A duas semanas das eleições municipais, no momento em que candidatos a prefeito e a vereador e os grupos que representam se digladiam no esforço para atrair as atenções de um eleitorado insatisfeito e arisco, é possível antever, com alguma segurança, que o resultado que emergirá das urnas já trará o rascunho de um novo mapa político do Maranhão. Nele, três forças – e não mais duas como antes – e alguns extratos independentes ganharão forma e espaço para iniciar novo momento político no estado. A primeira força nascerá da consolidação do movimento liderado pelo governador Flávio Dino, que tem o PCdoB como carro-chefe; a segunda será formada pelo desempenho eleitoral nas urnas de 2016 do que sobrou do Grupo Sarney em 2014, tendo como matriz o PMDB e o PV; e a terceira, ainda embrionária, mas já ganhando forma, será o movimento comandado pelo senador Roberto Rocha (PSB). Fora extratos independentes, como a ultraesquerda, por exemplo, dificilmente o mapa político a sair das urnas terá perfil diferente do rascunho a ser traçado com o peso de cada um dessas três forças.
A aposta mais alta está sendo feita pelo governador Flávio Dino e, por isso, se triunfar nas urnas, terá o troféu maior, que é o de passar a liderar uma força política gigantesca, com mais de uma centena de prefeitos, muitos deles eleitos pelo PCdoB. Foi esse objetivo que turbinou a intensa e surpreendente movimentação do seu principal lugar-tenente, o jornalista Márcio Jerry, que acumulou, com disposição invejável, rara noção de contexto e carta-branca, os postos-chaves de presidente estadual do PCdoB e secretário de Estado de Articulação Política e Comunicação. Durante os últimos 18 meses, Dino e seu principal auxiliar alinhavaram uma ampla malha partidária respeitável, dando verniz comunista a grupos de diferentes cores políticas nas mais diversas regiões do estado. Isso deu vida a uma espécie de “onda vermelha”, que só na Ilha de Upaon-açu poderá comandar Paço do Lumiar com Domingos Dutra e Raposa com Talita Laci, ambos do PCdoB, ter influência relativa em São José de Ribamar e dividir o poder em São Luís. No meio político, a expectativa é a de que o governador Flávio Dino saia das urnas, se não com “força total”, forte o suficiente para dar seguimento ao seu projeto de poder em médio prazo, num movimento que certamente incluirá o PDT, que também deve sair mais musculoso dessas eleições, principalmente se vencer em São Luís com Edivaldo Jr. e em Imperatriz com Rosângela Curado.
Como uma espécie de contrapeso nascido das entranhas do movimento liderado por Flávio Dino, ganha forma uma força comandada pelo senador Roberto Rocha, que tem o PSB, mesmo dividido, como fator de agregação. Eleito na esteira da campanha puxada por Dino, Rocha não se conformou com o papel de chefe de um “puxadinho” do dinismo submetido ao comando de Márcio Jerry, e com ousadia e coragem desgarrou-se para seguir o seu próprio caminho. Com forte senso de oportunidade, vem emprestando seu apoio a segmentos relegados a plano secundário no grupo do governador, como o deputado estadual Wellington do Curso (PP) candidato forte à prefeito de em São Luís e em cuja chapa emplacou o vereador Roberto Rocha Jr. (PSB), e adversários figadais de Dino, como o ex-prefeito e candidato viável em Imperatriz, Ildon Marques, um empresário que embarcou no socialismo moderadíssimo do PSB. Não são muitos os que apostam que as urnas deem a Rocha uma musculatura que lhe garanta poder de fogo para enfrentar o governador e seu grupo, mas são poucos os que duvidam de que os canais que ele está abrindo nessa corrida eleitoral poderão ligá-lo a grupos de oposição ou insatisfeitos da base do governo. Com a desenvoltura que vem demonstrando, Rocha poderá atrair para o seu projeto a parceria dos mais fortes segmentos do Grupo Sarney, o que lhe dará substância política e eleitoral capaz de surpreender. O que poucos duvidam é que o senador vai assumir o controle integral do PSB no Maranhão e será peça decisiva no xadrez a ser jogado para 2018.
