A eleição do deputado federal Duarte Jr. (PSB) para a vice-presidência da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), instalada no Congresso Nacional para investigar a mega fraude dos descontos ilegais em aposentadorias do INSS, que somam mais de R$ 2 bilhões, foi considerada uma vitória do Governo, que depois de perder todas, conseguiu, por acordo com a oposição, ocupar um espaço importante na Comissão. Ao mesmo tempo, a indicação, pelo PSB, é um indicador forte de que, pelo menos por enquanto, ele vai permanecer no partido, interrompendo a discussão sobre migrar ou não para outro partido.
Duarte Jr. foi uma escolha planejada e cuidadosa, porque ele vai ser o ponto de equilíbrio numa CPMI cujo desfecho interessa muito ao Palácio do Planalto e à base governista como um todo. Isso porque, mesmo que a fraude dos descontos nas aposentadorias, feitos por entidades civis supostamente destinadas à defesa dos interesses dos aposentados, tenha sido iniciada em governos passados, ela se tornou gigantesca nos últimos três anos.
Nada indica que o Governo do presidente Lula da Silva (PT) tenha algo a ver diretamente com o crime, que custou mais de R$ 2 bilhões aos aposentados do INSS, mas o fato de entidades política e ideologicamente alinhadas ao PT e, por via de desdobramentos, ao Governo, pode causar um prejuízo fatal à imagem do presidente. E é nisso que a oposição, principalmente a banda bolsonarista, está apostando todas as suas fichas, tanto que forçou a barra e conseguiu instalar a CPMI exatamente no momento em que o Supremo Tribunal Federal se prepara para julgar, e muito provavelmente condenar, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de estado.
É nesse clima de confronto, movido por essa monumental equação política, que o deputado Duarte Jr. assume a vice-presidência da CPMI do INSS, presidida pelo senador Carlos Viana (Podemos-MG), adversário feroz do Governo, e tendo como relator o deputado federal Alfredo Gaspar (União-AL), bolsonarista roxo e inclinado a supervalorizar qualquer fiapo de evidência que possa se transformar numa bomba contra o Governo Lula da Silva. Duarte Jr. chega como uma aposta do Palácio do Planalto com talento, preparo parlamentar e tutano para fazer o contraponto à tropa oposicionista, que tem manifestado nítida disposição de criar situações que possam envolver o presidente Lula da Silva, exatamente no momento em que o ex-presidente Jair Bolsonaro estará sendo julgado.
Detentor de bom preparo técnico e de ampla visão política, e muito traquejado no jogo e nos embates que se travam com frequência na Câmara Federal, o deputado Duarte Jr. conhece com precisão o tabuleiro em que vai se movimentar, já com experiência no curso das investigações. Sua escolha pelo Palácio do Planalto e sua indicação pelo PSB reforçam, portanto, a impressão de que ele poderá ter um papel decisivo nos embates que estão previstos ao longo dos 90 dias de existência da Comissão, cujos cargos-chave estão com a oposição.
A indicação do deputado Duarte Jr. à vice-presidência da CPMI do INSS, feita pela cúpula do PSB com o aval do Palácio do Planalto, é uma sinalização importante de que ele poderá permanecer no partido, desfazendo a impressão inicial de que migraria para outra agremiação depois que o comando da sigla foi tirado do governador Carlos Brandão e entregue à senadora Ana Paula Lobato. Duarte Jr. mantém fortes laços com o grupo dinista, mas vem dando todos os avisos de que não vai brigar com o governador Carlos Brandão. Na última sexta-feira (22), por exemplo, enquanto deputados bolsonaristas se engalfinhavam pela vice-presidência da CPMI do INSS, o deputado Duarte Jr. participou do animado, ao lado do governador Carlos Brandão, do lançamento do programa “Tô conectado”, por meio do qual o Governo do Estado entregará tabletes a 250 mil estudantes da rede estadual de ensino.
Nesse momento, o deputado federal Duarte Jr. aumenta o seu cacife político ao representar o PSB na CPMI do INSS, mesmo deixando no ar alguma dúvida a respeito do seu futuro partidário.
PONTO & CONTRAPONTO
Eliziane se posiciona contra censura a jornalistas na CPMI do INSS
Na mesma sessão em que o deputado federal Duarte Jr. (PSB) assumia a vice-presidência da CPMI do INSS, marcada por discussões sob um clima de tensão, a senadora Eliziane Gama (PSD) deu uma demonstração de que mantém intacta a sua postura democrática e que sabe preservar a sua raiz de jornalista profissional respeitando o trabalho da imprensa.
Essa manifestação se deu quando o presidente da Comissão, senador Carlos Viana (Podemos), apontado como membro da direita dura, tentou inibir o trabalho da imprensa ameaçando cassar credenciais de veículos e jornalistas que fotografassem conteúdo de celulares e computadores de integrantes da Comissão ou documentos de parlamentares, alegando o uso – distorcido, óbvio – da Lei de Proteção de Dados.
Diante da ameaça feita pelo presidente da Comissão, a senadora maranhense reagiu criticando a atitude, alertando a mesa da CPMI para o fato de que o Brasil vive uma democracia plena e que não é possível cercear o trabalho de jornalistas, por maior incômodo que ele possa causar aos integrantes. E lembrou também que o conteúdo de telas de celulares e de computadores abertas por parlamentares durante sessões se tornam informações públicas, o que é absolutamente verdadeiro.
Assim, qualquer tentativa da presidência de uma CMPI ou até mesmo da presidência do Congresso Nacional no sentido de reprimir o trabalho de jornalistas nesse ambiente tem caráter de “mordaça”, de “censura”.
“Limitar isso, pura e simplesmente, eu quero que o jornalista tenha informação. O veículo tem responsabilidade compartilhada com o jornalista. Se eventualmente tem alguma informação que a gente queira questionar que não seja real, fazemos o debate. Mas censura, não”, declarou a senadora.
E completou: “A gente não pode chegar e criar uma certa, eu diria até censura, mordaça para esse jornalista. O critério maior é se o parlamentar está tendo acesso a documentos sigilosos. Agora, o cerceamento dessa liberdade é preocupante”.
O presidente da CPMI do INSS manteve sua posição, mas admitindo revê-la ao longo dos trabalhos.
Edson Araújo vai depor na CPMI do INSS sobre denúncias de fraude no seguro-defeso de pescadores
Não é confortável a situação do deputado estadual Edson Araújo (PSB). Figura maior de várias denúncias relacionadas com assistência a pescadores, controlador de sindicatos e até de uma federação dessas organizações relacionadas com a pesca, o parlamentar, que está licenciado, terá de comparecer para depor na CPMI do INSS.
Explica-se: sua convocação se deu por conta de um acordo pelo qual deputados e senadores de oposição e governistas decidiram incluir na CPMI que vai apurar o escândalo dos descontos ilegais dos contracheques dos aposentados do INSS, casos de descontos em aposentadorias de pescadores, e também investigar sinais de escândalos.
A convocação do deputado Edson Araújo deve estar causando pânico na seara da pesca no Maranhão, porque, dependendo do que ele informar, outros envolvidos serão alcançados pela mão pesada da CPMI do INSS. E o dado curioso da convocação é o fato de Edson Araújo fazer parte do mesmo partido do vice-presidente Duarte Jr.
São Luís, 27 de Agosto de 2025.