Dino ouve apelos para voltar à política, mas vai para o Supremo e deixa data da saída no ar 

Foto 1:Flávio Dino de punho cerrado entre Carlos Brandão, Iracema Vale, Roberto Costa e Paulo Velten Foto 2:Flávio Dino com a multidão que lotou o plenário AL Foto 3: aplaude orador

A ideia inicial era uma sessão especial da Assembleia Legislativa para homenagear o senador Flávio Dino (PSB) pela sua ida para o Supremo Tribunal Federal (STF), daqui a 20 dias. Mas o primeiro orador, deputado estadual Rodrigo Lago (PCdoB), autor da proposição, mudou o rumo do evento logo na primeira frase do seu discurso: “Estamos vivenciando os últimos dias na política do nosso senador da República, ex-governador, ex-deputado federal, ex-ministro de Estado, que agora deixará, momentaneamente, espero eu, a vida a política”. Na sequência, a presidente da sessão, deputada Iracema Vale (PSB) abriu exceção para o vice-governador Felipe Camarão (PT), o deputado federal Márcio Jerry (PCdoB), que não estavam inscritos. E os dois e o governador Carlos Brandão (PSB) foram bem mais longe, todos defendendo enfaticamente que o senador Flávio Dino cumpra a missão outorgada pelo presidente Lula da Silva (PT), que o indicou, e pelo Senado da República, que o aprovou, de tornar-se ministro da Suprema Corte, mas que sua permanência sob a toga seja breve e que ele retorne o mais rapidamente possível à guerra pelo voto. “De preferência já em 2030”, segundo o governador Carlos Brandão.

E cada declaração nesse sentido fez o plenário da Assembleia Legislativa, lotado de deputados estaduais, deputados federais, prefeitos, vereadores, eclodir em aplausos de afirmação.

Visivelmente tomado pela emoção, o senador Flávio Dino fez o que definiu como segundo discurso que batizou de “Trilogia da Emoção” – o primeiro foi sua despedida do Ministério da Justiça, quarta-feira, no Palácio do Planalto, em Brasília, quando fez um balanço do seu trabalho como ministro da Justiça, e o último será feito no dia 21, na tribuna do Senado, no ato da sua renúncia ao mandato de senador da República. No de ontem, na Assembleia Legislativa, fez um balanço da sua alentada carreira política, focando as suas ações no Maranhão, que é a razão de ser na sua existência política. “Hoje eu não me despeço do Maranhão. Eu repito sempre: eu trabalho em Brasília, mas eu moro no Maranhão, e vou continuar morando no Maranhão”, declarou.

Mesmo deixando no ar um traço de incerteza em relação ao tempo em que permanecerá da Suprema Corte, Flávio Dino deixou claro que aceitou a indicação, o que torna o seu retorno à magistratura um passo irrevogável. Tanto que fez questão de afirmar que aquele era o momento de despedida da política maranhense: “É uma despedida, sim, devo ser verdadeiro, da política do Maranhão”. E justificou a irrevogabilidade do compromisso assumido com o presidente |Lula da Silva e com o Senado: “Eu sou inflexível com princípios. Eu não renuncio a princípios. Eu não traio os meus princípios. E se eu aceito uma missão outorgada pelo presidente da República e pelo Senado Federal, de ser ministro do Supremo Tribunal Federal, eu serei ministro do Supremo Tribunal Federal. Ponto”.

O ainda senador foi enfático ao revelar o que sente em relação ao compromisso se pertencer à mais alta Corte de Justiça do País, cuja função básica é garantir o cumprimento da Constituição da República. Disse ele: “Toga não tem cor partidária. Toga é igual para todos os ministros, porque é o símbolo da igualdade de todos perante a lei. E eu procurarei fazer o melhor para todos os brasileiros e brasileiras de igual modo. Para que possamos dissipar a ameaça que paira sobre as nossas famílias, que é a dissolução dos laços de confiança reciproca”. E acrescentou, com ênfase: “Só existe pátria quando os símbolos representam algo maior”.

Flávio Dino deixou claro que vai para o Supremo movido por vários objetivos, sendo que, neste momento, um deles se tornou crucial: trabalhar incansavelmente para estabilizar e consolidar de vez a democracia no Brasil, de modo que os brasileiros vivam numa democracia plena, com as suas divergências, os seus conflitos, mas nunca movidos pelo ódio, como passou a viver de uns tempos para cá. “Quando brasileiros e brasileiras se odeiam, nós não estamos num bom caminho. Assim, eu irei (para o Supremo) com esse espírito de pacificação, de ajudar o Brasil”.

No bojo das declarações com que justificou a ida para a Suprema Corte, o senador Flávio Dino fez o que pode ser considerado uma revelação histórica. Ele refletiu muito e chegou à conclusão de que dois momentos da sua trajetória mudaram o eixo da sua vida política: “Na minha vida pública, são as duas páginas mais cruciais, que demarcam o antes e o depois: a pandemia e o 8 de Janeiro. Porque foram testes elevados à enésima potência, potência inimaginável, e que não havia tempo para decidir. E não havia margem para errar, porque o erro, em ambos os casos, custaria muito”.

Saiu vencedor nos dois exatamente pelas decisões que tomou e, no segundo, conseguiu mudar o curso da História revertendo uma tentativa de golpe de Estado.

