Quando retornar das suas rápidas férias, na próxima semana, o governador Flávio Dino (PCdoB) terá de se preparar para um duro e longo período de lutas políticas, no qual terá de enfrentar dois adversários poderosos e implacáveis, que poderão juntar forças para minar o seu Governo e o projeto de poder. No front interno, o governador terá pela frente o ex-presidente José Sarney (MDB) e seu grupo, e no plano externo, seu embate se dará com o presidente Jair Bolsonaro (PSL), diretamente ou através dos seus tentáculos em Brasília e no Maranhão. O governador tem plena ciência de que o quanto José Sarney e Jair Bolsonaro querem atropelá-lo, o primeiro porque não engole o fato de visto o seu grupo e seus dois filhos açoitados nas urnas e quer de volta o comando político do estado, e o segundo porque não digeriu a humilhante sova eleitoral que recebeu no Maranhão no primeiro e no segundo turno da corrida presidencial.
Flávio Dino sabe que José Sarney e Jair Bolsonaro poderão costurar uma aliança por debaixo do pano e juntar forças para tentar infernizar o seu governo e desmantelar sua base político-partidária. O grande confronto poderá se dar nas eleições municipais de 2020.
No discurso dele próprio, dos seus comandados e principalmente do Sistema Mirante no pós-eleitoral, José Sarney deixa muito claro que está determinado a manter o bombardeio da campanha, alimentando artilharia pesada na direção do Palácio dos Leões, inflando a importância de qualquer fato ou situação que possa arranhar a imagem do governador ou do Governo. Para manter a linha de confronto, José Sarney estaria no momento empenhado em estancar a crise que abala o braço do MDB no Maranhão, onde duas correntes medem forças para assumir comando do partido. Ele tenta segurar o grupo, argumentando que o que interessa agora é manter fogo cerrado contra o governador e sua aliança partidária. Esse ânimo foi reforçado na semana passada, quando em dois atos de posse, o dele próprio, no dia 1º, e o do ministro da Defesa, no dia seguinte, Jair Bolsonaro rasgou elogios ao ex-presidente José Sarney, para muitos sinalizando que está aberto a uma relação, que pode prosperar, apesar das brutais diferenças que os separam.
Na outra ponta, além de alimentar uma cruzada quase paranoica contra o marxismo e a esquerda – a ponto de decretar o fim de um socialismo que nunca existiu -, Jair Bolsonaro não digeriu o sapo eleitoral que as urnas do Maranhão o obrigaram a engolir. E já sinalizou, em vídeo que gravou ao lado do deputado federal reeleito Aluísio Mendes (Avante), e em outras ocasiões, que pretende “varrer o comunismo do Maranhão”, outra pretensão absolutamente sem sentido. Não se sabe ainda quem será o chefe da sua desordenada e furta-cor infantaria no Maranhão – o posto está sendo disputado diretamente pela ex-prefeita Maura Jorge e pelo médico Alan Garcez, enquanto Aluízio Mendes corre por fora. Quem vier a receber a tarefa de representar o bolsonarismo no Maranhão terá de assumir a delicada – e para muitos inglória – posição de ponta de lança contra o governador e seu Governo.
O problema, tanto para José Sarney quanto para Jair Bolsonaro, é que, mesmo com um arsenal muito menor, Flávio Dino é um combatente diferenciado, politicamente lapidado e intelectualmente consistente. Mais do que isso, o governador maranhense é um líder politicamente correto na melhor acepção da expressão tão destetada pelo novo presidente: é ético, honesto, comprometido com as causas sociais e revelou-se um gestor de mão cheia, que administra as finanças com mão de ferro e tem sido bem-sucedido na execução de programas arrojados em áreas essenciais com o saúde e educação, apesar da crise que sufoca a maioria dos estados. Ao mesmo tempo, é um político de visão larga e de posições firmes, e que vem a cada dia ganhando força como um dos mais importantes líderes da esquerda democrática no País, fazendo um duro e destemido contraponto a Jair Bolsonaro, suas ideias de extrema direita e seu projeto de poder. E o faz de maneira aberta, com declarações públicas, sem qualquer falsete.
