Fim do pesadelo? Então mãos à obra

“O pesadelo acabou!” A frase, dita em tom de sentença em meio a muitas outras

Edivaldo Holanda prevê bom tempo para…
Edivaldo Holanda prevê bom tempo para…

igualmente contundentes, foi pronunciada terça-feira, na tribuna da Assembleia Legislativa, pelo deputado Edivaldo Holanda (PTC). Com seu discurso, o experiente parlamentar festejou a parceria que está sendo costurada pelo prefeito Edivaldo Holanda Jr. (PTC) com o governador Flávio Dino (PCdoB) para resolver angustiantes problemas que afetam São Luís e preparar a Capital para um salto na melhoria da sua infraestrutura e na qualidade dos

serviços prestados pelo poder público municipal. Beirando à emoção mais forte e sem camuflar a condição de pai, o deputado saudou a parceria como a concretização do “sonho que sonhamos acordados”.

… para o filho, prefeito Edivaldo Holanda Jr.
… para o filho, prefeito Edivaldo Holanda Jr.

No seu pronunciamento, Edivaldo Holanda – que já foi vereador e figura de proa de administrações da cidade -, previu que São Luís sairá do atoleiro em que está metida há tempos. E avaliou que a Capital, agora, com o Estado sob nova ordem, vai dar um “grande salto para o futuro”, querendo com isso afirmar que São Luís será transformada num canteiro de obras. O otimismo externado por Edivaldo Holanda foi tamanho, que em determinados momentos da sua fala pareceu que ele chegaria às lágrimas. E não fugiu à regra e culpou o Governo de Roseana Sarney (PMDB) pelas agruras da gestão do prefeito Edivaldo Holanda Jr.

Compreensível a grita do deputado Edivaldo Holanda, principalmente por que sua fala visou, antes de tudo, criar uma couraça de proteção ao prefeito Edivaldo Jr., cuja gestão vem sendo duramente criticada pelos que avaliam – são muitos, diga-se de passagem – que após 26 meses no comando, ele ainda não deslanchou. O discurso revelou-se oportuno por conta de outro objetivo: reforçar o cenário de parceria que está sendo desenhado com a iniciativa do governador Flávio Dino de estender ao prefeito Edivaldo Jr. mão amiga forrada com bons convênios.

São Luís é uma cidade maltratada pela disputa política, uma guerra que em muitos aspectos cheira a irresponsabilidade pública. Prefeito é visto com reservas por governador, principalmente se tem brilho para galgar novos degraus na ascensão política. E se for adversário partidário, a restrição vira inimizade. Daí a fórmula de sempre: governador não admite parceria com prefeito que não seja da sua raia partidária, enquanto a população, politizada e teimosa, insista em eleger adversário, para mostrar que sua “rebeldia” não seria jamais dobrada pelo poder dominante no estado.

Essa equação produziu fatos históricos exemplares, como as célebres derrotas de Jaime Santana, que tinha o apoio do governador Luiz Rocha e do presidente José Sarney, para Gardênia Castelo, que só tinha o apoio do marido João Castelo, então um senador sem força, em 1985; a de Carlos Guterres, que tinha total apoio do governador Epitácio Cafeteira e do presidente José Sarney, para Jackson Lago, que só tinha seu prestígio pessoal, em 1988; e a de João Alberto, embalado pelo apoio do governador Edison Lobão, para Conceição Andrade, apoiada por Jackson Lago, em 1992. Resultado: a gestão de Gardênia Castelo foi um fracasso retumbante por falta de apoio e de recursos; a de Conceição Andrade foi sofrível pelo mesmo motivo – em tempo: Conceição Andrade teve Edivaldo Holanda como homem forte do seu governo na etapa final -, tendo se salvado a gestão de Jackson Lago, que sobreviveu dignamente à pressão do Palácio dos Leões e do Palácio do Planalto nos dois primeiros anos. Mais recentemente, São Luís assistiu à guerra que o prefeito João Castelo travou com a governadora Roseana Sarney.

Qualquer avaliação minimamente sensata concluirá que, sem nenhum demérito a Gardênia Castelo, Jackson Lago e Conceição Andrade, Jaime Santana, Carlos Guterres e João Alberto, se eleitos, teriam condições políticas e institucionais de realizar grandes administrações, pelo simples fato de que, se eleitos, seriam apoiado pelos governadores Epitácio Cafeteira e Edison Lobão – os dois primeiro teriam o apoio do presidente José Sarney. Mas o “orgulho” da “Ilha Rebelde” levou a maioria a optar pelo sacrifício naquelas três eleições.

