Em 48 horas como governador, Othelino Neto inverteu a lógica da interinidade e ocupou novo espaço na cena política

 

Othelino Neto (D) ´é o novo dado forte na grande renovação liderada por Flávio Dino

Poucos fatos recentes repercutiram tão fortemente no meio político maranhense como a ascensão do presidente da Assembleia Legislativa (Alema), deputado Othelino Neto (PCdoB), ao Governo do Estado, na semana passada. Foram 48 horas de intensa movimentação nos bastidores da Situação e também da Oposição, desenhando um cenário que pode ter transformado o evento no primeiro passo de uma caminhada que poderá desaguar numa eleição majoritária em 2022, para senador ou para governador. Nesse contexto, vale chamar atenção para o fato de que, já como presidente reeleito da Assembleia Legislativa, Othelino Neto representa, com muita expressividade, o amplo e irreversível movimento de renovação na política do Maranhão iniciado com a eleição de Flávio Dino (PCdoB) para o Governo do Estado em 2014. E, no caso, com o diferencial que tem se relevado um político hábil, seguro,  confiável, com posições firmes de grupo e com uma visão larga, não limitadas ao velho e nada produtivo varejo que move a política miúda.

O deputado-presidente Othelino Neto chegou à chefia do Poder Executivo na manhã de quinta-feira (14) para cobrir a licença-relâmpago tirada pelo o governador em exercício, Carlos Brandão (PRB), que por sua vez respondia pelo Governo cobrindo ausência do governador Flávio Dino, que deu um pulo até a Inglaterra para dar uma conferência sobre segurança pública numa escola britânica de polícia. Nada especial diante da lembrança de que vários casos idênticos ocorreram no estado nas últimas três décadas. No início de 1991, o então governador João Alberto (PFL) permitiu a ascensão do então presidente do Poder Legislativo, deputado Carlos Braide (PFL) por três dias. Mais recentemente, no final da primeira década dos anos 2000, a governadora Roseana Sarney (PMDB) viajou, o vice João Alberto (PMDB) assumiu e abriu para o então presidente da AL, deputado Marcelo Tavares (PSB), assumir o Governo por três dias. Em 2014, Roseana Sarney, o vice Washington Oliveira e o presidente do Legislativo, deputado Arnaldo Melo, saíram do estado, permitindo a ascensão então presidente em exercício da Alema, depurado Marcos Caldas (PSDB), ao Executivo. O caso mais recente ocorreu em 2017, quando o governador Flávio Dino e o vice Carlos Brandão saíram, passando interinamente o Governo ao então presidente da Alema, deputado Humberto Coutinho (PDT), que foi governador por três dias.

Todos esses eventos foram meramente formais, sem maiores repercussões, a começar pelo fato de que os presidentes da Alema que assumiram o Governo nesse período viveram as horas que comandaram o Estado como os momentos mais importantes das suas carreiras, já que nenhum alimentou perspectiva de lá chegar pelo voto direto. A passagem do deputado Othelino Neto pelo Palácio dos Leões produziu uma realidade rigorosamente inversa. Político jovem, em plena ascensão, vivenciou as horas da experiência de ser governador como uma possibilidade real de ali chegar pelo sagrado caminho das urnas. Nenhum devaneio, mas um sonho que pode virar objetivo e que, bem planejado, venha a se tornar realidade. Por que não? As pistas nessa direção são muito claras, carecendo de ousadia com pés no chão, com avaliação de fria, considerando taxas de risco e todos os prós e contras que movem a política.

O presidente Othelino Neto é um político com pouco mais de 40 anos já com assento na távola das decisões maiores do Maranhão como presidente da Alema. Essa caminhada tem muito a ver com apoio do governador Flávio Dino e da aliança que lidera, mas é fruto também da sua habilidade política, que o levou a abrir caminhos e se colocar no lugar certo (1ª vice-presidência da Alema em 2015) quando poucos apostavam no seu cacife. Em seguida, com a morte de Humberto Coutinho, assumiu o comando do Poder na esteira de um excelente desempenho demonstrado nos vários momentos em que o presidente foi obrigado a se afastar. Depois, com a morte do presidente, assumiu o comando da Casa com a firmeza e determinação de um político maduro, que conhece o poder e seus limites; reelegeu-se deputado – foi o quarto mais votado -, ganhou novo mandato de presidente, e quatro meses depois antecipou a eleição e se reelegeu, garantindo permanência no cargo até dezembro de 2022. Uma sequência de fatos dessa natureza, em duas Assembleias muito diferentes, nunca é protagonizada por um amador.

