A menos que o universo político de São Luís seja estremecido por um fenômeno eleitoral inusitado, daqueles que derrubam o queixo até dos observadores mais experientes, a disputa pelo gabinete principal do Palácio de la Ravardière, marcada para outubro, será travada entre o prefeito Edivaldo Jr (PDT) e a deputada Eliziane Gama (PPS), numa guerra em que será usado armamento de campanha pesado. Não há como desconsiderar o fato de que estão no páreo o vereador Fábio Câmara e a deputada Andrea Murad, que disputam a vaga de candidato no PMDB; o deputado estadual Wellington do Curso (PP), a vereadora Rose Sales (PMB), o deputado Bira do Pindaré – que ainda não sabe se será o candidato do PSB – o ex-vereador João Bentivi (PRTB), o médico Zéluis Lago (PSL), e os ainda indefinidos candidatos PSOL, do PSTU e do PCB. Eles certamente manterão suas candidaturas até onde for possível, e assim contribuirão efetivamente para a ampliação do debate sobre os problemas de São Luís. Mas a realidade que se impõe no momento é que somente o prefeito pedetista e a parlamentar comunista têm suporte político e eleitoral para viabilizar seus projetos de conquistar o cargo, ele pela segunda e ela pela primeira vez.
As últimas pesquisas dizem que Eliziane Gama tem pouco mais de duas dezenas de pontos percentuais na preferência e que Edivaldo Jr. é preferido por quase duas dezenas. Colocadas na balança, esses cacifes eleitorais mostram que os dois estão muito próximos do que seria um empate técnico, mas indicando uma nítida vantagem para ela. E sugerem dado de importância capital em qualquer esforço de previsão de desfecho de uma disputa eleitoral: é quase certo que a disputa não será encerrada já no primeiro turno. Uma avaliação honesta e imparcial não pode ignorar a rejeição mostrada pelos levantamentos, pois ela indica que o prefeito é rejeitado por expressiva parcela da população – exatamente porque sofre o forte desgaste de quem está no cargo -, enquanto a deputada tem rejeição baixa – obviamente porque está confortável na arquibancada, com direito a incorporar e dar volume a todas as críticas ao prefeito.
No embate que já parece definido, o prefeito Edivaldo Jr. entra com dois trunfos básicos e essenciais para viabilizar e turbinar uma candidatura: a obra de governo, que ganha força com a ação da poderosa máquina administrativa municipal; e uma ampla e sólida base político-partidária, que já conta com 15 partidos, tendo o PDT na liderança, e mais o aval do Palácio dos Leões, expressado pela participação do PCdoB, agremiação do governador Flávio Dino, na aliança. Por seu turno, a deputada Eliziane Gama entra na briga com o seu cacife político e eleitoral pessoal, uma estratégia discutível de garantir que tem solução para todos os problemas e um lastro partidário ainda tímido, mas que pode ganhar musculatura se conseguir ampliar essa aliança. Edivaldo Jr. tem a vantagem de que não começou bem avaliado e agora briga pela liderança. Já Eliziane Gama começou com a preferência de mais de 50% do eleitorado, perdeu em meses quase 30 pontos percentuais, numa preocupante queda vertiginosa que foi encerrada nos 23% das últimas pesquisas.
A posição de um e de outro revela com clareza que eles brigam para ampliar o número de partidos nas coligações que pretendem formar, porque além de base política, a soma dos partidos na aliança define o tempo de TV dos candidatos. Neste momento, Edivaldo Jr. já contabiliza pelo menos 12 minutos de rádio e TV na campanha, enquanto Eliziane Gama ainda não ultrapassou quatro minutos de tempo, mas com toda certeza ampliará expressivamente o seu espaço no rádio e na TV com aliança que poderá incluir o PMDB e o PV, por exemplo. E nesse contexto, Edivaldo Jr. deve usar como mote principal os resultados da sua gestão, que já vem propaganda com forte publicidade nos veículos eletrônicos de comunicação – TV, rádio e redes sociais -, reforçando o discurso com a parceria que mantém com o governador Flávio Dino, desmontando um tabu de décadas segundo o qual o Governo do Estado nunca apoiou a administração municipal. Eliziane Gama tem a seu favor uma indiscutível de verbalizar o que pensa, principalmente quando o objeto da sua reflexão é a atual administração de São Luís, o que torna eficiente suas manifestações na TV, no rádio e nas redes sociais.
