A aliança do PSDB com o PPS em torno da pré-candidatura da deputada federal Eliziane Gama à Prefeitura de São Luís, anunciada com estardalhaço na semana passada, pode ter sido um passo político importante para ela, mas pode ter sido um teste decisivo para o seu maior avalista, o vice-governador Carlos Brandão, que preside o ninho dos tucanos no Maranhão. Não há dúvida de Brandão arriscou todo o peso do seu poder nessa articulação, mas também começa a se tornar evidente que ele pode pagar um preço elevado. Ao contrário do que parecia desenhado, não houve unanimidade no PSDB em torno dessa aliança e, mais grave, a insatisfação ultrapassou a seara dos agora ex-pré-candidatos, para alcançar outros segmentos do partido, que ganharam voz na manifestação do ex-vereador Francisco Viana. O que começa a ganhar sentido é que o vice-governador Carlos Brandão poderá sair dessa crise com menos poder do que tem agora. Ou ganhar a musculatura e consolidar seu comando.
Para começar, Carlos Brandão nunca foi um líder expressivo do PSDB. Ele entrou no ninho dos tucanos no tumulto de uma crise no partido e chegou à presidência num processo quase circunstancial, não tendo, portando, construído uma liderança incontestável. Operou com senso de oportunidade quando se movimentou para que o PSDB se aliasse ao então candidato Flávio Dino, aproveitando a relação do PT com o PMDB para levar seu partido a uma aliança com PCdoB do então candidato a governador Flávio Dino. E no vácuo deixado pelo PSB, que entrou na aliança para disputar uma cadeira no Senado, Brandão se movimentou junto á cúpula nacional e viabilizou sua candidatura a vice-governador. A eleição foi a chave para continuar à frente do partido, mesmo deixando insatisfeitos líderes como o deputado federal João Castelo (PSDB), os deputados estaduais Neto Evangelista e Sérgio Frota, ambos determinados a brigar pela candidatura.
Neto Evangelista, que estava se preparando para deixar a Secretaria de Desenvolvimento Social do Governo do Estado para reagiu duramente quando recebeu a informação de que o PSDB apoiaria à deputado federal Eliziane Gama, deixando a entender que não concordou com nem uma vírgula desse acordo, criticando diretamente o vice-governador pela o operação política. Já deputado estadual Sérgio Frota também não gostou nem um pouco, só não tendo explodido porque se encontra integralmente empenhado na tarefa de evitar o afundamento do seu maior trunfo, o Sampaio Corrêa, mas já emitiu sinais de que não vai engolir facilmente esse rumo dado ao partido. Os dois juntos podem criar sérios embaraços para o vice-governador, com quem não pretendiam brigar, pois não tinham interesses de detonar uma crise dentro do partido.
Nos bastidores do partido, o comentário corrente é o de que Carlos Brandão montou a parceria para viabilizar a vaga de candidato a vice-prefeito para o suplente de senador Pinto Itamaraty, que preside o PSDB de São Luís, negociando essa aliança sem o sinal verde de outras lideranças do partido, entre elas Neto Evangelista e Sérgio Frota, que vinha em campanha pela vaga de candidato a prefeito. Corre também – com menos consistência, é verdade – que a aliança com Eliziane Gama seria um projeto de Brandão para abrir portas ao governador Flávio Dino em Brasília por intermédio do PSDB. O fato é que, independentemente de qual tenha sido a motivação, há muitas vozes dentro do PSDB criticando duramente o presidente Carlos Brandão pelo acordo com o PPS.
Carlos Brandão é um político forjado numa disciplina férrea de aproveitar todas as brechas que se abrem à sua frente. Não é um líder carismático, mas soube transformar o seu senso de oportunidade colocando-se no lugar certo, na hora certa. Foi esse modus operandi que o levou à Câmara Federal por dois mandatos e, em seguida, ao cobiçado posto de vice-governador, no qual cumpre sem discutir todas as tarefas que lhe são dadas pelo governador Flávio Dino (PCdoB) e define os passos do PSDB no Maranhão.
