Julgamento de Lula gera forte expectativa e resultado pode ter forte influência na corrida pelos Leões

 

Flávio Dino defende Lula, enquanto Roseana Sarney e Roberto Rocha o querem fora da corrida eleitoral
Flávio Dino defende que Lula seja candidato a presidente, enquanto Roseana Sarney e Roberto Rocha seguem seus partidos e querem o petista fora da corrida eleitoral

O julgamento que dirá, na próxima quarta-feira (24), se o ex-presidente Lula da Silva (PT) continuará condenado e, nessa condição, inelegível, ou absolvido, podendo assim ser candidato a voltar ao Palácio do Planalto na eleição presidencial de outubro, terá forte impacto no tabuleiro em que se move a política maranhense, e por isso vem mergulhando em tensa contagem regressiva as três forças políticas que se batem pelo poder no Maranhão. O governador Flávio Dino (PCdoB) e a maior parte dos chefes dos partidos que formam a aliança que lidera torcem fortemente para que o ex-presidente se livre da condenação e comande um grande movimento das esquerdas rumo às urnas. A ex-governadora Roseana Sarney (MDB) faz a torcida em sentido contrário, preferindo agora que o ex-aliado Lula da Silva permaneça condenado e impedido de disputar a cadeira Nº 1 do Palácio do Planalto. E em outro plano, a “terceira via”, que tenta ganhar forma sob a direção do senador Roberto Rocha (PSDB), também faz carga contra o ex-presidente, torcendo para vê-lo fora da corrida eleitoral. Flávio Dino, Roseana Sarney e Roberto Rocha sabem perfeitamente o que significará a exclusão ou a participação de Lula no processo eleitoral, avaliando o que ganharão e o que deixarão de ganhar dependendo do resultado a ser definido pela Corte do Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

Hoje um dos mais importantes e destacados nomes da esquerda no Brasil, o governador Flávio Dino está na linha de frente do movimento político empenhado na defesa do ex-presidente, apontando-o como vítima de um de uma “armação” destinada a “completar o golpe” iniciado com a derrubada da presidente Dilma Rousseff (PT) via impeachment. Politicamente, Dino conta com a voz de Lula a favor da sua candidatura à reeleição, que terá muito mais impacto se falar na condição de candidato a presidente. Ao contrário do pleito passado, quando Lula e Dilma apoiaram o candidato sarneysista Lobão Filho (PMDB), agora, após ter sido abandonado pela ex-governadora, o ex-presidente se aliou ao governador maranhense e tem afirmado que, seja qual for o resultado do julgamento, se colocará ao seu lado na campanha eleitoral. Mesmo favorito em todas as pesquisas feitas para apurar a corrida ao Palácio dos Leões, Flávio Dino quer Lula ao seu lado nos palanques na disputa pelo Governo do Estado. Lula tem mostrado o mesmo interesse, apontando o governador como um nome de peso nacional e que fortalece o seu projeto. Nesse contexto, a absolvição de Lula será boa para o governador, ao mesmo temo em que a condenação definitiva também fortalecerá o discurso de campanha.

A ex-governadora Roseana Sarney se movimenta na contramão da absolvição de Lula. Voz declarada pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff que ajudou a consumar articulando dentro do seu partido, a candidata do (MDB) atua agora, de maneira bem mais discreta, para que a condenação do ex-presidente seja mantida e ele seja, por via de desdobramento, impedido de tentar voltar ao Palácio do Planalto. Afinada com presidente Michel Temer (MDB), que vai mover céu e terra para impedir que Lula e o PT voltem ao comando do País, Roseana Sarney aposta suas fichas na confirmação da condenação do ex-presidente, para assim evitar que o líder petista faça dobradinha com o governador comunista no Maranhão. A ex-governadora sabe que não tem como impedir o envolvimento de Lula na campanha de Flávio Dino. Mas entre ele participar como candidato a presidente e como condenado e sem ser candidato, ela prefere, claro, o segundo cenário. Daí a torcida – discreta, mas intensa – pela confirmação da sentença do juiz Sérgio Moro mandando o líder petista para a cadeia.

O grupo que está sendo articulado pelo senador Roberto Rocha expressa a posição do PSDB nacional, que não quer nem ouvir falar na possibilidade de Lula vir a ser absolvido e liberado para ser candidato a presidente. O senador tucano vai ajustar seu discurso de campanha de acordo com a decisão dos desembargadores federais da 4ª Região, que se reunirão quarta-feira em Porto Alegre. Roberto sabe que os chefes do tucanato torcem pela confirmação da inelegibilidade do ex-presidente, mas sabe também essa opção pode fortalecer o cacife já robusto do governador Flávio Dino.

