Flávio Dino e José Sarney se desarmam e conversam por duas horas sobre os riscos que corre a democracia no Brasil

 

Flávio Dino e José Sarney: desarmados para uma conversa de líderes sobre os riscos que ameaçam a democracia no Brasil sob o Governo de Jair Bolsonaro

O governador Flávio Dino (PCdoB) e o ex-presidente José Sarney (MDB) negociaram um armistício, colocaram suas armas nos   coldres para travar uma conversa de políticos civilizados, de estadistas, apesar do fosso político e ideológico que os separa. Ontem, ao longo de duas horas – das 15h às 17h -, em Brasília, o governador expôs ao ex-presidente suas impressões e preocupações sobre a instabilidade política e o risco de uma grave crise institucional que ameaçam a democracia brasileira – restaurada na segunda metade dos anos 80 do século passado   com a Nova República, que nasceu com o fim da ditadura, liderada pelo então presidente José Sarney – e ouviu as impressões dele sobre o cenário preocupante. O encontro foi iniciativa do governador do Maranhão, que já teve a mesma conversa com os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB), com quem esteve há três semanas em São Paulo, e Lula da Silva (PT), a quem visitou há duas semanas, na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba (PR), onde se encontra preso há quase dois anos.

O encontro de Flávio Dino com José Sarney, assim como os que ele manteve com FHC e Lula da Silva, reforça a suspeita de que a democracia brasileira corre risco de ruptura, com agressões frequente ao estado democrático de direito, uma preocupação já manifestada pelos dois líderes em outros momentos recentes. Mais do que os demais ex-presidentes, José Sarney tem grande responsabilidade pela estabilidade política e institucional do País, não apenas por ter sido o presidente que restaurou a democracia, mas também por ser hoje o decano entre os políticos brasileiros, e tem demonstrado fortes preocupações com o cenário em evolução no País. Logo, o fato de Flávio Dino tê-lo procurado para conversar sobre a situação do País obedece a uma lógica inteligente e mostra que o governador é um político bem maior e com horizonte bem mais largo do que se imagina.

Adversários figadais na política maranhense, onde têm travado duros embates nas urnas e fora delas, Flávio Dino e José Sarney têm pouco em comum nos campos político e ideológico. O primeiro tem sólida formação de esquerda, mas sabe que a democracia representativa – seja parlamentarista ou presidencialista -, é o melhor sistema, tanto que já disputou cinco eleições, perdeu duas e venceu três. O segundo tem sólida formação de centro-direita, pouco afeito ao liberalismo implantado pelos governos FHC e agora restaurado, numa versão mais agressiva, pelo Governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), e já disputou 13 eleições, venceu todas.  Mas um ponto os liga: Flávio Dino e José Sarney são democratas de carteirinha, por convicção, tendo ambos construído suas carreiras pelo voto direto e secreto, e que por isso não simpatizam nem um pouco com os riscos de guinadas autoritárias que estão se desenhando no campo político nacional.

“Hoje conversei com o ex-presidente José Sarney sobre quadro nacional. Apresentei a ele a minha avaliação de que a democracia brasileira corre perigo, em face dos graves fatos que estamos assistindo. Já estive com os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique, com a mesma preocupação”, anunciou Flávio Dino na sua conta no twitter, manifestando-se com a já conhecida e desconcertante sinceridade. Mais do que outros líderes da nova geração, Flávio Dino tem sido um crítico implacável da direita reacionária representada pelo presidente Jair Bolsonaro. E o faz com declarações duras, mas todas dentro dos limites da civilidade política. Além disso, tem tido a grandeza política de respeitar as diferenças e demonstrar, com seus gestos, que é um político muito acima da média, que faz Oposição com equilíbrio sem fechar portas para uma relação institucional. José Sarney sempre atuou com o mesmo viés.

