A reação enfática do vice-governador Felipe Camarão (PT) a uma fala politicamente desastrosa e preconceituosa do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que apontara as regiões Sudeste e Sul como superiores em relação ao Norte, Nordeste e Centro-Oeste como potencialmente mais aptas ao desenvolvimento econômico, foi reveladora de que o atual secretário de Educação do Maranhão tem estatura para encarar essa visão distorcida da geopolítica brasileira. O governador mineiro falou durante o 8º Encontro de Integração Sul-Sudeste, que reúne Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul. O vice-governador maranhenses reagiu tão logo assistiu ao vídeo.
O que disse o governador Romeu Zema: “Quando se fala em Sul e Sudeste, nós temos aqui uma semelhança enorme. Se tem estados que podem contribuir para esse país dar certo, eu diria que são esses sete estados aqui. São estados onde, diferente da grande maioria, há uma proporção muito maior de pessoas trabalhando do que vivendo de auxílio emergencial”.
A reação do vice-governador Felipe Camarão: “Basta de xenofobia no Brasil. Esses que querem implantar um Brasil de preconceito são, na verdade, a causa de todas as nossas mazelas. Quem pode ajudar o Brasil, governador Zema, é o povo brasileiro, trabalhando unido e respeitando as particularidades de cada região. Solução mirabolantes são aquelas que segregam, separam, e fazem parecer que há mais de um Brasil. É preciso conhecer, pesquisar, estudar para saber a formação de cada região, de cada estado e até mesmo de cada município. Não é uma receita de bolo, é um estudo social profundo. Mas de uma coisa eu tenho certeza: a solução passa por eliminar da política brasileira aqueles que se acham superiores e que querem impor ideais preconceituosos para nos dividir. Não há supremacia no território brasileiro. Há um povo multicultural, mas nós somos um só povo. E que luta diariamente pelas suas refeições. Respeite o povo brasileiro. Não busque nos dividir. Viva o Nordeste, o Nordeste e o Centro-Oeste brasileiros, viva o Sul e viva o Sudeste. Juntos, somos o Brasil e o povo brasileiro”.
Ao reagir à infeliz fala do governante mineiro nesse tom e com esse nível de abordagem, o vice-governador deu um troco bem dosado em dois níveis, O primeiro como líder político que enxerga longe, por identificar no dito traços grosseiros de uma postura preconceituosa e uma visão supremacista, típica da direita conservadora que Romeu Zema representa e que é a essência ideológica do partido Novo. Ao mesmo tempo, Felipe Camarão reagiu como professor, abordando a delicada questão geopolítica de maneira didática, esclarecedora e sem qualquer traço de agressividade. Ao contrário, encerrou o puxão de orelhas convidando o governador mineiro para vir ao Maranhão durante as festas juninas, “para conhecer as nossas maravilhas”.
A reação de Felipe Camarão faz todo sentido. Afinal, o governador Romeu Zema, com a autoridade de quem foi reeleito em turno único e representa hoje uma voz mais estridente dessa direita em todos os segmentos da vida brasileira, pode transformar suas teses em bandeiras políticas perigosas. E quando diz uma asneira geopolítica desse quilate, sabe exatamente o que está fazendo, que é alimentar o discurso da direita conservadora, e onde está querendo chegar, que é consolidar um discurso político que o credencie a se tornar sucessor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na liderança da direita conservadora no âmbito da disputa presidencial de 2026. Isso ficou muito claro na incursão partidária que ele, Romeu Zema, fez ao Maranhão há dois meses.
E num pano mais aberto, a cipoada no governador mineiro deu uma mostra mais nítida de que o político Felipe Camarão, com a sua formação e a sua juventude, é tão posicionado quanto o técnico competente que vem mudando a realidade educacional do Maranhão. E isso representa um horizonte político bem largo.
