O presidente Jair Bolsonaro, o seu Governo, as suas propostas e o seu PSL e os grupos de direita que o apoiam, definitivamente não são bem vistos em São Luís. Na esteira do resultado das urnas em 2018, quando foram triturados, e nos saldos de alguns atos em que bolsonaristas ludovicenses tentaram ganhar fôlego e corpo, a manifestação de deste domingo (26) em apoio ao Governo e às suas propostas de reformas, realizada na Avenida Litorânea representou mais um fracasso retumbante de público e de representatividade política. No total, os organizadores contabilizaram três mil pessoas, numa cidade com 1,2 milhão de habitantes – a manifestação foi na esmagadora maioria formada por moradores de classe média de prédios vizinhos, com o complemento de um punhado nada expressivo de visitantes de outras regiões da cidade. Foi o que conseguiram bolsonaristas de proa responsáveis pela organização, como a ex-prefeita de Lago da Pedra e ex-candidata ao Governo do estado Maura Jorge, o presidente estadual do PSL, vereador Chico Carvalho, e o deputado federal Pastor Gildenemyr (PMN). No plano nacional, o Palácio do Planalto e seus aliados não tiveram motivo para comemorar, já que o total de todas as manifestações não foi muito além de 1 milhão de pessoas, num País com mais de 210 milhões de eleitores.
O fracasso retumbante da manifestação deste domingo na Capital do Maranhão não surpreendeu. Até aqui, o presidente Jair Bolsonaro e seu Governo não evoluíram um centímetro para melhorar sua imagem em São Luís e no maranhão inteiro, ao contrário, tudo o que aconteceu até agora só serviu para reduzir ainda mais o seu prestígio já raquítico. Nenhum dos atos e decisões do presidente nos seus cinco meses de mandato teve qualquer relação direta com o Maranhão, que até aqui vai confirmando a má impressão que teve do candidato presidencial Jair Bolsonaro, e depois de ele presidente da República. Uma pesquisa recente que mediu a corrida para a Prefeitura de São Luís revelou que a aprovação do chefe da Nação é inferior a 30%, e em franca tendência de queda.
Além de não terem apoio popular em São Luís, Jair Bolsonaro e seu Governo não dispõe de representatividade política. Seus autoproclamados porta-vozes são políticos sem qualquer expressão. Maura Jorge nada representa em matéria de posicionamento político, correndo o risco de não conseguir voltar à Prefeitura de Lago da Pedra. Chico Carvalho, que na Câmara Municipal fez dupla com o colega dele Isaías Pereirinha, é hoje um político em fim de carreira, que como seu parceiro, terá enormes dificuldades para renovar o mandato não ano que vem. Pastor Gildenemyr, um deputado federal absolutamente inexpressivo, que se elegeu na seara evangélica com pouco mais de 40 mil votos e tenta sobreviver apoiando o Governo e brigando por cargos federais no Maranhão. Mas de todos os bolsonaristas com mandato, a figura mais emblemática é o deputado estadual Pará Figueiredo (PSL), que até agora não disse a que veio, a começar pelo fato de que com quatro meses na Assembleia Legislativa nunca fez um pronunciamento de alinhamento ao presidente e seu Governo, o que o transforma numa incógnita, uma condição absolutamente estranha aos políticos.
A Coluna não conseguiu confirmar a presença do médico Alan Garcez na manifestação deste domingo na Avenida Litorânea. Ele se enfronhou no entorno presidencial em Brasília, fez parte da equipe de transição, dando pitaco em questões menores, e conseguiu um cargo de terceira linha no Ministério da Saúde. Recentemente, apresentou-se como porta-voz do Governo na distribuição de alguns veículos-fumacê, e nas assas desses mata-mosquitos anunciou que pretende se viabilizar candidato a prefeito de São Luís. Também não soube da participação de congressistas que se apresentam em Brasília como aliados do Governo, como o deputado federal Aloísio Mendes (Podemos), que vez por outra posta imagens suas com o presidente da República, o deputado federal Edilázio Jr. (PSD), que tem defendido o Governo na Câmara Federal, e o senador Roberto Rocha (PSDB), que tem se esforçado para parecer o mais bolsonarista dos tucanos de direita.
O fracasso da manifestação de ontem em São Luís, em termos numéricos e em peso político expressa rigorosamente o prestígio do presidente Jair Bolsonaro e seu Governo em São Luís.
PONTO & CONTRAPONTO
Dino aponta sectarismo, extremismo e divisionismo como lastros do fracasso político de Bolsonaro
Ao desembarcar no Recife, sexta-feira (24) para a reunião do Conselho Deliberativo da Sudene, com a presença do presidente Jair Bolsonaro (PSL), na sua primeira visita ao Nordeste como chefe da Nação, o governador Flávio (PCdoB) mostrou, em entrevista, porque o Governo Bolsonaro não avança e permanece travado cinco meses após ser instalado. “O Governo Bolsonaro tem uma visão sectária, extremista e divisionista”, definiu o governador maranhense, reafirmando as impressões colhidas e manifestadas desde que o ex-capitão e ex-deputado federal por cinco mandatos foi empossado no Palácio do Planalto.
Flávio Dino chegou ao Recife para o encontro dos governadores do Nordeste e os de Minas Gerais e Espírito Santo com o espírito aberto, disposto a flexibilizar sua posição caso o presidente da República manifestasse uma compreensão pelo menos sensata do que são os problemas do Nordeste e anunciasse medidas efetiva de desenvolvimento regional, como o fortalecimento da Sudene, por exemplo. Mas o que aconteceu no encontro foi frustrante segundo a interpretação da maioria dos governadores presentes.
A estreia do presidente na Região Nordeste fortaleceu a posição do governador do Maranhão como um dos seus mais destacados líderes, com cacife para ser lembrado como nome forte para ser o candidato da esquerda ou de uma frente reunindo o centro e a esquerda nas eleições presidenciais de 2022. E as manifestações de ontem nas capitais nordestinas, a começar por São Luís, mostraram que o presidente e seu Governo continuam em baixa, e com tendência de queda, em tida a região.
Ao pedir ao MP que audite o Guardião, Edilázio Jr., poderá estar apontando fuzil contra o próprio grupo
O deputado federal Edilázio Jr. (PSD) pediu ao Ministério Público para auditar o sistema Guardião, utilizado pela Secretaria de Estado de Segurança Pública na interceptação telefônica de pessoas suspeitas sob investigação. Ele quer esclarecer se são ou não verdadeiras as declarações dos delegados Tiago Bardal e Ney Anderson acusando o secretário Jefferson Portela de ter ordenado a investigação de políticos adversários do Governo, como o senador Roberto Rocha, por exemplo. Policial sério, que colocou o colega Tiago Bardal na cadeia por liderar uma quadrilha de contrabandistas, o secretário Jefferson Portela rebate com veemência a acusação, já tendo anunciado inclusive que vai cobrar explicações do dois na Justiça. Nos bastidores da política há quem veja Edilázio Jr. “catucando a onça com vara curta”. Uma fonte da Coluna lembra que denúncias sobre o uso político cabeludo do Guardião se deu com força nos Governos Roseana Sarney (MDB), na gestão do atual deputado federal Aloísio Mendes (Podemos) entre 2009 e 2013. A mesma fonte avalia que se o MP acatar o pedido de auditagem e resolver ir fundo, o deputado federal Edilázio Jr. poderá colocar seu grupo político numa situação extremamente delicada e perigosa.
São Luís, 26 de Maio de 2019.