Finalmente, vale registrar que a conversa não envolveu o Maranhão, sobre o qual os dois têm visões e posições bem diferentes, e pelo qual continuarão se digladiando no bom e saudável combate das diferenças que alimentam a democracia.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Após veto e ampla negociação, Roberto Costa consegue aprovar lei que dá a diabéticos prioridade em fila

Roberto Costa conversa com o presidente Othelino Neto e com Edivaldo Holanda sobre o projeto poucos antes da votação, que obteve a unanimidade dos votos

Em pouco tempo, maranhenses que sofrem de diabetes terão prioridade no atendimento em órgãos públicos, estabelecimentos comerciais e instituições financeiras, assim como idosos, gestantes e deficientes físicos. Esse direito nasceu ontem com a derrubada, pela Assembleia Legislativa, de veto governamental ao Projeto de Lei Nº 127/2018, de autoria do deputado Roberto Costa (MDB). A decisão do plenário da Alema foi fruto de um acordo negociado pelo parlamentar com o Palácio dos Leões, que acatou os seus argumentos e permitiu que os deputados da base governista apoiassem a derrubada do veto.

O PL Nº 127/2018 tem uma trajetória incomum e demonstra o que é o esforço de um parlamentar na busca de um objetivo saudável. A proposição nasceu do relato que o deputado Roberto Costa ouviu de um cidadão, Emilson Cardoso, numa fila de supermercado. Segundo ele, os portadores de diabetes enfrentam sérios problemas em filas demoradas, por conta da hipoglicemia – queda excessiva do nível de glicemia no sangue -, que em casos extremos leva o diabético a perder os sentidos, sofrer desmaios, situações dramáticas que muitas vezes resultam em acidentes com lesões, que podem levar ao come e às vezes à morte. Emilson Cardoso, que é portador da doença e já sofreu situações complicadas em filas, pediu ao deputado que apresentasse um projeto de lei instituindo atendimento prioritário para essas pessoas em locais de atendimento por meio de fila.

O deputado Roberto Costa apresentou o projeto em 2018 e conseguiu que ele fosse aprovado por unanimidade. O Poder Executivo, porém, o considerou inconstitucional e o governador Flávio Dino o vetou. De volta à Alema para a apreciação do veto, o projeto foi reavaliado, tendo o deputado Roberto Costa realizado uma intensa e ampla negociação com os líderes governistas, que dizente dos argumentos do parlamentar emedebista, obtiveram sinal verde do Palácio dos Leões para a derrubada do veto governamental. O desfecho das negociações aconteceu ontem, em sessão comandada pelo presidente Othelino Neto (PCdoB), durante a qual o veto foi derrubado pela unanimidade dos presentes.

– Conseguimos entrar em consenso com o Governo do Estado e todos os deputados. Desde já, agradeço a sensibilidade de todos por uma causa tão nobre. Quem ganha com tudo isso não sou eu, mas dona Maria, o seu João e o Edmilson, que são portadores de diabetes e enfrentam filas e filas e também necessitam de atendimento prioritário -, declarou Roberto Costa, que é de Oposição, mas cuja atuação parlamentar tem sido marcada por uma política de resultados à base de entendimentos.

 

Boa nova: jornalista Marco D`Eça entra na militância política nas fileiras do Cidadania

Jornalista Marco D`Eça

Uma boa nova na política local: o jornalista Marco Aurélio D`Eça deixou a neutralidade política e se filiou ao Cidadania, partido que tem no Maranhão a senadora Eliziane Gama como sua maior estrela e principal referência. Um dos mais brilhantes jornalistas da sua geração, que iniciou carreira como repórter de Polícia de O Estado, no início dos anos 90 do século passado, para logo em seguida ser remanejado para a cobertura política, Marco D`Eça não tardou em se firmar na área, para se tornar, mais do que o competente repórter investigativo, um analista talentoso e de mão cheia. Inquieto e visionário, foi um dos pioneiros da blogosfera maranhense, tornando seu blog um dos mais bem informados e mais lidos do Maranhão. Marco D`Eça é um jornalista saudavelmente indignado e desassombrado, o que o leva às vezes a tomar partido, colocando-se numa tênue fronteira entre a imparcialidade jornalística e a posição de militante político. Hoje um jornalista ainda impetuoso, mas maduro, certamente saberá preservar o distanciamento que o jornalista deve ter do político. Com sua filiação ao Cidadania, Marco D`Eça engrandece o partido que nasceu Partido Comunista Brasileiro, virou Partido Popular Socialista, liderado durante décadas pelo respeitado médico William Moreira Lima, e hoje tenta se reinventar com nova identidade, que preserva o seu viés de esquerda, ainda que em grau moderado. Que o jornalista de excelência se torne um político excelente.

São Luís, 27 de Junho de 2019.

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