O fato é que o desfecho do julgamento do recurso de Lula contra a condenação que lhe foi imposta pelo juiz Sérgio Moro está sendo esperado como fator, se não decisivo, muito influente no cenário em que se desenrolará a disputa pelo poder no Maranhão.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Com apoio de Othelino Neto, Frente de apoio a Lula ganha versão parlamentar

Observado por Zé Inácio, Othelino Neto assina termo de adesão à Frente
Observado por Zé Inácio, Othelino Neto assina termo de adesão à Frente por Lula

Ao mesmo tempo em que os candidatos a governador já assumidos e em fase de pré-campanha estão mergulhados em expectativa em relação ao futuro de Lula da Silva, os partidos de esquerda, notadamente PT e PCdoB, mobilizam seus parlamentares, seus braços sindicais e aliados e movimentos sociais vinculados a essas agremiações, profissionais, artistas, intelectuais e militantes na Frente em Defesa da Democracia e pelo Direito de Lula ser Candidato. A Frente foi lançada no dia 11, em expressivo ato na Praia Grande, e ganhou sua versão parlamentar na sexta-feira, em ato organizado pelo deputado Zé Inácio (PT) e que ganhou o aval do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Othelino Neto (PCdoB).

Realizado na Assembleia Legislativa, o ato deu origem à Frente Parlamentar em Defesa da Democracia e do Direito de Lula ser Candidato. Além da adesão do presidente Othelino Neto, a criação da Frente Parlamentar foi reforçada pela adesão dos deputados Francisca Primo (PCdoB) e Toca Serra (PTC) e de personalidades políticas importantes como a ex-deputada Helena Heluy (PT), que se manifestaram a favor do direito de Lula ser candidato a presidente, considerando que sua exclusão do processo eleitoral é um golpe contra a democracia.

O ponto alto da reunião de sexta-feira a posição do deputado Othelino Neto, que além de concordar com a reunião fosse realizada no Palácio Manoel Beckman, fez questão de presidi-la, aderiu formalmente ao movimento: “Nós estamos aderindo a esse movimento pela democracia e pelo direito de Lula ser candidato. Nós entendemos que o Brasil precisa ter as opções, porque tirar de Lula o direito de ser candidato é um golpe na democracia. A bancada do PCdoB está solidária a esse grande movimento nacional, denunciando para o Brasil e para o mundo essa tentativa de golpear a democracia retirando o direito de Lula ser candidato a presidente”.

E justificou a adesão com o argumento de que a condenação do ex-presidente é frágil e sem base legal: “São juristas renomados que dizem que não pode haver condenação sem provas, mas acredito no Judiciário. O Lula não pode ser impedido de concorrer. Quem vai dizer isso é Sua Excelência, o povo. Mas as elites brasileiras são profissionais. Depois da cassação da Dilma sem provas, querem fazer o serviço completo retirando Lula da disputa, ferindo a democracia”.

O deputado Zé Inácio acredita que quando os deputados retornarem do recesso legislativo, no início de fevereiro, vários deles aderirão à Frente, o que na sua avaliação reforçará o movimento, dando-lhe uma abrangência bem maior. O parlamentar petista espera a adesão dos parlamentares de esquerda e de integrantes da base de apoio do governador Flávio Dino.

 

É dura a disputa entre Eliziane Gama e José Reinaldo pela vaga de candidato ao Senado

Eliziane Gama e José Reinaldo disoutam a segunda vaga de candidato a senador na chapa de Flávio Dino
Eliziane Gama e José Reinaldo disputam a segunda vaga de candidato a senador na chapa liderada por Flávio Dino

Ganha peso político a escolha do nome para a segunda vaga de senador na chapa do governador Flávio Dino. De um lado está a deputada Eliziane Gama (PPS), que realiza um excelente mandato na Câmara Federal e tem o apoio do PDT por meio do prefeito de São Luís, Edivaldo Jr., que é hoje a voz  mais influente do partido. Do outro está o experimentado e politicamente respeitado José Reinaldo Tavares (que está migrando do PSB para o DEM), que tem como suporte o prefeito de Tuntum e presidente da Federação dos Municípios do Maranhão (Famem), Cleomar Tema (PSB) e um expressivo número de prefeitos.

É uma guerra sem trégua que está sendo travado nos bastidores políticos do Governo, tendo o governador Flávio Dino, que vem sendo pressionado pelos dois grupos, como avalista do processo de escolha. Há quem diga que o governador tem maior simpatia pela candidatura do ex-governador, mas não aceita as posições que ele vem tomando no Congresso Nacional, embora dê apoio a todos os pleitos do Governo do Maranhão em Brasília. Ao mesmo tempo, o governador enxerga na deputada Eliziane Gama uma aliada firme com um potencial eleitoral excepcional. Dentro do PDT já se dá como certa a escolha de Eliziane Gama para fazer dobradinha com o deputado federal Weverton Rocha, líder do partido. Já nos bastidores do movimento dos prefeitos é forte a crença de que no final o governador Flávio Dino escolherá o deputado José Reinaldo.

Traduzindo essa disputa para a realidade: muita água ainda vai rolar até a batida do martelo.

São Luís, 21 de Janeiro de 2018.

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