Quando abrir a sessão de hoje da Assembleia Legislativa, a presidente Iracema Vale (PSB) certamente estará ciente de que dará largada num ano político movimentado, ao longo do qual serão realizadas as eleições para prefeito, vice-prefeito e vereador dos 217 municípios maranhenses, e de que muitas das tensões que serão produzidas ao longo da campanha desembocarão no Palácio Manoel Beckman, mais precisamente no plenário “Nagib Haickel”, devendo passar, em algum momento, por sua mesa de trabalho. A Assembleia Legislativa viverá mais uma vez os desdobramentos da guerra pelo poder municipal, na qual os deputados estaduais têm interesse direto. Alguns deles, como Roberto Costa (MDB), Rildo Amaral (PP) e Rafael Leitoa (PSB), disputarão, como favoritos, prefeituras importantes e politicamente influentes, como Bacabal, Imperatriz e Timon, respectivamente.
A corrida pela Prefeitura de São Luís, o maior e mais importante município do estado, interessa, de modo geral, aos os deputados estaduais, mas só três deles estão efetivamente envolvidos na disputa: Neto Evangelista (União Brasil), que aguarda o aval do seu partido, deixando claro que está, de fato, interessado na candidatura; Yglésio Moisés (em busca de um partido, mas obrigado a permanecer no PSB), que depende dessa solução partidária para seguir em frente; e Wellington do Curso (PSC), que tem seu futuro nas mãos da Justiça Eleitoral, mas está se movimentando como pré-candidato em tempo integral. Sem ser candidato, o deputado Fernando Braide (PSC) mergulhará na campanha do prefeito Eduardo Braide (PSD), seu irmão, pela reeleição.
Na Ilha de Upaon Açu, além desses três que tentam ser candidatos em São Luís, nenhum deputado estadual entrará na briga pelas prefeituras de São José de Ribamar – a terceira maior e mais importante do Maranhão – e Paço do Lumiar – o sexto maior em população – nem Raposa, que tem pouco peso político no estado.
O cenário das disputas localizadas é amplo. Em Balsas, berço do agronegócio maranhense, por exemplo, as deputadas Viviane Silva (PDT) e Andrea Rezende (PSB) jogam em campos diferentes, apoiando candidatos diferentes, o que certamente quebrará o convívio ameno das duas no dia a dia da Casa. Em Caxias, quarto maior e mais importante município do Maranhão, ao contrário, tudo leva a crer que as deputadas Cláudia Coutinho (PDT) e Rafaela Gidão (PSB) apoiarão o mesmo candidato, embora haja quem avalie que esse acordo precisa ser melhor amarrado. Os deputados Abigail Teles (PL) e Eric Costa (PSD), adversários figadais, vão permanecer em campos diferentes numa guerra dura em Barra do Corda. E o deputado Aluízio Santos (PL) vai mergulhar na corrida pela reeleição da mulher, a prefeita de Chapadinha, Dulcilene Belezinha (PL).
Esses confrontos estão desenhados em todos os 217 municípios, portanto em todas as regiões do Maranhão. Os deputados estaduais são o elo entre esses municípios e o resto do mundo. E nada mais lógico que as tensões produzidas na corrida pelo poder municipal, que é a base piramidal da política, desaguem no plenário da Assembleia Legislativa. Não raro, deputados que brigam pelas mesmas bases entram em confronto, que na maioria dos casos exigem a intervenção de vozes conciliadoras, sendo a do presidente a mais efetiva e eficiente. É uma ciranda que se repete a cada dois anos, que emenda com as eleições estaduais, quando a campanha pela reeleição leva os deputados a um elevado nível de tensão.
Nesse contexto, o presidente do Poder Legislativo tem papel importante, às vezes decisivo, nos embates, ora como mediador, ora como conciliador. A tarefa agora cabe à presidente Iracema Vale, que vem conduzindo a Casa com equilíbrio e firmeza, usando todo o peso da sua experiência de ex-vereadora e ex-prefeita, somada à do seu desafiador, mas bem-sucedido, primeiro ano no comando do Poder Legislativo. A presidente da Assembleia Legislativa tem se destacado pela habilidade com que vem mantendo a aliança por meio da qual o governador Carlos Brandão (PSB) vem trabalhando com sólida maioria parlamentar.
As tensões esperadas no plenário podem até acontecer, mas é plausível esperar que a presidente e os líderes partidários saibam atuar nos confrontos.
PONTO & CONTRAPONTO
Duarte fortalece candidatura recebendo apoio de partidos da base governista
O deputado federal Duarte Jr. (PSB) deve receber até o final deste mês a declaração formal de apoio da Federação Brasil Esperança, formada por PT, PCdoB e PV à sua candidatura à Prefeitura de São Luís. Junto com a manifestação de apoio, a Federação deve manifestar o seu interesse na indicação do candidato a vice do parlamentar socialista.
O PT já teria discutido o assunto nas suas três esferas de decisão – municipal, estadual e federal -, como é a sua praxe, devendo reivindicar a indicação do candidato a vice. O PCdoB sempre deixou no ar que seguiria a indicação do governador Carlos Brandão (PSB), que vai coordenar a campanha, e do senador Flávio Dino (PSDB), que será apoiador de Duarte Jr. até quarta-feira, quando se desligará de vez da política. E o PV não tem outra opção a não ser seguir PT e PCdoB.
O deputado federal Duarte Jr. caminha para fortalecer sua candidatura à prefeitura de São Luís com uma poderosa aliança partidária, que vai da esquerda à direita. Na semana passada, por exemplo, recebeu o apoio do PSDB, declarado pelo presidente estadual do partido, Sebastião Madeira, atual secretário-chefe da Casa Civil do Governo do Estado, e do Cidadania, comandado no estado por Eliel Gomes, irmão da senadora Eliziane Gama (PSD).
Movimento apela a Marco Aurélio para desistir em Imperatriz
Há nos bastidores um forte movimento para que o ex-deputado estadual Marco Aurélio (PSB) desista da candidatura à Prefeitura de Imperatriz. Ele está em terceiro lugar e ganhou o status e o peso de fiel da balança da corrida pelo comando da antiga Vila do Frei.
A situação seria mais ou menos a seguinte: na posição em que se encontra, Marco Aurélio dificilmente conseguirá virar a mesa e assumir a ponta e vencer a eleição contra o deputado Rildo Amaral (PP) e o deputado federal Josivaldo JP (PL).
Mas nos cálculos desses mesmos articuladores, se Marco Aurélio viesse a sair do páreo, seus eleitores tenderiam a reforçar a candidatura de Rildo Amaral, dando quase certeza de que ele venceria a eleição.
Certo de que sua candidatura se encontra em ascensão, o ex-deputado Marco Aurélio tem dado sinais de que não quer nem ouvir falar em desistência.
São Luís, 15 de Fevereiro de 2024.