Esquecido por vários anos, projeto do Maranhão do Sul volta à Assembleia Legislativa e à pauta política estadual

 

Antônio Pereira abriu o debate sobre a proposta de criação do Maranhão do Sul

Após um esquecimento de anos e anos, a ideia de dividir o Maranhão para criar o Maranhão do Sul voltou com força e entrou novamente na pauta dos debates políticos do estado. A volta se deu pelas mãos do senador Siqueira Campos (DEM), que liderou o processo de criação do Estado do Tocantins, separado de Goiás, que protocolou no Senado, com o aval de 27 senadores, entre eles a maranhense Eliziane Gama (Cidadania), Projeto de Decreto Legislativo nº 509 criando o novo estado em terras maranhenses. O projeto já foi encaminhado à Comissão de Constituição e Justiça, onde aguarda a designação de um relator para ter uma tramitação efetiva. A iniciativa de Siqueira Campos ecoou fortemente ontem na Assembleia Legislativa pela voz do deputado tocantino Antônio Pereira (DEM) cujo discurso entusiasmado em defesa da criação do Maranhão do Sul mexeu com o plenário e motivou pelo menos uma dezena de deputados a se manifestar sobre o assunto, a maioria defendendo a realização de um grande debate. Os parlamentares da região que aspira a emancipação festejaram o projeto e mostraram que estão dispostos a mobilizar céu e terra para tornar a iniciativa de Siqueira Campos uma realidade.

Antônio Pereira fez um pronunciamento vibrante, de convocação dos tocantinos para que se mobilizem em torno do projeto e pedindo o apoio de todos os maranhenses. Disse que Imperatriz, apontada como capital do futuro estado, e toda a macrorregião de 146 mil quilômetros quadrados, onde se encontram 1,3 milhão de habitantes espalhados em mais 49 municípios, entre eles Balsas, Açailândia, Barra do Corda, Grajaú e Carolina, estão preparados para se tornar uma unidade federativa. O parlamentar lembrou que a ideia da emancipação dessa região não é de agora. Trata-se, segundo afirmou, de um projeto que ganhou forma ainda no século passado, quando políticos, empresários, intelectuais e profissionais liberais tocantinos começaram a esboçar a ideia, que ganhou força com a criação do vizinho estado do Tocantins, no final da década de 1990. Várias tentativas foram feitas, mas “forças contrárias” desestimularam o andamento da proposta no Congresso Nacional.

Com o aval dos deputados Marco Aurélio (PCdoB), Pastor Cavalcante (PROS), Rigo Teles (PV) e Wellington do Curso (PSDB), e as ponderações de Arnaldo Melo (MDB), Zé Inácio (PT) e Hélio Soares (PL),  Antônio Pereira pediu o apoio do governador Flávio Dino (PCdoB), dos três senadores – já tem o de Eliziane Gama, que avalizou o projeto de Siqueira Campos -, dos 18 deputados federais e dos 42 deputados estaduais, Antônio Pereira pediu a “união de todos”, argumentando: “Caminhamos tanto tempo juntos e queremos ser irmãos. Queremos continuar irmãos, dividir as funções, porque nós sabemos que um estado do tamanho do Maranhão é de dimensões que alguns países na Europa não têm a metade”. E foi além reforçando a justificativa com um argumento cultural: “Fomos colonizados pelo povo do Centro-Oeste, do Sul e do Sudeste. Há um pensamento diferente. Peço a compreensão do governador, dos senadores e dos deputados federais. Sem a classe política nós não caminharemos”.

Se vier a ser efetivamente criado, o Maranhão do Sul levará um bom quinhão da riqueza maranhense. Para começar, será o dono do complexo da Suzano de produção de celulose instalado em Imperatriz, uma candidata a metrópole já consolidada como um rico empório comercial; levará a beleza, a história e a riqueza de Barra do Corda; terá como pilar o polo agrícola de Balsas, que forma a base do agronegócio maranhense, e a pecuária, a riqueza natural e a história de Carolina, além do polo siderúrgico de Açailândia.  Assumirá também uma locomotiva de problemas, entre eles o desmatamento criminoso que é praticado na região e o gravíssimo problema das reservas indígenas da região polarizada por Montes Altos, para citar apenas dois exemplos.

Se, finalmente, o projeto de Siqueira Campos ganhar fôlego e for adiante, o que muitos consideram improvável, os maranhenses mergulharão num grande e oportuno debate, que poderá servir para avaliar um pouco do passado recente, do presente em curso e o futuro que os aguarda.

