As marchas e contramarchas partidárias e o intenso, às vezes frenético, movimento de aspirantes em busca de espaço no tabuleiro da disputa pelo Governo do Maranhão e outros na luta pela sobrevivência pela via da reeleição transformaram 2021 um ano politicamente maiúsculo, indicando que os primeiros 10 meses de 2022, que começa no primeiro segundo de amanhã em meio às festas da virada, serão muito mais agitados no tabuleiro da luta pelo poder. Nos últimos 12 meses, o ambiente político maranhense foi marcado por movimentos na maioria dos quais 15 personalidades fortes, com destaque evidente para o governador Flávio Dino (PSB), que protagonizou a cena como gestor e como líder político, apesar de todas as pressões – explícitas e subterrâneas – destinadas a minar sua credibilidade, e fecha o ano com sua estatura intacta e como líder inconteste da aliança partidária que construiu e manteve por sete anos. Outros exemplos, como o vice-governador Carlos Brandão (PSDB), o senador Weverton Rocha (PDT) e o ex-prefeito de São Luís Edivaldo Holanda Jr. (PSD) turbinaram a vida política maranhense com seus projetos de candidatura ao Palácio dos Leões. Esse cenário propiciou casos como crescimento político do deputado Othelino Neto (PCdoB), presidente da Assembleia Legislativa, o ressurgimento da ex-governadora Roseana Sarney (MDB), e os passos do senador Roberto Rocha (sem partido) como voz da oposição. Com base nas observações consolidadas nas mais de 300 edições do período, a Coluna listou 15 personalidades que pontificaram no tabuleiro político maranhense ao longo do ano que termina hoje.
Flávio Dino – O governador do Maranhão foi, de longe, o personagem mais destacado na crena política maranhense. Primeiro por manter inalterado o intenso ritmo do seu Governo, dando continuidade aos programas e projetos lançados ainda nos primeiros anos, realizando uma gestão sustentada pela eficiência e pela coerência, a exemplo do Escola Digna, com mais de 1,2 mil unidades com o mesmo padrão, caso raro na história administrativa do Maranhão. No campo político propriamente dito, Flávio Dino se manteve no cenário nacional como uma das vozes mais fortes e equilibradas das esquerdas e da oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). No Maranhão, vem conduzindo com habilidade e firmeza o processo de escolha do candidato da aliança que lidera à sua sucessão, tendo manifestado preferência pelo projeto de candidatura do vice-governador Carlos Brandão, sem, no entanto, gerar situação de conflito, em que pesem as tensões comuns nesse tipo de disputa. Entrará em 2022 para governar mais três meses, para iniciar, na condição de favorito, a campanha por uma vaga no Senado.
Carlos Brandão – O vice-governador fecha 2021 como pré-candidato a governador numa situação especial, que pode tornar seu projeto viável: ele assumirá o Governo do Estado no dia 31 de Março com a renúncia do governador Flávio Dino, o que lhe dará uma gigantesca massa de poder político e a condição de candidato à reeleição. Ao longo do ano, Carlos Brandão conciliou, com os cuidados necessários, as funções de vice-governador com uma agenda intensa de ações de pré-campanha, como visitas a municípios e rodadas diárias de conversas com personalidades do mundo político e da sociedade organizada. Desembarca em 2022 como pré-candidato com elevado poder de fogo e o aval do líder maior da aliança governista.
Weverton Rocha – O senador Weverton Rocha foi um dos políticos maranhense com maior visibilidade ao longo de 2021. Atuou fortemente no Senado na seara legislativa, emplacando projetos de lei como autor, e como relator de projetos importantes, e outros controversos. O seu tempo maior, porém, foi dedicado ao seu projeto de candidatura, cumprindo uma programação intensa de visitas ao interior, tendo como ponto culminante a realização do projeto pré-eleitoral “Maranhão mais feliz”, grandes concentrações populares em municípios estratégicos, imprimindo a elas um clima efusivo de campanha eleitoral. Fecha o ano liderando todas as pesquisas sobre intenção de voto e dando a impressão de que seu projeto é irreversível.
