Se confirmada, a ida de Luis Fernando para o Governo Flávio Dino pode ter desdobramentos políticos surpreendentes

 

Luiz Fernando Silva entre Carlos Brandão e Flávio Dino: boa relação com o governador e o vice, não sendo, portanto, problema sua ida para o Governo

Poucas vezes, em tempos recentes, uma possibilidade política gerou expectativa e especulações tão intensas como o ainda suposto convite do governador Flávio Dino (PCdoB) ao prefeito de São José de Ribamar, Luis Fernando Silva (PSDB), para que este assuma a já criada Secretaria de Estado de Programas Estratégicos, dando uma dimensão muito maior à reforma administrativa que mudou titulares de 12 pastas. Os vieses dessa ainda não confirmada iniciativa do governador são vários, e vão muito além da simples convocação de um quadro de excelência para cuidar de uma pasta destinada a turbinar a economia do Maranhão. Há quem garanta que o convite foi aceito e que Luis Fernando Silva já estaria se preparando para passar o comando da Prefeitura ao seu vice, Eudes Sampaio (PTB), para se tornar figura de proa no secretariado do Governo Flávio Dino, e com isso consolidar mais ainda a fama de bom estrategista que embala o governador na seara política.

Para começar, examinando o cenário numa ótica em que o convite foi feito e aceito, as bases desse acordo são certamente muito mais amplas e sólidas do que aparentam à primeira vista. Afinal, Luiz Fernando Silva abrirá mão do comando do 5º maior e mais importante município do Maranhão, onde tem prestígio, força e a última palavra sobre tudo, e com direito a tentar a reeleição em 2020, para se tornar um secretário sob a direção firme e indiscutível de um governador forte e bem avaliado. Aparentemente, ao aceitar o convite, Luis Fernando Silva estará dando um passo atrás, deixando de ser chefe para ser chefiado. Mas nesse jogo, as aparências costumam enganar os que não têm o cuidado de medir e pesar os mais diferentes aspectos que envolvem a equação ainda supostamente montada pelo governador.

Se pretende, de fato, dar a guinada de galvanizar o Governo com programas estratégicos nas mais diferentes áreas, o governador Flávio Dino terá batido na porta certa. Com mais de três décadas no serviço público, sempre em áreas de importância capital – foi auditor-geral do Estado, secretário de Educação, de Infraestrutura e da Casa Civil, e dois mandatos e meio de prefeito de São José de Ribamar -, Luis Fernando Silva é um quadro de ponta, dotado de rara competência e de visão macro acima da média, o que lhe dá cabedal para ocupar uma paste dessa natureza e que guarda desafios que só poucos – muito poucos mesmo – são capazes de encarar e vencer. Por esse viés, a suposta escolha do governador será um tiro no centro do alvo.

Pelo viés político, que guarda muitas sutilezas, o convite soa incomum. Afinal, a relação do prefeito ribamarense com o governador é boa, saudável, mas sem intimidade que torne o primeiro um seguidor fiel e incondicional do segundo. Aos 64 anos, com uma trajetória política e eleitoral bem-sucedida até aqui, Luis Fernando Silva está no melhor da sua capacidade de gestor, podendo coroar essa trajetória dando um banho de competência e eficiência à frente da pasta. Por outro lado, o prefeito não esconde que sonha voar mais alto, o que torna o suposto convite do governador Flávio Dino a abertura de uma enorme porta nessa direção. Vale lembrar em que 2014, enquanto foi pré-candidato a governador, tendo Flávio Dino como adversário, Luís Fernando Silva apareceu nas pesquisas como um nome capaz de, pelo menos, endurecer a disputa com o candidato do PCdoB. Daí serem absolutamente plausíveis as especulações dando conta da inclusão de candidatura majoritária no convite.

No campo político, a Prefeitura de São José de Ribamar é o fator gerador de tensão no projeto do governador de levar o prefeito para o Governo. Se deixar o cargo, Luis Fernando Silva deixará campo aberto para o ex-prefeito e atual deputado federal Gil Cutrim (PDT) investir pesado para retomar, com o apoio ostensivo do senador Weverton Rocha (PDT), o espaço político que perdeu com a volta do antigo prefeito, de quem foi vice, ao poder. Fora da Prefeitura, mesmo forte no Governo, Luis Fernando Silva correrá o risco de perder o controle da sua única e forte base eleitoral.

Nesse contexto de prós e contras, não se pode descartar que, além de viabilizar metas da Secretaria de Estado de Programas Especiais, o prefeito de São José de Ribamar poderá estar nos plenos políticos do governador para ser candidato a um mandato majoritário. Do contrário, fica no ar a seguinte indagação: o que ganhará Luis Fernando Silva além do reconhecimento de bom gestor, que já tem de sobra?

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Briga nos municípios envolverá membros da base governista e manterá o Palácio dos Leões em estado de alerta

Fábio Gentil e Cleide Coutinho: campos opostos, disouta dura e com o governador Flávio Dino no meio

O Palácio dos Leões vai acompanhar com atenção as montagens que envolverão segmentos da sua base para a disputa por prefeituras em todo o Maranhão. Há alguns casos em que o governador Flávio Dino precisará de muita habilidade e paciência para administrar as tensões.

Em Caxias, por exemplo, o governador ficará em situação delicada entre as forçar em confronto, a Situação, comandada pelo prefeito Fábio Gentil (PRB), apoiado pelo pai, o deputado Zé Gentil, e da Oposição, que tem à frente a deputada Cleide Coutinho (PDT). Outro caso acontecerá em Barra do Corda, onde dois aliados, os deputados Fernando Pessoa (SD) e Rigo Teles (PV) já estão em confronto aberto. Em Presidente Dutra estão em clima de confronto os deputados Daniella tema (DEM) e Ciro Neto (PP). Em Pinheiro, apesar dos acordos em vigor, deve haver uma disputa envolvendo o prefeito Luciano Genésio (PP), apoiado pela deputada Thaíza Hortegal (PP), e a Oposição, representada pelo deputado (PCdoB). São apenas algum exemplo que sinalizam que o “bicho vai pegar”, em muitos municípios, principalmente os que têm representantes fortes com mandatos legislativos.

 

MDB pode realizar convenção em Março para eleger nova direção, mas poderá dar mais tempo a João Alberto

João Alberto tentará acordo com Roberto Costa e Hildo Rocha

Todos os sinais indicam que o presidente do MDB, ex-governador João Alberto, vai antecipar a convenção do partido para meados de março e decidir de vez com quem ficará o comando do partido, se com o deputado estadual Roberto Costa, que mantém enfaticamente sua candidatura a presidente liderando a ala jovem do partido, ou o deputado federal Hildo Rocha, que representa a ala tradicional, liderada pela ex-governadora Roseana Sarney. João Alberto tem dito a interlocutores que vai tentar uma solução negociada para a crise que vem desgastando o MDB desde a fragorosa derrota sofrida pelo partido nas urnas em 2018. Mas não será surpresa de as duas correntes em guerra negociarem um acordo pelo qual João Alberto permaneça à frente do partido por mais alguns meses, até que seja encontrada uma solução.

São Luís, 03 de Março de 2019.

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