Em processo de musculação, PCdoB quer produzir grife

 

dino jerry
Flávio Dino e Márcio Jerry: pelo fortalecimento do PCdoB

O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) é a bola da vez no cenário partidário do Maranhão. Essa posição, que tende claramente a se consolidar nos próximos tempos, foi destacada ontem numa sessão especial da Assembleia Legislativa, na qual, sob a presidência do deputado Humberto Coutinho (PDT), o governador Flávio Dino festejou solenemente os 93 anos do partido, num ato impensável em tempos bem recentes. A homenagem ao PCdoB ganhou dimensão bem maior pelo fato de ser o Maranhão o único estado governado por um comunista membro do partido, o que atraiu para o Palácio Manoel Bequimão os mais destacados líderes da agremiação no país – a começar pelo seu presidente nacional, Renato Rabelo, e a sua líder na Câmara Federal, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

Antes uma agremiação modesta, que sobrevivia no Maranhão da memória de militantes titânicos como a médica Maria Aragão e, em tempos mais recentes, quase como um partido cartorial, o PCdoB ganhou novo rumo e projeção no estado com a filiação do ex-juiz federal Flávio Dino e a eleição dele para deputado federal em 2006. No caminho para a ribalta, o PCdoB amargou participações malsucedidas nos pleitos municipal de 2008 e estadual de 2010, para dar a volta por cima em 2014, com uma vitória retumbante na corrida para o Governo do Estado, levando de quebra um deputado federal (Rubens Jr.) e três deputados estaduais (Raimundo Cutrim, Professor Marco Aurélio e Othelino Neto). Eles se somaram aos cinco prefeitos do partido: os de Cajapió, Dom Pedro, Gonçalves Dias, Igarapé Grande e Lajeado Novo, eleitos em 2012.

A regra, no mundo político, é a de que partido no poder é partido forte, não importa sua linha de ação e sua ideologia, sua doutrine e seu programa. E para não fugir a essa regra, o braço maranhense do PCdoB começa a viver um processo cujo objetivo é ganhar musculatura por meio da atração de lideranças políticas e da sedução de pelo menos larga fatia dos 4,5 milhões de eleitores espalhados nos 217 municípios que recortam os 300 mil quilômetros quadrados do território maranhense. O desempenho do governo será o carro-chefe do projeto. A julgar pelo que se ouve em rodas de conversa sobre política, o governador Flávio Dino e o seu principal assessor nessa seara, jornalista Márcio Jerry, que preside o PCdoB no plano estatual e exerce o estratégico cargo de secretário de Articulação Política e Assuntos Federativos, acreditam que o governo em curso pode se tornar uma espécie de “grife”. E esta pode não apenas ampliar e consolidar o partido no Maranhão, mas espalhar os resultados do governo – se acontecerem como planejado – como uma “boa nova” para além dos limites do território estadual. Nos bastidores da política, especula-se até que o objetivo maior desse projeto seria uma eventual candidatura presidencial do governador Flávio Dino.

Os contundentes discursos feitos pelo presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, e pela líder do PCdoB Jandira Feghali sinalizaram naquela direção. Rabelo cobriu o governador Flávio Dino de rasgados elogios e, entre muitas outras frases de efeito, declarou: “Foi além do Maranhão esta vitória”. No mesmo tom enfático, a deputada fluminense Jandira Feghali assinalou: “A eleição de Flávio Dino para o Governo do Estado foi uma vitória do Maranhão e foi, também, uma vitória do Brasil”.

Na sequência, o próprio governador Flávio Dino, mesmo usando toda a habilidade que tem no uso das palavras, evitou a expansão, mas deixou claro que, se não é um projeto ainda amarrado, o projeto da “grife” comunista está nos seus planos: “A vitória eleitoral de 5 de outubro passado foi só um passo. Agora, estamos diante do maior desafio das nossas vidas. Estamos diante, acima de tudo, do maior desafio da História do nosso Estado. E reafirmo: este é um governo que busca ao máximo a eficiência e é por isso que este é um governo que trabalha muito. O foco será sempre governar bem, governar com honestidade e melhorar a vida do povo do Maranhão”.

Além dos discursos e das especulações, é certo que está em curso uma grande e arrojada operação de transformar o PCdoB num partido forte e com grande peso político no Maranhão, com um lastro eleitoral que lhe mantenha no poder. A ordem é organizar o partido para disputar as eleições municipais com candidatos a prefeito no maior número possível de municípios, como também levar às urnas um exército de candidatos a vereador. Para peitar PMDB, PSDB, DEM, PSD, PTB, PV, entre outros, em 2016, e avisá-los de que a parada vai ser dura também em 2018.

O PCdoB que está sendo turbinado no Maranhão é um partido comunista bem diferente daquele que se apresentava como linha de frente na guerra do proletariado contra a burguesia, na pregação do comunismo – estágio politico além do socialismo – como a solução de todos os males, do regime de partido único, da supressão da liberdade de expressão e informação, e de postulados como a proibição do direito à propriedade, a satanização do capitalismo. O novo PCdoB tem um discurso bem diferente, mas ainda não é possível ser identificado na práxis, pois essa possibilidade só virá quando forem dados os novos passos do atual governo do Maranhão.

