O anúncio de que o governador Carlos Brandão vai assumir o comando do PSB, com a desfiliação de Flávio Dino para assumir a cadeira no Supremo Tribunal Federal, significa que o projeto de migração para o MDB entrou para o arquivo morto do partido, e pode também ser o caminho para a sobrevivência da legenda socialista. Embora seja um político bem situado no centro, sua permanência no PSB é uma posição estratégica, destinada principalmente a manter os laços com o Planalto Central e a estreit relação com o vice-presidente Geraldo Alckmin, de quem é próximo desde quando pertenceu aos quadros do PSDB, legenda pela qual cumpriu dois mandatos de deputado federal e se elegeu vice-governador em 2014, na chapa liderada por Flávio Dino (PCdoB). Seu ingresso no PSB, em 2022, foi fruto de um acordo com o governador Flávio Dino, para firmar posição consistente na aliança formada em torno da candidatura do ex-presidente Lula da Silva (PT) na corrida de 2022.
Tudo funcionou como previsto. O PSB saiu das urnas como a maior potência partidária do Maranhão nesse momento, tendo reelegido o governador Carlos Brandão em turno único, elegido Flávio Dino senador com votação recorde, o deputado federal Duarte Jr. e 11 deputados estaduais, formando uma bancada liderada pela deputada Iracema Vale, que surpreendeu meio mundo como o candidato mais votado para a Assembleia Legislativa, rompendo, pela primeira vez na história eleitoral maranhense, a barreira dos 100 mil votos. Tomou com força inquestionável o lugar que antes fora do MDB e depois do PCdoB, que passaram a ser legendas secundárias.
Ocorre que, por um desses erros que costumam fragilizar as estruturas partidárias, o PSB manteve na presidência o senador eleito Flávio Dino, que sem tempo para essa tarefa, delegou a gestão partidária ao ex-deputado federal Bira do Pindaré, fragilizado com a não reeleição, quando a lógica seria entregar o comando ao governador Carlos Brandão, como manda a tradição. Esse formato não funcionou e criou ranhuras nas relações internas. Não fazia sentido algum o governador do Estado e a presidente da Assembleia Legislativa permaneceram deslocados do comando do PSB. Diante da situação criada e do incômodo evidente, foi feito um arranjo pelo qual o governador Carlos Brandão e a deputada-presidente Iracema Vale passaram a ocupar cargos com poder de mando na Executiva partidária.
O arranjo produziu um ar de normalidade na cúpula e nas fileiras do PSB, mas rascunhou também uma situação em que, aqui e ali, gerou manifestações indicadoras de que o PSB maranhense não é tão sólido como se imagina. A deputada Iracema Vale, que comanda a Assembleia Legislativa e é aliada de primeira linha do governador Carlos Brandão, não tem escondido sua simpatia pelo MDB, emitindo sinais fortes de que pretende converter-se ao emedebismo. O sinal mais cristalino dessa inclinação aconteceu na convenção do MDB, há duas semanas, quando a presidente, ao adentrar no auditório, ouviu da plateia apelos para que se filiasse ao partido. Em resposta, Iracema Vale indicou a pista: “Vamos esperar a janela partidária”. Além disso, a presidente do Legislativo já manifestou simpatia pelo MDB em várias ocasiões, reforçando a inclinação por uma migração partidária.
A chegada do governador Carlos Brandão à presidência do PSB, além de obedecer à lógica da vida partidária, significa também, e principalmente, a possibilidade concreta de o partido ganhar um novo impulso, afastando, pelo menos por enquanto, a ameaça de sofrer um emagrecimento perigoso, como sofreram o MDB após o período de poder de Roseana Sarney, e o PCdoB depois que Flávio Dino migrou para o PSB. Essa mexida no maior partido do Maranhão terá forte repercussão no resultado das eleições municipais, de onde sairão as bases para as eleições gerais de 2026. Isso porque, como demonstrou nas eleições municipais recentes, ainda como vice-governador, o governador Carlos Brandão joga bem no campo partidário e conhece o caminho das pedras na corrida pelo voto.