Em Tempo:  O projeto do Maranhão do Sul propõe que o novo estado seja formado pelos seguintes municípios: Açailândia, Alto Parnaíba, Amarante do Maranhão, Arame, Balsas, Barra do Corda, Benedito Leite, Bom Jesus das Selvas, Buriticupu, Buritirana, Campestre do Maranhão, Carolina, Cidelândia, Davinópolis, Estreito, Feira Nova do Maranhão, Fernando Falcão, Formosa da Serra Negra, Fortaleza dos Nogueiras, Governador Edison Lobão, Grajaú, Imperatriz, Itaipava do Grajaú, Itinga do Maranhão, Jenipapo dos Vieiras, João Lisboa, Lajeado Novo, Loreto, Mirador, Montes Altos, Nova Colina, Nova Iorque, Pastos Bons, Porto Franco, Riachão, Ribamar Fiquene, Sambaíba, São Domingos do Azeitão, São Félix de Balsas, São Francisco do Brejão, São João do Paraíso, São Pedro da Água Branca, São Pedro dos Crentes, São Raimundo das Mangabeiras, Senador La Roque, Sítio Novo, Sucupira do Norte, Tasso Fragoso e Vila Nova dos Martírios.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Flávio Dino rebate com firmeza a acusação de que o Consórcio Nordeste prega o separatismo

Flávio Dino, entre Camilo Santana (CE) e Fátima Bezerra (RN), rebate acusação de separatismo feita por Jair Bolsonaro, que ataca os governadores do Nordeste  

Ao mesmo tempo em que deputados da Região Tocantina defendiam a divisão do Maranhão em dois, para a criação do Maranhão do Sul, o governador Flávio Dino (PCdoB) rebatia, em evento promovido pela revista Carta Capital, em São Paulo, a acusação do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de que os nove governadores nordestinos estariam tentando “separar” o Nordeste do resto do Brasil. Em tom firme, revelando estranheza em relação à “suspeita” presidencial, o governador do Maranhão explicou que o Consórcio Nordeste não tem qualquer propósito separatista.

– Não temos nenhuma perspectiva separatista. O consórcio representa uma perspectiva democrática que não significa oposição, mas sim, diferença. Nós acreditamos na democracia, no pluralismo e na limitação do poder, de quem quer que seja – declarou Flávio Dino, ao lado dos governadores cearense Camilo Santana (CE), Fátima Bezerra (RN) e Wellington Dias (PI), todos do PT. Acrescentou que o Consórcio Nordeste é uma iniciativa de estados do Nordeste para atrair investimentos e alavancar projetos de forma integrada, com a mediação estratégica do Estado.

– Nós, orgulhosamente, não aderimos aos modismos que acham que o Estado nada tem a dizer na conjuntura atual. Não aderimos que o mercado pode tudo e vai resolver tudo – declarou Flávio Dino. Ele enumerou as prioridades do Consórcio Nordeste e reforçou a necessidade de construir diálogo com as empresas privadas para o desenvolvimento nacional.

– Nós sabemos o lugar insubstituível do capital privado e das empresas, mas, para que ele possa se desenvolver em sua plenitude, é preciso que haja uma instância pública, apta em fazer a compatibilização de múltiplos interesses legítimos na sociedade. Nós acreditamos em soberania energética, em bolsas de pós-graduação, em desenvolvimento nacional – disse, numa crítica direta ao projeto liberal primário que o Governo Bolsonaro tenta implantar no Brasil e que começa com ataques violentos a instituições pensantes como universidades e organismos voltados para a ciência aplicada, como o Inpe, por exemplo.

 

Chico Carvalho e Isaías Pereirinha dão aula de sobrevivência política no comando do PSL

Isaías Pereirinha (de chapéu) e Chico Carvalho filiam Tadeu Palácio: craques em sobrevivência na movediça política de SL

O ato de filiação realizado pelo PSL no fim de semana que passou e que levou o ex-prefeito Tadeu Palácio a despir o jaleco de oftalmologista e vestir novamente a camiseta de pré-candidato à sucessão do prefeito Edivaldo Holanda Jr. (PDT) certamente teve o incentivo do comando nacional do partido, mas o certo mesmo é que foi obra de dois caciques da política de São Luís, os vereadores Chico Carvalho e Isaías Pereirinha. Os dois são dois remanescentes de uma época em que a Câmara Municipal foi comandada por figuras marcantes como João Evangelista e Raimundo Assub, por exemplo. Com habilidade e esperteza políticas, Chico Carvalho comanda o PSL há pelo menos 15 anos, desde quando Jair Bolsonaro era um deputado federal mequetrefe que nem sonhava em entrar para o partido. Sobreviveu a todas as tentativas de destroná-lo, algumas recentes, dando aulas e mais aulas de sobrevivência no movediço andar térreo da política. Isaías Pereirinha não tem raízes tão profundas quanto as de Chico Carvalho, mas igualmente mostrou um apurado instinto de sobrevivência e muita habilidade, deixando para trás muitos que apostaram que seria mandado para casa. Os dois mantêm uma aliança informal e seguram o PSL com mão de ferro, tendo Chico Carvalho o comando estadual e Isaías Pereirinha o controle da agremiação em São Luís. São, provavelmente, os dirigentes mais longevos do partido em todo o País, e pela desenvoltura com que operam, vão continuar dando as cartas por muito tempo.

São Luís, 21 de Agosto de 2019.

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