Ao subir ontem à tribuna da Assembleia Legislativa para agradecer a reeleição pelo PSB, o deputado Rafael (de Brito Sousa), antes conhecido como Rafael Leitoa, pode ter consumado o fim de um longo ciclo político em Timon, o terceiro maior colégio eleitoral do Maranhão. Ali, o deputado Rafael de Brito derrotou o ex-deputado estadual, ex-deputado federal, ex-prefeito de Timon e atual chefe do clã Leitoa Luciano Leitoa. Além disso, teve participação decisiva na vitória maiúscula e indiscutível do governador Carlos Brandão (PSB), com 47,45% dos votos, sobre o senador Weverton Rocha (PDT), com 34,23% naquele município, onde o pedetista tinha certeza de que seria vencedor. A derrota dos Leitoa com a vitória de Rafael (49.298 votos, dos quais mais de 16 mil em Timon) e a votação modesta (26.680 votos) de Luciano Leitoa pode ser o fim do reduto político comandado por Chico Leitoa, quadro de proa do PDT nos tempos de Jackson Lago e que depois foi se desfigurando até chegar na situação atual.
A derrocada dos Leitoa em Timon foi desdobramento direto da equivocada candidatura do senador Weverton Rocha ao Palácio dos Leões como oposição ao governador Carlos Brandão e ao ex-governador Flávio Dino (PSB). Até no final do ano passado, os Leitoa controlavam o PDT, sob o comando de Chico Leitoa, e o PSB, presidido por Luciano Leitoa, que comandou a Prefeitura de Timon por dois mandatos como membro do partido, do qual ele era presidente também no estado.
A decisão da cúpula nacional de entregar o controle do PSB no Maranhão ao deputado federal Bira do Pindaré e, em meados do ano passado, ao então governador Flávio Dino, que deixara o PCdoB, desarmou o clã Leitoa em Timon. Insatisfeito por perder o controle do partido no estado, Luciano Leitoa migrou para o PDT, atraído pelo arrojado projeto do senador Weverton Rocha ao Governo do Estado para tentar uma vaga na Assembleia Legislativa, de preferência impedindo a reeleição do deputado Rafael de Brito. Deu tudo errado, mesmo com o uso da máquina municipal comandada pela prefeita, aliada de peso do clã, e pelos poderosos instrumentos de campanha usados pelo candidato do PDT.
O rompimento dos Leitoa com o governador Carlos Brandão e com o ex-governador Flávio Dino, contrariando a posição de Rafael de Brito, que se afastou do grupo e se manteve fiel à aliança liderada por Flávio Dino, foi fatal para o clã. Certos de que Weverton Rocha seria eleito governador, os Leitoa apostaram todas as suas fichas no candidato, se aproximaram do bolsonarismo ao apoiar a candidatura do senador Roberto Rocha (PTB) à reeleição, e tentou isolar o deputado Rafael de Brito, que segurou as pressões e as artimanhas dos seus recém-convertidos adversários, e saiu por cima, reeleito com boa votação.
Nessa guerra, o maior perdedor foi o senador Weverton Rocha. Ele arrastou para o buraco bons quadros do PDT, como os ex-prefeitos timonenses Chico Leitoa e Luciano Leitoa, que levados pela ilusão de que o chefe pedetista sairia das urnas com o poder de mandar chover, romperam com ex-governador Flávio Dino, rompendo a aliança histórica com o PSB, o PCdoB e o PT. No contraponto, a trombada do senador e seus aliados timonenses com a realidade das urnas elevou o deputado reeleito Rafael de Brito à condição de maior líder político de Timon na atualidade. Posição que poderá ser confirmada nas eleições municipais de 2024, quando, segundo sopram rumores, será candidato à Prefeitura, contra a atual prefeita Dinair Veloso (PDT), por enquanto aliada dos Leitoa, ou com o próprio Luciano Leitoa, o que, se acontecer, será um bom combate.
Vale lembrar que, mesmo não tendo sido reeleita, a deputada Socorro Waquim (PP) continua de pé comandando um expressivo grupo, agora tendo como líder o deputado federal André Fufuca (PP).
PONTO & CONTRAPONTO
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Ao mesmo tempo em que possibilitou o surgimento de novos quadros políticos de peso, como, por exemplo, o deputado-presidente Othelino Neto (PCdoB), que ganhou estatura estadual, Iracema Vale (PSB), que realizou a proeza de romper a barreira dos 100 mil votos, e Arnaldo Melo (PP), que ganhou o sétimo mandato, já tendo sido presidente por dois mandatos, a corrida por cadeiras na Assembleia Legislativa encerrou, ao que tudo indica definitivamente, algumas carreiras políticas, uma vez que as personagens não conseguiram se eleger, como os ex-deputados Manoel Ribeiro (MDB), Ricardo Murad (PSC) e Chico Coelho (PL).
Aos 74 anos, dos quais mais de meio século dedicados à política, Manoel Ribeiro foi vereador de São Luís por vários mandatos, presidiu a Câmara Municipal, foi prefeito da Capital por uns dias, e deputado estadual também por vários mandatos, tendo presidido a Assembleia Legislativa por quase uma década em mandatos consecutivos. Tentou retornar à seara parlamentar depois de vários anos, mas não encontrou amparo nas urnas, das quais saiu com módicos 10.918 votos. Há quem diga que ele tentará a Câmara Municipal em 2024, num projeto de retornar às origens.
Um dos políticos mais atuantes e controvertidos do Maranhão, Ricardo Murad foi deputado estadual por vários mandatos e presidiu a Assembleia Legislativa na segunda metade dos anos 80 do século passado. Foi deputado federal por algumas semanas, comandou a Prefeitura de Coroatá como titular e como guru apoiador de prefeito. Tentou sem sucesso ser governador e prefeito de São Luís. Foi secretário Metropolitano no Governo de José Reinaldo, e de Segurança (por alguns dias) e da Saúde, tendo concebido e iniciado a implantação do projeto de criar uma rede hospitalar no Maranhão. Aos 66 anos, recebeu apenas 7.002 votos.
Um dos remanescentes da “República de Balsas”, que deu as cartas no Governo Luiz Rocha, Chico Coelho foi deputado estadual e federal, tendo sido também prefeito de Balsas. Recolheu-se depois de tentar voltar àquela Prefeitura. Aos 73 anos, candidatou-se de novo à Assembleia Legislativa, agora pelo PL de Josimar de Maranhãozinho e do presidente Jair Bolsonaro, mas recebeu apenas ínfimos 3.588 votos, que ganharam tom de alerta para que permaneça em casa.
Roseana explica baixa votação e desconversa sobre presidência da Câmara Federal
Entrevistada pela Rádio Mirante AM, para falar do resultado das eleições, a ex-governadora Roseana Sarney deu a seguinte explicação para o fato de haver entrado na corrida para ser campeã de votos para a Câmara Federal e saído das urnas eleita pelas tabelas, com módicos 96 mil votos: não tinha dinheiro nem cestas básicas.
E sobre a informação segundo a qual, dias antes das eleições, o ex-presidente Lula da Silva (PT) teria lhe dito que gostaria de vê-la no comando da Câmara Federal, a ex-governadora desconversou, deixando no ar a impressão de que tudo não passou de um factóide.
São Luís, 12 de Outubro de 2022.