O compositor César Teixeira manteve a tradição: preparou mais um Testamento de Judas em 119 versos, tornando-o público no Sábado de Aleluia, como faz todos os anos. E como não poderia ser, o tema central do “documento” deste ano é a chegada do coronavírus no Brasil, e nesse contexto, os personagens centrais do cenário – o presidente Jair Bolsonaro, os ministros Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Paulo Guedes (Economia), Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) e general Augusto Heleno (Segurança Institucional) – são tratados com escárnio e deboche por “Judas”, que lhes deixa “bens” adequados. Logo na primeira parte, “Judas” diz que foi traído um dia por “um tal de Jair Messias”. Lembrando que essa pandemia “fez cordeiro virar lobo e lobo virar cordeiro”, e deixa para Sérgio Moro “a máscara da vergonha”. E arranha fortemente a imagem de Luiz Mandetta, lembrando que ele é contra o aborto e mandou o Mais Médicos para a sarjeta.
Artista militante, que faz das composições verdadeiros manifestos contra a desigualdade social, as artimanhas da política, o comodismo cultural e outras contradições que tornam o Brasil um País injusto, o poeta César Teixeira alimenta uma saudável tradição de elaborar anualmente o Testamento de Judas, chicoteando, com fina ironia, os poderosos do momento, vestindo a pele do traidor de Cristo, que não suportando o peso na consciência por haver trocado o Messias por “algumas” moedas, revelando seu paradeiro aos romanos, enforcou-se. No testamento deste ano, “Judas” revela que pegou coronavírus antes de ser enforcado. E o que deixou para os seus mais chegados foi o seguinte:
TESTAMENTO DE JUDAS
César Teixeira
Com mão trêmula escrevo
meu Testamento apressado,
peguei o Coronavírus
antes de ser enforcado.
Também fui traído um dia,
o tal de Jair Messias
me apontou como culpado.
Deixo para o Bolsonaro
um caminhão Lava-Jato
pra lavar tanta sujeira
do cabelo até o sapato.
Incendeia feito Nero,
se o Brasil perde de zero
lava as mãos feito Pilatos.
É assim que a Pandemia
no rendez-vous brasileiro
fez cordeiro virar lobo
e lobo virar cordeiro.
O povo vai pra janela
bater na sua panela,
sendo do Pinico herdeiro.
Esse Lobo disfarçado
com um lenço no focinho
logo será devorado
pela Vó do Chapeuzinho,
e vai entrar pelo cano
com os seus milicianos
arrastando os três porquinhos.
Deixarei pro Paulo Guedes
o Fundo de Investimentos
para esconder no bolso
do seu próprio empreendimento.
Esse banqueiro sagaz
aposentou Ferrabrás
pra mode enganar jumento.
Na estrofe que eu deixo
pro ministro Luís Mandetta
quase escapa outra rima
desta minha azul caneta.
Ele foi contra o aborto,
levou a Dilma pro Horto
e os Mais Médicos pra sarjeta.
A máscara da vergonha
deixo para Sérgio Moro
cobrir o seu frio rosto
nesta falta de decoro.
E para a cegueira branca
da Justiça, que empanca,
deixo a luz do desaforo.
Para o general Heleno
deixarei as ataduras
que foram do Bozovírus
na facada que não fura.
É o sarcófago letal
que promove o general
a múmia da ditadura.
Na Zona do Meretrício
vou deixar meu violão.
Já botei Rodó no bolso
e a chita do fofão.
Para matar esse vírus
da família dos vampiros
já estou de pau na mão.
A sunga de Patativa,
neste torneio profano,
dá pra fazer uma máscara
pro amigo Corinthiano.
Mas, se fosse da Faustina,
dava pro time da China
e ainda sobrava pano.
Pros amigos cachaceiros
deixo essa “gripezinha”,
mas proponho isolamento
com a sogra e a cachorrinha.
Sem boteco, a gente inventa:
meu barril de álcool 70
já virou caipirinha.
Vejo índios e posseiros
sendo mortos na floresta,
e, enquanto os fazendeiros
fazem do vírus a festa,
restam aos filhos da terra
as balas e motosserras
de uma fúnebre orquestra.