 

 

PONTOS & CONTRAPONTOS

 

Por um triz I

O deputado federal Waldir Maranhão (PP), vice-presidente da Câmara dos Deputados, encontra-se mesmo numa situação delicada e, ao mesmo tempo, constrangedora. Na sua edição de domingo, o jornal O Estado de S. Paulo lhe dedicou quase página inteira, mostrando ao país que o seu mandato está por um fio. O roteiro dessa história já é sabido, mas não custa lembrar: Waldir Maranhão foi pilhado em 2010 por não conseguir justificar R$ 426 mil na sua prestação de contas de campanha. Ele tentou de tudo – até a suposta venda de uma casa -, mas nenhuma das suas explicações convenceu o Ministério Público Eleitoral. Ele cumpriu o mandato pendurado em liminares, e agora em abril a Justiça Eleitoral dará a palavra final sobre o assunto. Se for condenado, poderá sofrer um processo de cassação na Câmara dos Deputados, pois já há parlamentares de oposição articulando movimento para levá-lo ao Conselho de Ética da Casa. A situação se tornou mais complicada depois que ele foi denunciado como um dos 19 membros do PP favorecidos com a corrupção na Petrobras apurada pela Operação Lava-Jato.

 

Por um triz II

Ontem, o deputado federal e vice-presidente da Câmara dos Deputados Waldir Maranhão participou de dois eventos políticos em São Luís. O primeiro foi a sessão especial da Assembleia Legislativa comemorativa aos 93 anos do PCdoB. Um Waldir Maranhão constrangido participou junto com vários deputados federais visitantes. Quem esteve presente percebeu o desconforto do parlamentar na sessão de homenagem ao PCdoB e, logo depois, numa reunião de uma frente de defesa da Baixada Ocidental do Maranhão. Nos bastidores, é voz corrente que dificilmente o parlamentar escapará da mão pesada da lei.

 

Entre os leões

A edição desta semana da revista IstoÉ Dinheiro traz uma matéria especial sobre o que definiu como “os leões do Nordeste”, que vêm a ser empresários arrojados que aproveitaram os bons ventos da economia e ergueram verdadeiros impérios. Entre os seis mostrados como exemplo está o maranhense Ilson Mateus, capitão do Grupo Mateus, que atua como varejista e já abriu 56 lojas em quatro estados. Sobre Ilson Mateus, a revista diz o seguinte: O maranhense Ilson Mateus passou a semana do dia 16 viajando pelo Nordeste para a abertura de duas lojas do seu grupo varejista, o Mateus, que já é uma das maiores redes do país, com 56 unidades e um faturamento de R$ 4,8 bilhões projetado para este ano. Antes de ser um magnata do varejo, Mateus já cruzava o sertão tentando sucesso financeiro. Foi, sem sorte, garimpeiro em Serra Pelada, no Pará, antes de se estabelecer na pequena Balsas, a 833 Km de São Luís. Foi lá que abriu em 1986, a primeira unidade do seu grupo. “Peguei carona na onda da soja, dos anos 1980”, diz. Neste ano, investirá R$ 300 milhões para abrir, pelo menos, mais oito unidades. Vai longe, portanto, o tempo em que o empresário era olhado com ceticismo por lideranças da sua classe, algumas das quais viam nele um aventureiro arrojado, mas sem muito futuro.

 

Embaixador do IDH I

O governador Flávio Dino deu ontem mais um passo no sentido de colocar o Maranhão na mesa de debates dos grandes problemas nacionais: “nomeou” o ativista dominicano Frei Betto “embaixador do Maranhão na luta pela superação dos indicadores sociais”. A “nomeação”  aconteceu ontem, no Teatro Alcione Nazareth, onde o governador participou de uma palestra de Frei Betto na defesa de práticas sociais e políticas públicas, destacando a estrela do projeto de governo em implantação, o programa “Mais IDH”. Frei Betto, não há dúvida, será um parceiro e tanto nessa seara, a começar pelo fato de que o seu nome está associado a seriedade e a credibilidade.

 

Embaixador do IDH II

Em tempo: ao nomear Frei Betto embaixador do Maranhão com o compromisso de ajudá-lo na luta contra a pobreza e a exclusão, o governador Flávio Dino dobrou a responsabilidade do seu governo nesse desafio e jogou uma bomba de grande poder de fogo no colo do secretário de Direitos Humanos e Participação Popular, Francisco Gonçalves. Isso porque Frei Betto é conhecido pela intolerância com os projetos em que se envolve e que não funcionam a contento por culpa de terceiros. No governo Lula, o dominicano assumiu um compromisso nessa linha. Não funcionou e ele deixou o governo praticamente rompido com o presidente, de quem é amigo desde as jornadas sindicais dos anos de chumbo e que foram os primeiros movimentos para derrubar a ditadura.

 

São Luís, 23 de Março de 2015.

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