Quem apostou que com o fim do seu mandato senatorial o ex-presidente José Sarney mergulharia no anonimato dos “sem prestígio” e, angustiado, se dedicaria apenas à literatura, perdeu. Ao contrário do que lhe foi prognosticado por muitos, inclusive por cultuados analistas políticos da chamada grande imprensa, Sarney está politicamente vivo e, agora sem as obrigações do mandato na Câmara Alta, se movimenta com desenvoltura nos bastidores da politica nacional, transformado que está numa espécie de conselheiro máster da presidente Dilma Rousseff, com o objetivo de tirar o governo da enrascada política em que se meteu por causa do cenário econômico de crise. Ao mesmo tempo, Sarney se mantém ativo nas searas políticas do Maranhão e do Amapá, onde continua como principal referência dos grupos que seguem a sua orientação.
Aos 85 anos, Sarney está fisicamente bem e com a lucidez na plenitude, resultado de uma vida quase monástica e intelectualmente dedicada à política e à literatura. Agora sem mandato, ele cultiva, mais do que nunca, a sua máxima preferida, segundo a qual a política só tem porta de entrada, daí sua movimentação no circuito Brasília-São Luís-Macapá.
No plano nacional, o ex-presidente da República está atuando intensamente como interlocutor da presidente Dilma, com quem conversou pelo menos três vezes nas últimas duas semanas, e oráculo do PMDB, que o mantém em posição de proa, principalmente nos momentos de crise. Nos bastidores de Brasília, é corrente que a cúpula do PMDB não dá um passo sem ouvi-lo, a começar pelo presidente do Senado e do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Sarney mantém um frequente canal de conversas com o ex-presidente Lula, que também o consulta, independente de o momento ser ou não de crise.
A movimentação do ex-presidente se intensificou ao longo do mês de março, quando o PMDB entrou em rota de colisão com o Palácio do Planalto e, na esteira desse estado de forte tensão, a oposição, praticada principalmente pelo PSDB, criou e propagou o factoide do impeachment da presidente Dilma. Com a experiência de quem, como presidente da República, comandou a transição da ditadura para a democracia, conhecedor profundo, portanto, de como uma crise política pode se transformar numa crise institucional, Sarney é visto por muitos como o conselheiro certo para avaliar cenários e sugerir saídas.
Dono de um dos faros políticos mais apurados na República – há quem diga que o dele é o mais apurado -, Sarney percebeu que a pregação do impeachment poderia se transformar num factoide perigoso, que poderia ganhar volume, e partiu para o contra-ataque, aproveitando todas as oportunidades para desqualificar a estratégia oposicionista. Para ele, a tese do impeachment da presidente da República “não faz nenhum sentido”.
Numa entrevista à rádio britânica BBC, o ex-presidente foi taxativo na defesa da chefe do governo: “Isso é apenas uma reminiscência do impeachment do Collor. Mas isso [o impeachment] não ocorrerá de nenhuma maneira com a presidente Dilma. Pelo contrário, [Dilma] é uma pessoa que tem feito um esforço extraordinário na Presidência e ao mesmo tempo é uma sacerdotisa do serviço público, porque ela é uma mulher que tem tido um trabalho imenso e tem se dedicado de corpo e alma à sua tarefa”.
Sempre discreto, evitando exposições indevidas, o ex-presidente tem se movimentado nas mais diferentes direções, mas com foco firme no PMDB, onde sua influência é incontestável e onde sua palavra é sempre levada em conta. Atua ao mesmo tempo para manter a estabilidade do governo, mas também para fortalecer o partido. Há quem veja oportunismo na ação do ex-presidente, mas há também quem considere que nas atuais circunstâncias ter um conselheiro como Sarney é tudo o que a presidente Dilma precisa. Daí a avaliação de que o desfecho da crise política, qualquer que seja ele, será também responsabilidade do ex-presidente.