PONTO & CONTRAPONTO
Eliziane enfrenta hoje “batismo de fogo” na CPMI dos Atos Golpistas
Não se trata de um teste decisivo, mas a apresentação, hoje, do plano de trabalho para a CPMI dos Atos Golpistas, será uma espécie de “batismo de fogo” para a senadora Eliziane Gama (PSD) como sua relatora. Ela passou os últimos dias trabalhando duro na elaboração do plano de trabalho, tendo de analisar nada menos que seis centenas de requerimentos e indicações dos integrantes da CPMI, parte deles relacionada com as convocações.
Eliziane Gama terá de usar toda a sua habilidade e perspicácia para conduzir esse processo. E o ponto chave do que já foi desenhado é que a bancada bolsonarista na CPMI está se preparando para usar todas as artimanhas possíveis com o objetivo de inverter a lógica dos fatos. Eles querem simplesmente posar de mocinhos e tentar apontar autoridades governistas – como o ministro Flávio Dino, da Justiça e Segurança Pública, por exemplo – como responsáveis pelo que aconteceu na Praça dos Três Poderes, em Brasília, no fatídico dia 8 de Janeiro. A senadora sabe que se encontra numa posição delicada e que corre o risco de sofrer desgastes com as investidas da banda bolsonarista.
A seu favor, a relatora da CMPI dos Atos Golpistas tem os fatos, que, por si, tornam praticamente inviável a estratégia dos opositores, e uma vasta e sólida experiência como integrante desse tipo de ação parlamentar, tendo participado de CPIs na Assembleia Legislativa (investigou a prostituição infantil), na Câmara Federal (CPI da Petrobras) e no Senado (CPI da Covid). Sabe, portanto, onde está pisando e, melhor ainda, com quem está lidando. Poderá enfrentar alguns problemas, mas conhece as regras e vai jogar com clareza.
É verdade que há uma certa preocupação no ar quando aos problemas a serem enfrentados pela senadora maranhense, mas é verdade também que a preocupação maior é a dos que tentarão afetá-la.
Juscelino corre o risco de ser tirado do ministério pelo próprio partido
O comportamento da bancada do União Brasil (UB) na votação de matérias fundamentais para o Governo na Câmara Federal, como a Medida Provisória dos Ministérios, criou de vez uma situação nada confortável para o deputado federal Juscelino Filho (UD) na condição de ministro das Comunicações. O partido dele três ministérios: o das Comunicações, o do Turismo, que tem à frente a deputada federal fluminense Daniela Carneiro (UB), e o da Integração e Desenvolvimento Regional, comandado pelo ex-governador do Amapá, Waldez Góes, que é do PDT, mas no caso segue o comando do senador amapaense Dai Alcolumbre, hoje um dos chefões do UB.
Os ministérios foram entregues ao UB pela via de um acordo com a bancada do partido no Congresso Nacional por meio do qual seus representantes apoiariam as matérias do Governo. O deputado Juscelino Filho ganhou o Ministério das Comunicações exatamente dentro desse acordão, que não tem qualquer relação com o fato de ser ele membro da bancada do Maranhão. Só que o acordo não está funcionando, porque parte do comando nacional do partido vem boicotando esse arremedo de aliança e levando parte da bancada do UB a votar contra o Governo, gerando forte mal-estar dentro da agremiação e colocando sob risco a permanência dos atuais ministros, a começar por Juscelino Filho.
Já bombardeado por outros motivos, entre eles o fato de ter usado de avião oficial para ir a leilão de cavalos de raça em São Paulo, Juscelino Filho agora enfrenta uma espécie de “fogo amigo”, já que há no partido vozes que fazem chegar ao Palácio do Planalto a impressão de que ele pouco tem contribuído para mudar a posição furta-cor do UB em relação ao Governo Lula. A deputada Daniela Carneiro, está resolvendo sua permanência no Ministério do Turismo com o projeto de mudar de partido. Tudo indica que Juscelino não tem a intenção de deixar o partido, mesmo que venha a deixar o ministério.
São Luís, 05 de Junho de 2023.