Na televisão, nas redes
sumiram numa semana
os casos de Marielle,
Brumadinho e Mariana,
enquanto um navio afunda
no Maranhão feito bunda,
pensando que a merda é plana.
Lá no relógio quebrado
da Praça João Lisboa
batem mudas as seis horas
da morte que em mim ressoa.
Todos sabem que o caixão
do Diabo vai de avião
e o do Judas de canoa.
Sei que Ribamar Moraes
não precisa de Álcool em Gel,
ele foi pro Paraíso
tirar foto de Noel.
Dar-lhe-ei este meu terno
quando eu for lá pro Inferno,
que fica depois do Céu.
Esse breve Testamento
só me deu consumição,
é difícil fazer versos
sem dizer um palavrão.
Pra sair na internet
fui no Dicionário Aulete
antes da execução.
Deixo, enfim, a Cloroquina
pra quem é anjo e tem asa,
o Trump e o Bolsonaro
vão num foguete da NASA.
Mas, recomendo aos amigos
pra não correrem perigo:
é melhor ficar em casa.
Fim
PONTO & CONTRAPONTO
Mobilizadas, empresas maranhenses se juntam e doam respiradores, máscaras e álcool
Em meio a tantas informações desanimadoras sobre a presença do novo coronavírus ao Maranhão, uma boa notícia se sobressaiu, ontem: o anúncio, feito pelo governador Flávio Dino (PCdoB), da chegada de 107 respiradores ao estado nos próximos dias. Os aparelhos foram comprados na China por meio de doações de empresas maranhenses, que se uniram ao Governo do Estado, por meio de articulações feitas pelo secretário de Indústria, Comércio e Energia (Seinc), Simplício Araújo. Os equipamentos, que já se encontram em São Paulo, e serão destinados a pacientes com o vírus, instalados em hospitais públicos do Estado. De acordo com Simplício Araújo, além destes equipamentos de respiração, o Maranhão deve receber mais 80 até o dia 20 de abril, junto com mais de 200 mil máscaras N95. Além disso, empresas estão doando ao Estado termômetros, álcool em gel, testes rápidos, entre outros materiais necessários. Nos cálculos do secretário, com essas ações, as empresas já desembolsaram mais de R$ 10 milhões.
Desse esforço estão participando as seguintes empresas: Ômega Energia, Alumar, Eneva, Grupo Mateus, EDP Linhas de Transmissão, Suzano, Gera Maranhão Energia, Universidade Ceuma, Heineken, Lavronorte, Fribal, Grupo Maratá, Comercial Rofe, Centro Elétrico, Potiguar, Roque Aço Cimento, Revest Com. e Serviços, COC, Dínamo Engenharia, Faculdade ISL Wyden, Vale, Canopus, Sinduscon, Silveira Engenharia, Dimensão Engenharia, Construtora Escudo, Lua Nova Engenharia, Alfa Engenharia, RJ distribuição, RBC Construções e Constans.
Outro grupo de empresas, formado por Agro Serra, Ambev, Grupo Maratá, FC Oliveira, Guaraná Psiu e Solar Coca-Cola, está doando 600 mil litros de álcool para unidades de saúde do Estado.
– Todo o Estado agradece o ato de solidariedade dessas empresas – assinalou o governador Flávio Dino. (Com informações da Secap).
Brasil perde Morais Moreira, um dos escultores do atual perfil da MPB
A Coluna lamenta profundamente a partida abrupta de Morais Moreira, um dos escultores do perfil atual da MPB. Primeiro com no Novos Baianos, com o disco “Acabou chorare”, considerado um dos 10 mais importantes álbuns da MPB, e depois em vibrante carreira-solo, que nos deixou inúmeros sucessos populares, como “Pombo correio”, por exemplo. No noticiário da sua morte foi revelado que ele deixou 20 músicas prontas para serem gravadas por mulheres. Que esse projeto seja realizado logo, porque certamente essas peças inéditas são pérolas que não devem ser condenadas ao esquecimento. Será uma bela e justa homenagem.
São Luís, 14 de Abril de 2020.