Roseana Sarney – Após dois anos distanciada da seara política, período que tentou viver como avó e dona de casa, Roseana Sarney resolveu suspender a aposentadoria e voltar ao tabuleiro da política, primeiro como presidente do MDB maranhense e depois ensaiando uma candidatura ao Governo, que não vingou. Decidiu disputar uma cadeira na Câmara Federal, numa estratégia de obter boa votação e assim aumentar o espaço do MDB na bancada federal. O diferencial é que ela apareceu como líder em todas as pesquisas sobre sucessão estadual, porém, tendo na outra ponta da linha uma elevada rejeição, motivo da decisão de não se candidatar aos Leões. Chegará em 22 como a aliada que todo candidato a governador gostaria de ter.
Edivaldo Holanda Jr. – O ex-prefeito de São Luís surpreendeu. Três meses depois de passar o cargo após oito anos de trabalho intenso, ele cancelou o período de descanso e entrou forte na ciranda da corrida eleitoral, para logo em seguida ocupar espaço considerável como pré-candidato a governador pelo PSD. Sem muito alarde, Edivaldo Jr. tem incursionado pelo interior numa maratona que tem por objetivo se fazer conhecido. Fecha 2021 com a pré-candidatura consolidada e na terceira posição na preferência do eleitorado, segundo pesquisas mais recentes. Chega a 2022 posicionado na briga pelo poder.
Eduardo Braide – O prefeito de São Luís fecha seu primeiro ano no cargo com uma gestão bem avaliada, apesar dos problemas que a Capital enfrenta. Fez a diferença na guerra contra o coronavírus, enfrentou bem uma greve nos transportes coletivos, e vem realizando uma bem organizada operação “tapa-buraco” e anunciou a retomada das aulas nas escolas municipais. Líder do Podemos no Maranhão, Eduardo Braide usa toda sua habilidade política para se posicionar na corrida sucessória estadual, provavelmente levando em conta de que pode ser um dos nomes fortes para o Governo do Estado em 2026. Entra em 2022 em alta como gestor e estável como político.
Roberto Rocha – O senador se consolidou como a principal voz do presidente Jair Bolsonaro no estado. Declarado sem partido, mas ainda filiado ao PSDB, Roberto Rocha ocupou espaço possível com atividades no Senado, obtendo avanços ao projeto do ZPE e atuando como relator de projetos complexos como a Reforma Tributária. Incluído em todas as pesquisas sobre a corrida ao Governo do Estado, alcançando posição intermediária, o senador até agora não definiu seu futuro partidário nem revelou se será candidato ao Governo, à reeleição para o Senado ou a deputado federal. Nas últimas semanas, realizou o seminário “Descomplica”, com o objetivo de tornar mais simples o Sistema Tributário. Entra em 2022 como uma incógnita.
Othelino Neto – O presidente da Assembleia Legislativa encerra 2021 politicamente maior. Primeiro pelo saldo da sua atuação como chefe do Poder Legislativo, que garantiu estabilidade na relação das forças que compõem o parlamento, e, mais importante, manteve relações produtivas com o Poder Executivo, em afinada sintonia política e institucional com o governador Flávio Dino. Politicamente, Othelino Neto optou por apoiar a pré-candidatura do senador Weverton Rocha, contrariando o seu partido, o PCdoB, que declarou apoio a Carlos Brandão. Candidato declarado à reeleição, Othelino Neto desembarca em 2022 com nome forte para candidato a vice-governador no bojo de um grande acordo na base governista.
Márcio Jerry – Mesmo dedicado às ações da Secretaria das Cidades, o deputado federal licenciado Márcio Jerry não descuida um só dia da sua condição de presidente estadual do PCdoB e, nesse posto, permanecendo como o principal assessor e conselheiro político do governador Flávio Dino. No comando do PCdoB, Márcio Jerry atuou para evitar que o partido sucumbisse com a migração do governador Flávio Dino para o PSB. Poderia seguir o governador na migração, assumindo uma posição confortável, mas preferiu permanecer no PCdoB e encarar o desafio de levar o partido a um bom desempenho nas urnas. Chega em 2022 como forte candidato à reeleição para a Câmara Federal.
Eliziane Gama – A senadora teve um 2021 de altos e baixos. Saiu de uma posição ativa, mas discreta, para se transformar numa das estrelas da CPI da Covid, com atuação intensa, correta e elogiada. Em seguida, na condição de evangélica, aceitou a relatoria da indicação do ex-ministro da Justiça André Mendonça para o STF, o candidato “terrivelmente evangélico” do presidente Jair Bolsonaro. Apesar do malabarismo verbal que usou para justificar sua escolha como relatora, a senadora não conseguiu esconder o viés político-religioso da sua atuação, tendo colocado em xeque o laicismo das instituições brasileiras cravado na Constituição. No campo político estadual, declarou apoio à pré-candidatura do senador Weverton Rocha, causando um “racha” no Cidadania, cuja direção declarou apoio a Carlos Brandão. Chega em 2022 com o desafio de virar o jogo.
