O ministro Juscelino Filho, das Comunicações, teve R$ 850 mil em bens bloqueados pela Justiça e mais uma vez aparece como pivô de grave suspeita de desvio; a irmã do ministro, Luanna Bringel Rezende, prefeita de Vitorino Freire – município do Vale do Pindaré com 31 mil habitantes – foi afastada do cargo por suspeita de corrupção; isso e mais R$ 7,5 milhões de emendas para construir uma estrada que leva exatamente a fazendas da família Rezende. Entre eles, um empresário, chamado de Imperador, suspeito de ser o operador dos supostos desvios, e uma série de desdobramentos.
É esse o cenário da Operação Benesse, a terceira fase da Operação Adroaco, da Polícia Federal, cumprindo ordem do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, que investiga supostos desvios de recursos de emendas parlamentares federais por meio do braço maranhense da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), já apontada em várias operações como suspeita de abrigar esquemas de desvios de verbas federais. O bloqueio de bens do ministro, o afastamento da prefeita de Vitorino Freire e as peripécias do “Imperador” formaram a nova e mais forte tempestade perfeita em torno do ministro das Comunicações.
E como era de se esperar, diante da escandalosa repercussão dos resultados da Operação Benesse, o ministro Juscelino Filho, a prefeita afastada de Vitorino Freire, o empresário Eduardo Imperador e a Codevasf vieram a público afirmando que tudo não passa de equívoco monumental, que o que foi encontrado nas investigações é mera fantasia, e que todas as suspeitas e dúvidas serão devidamente esclarecidas durante o inquérito. Só faltou o manjado “Isso é perseguição política”, porque aí já seria uma reação francamente debochada e uma afronta à Polícia Federal e ao ministro Luís Roberto Barroso. A julgar pelos exemplos que vêm a público a cada dia, já se pode prever que a prefeita Luanna Bringel Rezende, por ação de advogados experientes e caros, consiga retornar ao cargo, e Eduardo Imperador obtenha um habeas corpus. E tudo volte ao “normal” em Vitorino Freire.
A situação do ministro Juscelino Filho, que já não era boa por conta de denúncias de desvio de emendas e conduta polêmica à frente do Ministério das Comunicações, ficou muito pior desde ontem, quando telejornais abertos e a cabo, emissoras de rádios, portais de notícia trombetearam o seu envolvimento no escândalo na Prefeitura de Vitorino Freire. Aliados do Governo começaram a chiar de verdade contra a presença do deputado federal Juscelino Filho (União Brasil) na pasta das Comunicações. Na primeira bateria de denúncias, em abril, o presidente Lula da Silva (PT) relevou o que foi dito e publicado a respeito e ficou satisfeito com as suas explicações para o uso do jatinho público para ir a um leilão de cavalos de raça no interior de São Paulo, e sobre a suspeita de malfeitos com as emendas. Agora, todos aguardam a posição do presidente da República e também do partido do ministro, o União Brasil.
O problema é que agora há um coro de muitas vozes contra a permanência do deputado federal Juscelino Filho no comando do Ministério das Comunicações, uma pasta de grande importância na construção do futuro do Brasil. Há quem diga que ele, por força do acordo firmado entre o Governo e o partido, poderá reunir ainda gás suficiente para garantir uma sobrevida. Mas há também quem avalie que sua temporada na Esplanada dos Ministérios pode ter chegado ao fim. É possível que o Palácio do Planalto esteja usando a cautela para não tomar uma decisão precipitada, mas também é admissível que essa decisão já esteja tomada, estando o presidente da República aguardando o momento certo para formalizá-la e comunicá-la ao mundo.
O fato concreto é que o ministro das Comunicações está encarando mais um forte desgaste, que torna incerta a sua permanência no cargo.
PONTO & CONTRAPONTO
Weverton diz que ministro e prefeita são vítimas de “interesses políticos”, mas não diz quais nem de quem
O senador Weverton Rocha (PDT) surpreendeu o mundo político ontem ao fazer uma defesa enfática do ministro Juscelino Filho e da irmã dele, a prefeita de Vitorino Freire Luanna Bringel Rezende. Na nota, o senador foi mais enfático do que os próprios suspeitos nas suas defesas. Afirmou que para ele são pessoas idôneas e estão sendo vitimadas por “interesses políticos”.
Em tom duro, o senador criticou a decisão do ministro Luís Roberto Barroso de bloquear os bens do ministro Juscelino Filho até o valor de R$ 835 mil, batendo forte também na medida que afastou a prefeita temporariamente. No caso, alegou que Luanna Bringel Rezende foi reeleita e é bem avaliada, mas não se arriscou a entrar no âmago da investigação, não tendo como afirmar categoricamente que não houve o desvio.
Na avaliação do senador pedetista, o ministro das Comunicações e a prefeita de Vitorino Freire estão sendo alvos de “interesses políticos”. Mas não aponta a origem desse interesse político nem o que está em jogo para que um ministro de Estado, que é deputado federal, esteja sendo alvejado dessa maneira.
Em tom destinado a colocar uma sombra de suspeita sobre a Operação Benesse, o senador Weverton Rocha indaga: “Por que razão, então, aconteceu uma operação com tanta exposição de mídia e o pedido de afastamento de uma prefeita muito bem avaliada e que vem cooperando com os órgãos investigadores?”
Ele mesmo responde: “A resposta parece estar nos interesses políticos de atingir o ministro das Comunicações”.
Nada de concreto além disso. E em seguida, o senador Weverton Rocha dedica nada menos que cinco parágrafos da sua nota para reclamar do que chama de “criminalização da política”, sem, no entanto, oferecer um só argumento fático para justificar a sua enfática reação crítica à Operação de ontem.
Vale lembrar que o senador Weverton Rocha é bem próximo, pois tem como suplente Robert Bringel, ex-prefeito de Santa Inês, sogro de Luanna Bringel Rezende, o que pode explicar em parte o seu posicionamento tão enfático contra a Operação Benesse.
Brandão defende unidade em recado direto às fontes de especulação
O governador Carlos Brandão (PSB) mandou ontem um recado aos que apostam no rompimento da aliança que o liga ao senador Flávio Dino (PSB), ministro da Justiça e Segurança Pública. Ao comandar, no pátio do Palácio Henrique de la Rocque, a entrega de equipamento a pequenos empreendedores rurais – tratores, caminhões, máquinas de costura, entre outros equipamentos – o chefe do Governo foi direto nas especulações e fez a seguinte declaração defendendo o discurso da unidade que trouxera da campanha eleitoral e vem usando desde o início do novo mandato:
“Essa unidade eu tenho pregado pelo estado inteiro. Não adianta briga, confusão. O povo não quer saber disso. O povo quer saber da máquina de costura, é do pano, é da linha para ele costurar. O povo quer saber do trator”.
Foi muito mais que meia palavra, para não deixar os especuladores em dúvida.
São Luís, 02 de Setembro de 2023.