O prefeito de São Luís, Edivaldo Jr. (PTC) – e todos os seus colegas eleitos em 2012 – e o governador Flávio Dino (PCdoB) foram dormir mais tranquilos na noite de quarta-feira. Motivo: a Câmara Federal decidiu, no bojo da reforma política, que eles poderão concorrer à reeleição, o primeiro em 2016 e o segundo em 2018. E com uma vantagem a mais, o mandato a ser tentado na reeleição poderá ser de cinco anos, o que dá aos aspirantes um gás a mais na preparação para as guerras eleitorais.
A situação do prefeito Edivaldo Jr. é desafiadora. A peleja na qual ele brigará por mais um mandato será acirrada, dado o número de pré-candidatos. Os aspirantes – Eliziane Gama (PPS), Roseana Sarney ou Lobão Filho (PMDB), Gastão Vieira (PROS), Neto Evangelista (PSDB), Edilázio Jr. (PV), entre outros – estão desde agora se munindo de argumentos para fazer uma campanha implacável com o objetivo de ocupar a sala principal do Palácio de la Ravardière.
A julgar pelo que tem sido evidenciado nas últimas semanas, as dificuldades do prefeito Edivaldo Jr. são respeitáveis. Para começar, sua gestão viveu os dois primeiros anos esbarrando em dificuldades, de modo que a máquina pública municipal não deu as respostas que o atento e instável eleitor da Capital esperava. Nesse campo, o prefeito sinaliza um começo de reação, apresentando alguns resultados que têm sido festejados por seus aliados. Essa melhoria de desempenho, no entanto, ainda não convenceu de todo o eleitorado, que lhe mantém com nota baixa, mas com inclinação para avaliações melhores, conforme mostrou pesquisa recente do Escutec. Isso significa dizer que o prefeito está, de fato, se preparando para o embate do ano que vem.
No campo político, o prefeito Edivaldo Jr. vive um momento que, dependendo de como está sendo encarado, pode ser de afirmação ou de fragilidade. Eleito como um projeto do então candidato a governador Flávio Dino, o prefeito foi um dos aliados mais ativos na vitoriosa campanha de Dino ao Governo do Estado. Ocorre que adversários do prefeito – como a deputada federal Eliziane Gama, por exemplo, pré-candidata assumida -, também apoiaram o candidato Flávio Dino, e por causa disso, o governador já declarou que não se envolverá em disputa entre dois aliados. A posição do governador criou um embaraço para o prefeito e o seu projeto de reeleição. Mas se ele tiver vontade, determinação e personalidade política, a neutralidade de Dino pode ajudá-lo, se esta for aproveitada de maneira madura e ele se mostrar um prefeito politicamente independente da tutela do Palácio dos Leões. Vai depender só dele.
O governador Flávio Dino, por seu turno, está em início da caminhada e tem pela frente desafios gigantescos a serem vencidos. Flávio Dino sabe que essa reforma política poderá mudar não apenas o processo eleitoral e tempo de mandatos, mas também alcançar o coração e a mente do eleitorado, tornando-o mais exigente, principalmente depois das decepções que o afetaram após as eleições de 2014. Ou seja, o governador tem discernimento político suficiente para fazer essa leitura, o que lhe dá condições de nortear as ações do seu governo para uma gestão bem sucedida.
Não há dúvida de que Flávio Dino se elegeu para governar por oito anos, o que implica vencer a guerra eleitoral de 2018. Ele chegou ao poder consciente de que tirou dele um grupo poderoso e influente, mas ao mesmo tempo em declínio e minado pelo desgaste que contamina impérios longevos demais. Isso o obriga a fazer esforços bem maiores, porque a partir de 2018 a briga pelo poder será ferrenha, já que governador e presidente terão mandato de cinco anos, sem reeleição.
Nesse contexto, o prefeito Edivaldo Jr. tem a chance e o tempo necessário para mostrar que não é um fracasso administrativo nem candidato a um fracasso político. E o governador Flávio Dino vive a mesma situação, com a diferença de que está iniciando seu governo, não sofreu ainda desgaste sério e tem todas as condições de se tornar um projeto bem sucedido.
PONTOS & CONTRAPONTO
Debatendo a reforma
Alguns deputados federais maranhenses estão participando intensamente dos debates da reforma política. Pedro Fernandes (PTB), Sarney Filho (PV), Victor Mendes (PV), Hildo Rocha (PMDB), Eliziane Gama (PPS), Rubens Jr. (PCdoB), José Reinaldo Tavares (PSB), João Castelo (PSDB) e Aluísio Mendes (PTdoB), Cléber Verde (PRB) e João Marcelo de Souza (PMDB) estão atuando ativamente integrados às suas bancadas. Os demais não têm demonstrado muito interesse pelo que está sendo considerado o grande momento da nova Câmara Federal.
Levantando a bandeira
O deputado Sarney Filho jogou todo o peso da sua experiência parlamentar e matreirice política para chamar para si uma bandeira de interesse dos prefeitos de todo o país: a ampliação do mandato. Na terça-feira, o líder do PV foi à tribuna e surpreendeu seus pares com uma proposta ousada, que já corria nos bastidores, mas que não havia sido defendida abertamente no plenário: a ampliação, por mais dois anos, do mandato dos atuais prefeitos. De lá p ara cá, Sarney Filho não tem perdido os prefeitos de vista e vez por outra cobra da presidência da Câmara a votação da proposta.
Proposta indecente
O deputado federal Hildo Rocha (foto) se juntou à corrente contrária à adoção do mandato de cinco anos para os atuais deputados federais, como prevê uma das propostas da reforma política. Rocha usou o microfone para criticar duramente a iniciativa, argumentando que não faz sentido aumentar o tempo do mandato parlamentar. “Mandato de cinco anos para os deputados é uma aberração, é uma traição ao povo, além de ser inconstitucional e imoral. Não há como aceitar essa imoralidade”, declarou Rocha, aplaudido por uns e censurado por outros.
São Luís, 28 de Maio de 2015.