura, até porque do lado oposicionista, o grande timoneiro do processo foi o deputado Ulysses Guimarães. José Sarney fez a sua parte quando renunciou à presidência da Arena e, juntamente com o mineiro Aureliano Chaves e o pernambucano Marco Maciel, rompeu com o regime e formou a Frente Liberal contra Paulo Maluf e a favor de Tancredo Neves. Esse movimento levou José Sarney a ser o vice de Tancredo Neves e, com a morte deste, à presidência da República.

O que o ex-deputado Vilmar Rocha faz, portanto, é misturar alho com bugalho e tentar confundir luta pela redemocratização com a transição da ditadura para o regime democrático. Quando se tornou titular da presidência da República, José Sarney assumiu, efetivamente, o comando da transição, e foi ele quem, com habilidade, paciência e tolerância, administrando crises e rompantes de Ulysses Guimarães e sua turma, e também os brados dos generais insatisfeitos, conseguiu evitar confrontos e assim garantiu a instalação e o funcionamento da Assembleia Nacional Constituinte, acabou a censura, reabilitou sindicatos e tirou partidos de esquerda da clandestinidade, devolvendo ao país a democracia plena. E sem qualquer trauma, passou o bastão presidencial para Fernando Collor por eleição direta em 1989.

O ex-deputado Vilmar Rocha precisa repensar suas declarações, porque comete um erro grosseiro contra o ex-presidente José Sarney.

São Luís, 18 de Março de 2025.

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