Denúncia, coerção, interrogatório e risco alto de prisão podem encerrar a marcante e polêmica carreira política de Ricardo Murad

 

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Ricardo Murad em três momentos: sempre auto-suficiente e com ar professoral

A operação de busca e apreensão em casa, a condução coercitiva, o interrogatório que durou 11 horas, o peso de ser mostrado ao mundo como chefe de uma organização criminosa que pode ter desviado entre R$ 115 milhões e R$ 200 milhões do Sistema de Saúde do Estado do Maranhão de 2009 e 2014 e o pedido de prisão preventiva feito pela Polícia Federal podem estar desenhando o fim de uma das carreiras políticas mais intensas, marcantes, polêmicas e controvertidas da história recente do Maranhão. Ricardo Murad, 60 anos, ex-deputado estadual, ex-deputado federal, ex-prefeito, homem forte de Coroatá e ex-todo-poderoso secretário de Estado da Saúde do último governo de Roseana Sarney (PMDB) pode ter sua prisão preventiva decretada a qualquer momento, o que, se acontecer, o levará para o lado infernal da história, com força suficiente para arrastar junto o que ainda resta de prestígio do Grupo Sarney, que o fez e deu-lhe asas. Depois dos acontecimentos de terça-feira, mesmo que o pedido de prisão seja negado – o que é improvável -, Ricardo Murad não será mais o mesmo e terá vida muito difícil nos próximos tempos.

Ricardo Murad não é um político comum.  Sai da média pela inteligência e pela oratória poderosa, o que o torna um adversário difícil de enfrentar. Ele começou na vida pública nos anos de 1980, como assessor da Prefeitura de São Luís encarregado de organizar o Carnaval, tarefa que o obrigava a mostrar talento ao enfrentar exigentes e zangados chefões de escolas de samba e blocos tradicionais em reuniões zoadentas. Dali para a política partidária foi um passo: embalado pela força do então presidente José Sarney, que o via com largo futuro, Murad se elegeu deputado estadual em 1982 e teve participação ativa na crise entre sarneysistas e malufistas pelo controle dos delegados do PDS à convenção que escolheria o candidato dos militares à Presidência da República em 84, pleito que resultou na eleição de Tancredo Neves e José Sarney. Reelegeu-se em 1986, dos delegados do PDS  logo em seguida, presidente da Assembleia Legislativa. Apoiado por Brasília, revelou-se realizador e politicamente ousado. No cargo, mostrou seu estilo eficiente e concentrador, cuidando de tudo, mas não deixando nenhuma brecha para os demais membros da Mesa Diretora,  mas mesmo assim, conquistou a maioria dos deputados. Reformou o velho e maltratado Palácio Manoel Bequimão, na Ria do Egito, encrostando na parede do plenário a famosa frase de Sarney: “Não há democracia sem parlamento livre”.

Sua primeira ação política na Alema, que revelaria o “trator”, aconteceu antes de assumir a presidência. Em janeiro de 87, a pedido do governador eleito Epitácio Cafeteira , articulou  a derrubada de um projeto de lei, aprovado semanas antes, por meio do qual o então governador Luís Rocha deixava um aumento salarial de mais de 60% para os  servidores do Estado , na verdade uma bomba para infernizar a vida de Cafeteira, de quem não gostava, já que o Tesouro do Estado não suportaria a carga. A sessão foi tensa, com brigas e xingamentos, a ponto de o então líder do governo, o deputado Edivaldo Holanda, não controlar a ira e espatifou um pesado cinzeiro de vidro na base da mesa dos trabalhos, quase acertando o presidente, deputado Raimundo Leal. Comandada por Murad, a “tropa de choque” derrubou o aumento.  Na presidência do Legislativo, passou dois anos medindo forças com o governador Epitácio Cafeteira, gerando pequenas crises.

Em 1990, o então presidente da Alema, deputado Ivar Saldanha, decidiu suceder a Cafeteira no governo, cassando o direito do vice-governador João Alberto – que se afastara da vice para ser prefeito de Bacabal, mas renunciou e reassumiu a vice. Ricardo Murad foi escalado para cassar o mandato do presidente. Foi sua primeira derrota, porque Ivar Saldanha, conhecido por sua coragem, assumiu a presidência e anunciou que aguardaria ali a sua cassação. A “tropa de choque” liderada por Murad não ousou ir em frente. Logo em seguida, Ricardo Murad quis ser o candidato a governador em 1990, Sarney vetou. Elegeu-se deputado federal, mas não suportou ser apenas mais um deputado em Brasília. Dizem que ele tentou entrar no “alto clero” da Câmara Federal, mas foi barrado pelo legendário Ulisses Guimarães , e por isso  abandonou o mandato. Tentou suceder ao governador Edison Lobão em 94, mas perdeu a vaga para Roseana Sarney. Rompeu com o grupo e passou a fazer-lhe oposição ferrenha. Foi candidato de novo a governador contra Roseana em 98, fazendo uma campanha fortemente agressiva, durante a qual taxou Sarney e seus familiares de “quadrilha” e outros adjetivos.