Tanto José Sarney quanto Jair Bolsonaro sabem que Flávio Dino é um adversário difícil de atropelar, e que ações nesse sentido poderá fortalecê-lo. O ex-presidente já experimentou duas vezes o poder de fogo do governador, tendo seu grupo se dado muito mal em ambas (2014 e 2018). O presidente também sentiu nas urnas a competência política do líder maranhense, e não gostou nem um pouco. Os dois sabem que governador não vai baixar a guarda.
PONTO & CONTRAPONTO
Dino fará minirreforma e não deve mexer com a composição da bancada federal
Há muita zoada e poucas informações confiáveis relacionadas à futura composição do Governo do Estado e sobre eventuais mudanças na banda dinista da bancada federal. Na entrevista coletiva que concedeu no dia 1º, minutos antes de tomar posse na Assembleia Legislativa, o governador Flávio Dino avisou que não pretende mexer muito na sua equipe, principalmente nas pastas consideradas essenciais, nem pareceu disposto a alterar a composição da bancada federal para fazer essa ou aquela acomodação de suplente.
Parece claro que os deputados federais eleitos Márcio Jerry (PCdoB) e Bira do Pindaré (PSB) e reeleito Rubens Jr. (PCdoB) não demonstram qualquer interesse em deixar a Câmara Federal neste momento, quando grandes debates estão previstos no confronto Situação/Oposição, para se exilarem no secretariado, dando a suplentes o privilégio de viver essa virada histórica no parlamento brasileiro. Márcio Jerry, Bira do Pindaré e Rubens Jr. não pretendem abrir mão dos seus mandatos federais para assumir secretarias. Os três somados representam quase 350 mil votos, que lhe foram dados para que eles representem esses eleitores na Câmara Federal.
Além disso, os três são quadros diferenciados, que poderão prestar bons serviços ao Governo estadual em Brasília. Márcio Jerry e Rubens Jr. são fundamentais para a bancada federal do PCdoB, enquanto Bira do Pindaré deve ter papel importante na representação do PSB.
Quanto à troca de secretários, a equipe está pronta, azeitada, com a experiência acumulada de um mandato, e por isso dificilmente o governador abrirá mão dessa vantagem por conta de acertos políticos. Uma ou outra troca de comandam em uma ou outra pasta de periferia do Governo, e nada mais. Essa será a reforma tão especulada nos bastidores do Governo. Nada além disso.
Braide busca partido, mas não quer controle de caciques
O deputado federal eleito Eduardo Braide está vivendo uma situação complicada em relação ao seu futuro partidário. O seu partido, o PMN, não atendeu às exigências da Cláusula de Barreira nas eleições de 2018 e encontra-se na iminência de tornar-se uma agremiação fantasma. De um lado, o parlamentar, que foi o segundo mais votado, com 189 mil votos, vive uma situação aparentemente confortável à medida que praticamente todos os partidos, do centro à direita, estão tentando atraí-lo, oferecendo-lhe mundos e fundos, certos de que ele não tem páreo para a Prefeitura de São Luís em 2020. Braide, porém, resiste aos acenos sedutores, avaliando que só lhe interessa um partido do qual ele seja o comandante absoluto no Maranhão, como tem sido o PMN. Aí as ofertas se reduzem drasticamente, porque os caciques atuais não querem abrir mão do comando dos seus latifúndios partidários. Nesse contexto, o caminho mais provável será o PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, que está sem pé nem cabeça no Maranhão, sendo disputado por vários grupos, tendo o vereador Chico Carvalho, que o comanda há duas décadas, admitido que não tem força para segurar as pressões que vem recebendo. Eduardo Braide deve assumir seu mandato federal no dia 1º de Fevereiro no comando de nova agremiação.
São Luís, 06 de Janeiro de 2019.