Essa guerra política envolvendo São Luís vem de longe, e ganhou intensidade nos mandatos de José Sarney como governador e Epitácio Cafeteira como prefeito da Capital. Ambos jovens e em campos radicalmente opostos e programando voos mais altos. Sarney e Cafeteira bateram-se sem trégua, mas isso não impediu que o então governador realizasse obras que mudaram a feição da Capital e o jovem prefeito cumprisse seu mandato com uma gestão que o eternizou no conceito popular. Uma década e meia mais tarde, o próprio Cafeteira, agora governador e aliado ao então presidente José Sarney, realizou obras importantíssimas na Capital, mas contribuiu para que a gestão da prefeita Gardênia Gonçalves, mulher do então senador João Castelo, fosse tímida em matéria de realizações, por absoluta falta de apoio estadual e federal.

O cenário de agora é outro. O prefeito Edivaldo Jr. é aliado de proa do governador Flávio Dino, situação que dá ao deputado Edivaldo Holanda razões consistentes para sentenciar o fim do “pesadelo” em São Luís. Vale anotar que os dois primeiros anos de mandato do prefeito Edivaldo Jr. não refletiram efetiva e concretamente, o estado de ânimo do jovem em quem expressiva maioria do eleitorado entregou o destino da cidade – hoje uma metrópole com 1,1 milhão de habitante e, como é sabido, cheia de problemas. Não dá para rotular de fracasso, mas também não é possível louvá-la como um sucesso. Não se pode dizer, também, que o prefeito Edivaldo Jr. tenha fugido das suas responsabilidades no comando da cidade nem se esquivado a cumprir o seu papel no grande projeto político idealizado pelo governador Flávio Dino.

Com os laços que agora aproximam o Palácio de Ravardière do Palácio dos Leões, o prefeito de São Luís reúne as condições para deslanchar, pois está na hora de mostrar que tem um projeto para a Capital, que tem um programa de governo viável, que tem uma equipe competente e que vai mudar o curso da sua gestão. Tem, portanto, 17 meses para se credenciar para tentar a reeleição. Se for bem sucedido, será prefeito novamente e se credenciará para voos mais altos. Se fracassar, terá dificuldades para dar rumo à sua carreira.

 

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

 

Fora da base

Nas rodas políticas circularam muitas dúvidas em relação à posição que o deputado federal João Castelo (PSDB) adotaria em relação ao governo da presidente Dilma Rousseff. A respostas, que parece definitiva, veio ontem: num aparte ao deputado Luís Carlos Hauly (PSDB/SP), que criticava duramente o governo petista, Castelo incorporou o discurso oposicionista e disparou chumbo grosso na direção do Governo Federal. A posição assumida por Castelo mostra que ele assumiu de vez a sua condição de tucano no Congresso Nacional. Mas gera uma consequência: será uma voz a menos na base de apoio do governador Flávio Dino em Brasília.

 

Só com provas

O senador João Alberto (PMDB) disse à coluna que não tem nenhum problema em assumir pela quinta vez a presidência do Conselho de Ética do Senado. Ele foi indicado pela bancada pemedebista e com o aval de partidos da base aliada, como o PT e o PTB, entre outros. Em todas as vezes que presidiu aquele órgão senatorial, o senador maranhense administrou com sucesso situações delicadas envolvendo membros da Casa. Para tanto, adotou sempre uma regra, que para ele é fundamental, eficiente e não tem como ser questionada: só recebe denúncia contra senador se esta estiver solidamente respaldada em provas robustas e indiscutíveis. “Não acato denúncia de ouvi dizer”, declarou João Alberto.

 

Mal-estar

Causou mal-estar na cúpula do Poder Judiciário a artilharia pesada disparada pelo presidente do Sindjus, Anibal Lins, no início da semana, no programa Silvan Alves, da Rádio Educadora, contra a decisão de limitar a processos de precatórios a correição do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no Tribunal de Justiça do Maranhão. O líder sindical anunciou que sua entidade vai pedir ao CNJ que inclua na correição licitações feitas no TJ/MA e suspeitas de irregularidades na folha de pagamento do Poder. Em tempo: a correição programada pelo CNJ foi motivada pelo caso do precatório de R$ 123 milhões negociado pela Constran com o Governo do Estado e que se transformou em escândalo com a prisão do doleiro Alberto Youssef em São Luís, na Operação Lava-Jato, que investiga a corrupção na Petrobras.

