A julgar pelo que vem acontecendo às claras, a corrida eleitoral deste ano no Maranhão sinaliza a consolidação de uma tendência com três rumos bem definidos: o fortalecimento da corrente que está no poder, liderada pelo governador Flávio Dino (PCdoB), franco favorito na corrida ao Palácio dos Leões; o nítido esforço de sobrevivência do Grupo Sarney, que tem a ex-governadora Roseana Sarney como o seu último trunfo e com enormes dificuldades para avançar no embate com Flávio Dino; e, finalmente, o rascunho embrionário de uma “terceira via”, liderada pelo senador Roberto Rocha (PSDB), ampliada com o ingresso do deputado estadual Eduardo Braide (PMN), e com uma ponta desgarrada comandada pela ex-prefeita Maura Jorge (PSL). Essas três correntes expressam o atual universo político do Maranhão e travam o debate que vai definir o futuro imediato do estado. Esse cenário não deixa qualquer dúvida de que o Maranhão sob a liderança do governador Flávio Dino, está vivendo o ápice de uma transição do ciclo sarneysista.
Mesmo com todas as imprecisões e indefinições dos seus primeiros momentos, é evidente que a grande motivação do jogo político dessa guerra eleitoral são os esforços do governador Flávio Dino para consolidar a mudança iniciada em 2014. O seu contrapeso é a ex-governadora Roseana Sarney, fortemente incentivada pelo ex-presidente José Sarney, que opera para dar alguma sobrevida ao poderoso e vitorioso movimento que liderou por décadas. E no meio desse confronto a “terceira via” tentando ocupar espaço próprio. E nessa fase inicial do confronto político-eleitoral, enquanto o governador Flávio Dino usa, até aqui licita e legitimamente, as armas do mandatário que busca a reeleição – ações de governo e articulação de uma grande aliança partidária -, o Grupo Sarney recorre aos instrumentos que sabe usar – articulação partidária, máquina de mídia e mísseis judiciais – para minar o poder de fogo do movimento dinista. Na sua posição, a “terceira via” atira intensamente contra o movimento dinista, tentando se mostrar como uma corrente independente e não como uma força auxiliar do sarneysismo.
No comando de um Governo limpo, que até aqui já cumpriu mais de 90% dos compromissos do seu programa da campanha de 2014, conforme apurou o G1, portal de notícias do Sistema Globo, Flávio Dino joga todo o seu peso político na liderança de uma chapa que tem o vice como candidato a vice e dois membros da nova geração, os deputados federais Weverton Rocha (PDT) e Eliziane Gama (PPS) para o Senado, e tendo ainda o prefeito de São Luís, Edivaldo Jr. (PDT) como um forte braço aliado, numa demonstração clara e inequívoca de que o projeto desse movimento vai muito além da sua reeleição. Já a ex-governadora Roseana Sarney, que tem como referência o saldo dos seus mais de 12 anos de Governo, pouco prenuncia em relação ao futuro, dando a impressão de que o foco da sua candidatura – que tem o empresário tocantino Ribinha Cunha (PSC) como vice e o senador Edison Lobão (MDB) e o deputado federal Sarney Filho (PV) como candidatos ao Senado – é a sobrevivência do Grupo Sarney. Com um discurso alternativo, a “terceira via”, que mesclou sua chapa senatorial com o passado recente expressado pelo ex-governador José Reinaldo Tavares (PSDB) e com a nova geração com o deputado estadual Alexandre Almeida (PSDB), projetou para essa campanha a pavimentação de uma estrada que, espera, a levará ao poder em 2022, com Roberto Rocha ou com Eduardo Braide.
Se vitorioso nas urnas em Outubro, o governador Flávio Dino fortalecerá muito a boa imagem que construiu como um dos políticos mais brilhantes e bem sucedidos da sua geração, com cacife para alçar voo no plano federal, como senador, por exemplo, ou como parte de um projeto nacional mais arrojado, deixando no comando nomes como o prefeito Edivaldo Jr., o militante Márcio Jerry (PCdoB), o deputado federal Rubens Jr. (PCdoB) e o atual presidente da Assembleia Legislativa, deputado Othelino Neto (PCdoB), por exemplo. A eventual eleição da ex-governadora Roseana Sarney significará o ponto final da sua carreira e a viabilização do projeto de dar uma sobrevida ao sarneysismo, usando nomes da nova geração como os deputados estaduais Roberto Costa (MDB) e Edilázio Jr. (PSD), por exemplo. A possibilidade remota de eleição do senador Roberto Rocha significará a viabilização da “terceira via”, com ele no comando, claro.
São essas as motivações que movimentarão a campanha que começa agora para valer. E como o projeto de cada tendência tem caráter decisivo, os seus líderes jogarão pesado para concretizá-los.
PONTO & CONTRAPONTO
Roseana Sarney terá de tomar decisão difícil na disputa presidencial
É complicada e incômoda a situação da ex-governadora Roseana Sarney em relação ao candidato presidencial do MDB, Henrique Meirelles. Quase ninguém da sua base política e partidária aposta um centavo no ex-ministro da Fazenda, a começar pelo fato de que ele está sendo carimbado como o candidato do ex-presidente Michel Temer (MDB). Roseana Sarney ainda não se manifestou com clareza em relação à corrida presidencial, só insinuando que aprova o projeto de candidatura do ex-presidente Lula da Silva (PT). Mas a batida de martelo do MDB por Henrique Meirelles a fez pisar no freio, para evitar um confronto direto com a cúpula emedebista, com o Palácio do Planalto e, claro, com o próprio Henrique Meirelles, que certamente não vai querer perder um quadro do quilate da ex-governadora, com expressiva força política eleitoral num estado onde 99,999% dos 4,5 milhões de eleitores não têm a menor ideia de quem ele seja. O desconforte atinge fortemente o ex-presidente José Sarney, que, satisfeito ou não, referendou a escolha de Henrique Meirelles ao participar da convenção do partido, juntamente com o presidente Michel Temer. Roseana Sarney sabe que, mesmo que muitos dos seus eleitores são lulistas e votarão no candidato que ex-presidente indicar, terá de se posicionar em relação a Henrique Meirelles, sob pena de ser cobrada pelo MDB e pelo próprio candidato. Essa decisão deverá ser tomada ao longo desta semana.
Ex-presidentes estão na corrida para voltar à Assembleia Legislativa
A corrida para as 42 cadeiras da Assembleia Legislativa está acontecendo com um dado curioso e que, dependendo do resultado, será motivo de muita movimentação nos bastidores e no plenário. Nada menos que três ex-presidentes da Casa estão atrás de voto para voltar a trabalhar no Palácio Manoel Beckman: Manoel Ribeiro, Marcelo Tavares (PSB) e Arnaldo Melo (MDB).
Manoel Ribeiro é o recordista de permanência no cargo: 10 anos, com eleições consecutivas, numa maratona que começou no Governo de Edison Lobão e terminou no segundo Governo de Roseana Sarney, já no início do século XXI. Marcelo Tavares comandou o parlamento estadual de 2007 a 2010, tendo iniciado a primeira gestão no Governo Jackson Lago (PDT), de 2007 a abril de 2009, e encerrado no Governo tampão de Roseana Sarney, de abril de 2009 a dezembro de 2010. Arnaldo Melo comandou o Poder Legislativo de 2011 a 2014.
São quadros diferenciados, com larga experiência e que, se eleitos, poderão dar expressiva contribuição ao debate político que for travado na instituição legislativa.
São Luís, 12 de Agosto de 2018.