André Fufuca – O jovem deputado federal fecha 2021 com mais um feito político surpreendente, depois de ter sido 1º vice e presidente da Câmara Federal três anos atrás. Ele, que já presidia o braço do seu partido, o PP, no Maranhão, e tendo alcançado também a vice-presidência nacional, assumiu a presidência temporária da agremiação com o afastamento do presidente titular, senador Ciro Nogueira, para assumir a Casa Civil do Governo Bolsonaro. Na presidência nacional do PP, André Fufuca passou a integrar, efetivamente, a cúpula do Centrão, a força partidária que domina o Congresso Nacional. Desembarca em 2022 politicamente forte.
Roberto Costa – O deputado estadual Roberto Costa consolidou sua atuação como articulador ao longo de 2021. Vice-presidente do MDB, esteve na linha de frente das articulações para uma tomada de posição do partido em relação à sucessão estadual. Seus movimentos contribuíram decisivamente para a abertura de um efetivo canal de diálogo do partido e do Grupo Sarney com o governador Flávio Dino e seus aliados, resultando na decisão do MDB de não lançar candidato a senador. A atuação de Roberto Costa também foi forte nos bastidores da Assembleia Legislativa, onde auxiliou o presidente Othelino Neto a debelar focos de crise. Chega em 2022 construindo bases para o projeto de reeleição.
Duarte Jr. – Ao longo de 2021, o deputado Duarte Jr. atuou intensamente em três frentes, acionando fortemente seu imenso contingente de apoiadores nas redes sociais. Primeira: foi uma das poucas e fortes vozes de oposição ao governo do prefeito Eduardo Braide, com manifestações quase diárias de críticas e cobranças à gestão municipal. Segundo: afinou ainda mais sua sintonia política com o governador Flávio Dino ao ser o primeiro deputado estadual a se filiar ao PSB. E terceiro, assumiu a condição de linha de frente da pré-campanha do vice-governador Carlos Brandão. Entra em 2022 como nome forte para a Câmara Federal.
Lourival Serejo – Fora da seara político-partidária, o desembargador-presidente do Tribunal de Justiça fecha 2021 como um dos mais austeros e centrados presidentes em tempos recentes. Sem muita simpatia por holofotes e com mentalidade de escritor produtivo, o desembargador Lourival Serejo manteve o Poder Judiciário longe de controvérsias, mas chamou a atenção da sociedade quando foi necessário, como no caso do escandaloso esqueleto do Fórum de Imperatriz, que projetado para ser construído com R$ 40 milhões, já consumiu R$ 70 milhões e ainda precisa de R$ 140 milhões para ser concluído. Sem fazer politicagem, tem sido um político hábil no comando do Poder Judiciário.
Eduardo Nicolau – O procurador geral de Justiça impôs, ao longo do ano, um estilo franco e eficiente no comando do Ministério Público do Maranhão. Além da gestão no campo administrativo, Eduardo Nicolau garantiu as condições possíveis para que todas as ações de promotorias e grupos especiais – como o Gaeco, por exemplo – atuassem com eficiência e segurança. Recentemente, comandou a deflagração de ações destinadas ao combate à corrupção na esfera pública. Pouco afeito à guerra de grupos dentro do MPE, tem contribuído para que a instituição viva um período de normalidade nas relações internas.
PONTO & CONTRAPONTO
Feliz 2022
A Coluna deseja aos seus leitores e a todos os maranhenses um Ano Novo bem melhor os anos recentes. E torce para que cada cidadão reflita com maturidade e bom senso no ato de escolher seus representantes nas eleições do ano que chega. Lembra que o voto, que no Brasil tem sua integridade garantida pela urna eletrônica, é a base do sistema democrático, que só terá vida longa se as escolhas forem embasadas nos princípios que regem a democracia. Se cada um fizer a sua parte como democrata, o obscurantismo que ameaça o Brasil será pulverizado nas urnas. E assim o Brasil continuará sua jornada para ser o País rico, fraterno e solidário que todos desejam.
São Luís, 31 de Dezembro de 2021.