Não foi uma tomada de decisão, mas a plenária realizada quarta-feira (29) pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) para começar a discutir a sua participação na corrida para a Prefeitura de São Luís indicou, por larga maioria, o caminho a candidatura própria, praticamente descartando a proposta de aliança feita pelo candidato do PSB, deputado federal Bira do Pindaré. E foi mais longe: apontou o jornalista, advogado e professor universitário Franklin Douglas como o melhor nome para encabeçar chapa do partido à sucessão do prefeito Edivaldo Holanda Júnior (PDT). A decisão definitiva do PSOL sobre a corrida eleitoral em São Luís só será tomada em março, quando o Diretório de São Luís colocar em prática as orientações a serem definidas pelo VII Congresso Nacional da agremiação sobre o pleito.
A indicação da plenária – por coincidência realizada na sede do Sindicato dos Bancários produziu duas situações que terão impacto direto no cenário da disputa. A primeira é que o PSOL vai mesmo colocar mais um nome numa corrida que deverá reunir um recorde de participantes. A segunda é que a inclinação pela candidatura própria representou um duro golpe no projeto de Bira do Pindaré de posicionar sua candidatura mais à esquerda.
Criado a partir de um racha no PT durante o Governo do presidente Lula da Silva, o PSOL é um partido que prega uma linha ideológica de esquerda que não faz muitas concessões, como, por exemplo, a oposição radical ao Governo de Jair Bolsonaro, de direita radical. O PSOL sempre disputou presidência, governos estaduais e prefeituras com candidatos próprios e, mais do que isso, aliando-se com a ultraesquerda, como o PCB, por exemplo. Não surpreende, portanto, que o partido participe da corrida para a Prefeitura de São Luís com candidato próprio. E se o professor Franklin Douglas for confirmado, será um representante genuíno da concepção política e programática do partido.
Franklin Douglas diz, com uma dose de cautela, que nada está decidido ainda, mas reconhece que a tendência pela candidatura própria é amplamente majoritária no PSOL. Revela que não era esse o seu projeto pessoal, que está mais voltado para a vida universitária e o escritório de advocacia. Mas admite que, se for convocado, assumirá o desafio de brigar pela Prefeitura de São Luís numa disputa direta com o deputado federal Eduardo Braide (Podemos), os deputados Neto Evangelista (DEM), Yglésio Moisés (sem partido) e Adriano Sarney (PV), e o candidato que sair dos quadros do PCdoB, o deputado federal Rubens Júnior ou deputado estadual Duarte Júnior, além, claro, do próprio Bira do Pindaré. Franklin Douglas certamente não alimenta a ilusão de que pode vencer uma eleição nesse tabuleiro, mas acha politicamente produtivo colocar as teses do PSOL num debate aberto. E mais: tem todas as condições de ser um concorrente duro no embate direto.
A decisão do PSOL complica a situação do socialista Bira do Pindaré. Sem a aliança a aliança à esquerda, ele tem de procurar aliados na esquerda moderada e no centro-esquerda, como o PT, por exemplo, com quem mantém laços fortes, ou com o PDT e com o PCdoB. Há vozes no PT propondo uma aliança com o PSB em torno de Bira do Pindaré e indicando o vice. Seria uma aliança provável, mas mesmo com muitos simpatizantes dentro do PT, as relações dos petistas com o PCdoB indicam claramente que se não lançar candidato próprio, o partido de Lula da Silva se aliará ao partido de Flávio Dino. E nesse contexto, quase todos desse campo ideológico, incluindo o PDT, descartam aliança com o PSB, o que leva o partido de Bira do Pindaré a uma espécie de isolamento, obrigando o candidato socialista a fazer uma campanha-solo, o que reduzirá expressivamente o seu poder de fogo na guerra pelo voto.
É claro que tudo está em aberto quanto a candidaturas e montagens partidárias para a corrida às urnas, pois nessa seara a política costuma surpreender, produzindo situações para muitos inimagináveis. No que diz respeito ao PSOL e ao PSB, no entanto, os movimentos são previsíveis: Franklin Douglas deve ser o candidato do PSOL numa aliança com o PCB, e Bira do Pindaré será candidato sem parceiro partidário.
PONTO & CONTRAPONTO
Caxias: MDB muda de comando e lança César Sabá como terceira via
A cúpula estadual do MDB – diga-se o presidente, ex-senador João Alberto, e o vice-presidente, deputado estadual Roberto Costa – desembarca hoje em Caxias para, primeiro, fazer uma mudança radical e histórica no comando municipal do partido, e, segundo, lançar a candidatura do empresário César Sabá à Prefeitura da Princesa do Sertão. O caráter radical e histórico da mudança de comando está no fato de que, depois de mais de três décadas, o MDB caxiense sairá definitivamente do controle do ex-prefeito Paulo Marinho e seu grupo. E mais: além de candidato a prefeito, César Sabá será, a partir de agora, o manda-chuva da agremiação no quarto maior e mais importante colégio eleitoral do Maranhão, onde o MDB nasceu pelas mãos do honrado médico e várias vezes deputados José Brandão, um dos mais ativos líderes da resistência à ditadura no Maranhão. Sob o comando de Paulo Marinho, o MDB também pontificou em Caxias, mas também foi vitimado por muitas controvérsias, que resultaram na sua completa fragilização. Com a decisão de tirar o braço caxiense do controle de Paulo Marinho, o comando do MDB dá um novo norte para o partido na cidade e na região. O lançamento da candidatura de César Sabá a prefeito acontece no momento em que Caxias repercute a decisão do PCdoB de lançar a candidatura do deputado Adelmo Soares, com o apoio do Grupo Coutinho, para enfrentar o prefeito Fábio Gentil (PRB), que lidera as pesquisas. A cúpula emedebista aposta que César Sabá pode ter bom desempenho nas urnas como representante de uma de uma terceira via.
Indefinição no PCdoB estimula a suspeita de que pode haver surpresa em relação a São Luís
Em meados de dezembro passado, o presidente do PCdoB, deputado federal Márcio Jerry, agendou informalmente, em conversa com jornalistas, que o mês de janeiro seria usado para conversar e que ao seu final, ou no máximo no início de fevereiro, o partido teria uma definição sobre candidato a prefeito de São Luís. Janeiro termina hoje, e até onde a luneta da Coluna pode alcançar, o ambiente dentro do partido do governador Flávio Dino é ainda de completa indefinição sobre o assunto, persistindo as mesmas incertezas entre o deputado federal Rubens Júnior e o deputado estadual Duarte Júnior. O mais curioso é que nenhum dos dois canta vitória, dando a impressão de que o primeiro não decolou na preferência do eleitorado, apesar do forte apoio político, e o segundo não se encaixou no perfil político exigido, apesar de ser o segundo do campo governista na preferência do eleitorado. E o mais curioso: não há sinal de escolha à vista, o que estimula a suspeita de que o PCdoB poderá surpreender com uma mudança radical nesse roteiro.
São Luís, 31 de Janeiro de 2020.