Na ampla entrevista que concedeu aos jornalistas Raimundo Borges e Luísa Pinheiro, publicada ontem no jornal O Imparcial, na qual fez um balanço positivo e otimista dos primeiros 100 dias do seu governo, o governador Flávio Dino (PCdoB) deixou no ar dúvidas quanto à sua relação com o prefeito de São Luís, Edivaldo Holanda Jr. (PTC). Perguntado sobre a especulação de suposto estremecimento com o chefe da administração da Capital, o governador deu uma resposta que em princípio desmente o “tititi”, mas, por outro lado, pareceu estar ele distante do seu parceiro político e também administrativo.
A pergunta: Especula-se em São Luís um suposto estremecimento na relação sua com o governo municipal do Edivaldo Júnior. De verdade, como está essa relação?
A resposta: Não há estremecimento nenhum. Pelo contrário, a gente tem focado sempre naquilo que cabe a cada esfera. É natural que vez por outra surjam diferenças de abordagem em relação a problemas que têm que levar a algum tipo de pactuação, como essa questão recente das tarifas de ônibus. A Prefeitura tomou uma decisão, nós consideramos que essa decisão não era a melhor naquele momento. Chamamos os empresários e a própria Prefeitura para um diálogo e juntos encontramos a solução. Com a participação do Governo do Estado, reduzindo a alíquota do ICMS do combustível dos ônibus de 7% para 2%. Isso permitiu que a Prefeitura pudesse fazer a redução de R$ 0,20 da tarifa.
Não se pode afirmar categoricamente que a resposta do governador Flávio Dino foi uma declaração de satisfação plena com a sua relação com o prefeito Edivaldo Jr. Pareceu mais uma manifestação de tolerância, a começar pelo fato de que ele não se referiu ao prefeito Edivaldo Jr., preferindo usar a o pronome “nós”, ou seja, o Governo e a “Prefeitura”. Além disso, ao falar sobre o aumento das passagens, fez uma crítica direta á administração municipal, quando disse “nós consideramos que aquela solução – o aumento das passagens – não era a melhor naquele momento”.
Por mais que tenha dourado a pílula informando que a solução foi fruto de diálogo envolvendo a autoridade municipal, o governador passou mesmo foi a impressão de que a solução saiu do Governo do Estado e não da Prefeitura de São Luís, e ponto final. E nos bastidores o que se comenta mesmo é que, ao tomar conhecimento da pancada que foi o aumento concedido pela Prefeitura no bolso de milhares e milhares de trabalhadores, Palácio dos Leões fez praticamente uma intervenção no Palácio de La Ravardière, chamando para a si a solução de um problema que, a rigor, não seria da sua alçada.
É certo que o prefeito Edivaldo Jr. tem se esforçado para dar à sua administração uma dinâmica que deixe para trás a má impressão dos descompassos dos dois primeiros anos, e aposta todas as suas fichas nas parcerias prometidas pelo governador do Estado. Um exemplo são as mudanças no sistema de transporte, com o aumento da frota. Mas é certo também que 100 dias depois de iniciado o governo, a tão propalada mudança ainda não engrenou como a população esperava. E a julgar pelas palavras do governador, “diferenças de abordagem” – que ele considera naturais, e são mesmo -, podem estar obstaculando as parcerias.
O fato é que em sua entrevista, o governador não demonstrou nenhum entusiasmo em relação à Prefeitura de São Luís. E reforçou essa impressão ao responder a pergunta seguinte.
Pergunta: O senhor como político, como governador, já está vendo o cenário de 2016 para as eleições municipais?
Resposta: Em relação a isso, tenho optado por não ver. Acho que há tempo para tudo debaixo do céu e acho que há um exaurimento da sociedade em relação à repetição de eleições, como se isso fosse um processo eterno. No mais, fui eleito para governar e não para ficar disputando eleição.
Material de primeira para reflexão do prefeito Edivaldo Jr. e seus virtuais adversários, entre eles a deputada federal Eliziane Gama (PPS) no fim de semana.
PONTOS & CONTRAPONTOS
Frases para anotar
Na coletiva em que apresentou os resultados dos primeiros 100 dias do seu governo, o governador Flávio Dino fez três declarações emblemáticas.
Sobre os rumos do governo:
“Nós nos comprometemos a fazer quatro anos de mudança e esse início prova isso, são 100 dias de mudança. Tenho ciência de que ainda há muito para fazer, mas estamos no caminho certo”.
Sobre transparência nos gastos:
“Antigamente apenas 40% dos gastos eram expostos, os outros 60% eram ocultos”.
Sobre os números da violência no seu governo:
“Os números ainda não são os ideais, mas são declinantes, o que demonstra que a polícia está mais presente. Vamos continuar progredindo”.
Correção
O leitor Pedro Coelho faz uma correção no texto em que a coluna emitiu impressões sobre os 42 deputados que integram a nova Assembleia Legislativa. Informa que, ao contrário do que publicou a coluna, o deputado Rigo Teles (PV) não tem seis mandatos, mas cinco, mesmo número de mandatos do deputado Stênio Rezende (PTdoB). Ou seja, não há decano no Palácio Manoel Bequimão.
São Luís, 10 de Abril de 2015.
Estamos vivendo uma das maiores crise política de todos tempo então está mudança política do governo tem de ser vista com preocupação e não com emoção.