São dois candidatos que se equivalem politica e eleitoralmente, com a diferença de que o prefeito Edivaldo Jr. já vivenciou um mandato e certamente acumulou experiência suficiente para vender o que fez e apontar solução para o que está por fazer. A deputada federal Eliziane Gama leva para a campanha sua visão de parlamentar bem sucedida, sem nenhuma experiência executiva, como, aliás, se apresentou o então deputado federal em 2012.
Em tempo: Na relação pré-candidatos citada no início do comentário a Coluna não incluiu o deputado estadual Bira do Pindaré (PSB). É que ele trava uma guerra complicada dentro do partido contra a antipatia que o senador Roberto Rocha e o vereador Roberto Rocha Jr. mostram por seu projeto de disputar a Prefeitura de São Luís. Bira do Pindaré se mantém pré-candidato, mas nesse momento nada indica que ele superará as dificuldades e consolide seu projeto.
PONTO & CONTRAPONTO
Ações de Wellington do Curso preocupa Palácio de la Ravardière
No time de pré-candidatos a prefeito de São Luís todos têm méritos políticos, mas nenhum até agora ganhou embalo como o deputado Wellington do Curso (PP). Numa demonstração de que tem faro político e eleitoral, o parlamentar se transformou numa espécie de vereador da cidade inteira, atacando problemas macro com muita eficiência em discursos quase diários na Assembleia Legislativa. O bordão repetido do deputado do PP vem ecoando de tal modo que ele virou personagem muito comentada nas redes sociais e, mais do que isso, foi transformado no principal adversário do prefeito pelo deputado Edivaldo Holanda (PTC), porta-voz da atual gestão municipal e guardião do cacife político e eleitoral de Edivaldo Jr.. Há quem diga que é crescente no Palácio de la Ravardière uma forte preocupação com a desenvoltura com que Wellington do Curso vem atuando como pré-candidato. Mais ainda agora que a aliança do PSDB com o PPS de Eliziane Gama tirou do páreo os tucanos João Castelo, Neto Evangelista e Sérgio Frota, abrindo um vácuo que pode ser ocupado pelo parlamentar.
Globo faz reportagem sem rumo sobre Waldir Maranhão
Poucas vezes uma reportagem de pretensa envergadura se revelou tão sentido quanto a matéria especial feita pela Rede Globo sobre a fraude na prestação de contas do deputado federal Waldir Maranhão em 2010, quando ele não conseguiu explicar a origem de R$ 577 mil dos pouco mais de R$ 800 mil que gastou na campanha pela reeleição para a Câmara Federal. O jornal O Globo para tentar apurar um caso já morto e arquivado pelo Tribunal Regional Eleitoral. Para lembrar: Waldir Maranhão foi denunciado pelo Ministério Público Eleitoral por conta dos tais R$ 577 mil não explicados. Waldir e seus advogados conseguiram enrolar a Justiça Eleitoral por mais de três anos com recursos e mais recursos, empurrado o problema para a frente até que o mandato em questão acabou em fevereiro do ano passado, obrigando o Ministério Público Eleitoral a pedir o seu arquivamento por falta de objeto. Numa situação que revelou desinformação e desejo de exumar um cadáver que nada acrescentaria de agravante da atual situação do presidente quase fantasma da Câmara Federal. Foi pura perda de tempo, principalmente porque a imprensa local registrou tudo e já tinha até esquecido o caso.
São Luís, 29 de Maio de 2016.