Isolado na virada do século, Ricardo Murad se candidatou a governador de novo em 2002, desta vez contra o então José Reinaldo Tavares, que tentava a reeleição. Embalado pelo escândalo da Lunus, fez uma campanha agressiva e saiu das urnas com 15 mil votos, disputando também com Jackson Lago. O resultado foi um quase empate entre José Reinaldo e Jackson e os demais candidatos juntos, o que levaria a eleição para o 2º turno, com boas chances de Lago levar a melhor. Irregular, a candidatura de Murad foi questionada e a Justiça Eleitoral a invalidou. Ele tinha o direito de recorrer, mas um acordo com o grupo Sarney por baixo dos panos o fez desistir do recurso, garantindo a vitória de José Reinaldo no 1º turno. Murad foi compensado com a Gerência Metropolitana. Impôs seu estilo “trator”, tocando obras que não estavam no orçamento e tirando o sono do José Reinaldo, que já enfrentava uma brutal crise financeira. Não demorou, ele rompeu com o governador, que por sua vez rompeu com o Grupo Sarney. Ricardo retornou de vez ao seio político da família.

A vitória de Jackson Lago sobre Roseana Sarney em 2006 desestruturou o Grupo Sarney, e nesse ambiente Ricardo Murad assumiu o comando do movimento que destituiria o governador, a partir de denúncias feitas pelo Ministério Público Eleitoral, turbinada pelo emblemático Chiquinho Escórcio. Derrubado Jackson Lago, Murad cobrou a fatura: queria a Secretaria de Saúde, ganhou, saiu em 2010 para disputar vaga na Assembleia Legislativa. Eleito, colocou em marcha, com o aval da governadora reeleita Roseana Sarney, o projeto de ser presidente da Alema.  O excesso de confiança, porém, o fez amargar a mais humilhante derrota política da sua carreira: a base que nele votaria resolveu eleger o deputado Arnaldo Melo.

A pancada na Alema o levou de volta ao governo e à Secretaria de Saúde, assumindo a promessa de viabilizar o maior e mais ousado programa de saúde jamais imaginado no estado e na região: 72 hospitais de 20 e 50 leitos e seis hospitais macrorregionais, além de uma série de intervenções. A execução do programa fracassou, tornando-o o calcanhar de Aquiles do “melhor governo da vida” de Roseana Sarney. E virou alvo de um rosário de denúncias de desvios milionários feitas pela oposição. O esforço quase desesperado para concluir os hospitais o fez ficar sem mandato, mas elegendo a filha, Andrea Murad e o genro, Souza Neto, e fora do governo, voltou ao comando da Prefeitura de Coroatá, comprou e perdeu uma briga com o comando do PMDB, resolveu disparar contra a direção da Famem e assumiu a missão de atacar diuturnamente o governador Flávio Dino – que se movimenta para vê-lo preso. Depois de tantos altos e baixos, Ricardo Murad vive a condição de náufrago em mar revolto, com futuro incerto. Se vier a ser preso, encerra a carreira; se não, pode acabar como candidato a prefeito de São Luís.

Em tempo: nessa trajetória, Ricardo Murad entrou e saiu de vários partidos. Nasceu no PDS, virou PFL, flertou com o PSDB e surpreendeu a todos ao dar uma guinada à esquerda e ingressar no PSB. Depois, experimentou o PDT e acabou no PMDB.

Murad reage em nota

O ex-deputado Ricardo Murad  classificou ontem de “absurda” a acusação feita pela Polícia Federal, pelo Ministério Público Federal e pela Controladoria Geral da União, que com base em dados do Coaf, o acusam de ter comandando um esquema que teria desviado entre R$ 114 milhões e R$ 200 milhões do Sistema Estadual de Saúde. Segue a íntegra da nota por ele distribuída:

Minhas amigas, meus amigos

Peço um pouco da sua atenção.

Me dirijo a vocês neste momento para esclarecer a respeito da operação da Policia Federal e CGU.

Na Secretaria de Saúde não houve desvios bilionários como afirma o superintendente da Polícia Federal, mas sim muito trabalho, dedicação e seriedade com os recursos públicos que destinamos para atender aos maranhenses numa rede de hospitais, upas e centros especializados de medicina digna de povos avançados.

Um absurdo – completo absurdo, aliás – se imaginar que mais de um bilhão de reais tenha sido desviado de serviços médicos hospitalares da rede estadual. Isso levaria, com absoluta certeza, a que mais da metade dos hospitais do Estado não estivessem funcionando nos últimos cinco anos, porque representaria mais de 50% dos recursos aplicados no setor.

Justamente o contrário do que todos vivenciamos!!! Qualquer um que tenha necessitado dos serviços médicos/hospitalares ou tenha trabalhado da rede estadual na época em que estive como Secretário pode atestar o que digo. Ampliamos e melhoramos muito a oferta de serviços médicos, a quantidade de hospitais, a qualidade do atendimento. Isso é público e notório!!!

Meus amigos, por determinação da Justiça Federal, que prontamente atendi, prestei depoimento por mais de 15 horas, com trinta páginas de esclarecimentos.