 PONTO & CONTRAPONTO

Numa fala sem alarde, Brandão pede que Dino volte logo à política e diz que sonha vê-lo presidente

Carlos Brandão relatou seu histórico de amizade
com Flávio Dino, a quem quer presidente da República

 Poucas vezes um pronunciamento foi tão esclarecedor, derrubou tantas dúvidas e mandou para o espaço tantos factoides que tencionaram os bastidores da política, como o feito ontem pelo governador Carlos Brandão na homenagem ao senador Flávio Dino. Tomado por sua costumeira serenidade, o governador fez uma crônica honesta e despretensiosa de uma relação política – que se transformou em amizade – como poucas na História do Maranhão.

Além de reforçar a grita para que o futuro ministro do Supremo volte longo à seara política, declarando alimentar o sonho de vê-lo na Presidência da República, Carlos Brandão declarou que aprendeu muito com o governador do qual foi vice por sete anos e três meses, chegando ao patamar da humildade ao admitir que houve momentos em que ele julgou inadequado tratar de assuntos com o então governador, quando percebia que não havia clima para tratar de tal assunto.

Carlos Brandão mostrou que sua relação política com Flávio Dino foi construída em meio a negociações decisivas. Contou que abriu mão de 50 mil votos para deputado federal em Caxias, onde tinha o apoio do então líder Humberto Coutinho. Relatou que Flávio Dino foi decisivo na aprovação do projeto de sua autoria (Brandão) de trazer a Codevasf para o Maranhão, e relatou casos administrativos que considerou aprendizados sob a liderança do então governador.

E desmontou os velhos e cansados rumores segundo os quais ele e Flávio Dino estariam com sua relação política abalada. Carlos Brandão disse que sente o peso da responsabilidade de manter unida a aliança construída por Flávio Dino e que tem feito um trabalho de bombeiro para evitar desgastes.

O governador revelou que sempre que há um ou outro tremor nessa relação política, ele vai a Brasília, almoça com senador Flávio Dino e tudo se resolve sem maiores problemas. Carlos Brandão fechou sua fala definindo Flávio Dino como o grande líder do Maranhão.

A fala de Carlos Brandão deixou o senador comovido e no final o governador foi bastante aplaudido.

Lago e Camarão querem Dino de volta à política logo;  Jerry o vê guardião da Carta

Rodrigo Lago, Felipe Camarão e Marcio Jerry:
todos querem Dino de volta à política

  E enquanto o senador Flávio Dino se esforçava para ser o magistrado no seu “derradeiro” discurso político, e o governador Carlos Brandão remontou o roteiro da sua relação, o deputado Rodrigo Lago, que é 1º vice-presidente da Assembleia Legislativa, o vice-governador Felipe Camarão apostaram alto no retorno do futuro ministro do Supremo à vida política, o deputado federal Márcio Jerry puxou pela emoção em lembrar a trajetória do pai do senador, o ex-deputado estadual Sálvio Dino, que foi cassado pela ditadura militar.

Representante de uma extensa linhagem política, o deputado Rodrigo Lago contou a sua participação nos momentos decisivos da trajetória de Flávio Dino na política estadual, principalmente durante a campanha pela quase tornou governador pela primeira vez, em 2015. Revelou como se tornou secretário de Estado e como Flávio Dino construiu a sua liderança como chefe de Estado. No seu discurso, Rodrigo Lago declarou: “Nós aguardamos ansiosos o ano de 2046, se vossa a excelência não quiser antecipar sua saída do Supremo, porque meu título de eleitor ainda estará ativo, para votar em você, seja para que mandato for”.

E acrescentou: “Sonhamos muito que Flávio Dino assumisse a Presidência da República, mas havia um capítulo no meio, que se chama Supremo Tribunal Federal. E buscar a Justiça social é a sua missão de vida, é sua ordem, é o seu destino”.

O vice-governador Felipe Camarão não perdeu tempo com mesuras – aliás, vale registrar que nenhum dos oradores perdeu tempo com mesuras -, e destacou o Flávio Dino gestor: “Você sempre nos ensinou que só dá para ser um bom governante se a gente seguir o Sermão da Montanha. E sempre que tu fizeste assim, tu dirigiste o Governo para aqueles que tem fome e sede de Justiça, deixando ao Maranhão um legado de amor e de solidariedade, uma forma de governar para aqueles que mais precisam”.

E concentrou fogo na pressão para a volta à política: “O Flávio Dino começou a trabalhar no TRT em 1989. Portanto, daqui a cinco anos ele poderá se aposentar com tempo integral como ministro do Supremo. E eu já venho o sucessor do presidente Lula na presidência da República”, declarou, acrescentando em seguida: “Meu título de eleitor não está preparado para 2046, mas sim para 2030”.

Apontado pelo próprio Flávio Dino como o seu mais antigo e leal o aliado político, o deputado federal Márcio Jerry saiu do roteiro político e justificou a preocupação do senador em chegar à Suprema Corte com os pés no chão:   “Flávio Dino chega ao Supremo com a tarefa histórica de ser um dos guardiões da Constituição e da Democracia, tão agredidas em tempos recentes”.

São Luís, 03 de fevereiro de 2024.

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