E a realidade é clara: sem Flávio Dino na cena política, o PSB só terá futuro se tiver o governador Carlos Brandão no comando.
PONTO & CONTRAPONTO
Reunião com Brandão mostrou líderes partidários em situações distintas
A reunião do governador Carlos Brandão com representantes dos 13 partidos que formam a base de sustentação do seu Governo revelou algumas mudanças importantes no cenário partidário do Maranhão.
A primeira delas foi a presença da deputada federal Amanda Gentil, representando o Republicanos, hoje comandado no Maranhão pelo deputado federal Aluísio Mendes. Junto com o pai, o influente prefeito de Caxias Fábio Gentil, a jovem deputada federal tem um peso importante na legenda no Maranhão.
O deputado estadual Roberto Costa mantém espaço respeitável como vice-presidente estadual do MDB, representando com autoridade política o presidente da legenda, Marcus Brandão, em reuniões com esse peso.
O deputado federal Pedro Lucas Fernandes assumiu de maneira efetiva o comando do União Brasil no Maranhão, encerrando de vez o período de comando do deputado federal licenciado Juscelino Filho, hoje ministro das Comunicações.
Num outro viés, o ministro do Esporte, André Fufuca, continua dando as cartas dentro do PP maranhense. Ele está afastado temporariamente da presidência estadual, mas a sua influência nas malhas da agremiação é tamanha que nada é decidido sem que ele seja consultado. Daí sua presença na reunião com o governador.
O ex-deputado federal Bira do Pindaré, que é secretário de Desenvolvimento Agrário, participou da reunião como quem está se despedindo do comando do PSB, que agora será exercício pelo governador Carlos Brandão, como manda a lógica que move a política partidária.
Adriano Sarney e Eliel Gama representam partidos que praticamente não existem. O primeiro fala em nome do PV, um partido que só existe porque está ligado ao PT e ao PCdoB numa federação. E o segundo representa o Cidadania, que nasceu PCB, virou PPS, ganhou nova identidade, mas está em vias de extinção.
Juscelino Filho desbanca Stênio Rezende na luta pelo poder em Vitorino Freire
Ganha forte repercussão a reação do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, à guerra que se trava no feudo da família, Vitorino Freire, por causa da escolha do candidato à sucessão da irmã dele, Luanna Rezende (União Brasil), na Prefeitura municipal.
Na esteira dos escândalos que vêm abalando a família e a estrutura política do ministro, que é deputado federal, o jornal Folha de S. Paulo publicou declarações do ex-deputado estadual Stênio Rezende, marido da deputada estadual Andreia Rezende (UB), criticando o sobrinho por haver, junto com a irmã, a prefeita Luanna, escolhido Ademar Magalhães, o “Fogoió”, secretário de Obras de Vitorino Freire, para ser o candidato do grupo à sucessão municipal.
Stênio Rezende, que teve interrompida sua trajetória de deputado estadual por problemas cabeludos com a Justiça, pretendia ser o candidato. E diante da decisão do ministro e da prefeita, que de fato dão as cartas na família, fez críticas, acusando o titular das Comunicações de ser ditador por havê-lo excluído da disputa.
O ministro Juscelino Rezende reagiu apontando o tio como incoerente por haver dado “declarações infelizes” ao jornal paulista, lamentando que o tio não enxergue que “os tempos são outros”, insinuando que nesse novo mundo não existe lugar para Stênio Rezende.
O fato é que, se a situação nas relações na família Rezende chegou a esse nível, a situação dos seus integrantes no feudo de Vitorino Freire encontra-se num nível de deterioração elevado, podendo ser irreversível. Isso pode indicar que Juscelino Filho e a irmã Luanna Rezende podem estar desenhando um novo caminho isolando a banda representada por Stênio Rezende.
São Luís, 19 de Dezembro de 2023.