Respondi a tudo o que me foi perguntado e deixei registrado que no período em que estive à frente como secretário, ao contrário do que se divulga, não houve superfaturamento, nem pagamentos de serviços, obras, medicamento e materiais médico/hospitalar que tenham sido pagos sem a devida prestação de serviço ou a correspondente entrega dos produtos e materiais e muito menos pagamentos de médicos e funcionários fantasmas.

Sempre me coloquei antes mesmo da operação à disposição da Justiça, MPF e PF e continuo no mesmo propósito porque tenho o dever de defender a nossa obra que, pela primeira vez, deu a todos os maranhenses oportunidades de ter uma rede de assistência à saúde de primeiro mundo.

Ricardo Murad

 

PONTOS & CONTRAPONTOS

 

Alema ganhará o mundo em FM
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Carlos Alberto assinando a concessão

Já transmitida para o Maranhão pelas imagens da TV Assembleia, as vozes e as mensagens dos deputados estaduais vão ganhar o mundo nas ondas de rádio. Isso será possível a partir de março do ano que vem, quando a Assembleia FM for ao ar. A emissora virou realidade ontem, em Brasília, durante congresso da Associação Brasileira de Televisões e Rádios Legislativas, quando o diretor de Comunicação Social do parlamento maranhense, Carlos Alberto Ferreira, assinou contrato de concessão para a liberação da Rádio Alema na Frequência Modulada (FM). E vai entrar para a história das comunicações no Maranhão como uma conquista da gestão comandada pelo presidente Humberto Coutinho (PDT). A Rádio Alema FM será uma concessão da Rede Legislativa de Comunicação controlada pela Câmara Federal sob a direção do deputado federal Cléber Verde (PRB), responsável pela área de Comunicação Social da instituição. O canal obtido pela Assembleia Legislativa é um dos 30 liberados para integrar a rede, sendo nove de TV e 21 de rádio. Com o acordo firmado, a Rádio Assembleia, que fora da web tinha apenas 2h horas de duração (das 8h às 9h e das 19h às 20h), agora terá a programação aberta durante todo o dia na frequência 99,6 com início previsto para o mês de fevereiro do ano que vem. Carlos Alberto Ferreira enunciou que a programação da emissora abrangerá sessões plenárias, audiências públicas e informações jornalísticas das atividades do Poder Legislativo, além uma vasta programação cultural, tendo como base a produção da música popular maranhense. “Queremos uma rádio muito viva, participativa, animada, que terá como base, além do jornalismo que cobre a Assembleia, a cultura maranhense, nossa música popular, manifestações culturais, serviços de interesse público para a comunidade, informações e ações. Ou seja, será uma rádio completa. Pode ter certeza que será uma rádio que fará história no Maranhão”, afirmou o diretor.

 

 

Boa notícia: assassino de Décio vai passar mais tempo na cadeia

O Tribunal de Justiça aumentou ontem de 25 anos e três meses para 27 anos e cinco meses o tempo de cadeia que cumprirá o pistoleiro Jhonathan de Souza, assassino frio e cruel que tirou, covardemente, a vida do jornalista Décio Sá, em 2011, em um bar na Avenida Litorânea. Como os facínoras que matam por dinheiro, cometeu o assassinato do jornalista cumprindo contrato firmado com agiotas, bandidos que roubam dinheiro público e agiam em conluiu com prefeitos. O voto aumentando a pena foi dado pelo desembargador-relator José Luis Almeida, que tem larga experiência na área criminal, na qual sabe exatamente o que faz. Qualquer aumento de pena será pouco para esse assassino, cujo comparsa – condutor da moto -, Bruno Marcos Bruno Silva de Oliveira, teve o julgamento anulado e irá a novo júri popular.

 

Outra boa notícia: agiota e corruptos na cadeia

agiotasO aumento de sentença do assassino de Décio Sá coincide com a prisão, pela Polícia Civil, ontem, do agiota Josival Cavalcante da Silva, o “Pacovan” (centro), um dos mais ativos do Maranhão, juntamente com o médico e ex-prefeito de Bacabal, Raimundo Lisboa (direita), e o empresário exibicionista Eduardo Barros (esquerda), conhecido por “Imperador”. Os três estão envolvidos ate o pescoço em esquemas de desvio de dinheiro público ocorrido em Bacabal na gestão de Lisboa, de 2008 a 2012. Pacovan e outros agiotas podem ter desviado mais de R$ 100 milhões de diversas prefeituras, segundo declarou, visivelmente indignado, o secretário de Estado de Segurança Pública, Jefferson Portela. “Esses bandidos roubaram o dinheiro da merenda escolar”, declarou o secretário, que comandou a Operação El Berito que resultou na prisão dos três.

 

São Luís, 18 de Novembro de 2015.

 

Um comentário sobre “Denúncia, coerção, interrogatório e risco alto de prisão podem encerrar a marcante e polêmica carreira política de Ricardo Murad

  1. E porque mesmo preso esse Pacovan do capeta conseguiu sacar milhões do BB,transferir para o Bradesco….. É isso que nossa PF tá investigando? Então essa investigação é fajuta.

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