Brandão sabe que a aliança com Eliziane Gama causou insatisfação numa parte do partido, mas acha que, apesar disso, o saldo será positivo para o PSDB. Sabe também que poderá enfrentar alguns embaraços até as convenções, mas que os desdobramentos da crise de agora só chegarão depois das eleições municipais, antes dos preparativos para as eleições de 2018. Sabe que se tiver suporte político sairá mais forte e continuará no comando, mas se não estiver lastreado dificilmente permanecerá na chefia no ninho.
PONTO & CONTRAPONTO
Boa nova: Luiz Gonzaga vai comandar o Ministério Público
O promotor de Justiça Luiz Gonzaga Martins Coelho vai suceder à procuradora Regina Rocha no cargo de procurador geral de Justiça, para chefiar o Ministério Público do Estado do Maranhão no biênio 2016/2018. Ele foi escolhido e nomeado ontem pelo governador Flávio Dino. Luiz Gonzaga Coelho, que ocupa atualmente o cargo de diretor-geral da Procuradoria Geral de Justiça, figurou na lista tríplice elaborada por eleição direta realizada no dia 16 de maio. Votaram os procuradores e os promotores de Justiça. Os três candidatos mais votados foram compuseram a lista os promotores José Augusto Cutrim Gomes, que foi o mais votado com 212 votos; Luiz Gonzaga Martins Coelho, que obteve 183 votos, e Justino da Silva Guimarães, com 146 votos. A posse do novo procurador-geral de justiça está marcada para o dia 15 de junho.
Futuro procurador geral é um dos principais líderes do MPE
Luiz Gonzaga Martins Coelho é um dos mais importantes e ativos líderes do Ministério Público do Maranhão, no qual ingressou em 1994. Passou pelas promotorias de Olho D’Água das Cunhãs, Presidente Dutra, Timon e Caxias antes de ser transferido para São Luís em 2012. Na capital, ocupa a 28ª Promotoria de Justiça Especializada, com atribuições na área da infância e juventude. Além do desempenho correto das suas funções ministeriais, Luiz Gonzaga Coelho tem sido um dos principais incentivadores de ações mais duras do Ministério Público do Maranhão contra a corrupção. Outro ponto forte do promotor Luiz Gonzaga Coelho é o seu espírito corporativo, com forte envolvimento com a categoria. Tanto que presidiu também foi presidente da Associação do Ministério Público do Estado do Maranhão, no período de 2004 a 2007. Sua gestão foi uma das mais produtivas para a categoria, pois além das pressões por melhorias salariais e funcionais, trabalhou fortemente para manter a categoria ministerial unida – tanto que um dos marcos desse período foi a gravação de um disco no qual procuradores e promotores exibem seus dotes musicais.
Governador fez a escolha rigorosamente dentro da regra
Algumas vozes ensaiaram crítica ao governador Flávio Dino por ter ele escolhido o segundo mais votado da lista tríplice que lhe foi encaminhada pelo Ministério Público. Isso porque os três últimos procuradores gerais de Justiça que nomeou, a então governadora Roseana Sarney (PMDB) escolheu duas vezes o mais votado, passar a ideia de ser esse um critério mais justo e democrático, quando na verdade as procuradoras Fátima Travassos e Regina Rocha foram as mais votadas e seriam nomeadas tivessem sido. Tal argumento é, portanto, pura embromação política. A Constituição Federal e a Carta Estadual são claras: lista tríplice não leva em conta a diferença de voto entre os três, que passam a ter condição igual, o que dá ao chefe do Poder Executivo a prerrogativa de escolher qualquer um sem a preocupação de estar cometendo alguma injustiça ou abuso de poder. No caso, o governador fez o que seu senso de avaliação mandou. E fez uma escolha feliz, pois Luiz Gonzaga Coelho é, sem dúvida, um dos melhores quadros do Ministério Público do Maranhão e certamente exercerá seu mandato com correção, isenção e eficiência.
São Luís, 30 de Maio de 2016.