 

Sem futuro

Os deputados Levy Pontes (SD) e Fernando Araújo (PCdoB) jogaram ontem, cada um a seu modo e com seus argumentos, duchas de água fria nos deputados que articulam movimentos para pressionar a Petrobras pela implantação da refinaria Premium I em Bacabeira. Levy Pontes foi duro na avaliação do problema e deixou claro que não acredita numa retomada do projeto, que para ele dificilmente será retomado. Fernando Araújo foi mais longe, pois além de também declarar sua total descrença na retomada do projeto, avaliou que agora todos devem se mobilizar “é para salvar a Petrobras”, que para ele corre o risco de quebrar. Os dois elogiaram a proposta do governador Flávio Dino para a implantação de uma refinaria de R$ 8 bilhões, mas avaliaram que nem essa proposta tem futuro imediato.

 

Gratidão

Abro aqui espaço para agradecer, sensibilizado, a gentileza e a cordialidade com que colegas da imprensa receberam minha entrada na blogosfera com a coluna Repórter Tempo. Marco Aurélio D`Eça, Daniel Matos, Gilberto Leda, Zeca Soares, Clóvis Cabalau, Poliana Ribeiro, Érika Rosa, Silvio Cunha, Fernando Júnior, André Lisboa, Anele de Paula e Ribamar Santana, companheiros de jornada e de identificação profissional, compreenderam de pronto o meu propósito e se manifestaram entusiasticamente solidários, o que me estimula e me obriga a corresponder às suas expectativas e às dos leitores. Assumo com todos o compromisso de primar pelo bom jornalismo, para me tornar digno de navegar no mundo virtual. Eternamente  grato.

 

São Luís, 26 de fevereiro de 2015.

8 comentários sobre “Fim do pesadelo? Então mãos à obra

  1. Como sempre fostes, jornalismo correndo na veia. Continuarei bebendo dessa fonte por meio de reportertempo. Manda bala. Teus leitores agradecem.

  2. Parabéns pelos textos publicados. Como leitora continuarei a cada manhã deixando que eles me surpreendam. Hoje, parabéns especial à coluna pelo fato jornalístico muito bem situado no contexto histórico. Sua seguidora neste espaço, professora Graça Corrêa.

  3. O deputado Edivaldo Holanda afirma “o fim do pesadelo.” O blogueiro Corrêa questiona e sugere: “- Fim do pesadelo? Então mãos à obra.” Quem provará o fim do pesadelo, de fato, serão as OBRAS efetivas produzidas por MÃOS preparadas, comprometidas e dispostas a produzirem resultados efetivos. Não me refiro aqui, apenas, às mãos do governador estendidas para o Sr. prefeito. Cabe ao próprio prefeito provar que despertou do ‘pesadelo’ e de que tem uma equipe competente capaz de lhe permitir fazer com as suas próprias mãos e caminhar com os seus próprios pés. Em pouco mais de 2 anos o prefeito Edivaldo não conseguiu demonstrar equilíbrio na formação da sua equipe de governo (CABEÇAS E MÃOS PARA AS OBRAS). O troca-troca de secretários em pastas basilares prova isso – FAZENDA(2); EDUCAÇÃO(2); SAÚDE(2); OBRAS (2);TRÂNSITO E TRANSPORTES(4). Sem equipe forte constituída fica difícil elaborar e planejar uma gestão. Sem plano de governo, ainda que as mãos produzam as obras, o pesadelo da resolução do imediato tem impacto negativo sobre a eficiência administrativa. Mas, nunca é demais sonhar! Que as palavras do deputado Edivaldo Holanda recebam o AMÉM dos céus e que o prefeito Edivaldo Holanda torne real o sonho que, um dia, sonhamos juntos e que possamos, por fim, poder exclamar: “Valeu a pena!”

  4. É um fato. A briga política Prefeitura x Governo nas últimas décadas impossibilitaram o crescimento do estado como um todo. Rivalidades políticas somadas a uma postura revanchista parecem ter destruído qualquer possibilidade de colaboração e causaram estragos. Esperemos que isso acabe. De vez. Um abraço!

  5. Chefe Corrêa, maestro de tantas décadas de profissionais do jornalismo maranhense, feliz por reencontrá-lo e poder desfrutar de toda inteligência e sagacidade de teus textos. Sucesso!

  6. Virei leitor assíduo e habitual. Os textos são objetivos, diretos, contextualizados historicamente e permeados de detalhes conectados que nós levam a uma consciência critica. Leitura obrigatória.

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