Com essa trajetória, o deputado-presidente Othelino Neto pode ter se cacifado para vislumbrar um mandato majoritário na aliança dinista. Pode vir a ser pré-candidato a governador, como o são hoje o vice Carlos Brandão e o deputado federal Rubens Jr. (PCdoB), ou a senador – até o momento nenhum nome desponta, a não ser o do próprio governador Flávio Dino, caso não embarque numa candidatura presidencial. Se vier a brigar pelo Palácio dos Leões, terá a oportunidade de intensificar a renovação iniciada por Flávio Dino. Se o caminho for o Senado, poderá completar a renovação iniciada com Weverton  Rocha  (PDT) e Eliziane Gama (Cidadania).

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Agora no PSDB, Ricardo Murad mostra que nada o liga a partidos e leva os tucanos para a base do sarneysismo

Ricardo Murad agora o PSDB: pouca importância ideológica ou doutrinária

O ingresso do ex-deputado Ricardo Murad no PSDB – já é presidente do Diretório do partido em Coroatá -, mais que uma simples mudança partidária, é o exemplo mais acabado de como um político pode desmontar o argumento de que partido político no Brasil é coisa séria. Ricardo Murad chega ao ninho dos tucanos depois de ter pertencido à Arena, à Frente Liberal, ao PFL, ao PDS, PMDB, ao PDT, ao PSB e ao PTN, cobrindo um arco ideológico que vai da direita conservadora à esquerda moderada, estacionando, finalmente, no centro tucano, que levando em contas as posições tucanas maranhenses, pode ser definida como centro-direita.

Com uma personalidade muito forte e um estilo tratoral, do tipo “sai do meio senão passo por cima”, Ricardo Murad nunca deu a menor importância a qualquer dos três pilares que sustenta a ideia de partido político: ideologia, doutrina e programa. Para ele, partido é pura e simplesmente o suporte legendário que garante acesso a mandatos e legitima as ações de detentores dos mesmos, ou seja, presidente, senador, deputado federal, governador, deputado estadual, prefeito e vereador. No mais, para nada servem, tanto que chegou a ser cômico quando ele se travestiu de socialista e abriu a “Cantina Socialista”, no Centro de São Luís. Frequentadores por ele convidados falavam de tudo, menos de socialista. E como não fazia sentido, a “Cantina Socialista” foi fechada em pouco tempo. Quando desembarcou no PDT, logo nos primeiros movimentos percebeu no partido de Jackson Lago não havia espaço para o seu “quero, mando, posso”, cuidando de zarpar dali o mais rapidamente possível.

Nas contínuas migrações partidárias de Ricardo Murad, chama a atenção que ele leva sempre as marcas do sarneysismo, ainda que vez por outra tenha se estranhado com o seu ninguém de origem, e quando pode, pende para o lado do Grupo Sarney. Em 2002, então no PSB, disputou o Governo do Estado com José Reinaldo (PFL), que ficou em 1º lugar, Jackson Lago (PDT), em 2º e ele ficou em terceiro. Só que estava inelegível e a coligação sarneysista o denunciou pedindo a anulação dos seus votos. A situação ficou assim: se ele recorresse, o processo rolaria, seus votos permaneceriam temporariamente válidos, e haveria segundo turno, com possibilidade concreta de Jackson Lago ser eleito; se não recorresse, reconheceria a invalidez dos seus votos e José Reinaldo venceria a eleição no 1º turno. Ele não recorreu e deu a eleição de presente para José Reinaldo.

Outro dado a ser anotado é que ao ingressar no PSDB, Ricardo Murad leva definitivamente o PSDB para a esfera do Grupo Sarney, confirmando a suspeita de que o senador Roberto Rocha já vinha querendo fazer isso há tempos e não encontrava o caminho.

 

MDB dá sinais de pacificação interna e busca caminhos para sair-se bem nas eleições municipais

Roberto Costa lidera mudança, mas conversa com Roseana Sarney

Começa a ficar claro que a mudanças que está em curso dentro do MDB maranhenses, com o ex-governador João Alberto comandando a agremiação, mas com a Ala Jovem dando as cartas no plano político, não vai deixar sequelas na relação dos novos comandantes emedebistas com os principais medalhões do partido. A ex-governadora Roseana Sarney, por exemplo, já teria assimilado integralmente a mudança, sentindo-se aliviada – depois da chateação -, por não ter nas costas o fardo muitas e complicadas responsabilidades de um chefe partidário. Tanto que, segundo uma fonte próxima dela, Roseana Sarney tem conversado frequentemente com o deputado Roberto Costa, que lidera o movimento da virada no MDB, respondendo a consultas ou emitindo opinião sobre esse ou aquele assunto, mas sem interferir diretamente e impor sua vontade ou seu ponto de vista em outros tempos. São sinais de que o partido está internamente pacificado e agora busca renascer forte nas eleições municipais de 2020.

São Luís, 19 de Maio de 2019.

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