A grande pergunta que se faz hoje nos bastidores políticos é: como o Grupo Sarney sairá das eleições municipais? Pelas informações que correm nos bastidores da campanha, pode estar enganado tanto quem canta que ele sairá das urnas mais estraçalhado do que em 2014, como quem aposta que emergirá fortalecido e revigorado. Ninguém, porém, duvida de que ele sairá vivo, principalmente se o deputado Roberto Costa (PMDB) ganhar a Bacabal, Filuca Mendes continue com a de Pinheiro, Magno Bacelar voltar para a de Chapadinha, Chico Coelho – se confirmar a candidatura – vença de novo em Balsas e Ildon Marques reassuma o comando de Imperatriz. Além de espaços que vier a conquistar nas urnas, o Grupo Sarney tem agora o argumento politicamente fortíssimo de que está de volta ao poder com o PMDB dando as cartas no Palácio do Planalto sob as ordens do presidente Michel Temer. Não há, portanto, como mensurar as possibilidades do Grupo nesta corrida eleitoral. Nem esquecer que os caciques do PMDB e do PV têm experiência de sobra para, mesmo numa situação adversa, acomodar as suas forças para movimentá-las no momento certo.
Em resumo: o rascunho do mapa político que será formado por três forças a partir de outubro, estas lideradas pelo governador Flávio Dino, pelo senador Roberto Rocha e pela ex-governadora Roseana Sarney, que responde pelo comando do Grupo. E são essas forças que confirmar ou refazer o desenho do mapa político do Maranhão em 2018.
PONTO & CONTRAPONTO
Pesquisa Escutec ajusta a guerra de percentuais
A pesquisa Escutec publicada na edição de fim de semana de O Estado veio para colocar um pouco de ordem nessa seara onde transitam fontes de informação tão divergentes, tendo o Data M como o pomo de todas as discórdias nos bastidores da campanha. Os 35,8% de intenção de voto para o prefeito Edivaldo Jr. (PDT) parece um patamar razoável e coerente, à medida que sua campanha tem grande volume, está bem organizada, apresenta um discurso coerente e faz um apelo justo por mais um mandato. Os 26,3% encontrados em favor de Wellington do Curso (PP) parecem também um percentual ajustado ao seu desempenho de quem entrou para ocupar um espaço político pensando em passos futuros e acabou no epicentro da disputa como a grande ameaça ao favorito. Não há ainda como explicar a queda livre de Eliziane Gama (PPS), por isso ainda é cedo para se justificar os seus 11,5% na pesquisa Escutec.
O dado que parece consolidado até aqui – sujeito a mudança, é claro – é que haverá uma segunda volta, como dizem os portugueses. E nela Edivaldo Jr. leva a melhor com dificuldades sobre Wellington do Curso e com larga vantagem sobre Eliziane Gama.
Os 4.6% de Eduardo Braide (PMN), os 3,5% de Fábio Câmara, os 2,9% de Rose Sales (PMB), os 0,5% de Zéluiz Lago (PPL), os 0,5% de Cláudia Durans (PSTU) e os 0,4% de Valdeny Barros (PSOL), que nenhum deles aceita, estão dentro de todas as pesquisas.
Candidatos apostam nos debates
Pode ser produção não articulada de um clima pelos candidatos, mas o fato é que Edivaldo Jr., Wellington do Curso, Eliziane Gama, Fábio Câmara e Eduardo Braide estão apostando todas as suas fichas nos debates da TV Difusora no dia 27 e da TV Mirante no dia 29. Os quatro primeiros querem fazer bonito no primeiro debate, na TV Difusora, no dia 27, que não contará com a participação de Eduardo Braide. Já para os cinco, o debate do dia 29 na TV Mirante, que abriu espaço para Braide, será decisivo e pode produzir alterações no cenário atual. Eliziane Gama, por exemplo, que confia no seu desempenho discursivo, acha que pode virar o jogo e colocar Wellington do Curso. O mesmo pensa Fábio Câmara, para quem o confronto verbal entre candidatos vai expor “a verdade”. Wellington sabe que será o alvo preferencial dos demais candidatos, mas aliados seus dizem que ele está se preparando para oque der e vier. Mesmo estando convidado para participar apenas do debate da TV Mirante, Eduardo Braide é o candidato mais animado como esse encontro. Em conversas informais, vem sugerindo a eleitores que não se decidam antes do debate. Garante que a composição do segundo turno não está definida ainda. Vale a pena aguardar.
São Luís, 17 de Setembro de 2016.