No plano estadual, Sarney faz e quer o seu grupo fazendo oposição cerrada ao governador Flávio Dino. Só que o grupo que o tem como referência não é hoje nem sombra do que foi até dezembro passado, quando a máquina pública ainda estava em seu poder. Sarney sabe que cabe a ele juntar o que sobrou daquele grupo, mas sabe também que enfrentará enorme dificuldade para juntar no mesmo balaio político a ex-governadora Roseana Sarney, o senador João Alberto, o ex-secretário Ricardo Murad e o ex-deputado Manoel Ribeiro, por exemplo. Corre o risco de sofrer em casa o seu primeiro fracasso em 60 anos de ação política, sempre vencendo desafios aparentemente invencíveis.
PONTOS & CONTRAPONTOS
Largas perspectivas
O ex-deputado federal Gastão Vieira deve assumir em breve um cargo graúdo na equipe da presidente Dilma Rousseff. Algumas vozes especularam que se ele ainda estivesse no PMDB, poderia ser convocado para o Ministério da Educação na vaga aberta com a demissão do ministro Cid Gomes. Ocorre que Gastão já está no PROS, e essa filiação partidária dificulta tal possibilidade, já que é voz corrente na base governista de que o partido não deve continuar com a pasta. Nos bastidores, a versão mais corrente é a de que o PMDB vai pressionar para abraçar também esse ministério, devendo medir forças com o PT, que também está de olho na cadeira ocupada até semana passada pelo ex-governador do Ceará. Gastão Vieira dificilmente desembarcará no MEC, mas com a saída de Cid Gomes ele passa a ser a figura mais proeminente do PROS, o que lhe abre largas perspectivas no governo.
Posse à vista I
A cúpula estadual do PMDB aposta que Alberto Filho assumirá nesta semana o mandato de deputado federal na vaga hoje ocupada pelo ex-prefeito de Porto Franco, Deoclídes Macedo (PDT). O político de Bacabal foi diplomado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), por decisão liminar do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Alberto Filho já comunicou oficialmente sua situação à Mesa da Câmara Federal, que encaminhou o processo para a Comissão de Constituição e Justiça, que o examinará e comunicará à presidência que o ato é perfeito. Como a decisão do TSE foi no sentido de não reconhecer os votos de Deoclídes Macedo, este votará à condição de suplente e Alberto Filho será empossado como o titular do mandato.
Posse à vista II
Tão logo o pemedebista Alberto Filho assuma o mandato de deputado federal, um problema aterrissará na mesa do governador Flávio Dino. Explica-se: Alberto Filho ganhou o mandato porque com a invalidação dos votos de Deoclídes Macedo, que se tornou inelegível por conta de problemas com a prestação de contas quando prefeito. A rigor, o primeiro suplente seria Julião Amin (PDT), que assumiu o mandato, mas foi convocado pelo governador Flávio Dino para assumir a Secretaria de Estado do Trabalho, abrindo a vaga para Deoclídes. Com a perda do mandato, Amin se garantiu na secretaria, mas Macedo ficará desempregado. A por se tratar de um quadro com larga experiência política e administrativa, o governador certamente ajustará sua equipe para acomodar o ex-prefeito de Porto Franco.
Janela fechada
De acordo com o novo Portal da Transparência, o Governo do Estado fechou o mês de janeiro com um saldo de receita no valor de R$ 1.436.105.659,39, em fevereiro com R$ 3.181.037.041,98 e até ontem o saldo de março era de R$ 3.752.466.211,11. Mas no que diz respeito às despesas, a janela teimou em não abrir, o que a coluna entendeu como algum problema menor a ser solucionado rapidamente.
São Luís, 21 de Março de 2015.
Análise política, é feita sem juízo de valor. Siga em frente!
Mais uma bronca pra Waldir Maranhão http://www.maranhaoemfoco.com/2015/03/conexao-reporter-exibe-reportagem-com.html