PMDB do Maranhão faz 49 anos tentando driblar crise

 

joao alberto
João Alberto firme no comando do PMDB

 

O PMDB completou ontem 49 anos de existência. Mudou de idade como o ainda maior partido do país, dono da vice-presidência da República, da maior bancada (18) no Senado – o que lhe dá a presidência da Casa -, da segunda maior bandada (65) da Câmara dos Deputados – atualmente tem o presidente -, no comando de sete governos, de 1.022 prefeituras, e ocupando 142 cadeiras de deputado estadual e 7.825 de vereador. O Maranhão participa da composição pemedebista com dois senadores, três deputados federais, quatro deputados estaduais, 47 prefeitos e quase duas centenas de vereadores. Nas últimas três décadas, o PMDB governou o Maranhão ao longo de 17 anos, passou mais seis como aliado principal, perdeu brigando em 2006 para o PDT, voltou ao poder no tapetão da Justiça Eleitoral em 2009, ganhou no primeiro turno em 2010 e tomou uma surra humilhante para o pequeno PCdoB nas eleições de 2014.

O PMDB maranhense tem duas etapas bem distintas na sua história. O PMDB que nasceu do MDB, que militou na oposição ao sarneysismo até 1984 tendo Renato Archer e Epitácio Cafeteira como figuras maiores, e o PMDB sarneysista, que nasceu com a ascensão de José Sarney à presidência da República naquele ano.

Hoje, após uma derrota eleitoral que lhe tirou o governo estadual, impediu a eleição de mais um senador, enxugou sua bancada federal e lhe deixou quase sem deputado estadual, o PMDB no Maranhão vive uma situação quase dramática, marcada principalmente por um clima de disputas internas e muitas incertezas em relação ao futuro. O partido perdeu o “terceiro” senador, José Sarney, e sofre as consequências da Operação Lava-Jato com outro senador, Edison Lobão, denunciado como suspeito de ter se beneficiado do esquema de financiamento de campanhas eleitorais com dinheiro de corrupção na Petrobras, e tem seu  quadro eleitoralmente mais reluzente, a ex-governadora Roseana Sarney, igualmente sob investigação na mesma operação e também no nebuloso caso do pagamento de precatório à empreiteira Constran.

A situação do PMDB maranhense é complicada, mas isso não significa dizer que o partido esteja morto e sem perspectivas. Sob o comando firme do senador João Alberto, um político experiente e inteiramente dedicado à causa partidária, a agremiação pemedebista já pensa sair do banho-maria pós-eleitoral e dar passos com o objetivo de se preparar para as eleições municipais do ano que vem. “Perdemos uma eleição, mas o PMDB não está em crise, não”, avalia João Alberto, para quem a política tem seus altos e baixos e o derrotado de hoje pode perfeitamente ser o vitorioso de amanhã, se souber se conduzir no cenário adverso.

O comando estadual do PMDB sabe que a eleição de 2014, que levou ao poder o ex-juiz federal e ex-deputado federal Flávio Dino, pode ter encerrado um ciclo de cinco décadas na política do Maranhão. Ainda que o usem, o argumento de que o partido não se preparou como devia para disputar o governo – mudou o candidato a governador cinco meses antes da das eleições, por exemplo -, pemedebistas de proa admitem que um cenário político novo está sendo construído no estado. O grupo que está no poder vem dando mostras seguidas de que o seu projeto vai muito além da conquista do Governo do Estado, para alcançar também, a hegemonia política no estado com a eleição de um grande número de prefeitos e vereadores no ano que vem.

O senador João Alberto, no entanto, não acredita que o governador Flávio Dino vá muito longe com o seu projeto de poder. Com a autoridade de quem já foi governador numa situação de extrema dificuldade política – enfrentava o poder do governo Collor, de quem era adversário assumido -, o comandante estadual do PMDB reconhece que a situação é difícil, mas não é irreversível.

Além da força dos adversários, o PMDB tem sérios problemas internos, que o senador João Alberto prefere não comentar. Depois de perder o ex-deputado e ex-ministro do Turismo, Gastão Vieira, para o PROS, o PMDB corre o risco de sofrer um “racha”. De um lado está o grupo de João Alberto, que é largamente majoritário e tem o apoio do ex-presidente José Sarney e, até onde se sabe, da ex-governadora Roseana Sarney. Do outro, o ex-deputado Ricardo Murad, ex-todo-poderoso secretário estadual de Saúde. Murad sonha controlar o partido, mas como não tem cacife para tanto, atualmente pressiona para comandar o braço do PMDB em São Luís. Pelo visto, não terá nem uma coisa nem outra.

No mais, mesmo com todos os medalhões que mantém nos seus quadros – José Sarney, Roseana Sarney, Edison Lobão, Arnaldo Melo, Ricardo Murad -, a secção do PMDB no Maranhão chega aos 49 anos com a marca do senador João Alberto e a sombra do ex-presidente da República. E com uma história que guarda na sua memória a passagem de gigantes da política maranhense neste meio século, incluindo os que fundaram o velho MDB com a imposição do bipartidarismo pela ditadura militar: Epitácio Cafeteira, que foi deputado federal várias vezes e governador pelo partido, e nele permanecendo até 1990; Renato Archer, um dos homens de ouro de Ulisses Guimarães e que disputou o governo do Maranhão em 1982, perdendo para Luiz Rocha, da Arena, e acabou como ministro do presidente José Sarney; Jackson Lago, que foi deputado estadual pelo partido e só o deixou quando fundou o PDT junto com Leonel Brizola; Cid Carvalho, fundador e um dos maiores articuladores do partido, que infelizmente se perdeu ao se transformar em “anão do orçamento”, que o levou à cassação; Haroldo Sabóia, grande promessa antisarneysista nascida nas eleições de 1978, mas que embaraçou sua carreira mudando várias vezes de partido; Wagner Lago, que foi constituinte pelo partido, entre outras figuras de expressão, como os deputados estaduais José Brandão, Mauro Bezerra, Bete Lago e Gervásio Santos.

 

 

PONTOS & CONTRAPONTOS

 

Mapa da fome I

O dia 23 de março, segunda-feira, vai entrar para a história política do Maranhão, não como o dia em que o governador Flávio Dino e seus aliados comemoraram aniversário do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), mas uma data em que a fome, esse flagelo que ainda sufoca muitas famílias no Maranhão, foi colocada na mesa de discussões. Foi enfatizada numa palestra de Frei Betto em São Luís sobre como aumentar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). À noite, a Rede Record veiculou reportagem especial intitulada “A Estrada da Fome”, que documentou o drama da fome em Belágua, Fernando Falcão, Marajá do Sena e Centro do Guilherme, quatro dos mais pobres municípios do Maranhão, que integram a relação dos 10 mais miseráveis do país.

 

Mapa da fome II

Na reportagem, o procurador federal Juracy Magalhães apontou a corrupção nas prefeituras do Maranhão com a maior causa dessa desgraça social e afirmou, em alto e bom tom e sem meias palavras, que as administrações municipais do Maranhão, se não são as mais, estão entre as mais corruptas do Brasil. A reportagem mostrou, de maneira indireta, mas com indicações fortes, que a fome nos municípios maranhenses é produto da corrupção nas gestões municipais. Nos quatro municípios visitados pela reportagem da Rede Record, a merenda escolar é sazonal e de péssima qualidade. Procurado pela reportagem para explicar o motivo de escolas da zona rural estarem há semanas sem merenda, o secretário municipal de Educação de uma dessas prefeituras acusou o Governo Federal de atrasar o repasse. A reportagem, porém, apurou que a tal Prefeitura recebera R$ 220 mil em quatro meses para a merenda escolar. Ou seja, o secretário estava faltando com a verdade.

 

Primeiro round

A exemplo da corrida para a prefeitura de bacabal, que colocou em posição de confronto aberto os deputados Roberto Costa (PMDB) e Carlinhos Florêncio (PHS), uma outra troca de petardos começa a ganhar corpo no plenário da Assembleia Legislativa. Trata-se da guerra, agora declarada, entre os deputados Alexandre Almeida (PTN) e Rafael Leitoa (PSB), que brigam pelo controle político de Timon.  Rafael Adversário do clã dos Leitoa, Alexandre Almeida começou o novo mandato disparando chumbo grosso contra a administração do prefeito Luciano Leitoa (PSB). Leitoa, que inicialmente usou a estratégia de fazer de conta que não dava importância a Almeida, começou a morder a corda e a partir para o contra ataque, como fez ontem, quando ocupou a tribuna para contestar as estocadas do adversário. A reação de Rafael Leitoa deu a Alexandre Almeida a grande vantagem de ter passado de adversário ignorado a adversário levado a sério.

 

Sem coligação

O Senado aprovou ontem a PEC 40/2011, que acaba com as coligações partidárias para a eleição para vereador, deputado estadual, deputado distrital e deputado federal. A decisão do Senado mexeu com um dos itens mais sensíveis da reforma política e, se passar na Câmara, será uma das mudanças mais importantes para a modernização do sistema eleitoral brasileiro.

 

São Luís, 24 de Março de 2015.

 

 

 

 

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